Jornal comandado por João Roberto
Marinho diz que a inflação persiste, que o governo deve fazer escolhas e
que manter o mercado de trabalho aquecido é uma "tentação" a ser
evitada
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O Globo quer desemprego. E explicitou seu desejo em editorial publicado
nesta sexta-feira, em que comenta a "persistência da inflação". Leia
abaixo:
A persistência da inflação
Na visão otimista de
Brasília, a inflação, depois de ultrapassar o limite superior da meta
(6,5%), com 6,59%, recuará. De fato, mas o 0,55% do IPCA de abril veio
acima das previsões, subiu em relação a março (0,47%) e, assim, o índice
em 12 meses recuou menos que o esperado, estacionando na fronteira dos
6,49%. O centro da meta, de 4,5%, continua distante, e as melhores
expectativas apontam para um índice pouco acima de 5% este ano, ainda
alto.
O Banco Central saiu da
letargia na última reunião do Copom, elevou os juros básicos (Selic) em
0,25 ponto, para 7,5%, por não desconhecer como a persistência de uma
inflação elevada, numa economia ainda bastante indexada, pode deteriorar
as expectativas e manter os preços sob pressão.
O momento é cada vez mais
de escolhas do governo. É evidente a tentação de manter o mercado de
trabalho aquecido com vistas às eleições do ano que vem. Porém, num
quadro de quase pleno emprego, o crescimento dos salários acima da
produtividade deprime a indústria — o setor deu sinais de vida em março,
porém, em relação ao mesmo mês do ano passado, continua com números
negativos (retração de 3,3%). Faz com que "vaze" demanda para as
importações, ajudando a desequilibrar a balança comercial. E, por
paradoxal que seja, isto contribui para mais um "pibinho".
Além de tudo, impulsiona a
inflação nos serviços. Em abril, este item do IPCA subiu 0,54%, mais
que a média. Em bases anualizadas, a alta é de 8,13%. Com os salários em
ascensão, e sem que haja concorrência externa — não se importam
manicures, oficinas etc —, os serviços ostentam razoável fôlego para se
tornar mais caros.
Pelo menos até agora, a
aposta oficial na redução da pressão vinda dos alimentos ainda não se
confirma na dimensão esperada. Há retrações, mas o encarecimento de
vários produtos funciona como um anteparo às quedas. Só em abril, por
exemplo, a batata inglesa deu um salto de 60,4%.
No saldo final deste
surto de inflação são punidas as famílias mais pobres, clássicas vítimas
da carestia na alimentação. Aquelas, por ironia, com as quais o governo
conta para a reeleição de Dilma.
Diretores do BC têm
procurado reafirmar o compromisso da instituição com a defesa do poder
aquisitivo da moeda — é o que se espera de um banco central.
Justifica-se, porém, o mantra devido ao déficit de credibilidade na
autonomia da instituição. A próxima reunião do Copom, na última semana
do mês, será novo teste para o BC.
Fica claro que se trata
de uma falácia o argumento de que a inflação brasileira foi impulsionada
pela quebra de safras americanas e em outras regiões do mundo. Afinal,
este impacto inflacionário não se observou nos demais países. As causas
são mais internas que externas.
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