terça-feira, 6 de novembro de 2012

Em primeiro dia de greve geral, gregos pedem desobediência à troika 06/11/2012

Pelo menos 200 mil foram às ruas de Atenas, que parou para protestar contra o pacote de austeridade do FMI

Roberto Almeida/Opera Mundi

Linha de frente de manifestantes do Partido Comunista, na Praça Syntagma, no centro de Atenas. Protestos duraram o dia todo

Atenas amanheceu nesta terça-feira (06/11) com comércio fechado, transporte público paralisado e trânsito interrompido. No primeiro dia de greve geral no país, manifestantes ligados à Frente Militante dos Trabalhadores Gregos (Pame, na sigla em grego) reuniram-se na praça Omonia, enquanto servidores públicos caminhavam em direção à praça Syntagma, centro político da Grécia. Os gritos de ordem pediam “desobediência e greve em todo lugar”.
Assista vídeo feito por Opera Mundi durante a manifestação

A manifestação foi tratada como um “ensaio geral” para o que está por vir amanhã, às 17h, quando as principais centrais sindicais gregas devem se reunir novamente para pressionar o Parlamento grego. Será no exato momento em que irá a voto mais um impopular pacote de austeridade do FMI (Fundo Monetário Internacional). A cartilha prevê um desembolso de 13,5 bilhões de euros (cerca de R$ 35 bi) em troca de cortes e aumentos de impostos.

“Convocamos todas as pessoas a marchar sistematicamente e de maneira organizada. Pediremos desobediência não só às decisões do governo, como também ao sistema em geral. É um bom início ao contra-ataque que porá fim aos monopólios e livrar o país das obrigações europeias”, disse a secretária-geral do Partido Comunista Grego, Aleka Papariga.

Aleka acompanhou a marcha da Frente Militante dos Trabalhadores Gregos, que lotou a larga Avenida Stadiou, em direção à Praça Syntagma, onde está o Parlamento grego. Entre os manifestantes havia aposentados, jovens, imigrantes de Bangladesh e até carrinhos de bebê. O comércio estava fechado.

Mais ao norte, os sindicatos dos servidores do setor público e de trabalhadores do setor privado (na sigla em grego, Gsee-Adedy) também marchavam em direção à Praça Syntagma. Alexis Tsipras, dirigente da Syriza, coalizão de esquerda anti-austeridade, discursou. “A coalizão de três partidos [PASOK, Nova Democracia e a Esquerda Democrática] converteu o Parlamento em uma câmara de ratificação das propostas da troika e entregou o país a seus credores”, disse.

Roberto Almeida/Opera Mundi
Por volta do meio-dia havia pelo menos 100 mil pessoas ocupando a região da Praça Syntagma e não houve incidentes. A polícia grega, com máscaras de gás, escudos e capacetes, aos poucos fechou ruas no entorno do Parlamento.
[Manifestantes ao final do protesto, no início da tarde, em frente ao Parlamento]

Segundo jornalistas gregos ouvidos por Opera Mundi, a Syriza fez um acordo com representantes da polícia para manter o clima pacífico da demonstração.

Segundo os sindicatos, a adesão à greve no primeiro dia foi de 90 a 100%. Hospitais, cortes de Justiça e redações de jornais trabalharam com pouquíssimos funcionários.

Janelas fechadas

Durante os protestos, as janelas do Parlamento grego permaneceram fechadas. Os deputados estariam, teoricamente, avaliando os detalhes da cartilha do FMI. “Eles não querem nem ver o que estamos fazendo”, disse uma grega, revoltada, que não quis se identificar. “Isso diz muito sobre nosso país hoje.”

No início da tarde os manifestantes se dispersaram e o comércio voltou a funcionar. O transporte público, no entanto, só entra nos trilhos amanhã a partir das 15h, especificamente para facilitar o transporte de manifestantes até a Praça Syntagma.

A cartilha do FMI, segundo analistas, deve ser aprovada por uma margem pequena, já que membros da Esquerda Democrática abandonaram - ao menos nessa votação - a coalizão que sustenta o premiê Antonis Samaras, do partido de centro-direita Nova Democracia.

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