terça-feira, 7 de maio de 2013

Entrevista com Roberto Azevêdo, novo diretor-geral da OMC 07/05/2013

Roberto Azevêdo é eleito como novo diretor-geral da OMC

Atualizado às 14h35
Por Victor Saavedra, do Jornal GGN
O Itamaraty confirmou que o embaixador brasileiro Roberto Azevêdo foi escolhido como primeiro latino-americano para a direção da Organização Mundial do Comércio. 
As mesmas fontes também informaram que o candidato mexicano Herminio Blanco já ligou para parabenizar o sucessor de Pascal Lamy. O Ministro Antonio Patriota dará uma entrevista coletiva em uma hora no Itamaraty sobre a escolha de Azevêdo. Confira abaixo entrevista exclusiva com o próximo diretor-geral da OMC:
Roberto Azevêdo: Multilateralismo e liberalização progressiva
Em entrevista ao Jornal GGN o embaixador brasileiro na Organização Mundial do Comércio, e finalista na eleição para Diretor Geral da organização, reafirma a importância da conferência ministerial de Bali e defende o consenso como caminho para o funcionamento da organização: “É necessário que o mecanismo multilateral renove sua força e dinamismo de forma a estimular os países a negociar de novo multilateralmente”.
Questionado sobre as acusações de protecionismo na entidade, inclusive com um pedido de explicações ao Brasil (leia em Brasil responde a questionamento de países desenvolvidos na OMC) Azevedo responde que o foco de uma possível gestão brasileira à frente da OMC é o de uma liberalização progressiva. “Eu quero trabalhar para que os membros da OMC se sintam naturalmente levados a uma liberalização progressiva, e isso só pode ocorrer se tivermos um sistema multilateral de tal forma fortalecido que a discussão de quem é mais protecionista do que quem se torne desnecessária”.
Leia abaixo a entrevista completa ao candidato brasileiro à OMC:
Caso eleito, qual será sua atitude à frente da OMC para destravar a Rodada de Doha?
A conferência ministerial de Bali, que ocorrerá em dezembro próximo, será crucial para a Rodada Doha, e não podemos deixar passar essa janela de oportunidade. Os membros da OMC estão cientes de que precisamos de um mapa do caminho em Bali que conduza a uma solução para a Rodada. Com base nesse cenário, pretendo buscar, junto a todos os 159 países, uma solução que permita avançar nos temas em que o consenso está mais próximo e, ao mesmo tempo, lançar as bases para negociar as questões de maior sensibilidade. É preciso agir rapidamente e com precisão.
Munido da experiência e do conhecimento que adquiri nesses quase vinte anos trabalhando com comércio internacional, pretendo começar imediatamente essa busca de conformação entre os membros. É preciso arregaçar as mangas e buscar, com todo esforço, o diálogo. Sabemos que essa não será uma tarefa fácil, mas tenho certeza de que é possível encontrar uma solução. As minhas conversas com as autoridades dos países membros durante esse período de campanha foram extremamente esclarecedoras e muito positivas.
Mas Bali será o passo inicial. Se conseguirmos uma ‘colheita antecipada’ em Bali, poderemos lubrificar as engrenagens da Rodada e retomá-la imediatamente.
O senhor se apresenta como o candidato mais capacitado a retomar as negociações emperradas na OMC. O que trava essas negociações atualmente? De que forma o senhor mudará esse cenário, caso eleito?
O impasse nas negociações resulta de divergências profundas entre os países membros. A situação chegou a tal ponto que, muitas vezes, uma ideia válida apresentada é imediatamente rechaçada pelos membros pelo simples fato de ter partido de um país específico. É preciso recuperar a confiança no sistema. E, para recuperar essa confiança, é fundamental que o futuro Diretor-Geral tenha a habilidade de transitar, com facilidade, entre os diferentes agrupamentos de países, independentemente grau de desenvolvimento destes. É necessário que o próximo Diretor-Geral tenha credibilidade para alcançar os consensos possíveis, sem jamais pretender impor visões de uns ou de outros.
Como negociador, sempre busquei “construir pontes” entre meus pares. Nesse processo de construção de pontes, conhecer profundamente as disciplinas da Organização, o histórico das negociações, as posições de cada um e suas sensibilidades de parte a parte torna-se fundamental. É preciso encontrar soluções criativas e viáveis. Minha trajetória, penso eu, ajudará bastante nesse papel de facilitador de consensos.
O senhor se vê como representante dos países emergentes frente a esse predomínio histórico dos países ricos nas negociações comerciais internacionais?
O Brasil não lançou minha candidatura com essa perspectiva de representar os países emergentes, mas porque tem a confiança de que ela consegue conformar a vontade de todos os países da OMC. A minha candidatura está baseada no consenso, na composição, e não na polarização. Uma polarização neste momento tão sensível por que passa a OMC só tenderia a prejudicar a Organização.
A quem interessa o protecionismo comercial nas relações internacionais atuais?
Todos os países da OMC querem trabalhar para que o comércio flua da maneira mais livre possível, de forma a criar oportunidades de crescimento, gerar riqueza e promover o desenvolvimento social.
Temos ouvido muitas discussões sobre protecionismo recentemente, com frequentes acusações entre países. Eu quero trabalhar para que os membros da OMC se sintam naturalmente levados a uma liberalização progressiva, e isso só pode ocorrer se tivermos um sistema multilateral de tal forma fortalecido que a discussão de quem é mais protecionista do que quem se torne desnecessária. É preciso que os países membros se sintam protegidos e respaldados por um sistema fortalecido, com regras equilibradas de tal forma que possam promover a liberalização de seus mercados. A minha candidatura objetiva justamente promover diálogo e consenso entre os países membros de modo a acomodar os interesses de todos de forma mutuamente satisfatória. É necessário que o mecanismo multilateral renove sua força e dinamismo de forma a estimular os países a negociar de novo multilateralmente.
Como o senhor enxerga essa iniciativa do bloco europeu de ouvir as propostas dos dois candidatos? O senhor acredita que sua atuação como representante do Brasil há tantos anos pode prejudicar seu desempenho como candidato?
A iniciativa europeia é muito positiva, ao mostrar que o grupo procura tomar sua decisão com base no mérito dos candidatos.
Minha atuação como representante do Brasil tem muito a acrescentar à candidatura. O Brasil é membro fundador da OMC e foi um dos 23 países signatários do GATT lá em 1947. Sua atuação internacional foi sempre baseada na defesa do multilateralismo e das instituições. Foi como Embaixador do Brasil que eu pude adquirir conhecimento das disciplinas e dialogar com representantes de todos os países membros, participando do núcleo central das negociações em todas suas etapas. Se escolhido para a Direção-Geral, será como representante de todos os países membros da OMC que eu buscarei resgatar a força do multilateralismo na instituição.
a liberalização do comércio mundial.
Mesmo respeitado em círculos diplomáticos por sua capacidade de construir consenso, Azevêdo foi criticado por seus esforços para levar a OMC a discutir o impacto de flutuações cambiais sobre o comércio.
A presidente Dilma Rousseff e o Itamaraty fizeram campanha intensa pelo brasileiro desde dezembro de 2012. O placar da votação ainda não foi divulgado.
O resultado será anunciado oficialmente na quarta-feira (8) e a nomeação de Azevêdo será oficializada no dia 14, durante reunião do Conselho Geral da OMC.

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