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"É preciso cortar 10% nos salários dos
trabalhadores espanhóis", aconselhou o FMI, logo seguido pelo comissário
europeu Olli Rehn. Patrões, sindicatos e partidos de esquerda reagiram
com indignação a este "dardo envenenado contra os trabalhadores da
Europa do Sul". E também há quem peça a demissão imediata de Rehn.
Christine Lagarde e Olli Rehn querem cortar 10% dos salários aos trabalhadores espanhóis. Foto EPA
Algumas das reações mais indignadas vieram das hostes socialistas. O
porta-voz para a Saúde pediu mesmo a demissão do comissário europeu para
os assuntos económicos e um dos homens-fortes da Comissão Barroso. "É
uma indecência política recomendar um corte salarial generalizado e não
ter a mínima preocupação com o impacto dessa medida no
sobre-empobrecimento de amplas camadas da população", afirmou José
Martinez Olmos, que também é deputado do PSOE.
Num comentário publicado no Facebook, a vice-secretária-geral dos
socialistas espanhóis lembrou ao comissário que "em Espanha há milhões
de trabalhadores que ganham ao fim do mês o que você gasta em dois
jantares". Elena Valenciano diz que "cada reflexão de Rehn é um dardo
envenenado para milhões de trabalhadores da Europa do Sul, que já não
podem fazer mais sacrifícios".
O próprio líder do PSOE veio comentar as declarações de Rehn e do FMI,
pedindo ao comissário "que esqueça as suas receitas, porque foram
nefastas para Espanha", antes de classificar de "disparate económico"
pedir um corte salarial ainda maior do que o imposto pela reforma
laboral impulsionada pelo governo do Partido Popular.
O presidente do grupo parlamentar da Izquierda Unida chamou "cínico e
mentiroso" a Olli Rehn por defender que baixar salários ajuda a combater
o desemprego, mas "nunca falarem em investir os lucros empresariais"
para criar emprego. Mas também se referiu a Christine Lagarde, que
"cobra 324 mil euros por ano, livres de impostos", enquanto pede aos
trabalhadores que sacrifiquem ainda mais os seus salários.
Do lado sindical, as Comisiones Obreras manifestaram total oposição à
ideia de novos cortes salariais, considerando que está na altura de
fazer justamente o contrário: aumentar os salários para ajudar a
economia através do consumo. Também a UGT lembrou que foi a queda
salarial dos últimos anos que levou à quebra do consumo e do
investimento, com as famílias a sofrerem ao ponto de não poderem pagar
as hipotecas.Até os patrões olharam de lado para a proposta do FMI e da Comissão Europeia. Um responsável da confederação patronal CEOE afirmou que este "não é o momento oportuno nem para aumentar impostos nem para baixar salários". Arturo Fernández aconselhou mesmo os homens de Bruxelas a "conter os seus próprios salários, que creio estarem a aumentar". Já o PP parece ter ficado incomodado com as palavras de Olli Rehn, preferindo dizer que as mexidas salariais dependem da negociação com os parceiros sociais e do pacto assinado em 2012 que prevê aumentos máximos de 0,6% para este ano.
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