quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Água começa a correr em canal da Transposição 22/10/2014


Água começa a correr em canal da Transposição Na última segunda-feira (13) foram iniciados os testes de bombeamento da estação de bombeamento EBV-1 e nesta quarta-feira (22) as obras foram vistoriadas pelo ministro da Integração Nacional, Francisco Teixeira, e a ministra do Planejamento, Miriam Belchior; “Essa obra avançou bastante e para nós é uma felicidade ver esse primeiro teste de bombeamento e um trecho de 15 quilômetros de canais com água”, afirmou Miriam.

Pernambuco 247 - O ministro da Integração Nacional, Francisco Teixeira, e a ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior, vistoriaram nesta quarta-feira (22), em Floresta (PE), as estruturas que fazem parte da Estação de Bombeamento (EBV-1) do Eixo Leste do Projeto de Integração do Rio São Francisco.
Na última segunda-feira, 13, foram iniciados os testes de bombeamento da EBV-1, cumprindo o cronograma oficial de andamento das obras. Até o final deste ano, a Meta 1 Leste estará em pré-operação, o que significa que os sistemas, os equipamentos e as estruturas estão em preparação para a futura operação comercial.
“É uma obra que tem muita simbologia e uma importância grande para os Estados do Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba. É uma obra complexa, de grande magnitude, mas que o governo federal está fazendo”, disse o ministro Teixeira. “Essa obra avançou bastante e para nós é uma felicidade ver esse primeiro teste de bombeamento e um trecho de 15 quilômetros de canais com água”, afirmou a ministra Miriam.
Durante os testes de bombeamento é realizada sequência de ajustes entre os vários equipamentos que compõe a Estação de Bombeamento. A EBV – 1, em Floresta (PE), possui dois conjuntos de motobombas instalados – sendo que cada bomba pesa cerca de 100 toneladas, o equivalente a 100 veículos populares. Além desses equipamentos, o ministério também realiza a interação entre os quadros de corrente de energia, softstarter (controle de corrente de energia dos motores), motores, bombas e válvulas.
Os ajustes são necessários para calibração do sistema, visando a alcançar a melhor eficiência do conjunto de motobombas. Os testes na EBV-1 prosseguem até o fim do ano e envolvem o bombeamento da água do lago de Itaparica até a o reservatório Areias, situados no município pernambucano de Floresta.
A fase de testes de bombeamento ocorre após a abertura das ensecadeiras (barramento), que permitiu a entrada da água do rio São Francisco em cada um dos canais de aproximação, dos Eixos Leste e Norte, do empreendimento. O processo, iniciado em agosto, representa a primeira etapa de pré-operação do Projeto de Integração do Rio São Francisco.
As EBs são estruturas responsáveis por elevar a água de um terreno mais baixo para um mais alto. O Projeto de Integração do Rio São Francisco possui seis elevatórias no Eixo Leste e três estações no Eixo Norte.
Ao todo, as estruturas do Eixo Leste vão elevar a água em 300 metros acima do nível médio do lago de Itaparica até o ponto mais alto do canal - altura que pode ser comparada a um edifício de 100 andares. No Eixo Norte, a água será elevada, aproximadamente, 181 metros acima do nível do rio São Francisco – altura que pode ser comparada a um prédio de 58 andares.
As obras do projeto deverão ser concluídas, em sua totalidade, até dezembro de 2015. O empreendimento apresenta 66,1% de execução física. Atualmente 11.493 trabalhadores atuam em sua construção. São 4.101 máquinas em operação ao longo dos 477 km de extensão das obras. Até junho de 2015 deverão estar concluídas as obras até o reservatório Jati (CE) no Eixo Norte, e até o reservatório Moxotó (PE) no Eixo Leste, que totalizam quase 300 km.
*Com informações do Ministério da Integração

http://aposentadoinvocado1.blogspot.com.br/2014/10/no-brasil-247-agua-comeca-correr-em.html

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Evo Morales é reeleito presidente da Bolívia 13/10/2014


O presidente Evo Morales foi reeleito para governar a Bolívia no período de 2015 a 2020, depois de derrotar com facilidade seus quatro opositores nas eleições gerais deste domingo (12), segundo os dados preliminares divulgados nesta segunda-feira em La Paz.


Evo ganhou em todas as seções eleitorais no exterior e no território nacional com 60 por cento dos votos válidos, assinalam os informes provisórios.

O empresário Samuel Doria, do opositor Unidad Democrática, conseguiu 25 por cento de apoio, com o que será a principal força da oposição boliviana.

Jorge Quiroga (Partido Democrata Cristão) ficou em terceiro lugar com nove por cento dos votos, enquanto Juan del Granado (Movimento sem Medo) e Fernando Vargas (Partido Verde) obtiveram três por cento cada um.

O Movimento ao Socialismo (MAS) domina agora a Assembleia Legislativa Plurinacional (Congresso), com 25 das 36 cadeiras do Senado e 80 das 130 da Câmara dos Deputados. O Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) prevê divulgar os dados conclusivos na manhã desta segunda-feira.

Multidões de bolivianos saíram às ruas de todo o país para comemorar a reeleição de Evo Morales.

Presidentes de Argentina, Uruguai, Cuba, Venezuela, Equador e Nicarágua comemoraram o triunfo eleitoral de Morales com telefonemas, notas oficiais e comentário nas redes sociais.

Prensa Latina

http://www.vermelho.org.br/noticia/251230-7

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

A Ucrânia é o Brasil amanhã! (II) 09/10/2014

As velhas roupas novas do Imperador Obama e a Guerra da Energia dos EUA (Parte 2 de 2)


2/10/2014, [*] Vera Graziadei, Blog Vera Graziadei
Emperor Obama’s old new clothes and the US energy war
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


[Clique para ler a Parte 1 de 2]




Entreouvido no Mocó do Padre na Vila Vudu:


Cróóooooooozes! A Ucrânia é aqui! Já explodiram o avião do Eduardo Campos, já empurraram Marina Silva feito boi-de-piranha, pra abrir caminho prô Aécim... Porque uma coisa é certa: a GRANDE GRANA mundial NUNCA entregaria o governo do Brasil a Marina Silva. Nunca. Porque é mulher, porque é pobre, porque é mulata, porque é “de ONG”... E é BURRA a ponto de apoiar Aécim no 2º turno. Marina consegue “negociar” só até o nível “Neca” (às vezes nem isso), e dali não passa.


Marina foi uma espécie de Cavalo de Troia, metida lá entre a população da “esquerda” emburrecida e despolitizada por anos de bobajol dos petistas anti-jornais e por besteirol de jornalistas anti-petistas & pelas doideiras metidas a “intelectuais”, “sociológicas”, “históricas” e “geográficas” de professores-doutores e diplomatas midiáticos descalços que, piores, como gente-de-saber, no mundo não há.


Marina foi metida lá só para ajudar Aécim dividindo o eleitorado e provocar o 2º turno (coisa que Eduardo Campos não estava fazendo); o próprio Cavalo de Tróia. Aécim, verdade seja dita − e a GRANDE GRANA logo viu − é um saco de bosta.


Foi serviçal-criado do avô, depois serviu como subserviçal-criado da irmã, verdadeira, ao seu tempo, governadora de Minas. Mas Aécim é pau−mandado, no sentido de que obedece bem: é mandar, que ele faiz direitim... É a “qualidade” que a GRANDE GRANA INTERNACIONAL (com seus cúmplices nacionais) e as BIG SISTERS do petróleo mais apreciam. É onde afinal se vê que, sim, A UCRÂNIA É AQUI!

NO BRASIL OS EUA NÃO PRECISAM DO "FRACKING"! ELES QUEREM ROUBAR O PRÉ-SAL!

QUEREM ARRUINAR O NOSSO FUTURO COMO ESTÃO ARRUINANDO O FUTURO DA UCRÂNIA!


Leiam o que abaixo se lê e ME DIGAM: se os EUA fizeram e fazem o que fizeram e fazem hoje na Ucrânia, por uns puns-lá, de gás de xisto... O que não tentariam, tentaram, tentarão por aqui, com o pré-sal e o Brasil crescendo de braços dados com a América Latina e com China e com Rússia e outros BRICS?!


Agora só falta, então, reeleger Dilma e despachar esse Aécim “Yatseniuk”, de volta prá Minas.


Depois não digam que não sabiam! Está escrito aí, porque Obama foi lá na ONU e disse com todas as letras. Assista no vídeo postado na Parte 1 de 2:


“(...) os Estados Unidos da América não se deixarão distrair ou desviar do que tem de ser feito. (…) Estamos preparados para fazer o que for necessário”.



Barack Obama

Há diferença entre uma revolução popular e um golpe orquestrado; há diferença entre permitir que o povo escolha os próprios dirigentes democraticamente, sejam pró-EUA ou pró-Rússia, e impor um governo – que foi o que os EUA fizeram em Kiev depois do golpe. Só se pode lamentar pelo infeliz povo ucraniano que realmente acreditava no protesto que fazia. Paul Craig Roberts resumiu o golpe e os protestos que se seguiram a ele:



Paul Craig Roberts

O objetivo do golpe é implantar bases militares da OTAN na fronteira entre Ucrânia e Rússia, e impor um programa de ‘'austeridade'’ do FMI que serve como cobertura aos interesses financeiros ocidentais para que saqueiem o país. Os manifestantes sinceramente idealistas que tomaram as ruas sem serem pagos são inocentes úteis manobrados pelos que trabalham para destruir o país deles.


Os principais saqueadores que se beneficiam da tomada do poder na Ucrânia foram alguns políticos de alto escalão no governo dos EUA, seus amigos e familiares, que desavergonhadamente apoiaram os protestos organizados para garantir-lhes uma “licença para saquear”. “Estamos a postos para ajudá-los” – disse o vice-presidente dos EUA Joe Biden aos que protestavam na rua. – “Imaginem onde estariam hoje, se pudessem dizer à Rússia Fiquem aí com o gás de vocês!. O mundo seria muito diferente”. Biden com certeza já imaginara onde ele e sua família estariam sem o gás russo: o filho de Biden, Hunter Biden, foi logo depois contratado como diretor da principal empresa ucraniana de energia, a Burisma Holding.



Hunter e Joe Biden

Hunter Biden não foi o único norte-americano “bem-relacionado” a ser contratado pela empresa de gás. Devon Archer, milionário investidor e doador de campanha do Partido Democrata, com laços antigos com o Secretário de Estado John Kerry, logo depois de também passar a integrar a diretoria da Burisma Holdings, disse que a experiência o fazia recordar “a Exxon, logo que foi criada”. O portfólio de licenças para exploração da Burisma é bem diversificado em todas as três principais bacias de petróleo e gás da Ucrânia – Dnieper-Donets, dos Cárpatos e Azov-Kuban, e seus campos estão totalmente conectados aos principais gasodutos no país.


O referendo na Crimeia e a reintegração à Federação Russa colheram todos de surpresa, e foi duro golpe para empresas como a Chevron, Shell, ExxonMobil, Repsol e Petrochina, que já haviam investido dinheiro no desenvolvimento dos recursos submarinos da Crimeia – as reservas de Gás Natural Liquefeito (GNL).


Se se examina alguns dos alvos atacados por sanções dos EUA contra a Rússia e empresas ligadas à Rússia, vê-se que dois foram diretamente selecionados para atrasar, ou parar de uma vez por todas, a construção dogasoduto Ramo Sul (ing. South Stream):



Gennady Timchenko

A primeira empresa relacionada ao gasoduto Ramo Sul que os EUA atacaram com sanções foi a Stroytransgaz, que está construindo o trecho búlgaro. A empresa pertence ao bilionárioGennady Timchenko, aliado de Putin, que já está na lista de sanções. A empresa Stroytransgaz teve de suspender a construção, ou arriscava-se a provocar sanções também contra outras empresas. A segunda entidade atacada com sanções foi uma empresa da Crimeia chamada Chernomorneftgaz.


Depois de pedir a reincorporação da Crimeia à Federação Russa, que foi aceita, o Parlamento da Crimeia aprovou a encampação daquela empresa, que pertencia ao governo ucraniano. E adivinhem o que aquela empresa possuía? Direitos sobre a zona marítima econômica exclusiva no Mar Negro. É importante, porque a Rússia traçou o gasoduto por um caminho mais longo, que atravessa o Mar Negro, e deixa de fora a Ucrânia. Evita águas da Crimeia e, em vez disso atravessa águas turcas.


(...) O que aconteceu na Crimeia foi quase réplica do que aconteceu em Kiev: o povo de Kiev, na Praça Maidan desejava ficar mais próximo da União Europeia e dos EUA; o povo da Crimeia há muito tempo tentava reincorporar-se à Federação Russa (...).


A grande diferença, porém, é que na Crimeia só morreu um soldado, e num acidente, e em Kiev atiradores postados nos prédios ao redor da praça mataram quase 100 pessoas, depois do quê um grupo chegou ao poder pela força. É muito semelhante a uma técnica bem conhecida, que os EUA usaram várias vezes, sempre que urdiram e encenaram golpes de em outros países, descrita em poucas palavras no livro A Doutrina do Choque de Naomi Klein:



Naomi Klein

(...) exponha as pessoas a eventos chocantes, tome o poder e rapidamente execute as mudanças econômicas e políticas planejadas, antes que os cidadãos despertem do pesadelo e voltem a ter pleno controle de suas faculdades mentais.


Outra grande diferença é que, enquanto a maioria dos crimeanos estão felizes por estarem reincorporados à Rússia, os protestos pós-golpe, que logo eclodiram nas regiões do leste da Ucrânia, mostraram que contingentes significativos da população do Donbass não estava feliz com o rompimento de seus laços com a Rússia (a maioria ali são russos étnicos).


Quando forças de resistência e autodefesa organizaram-se e implantaram sua base em Slavyansk, bem no coração do campo Uzovka de gás de xisto, onde as empresas Shell e Burisma preparavam-se para iniciar as operações de fracking, o governo dos EUA logo mostrou até que ponto estava preparado para agredir, na luta pelos interesses comerciais das empresas de petróleo e gás sócias informais do Estado.


Na 2ª-feira, 14/4/2014, a agência Reuters publicou a confirmação, pela Casa Branca, de que o diretor da CIA John Brennan estivera em Kiev no fim de semana anterior. Mais um dia, e Kiev anunciou o início de uma chamada “operação anti-terroristas” no Donbass. Um dos países que mais furiosamente apoiaram a operação foi a Polônia, o que, novamente, não foi surpresa para ninguém, dado que outro dos diretores da empresa Burisma, colega de diretoria de Biden e Archer, era então e continua a ser Alexander Kwasnevski, ex-presidente da Polônia.


A Lei n. 2.277 do Senado, aprovada dia 1º/5/2014, “para impedir novas agressões russas contra a Ucrânia”, ordena que a Agência para Desenvolvimento Internacional dos EUA comece a dar garantias ao fracking de petróleo e gás na Ucrânia, ao mesmo tempo em que as tropas de Kiev marchavam para o Donbass para “basicamente proteger o equipamento de fracking”.


Obama é homem rico em talentos teatrais. Chega a impressionar que, no discurso à Assembleia da ONU (ver parte 1 de 2), tenha conseguido ir até o fim, sem cair da tribuna ao enunciar tantas e tais mentiras e hipocrisias, dentre as quais, por exemplo:




Essa é a comunidade internacional que os EUA buscam; comunidade na qual as nações não saqueiem terra ou recursos de outras nações, mas na qual demos andamento ao objetivo para o qual essa instituição foi fundada e pelos quais todos nos responsabilizamos. Um mundo no qual as regras estabelecidas a partir dos horrores da guerra possam ajudar-nos a resolver pacificamente os conflitos e impedir o tipo de guerra que nossos antepassados lutaram. Um mundo no qual seres humanos possam viver com dignidade e ter supridas suas necessidades básicas, vivam onde viverem, em New York ou Nairobi, em Peshawar ou Damasco.



Barack Obama

A guerra civil que eclodiu na Ucrânia e que, como já está demonstrado, é parte da guerra global dos EUA por energia, já fez 4 mil mortos civis, deixou desabrigados mais de um milhão de ucranianos e gerou gravíssima crise humanitária. Além disso tudo, tão logo comecem de fato as operações de fracking na Ucrânia, os ucranianos devem esperar também


(...) terremotos, inundações, contaminação de águas subterrâneas e morte de animais marinhos, pássaros e peixes, além de fluxos de água fervente envenenada com metano, que contaminará o ar e a água potável (...) [em russo]. (...)


O que Obama disse na ONU – Os EUA e nossos aliados apoiarão o povo da Ucrânia para que desenvolvam a democracia e a economia – é mentira.


A verdade pode ser facilmente encontrada nas publicações dirigidas pela e para a indústria do gás, nas quais ninguém nem tenta ocultar os interesses do business nem perde tempo com fingir que muito se preocupa(ria) com o povo ucraniano ou outras falsas narrativas que soam morais e moralizantes:


Empresas norte-americanas podem investir diretamente na Ucrânia, levando com elas sua tecnologia. Empresas ucranianas podem contratar perfuradores norte-americanos com experiência, podem licenciar perfuradoras norte-americanas e empresas de tecnologia de sondagem sísmica por imagem, e podem importar equipamento norte-americano sofisticado de perfuração (...) O governo dos EUA pode estimular esses desenvolvimentos com programas patrocinados pelo estado, como o Programa para Engajamento Técnico Não convencional para Gás, do Departamento de Estado (...) [orig. Unconventional Gas Technical Engagement Program] e pode acelerar esse investimento com financiamentos pelo US Export-Import Bank.


Tão logo o novo Parlamento seja eleito em outubro, o governo da Ucrânia deve fazer todo o possível para promover o investimento privado na produção; isso deve incluir redução de taxas e impostos e garantias de novos incentivos para investimentos em energia. Um incentivo fiscal, em especial, que devem oferecer, será uma isenção por valor agregado para a importação de equipamento sofisticado para perfuração, modelado conforme outro incentivo por valor agregado já criado recentemente para a importação de equipamento militar.


É importante que a Ucrânia não só tenha leis fortes e um bom ambiente regulatório, mas também que tenha serviço civil aberto e transparente, para impedir que a corrupção, que foi rampante durante o antigo regime, estabeleça-se também no novo governo. Para impedir isso, os governos dos EUA e da Europa devem promover máxima transparência dentro do governo, estimulando que funcionários públicos dos EUA se engajem com membros do funcionalismo público civil do Ministério de Energia e Indústria do Carvão.



Aí está o pessoal que, sim, vai beneficiar-se do apoio que os EUA deem à “democracia e à economia da Ucrânia”: empresas norte-americanas em geral, especialmente de perfuração e especialistas em sondagem sísmica por imagens, fabricantes de máquinas de perfuração, bancos norte-americanos e funcionários do governo dos EUA. O povo da Ucrânia não terá qualquer benefício, porque a tal “revolução do gás de xisto” é pura lorota.






Produção de “shale gás” ou gás de xisto e seus riscos e poluição inerentes
Até a revista Forbes, que em março escrevera que:


(...) a Ucrânia precisa é de uma revolução do gás de xisto à maneira norte-americana.


Em setembro já reconhecia, em artigo, que:


(...) a bolha do gás de xisto não passava disso, de bolha, condenada a ir pelos ares. A única razão pela qual muita gente ainda acredita que o gás de xisto aumente as exportações, gere empregos e aumente o PIB, além de reduzir a emissão de gases de efeito estufa, é porque toda a informação que circula sobre suprimentos de gás natural e como pode ser explorado vem de gente que tem grandes interesses investido no sonhos de uma “Idade do Xisto”. (...)



Condoleezza Rice

Muito ironicamente, o gás natural russo seria muito mais seguro e muito mais barato para a Europa. Mas a política exterior dos EUA já chegou lá e parece que o povo europeu absolutamente não será ouvido nem terá escolha. Quem diz o que será feito da Europa é gente do quilate de Condoleezza Rice:


Vocês querem depender mais e mais da plataforma de energia dos EUA (...).Vocês querem ter gasodutos que não passem por Ucrânia e Rússia. Durante anos tentamos conseguir que os europeus se interessarem por diferentes traçados para gasodutos e oleodutos. Chegou a hora de se fazer isso. (...)


Para todos que viram que o rei está nu, as últimas palavras de Obama soaram como uma horrível ameaça:


E nessa encruzilhada, posso prometer-lhes que os Estados Unidos da América não se deixarão distrair ou desviar do que tem de ser feito. (…) Estamos preparados para fazer o que for necessário para transmitir esse legado às futuras gerações. Unam-se a nós nessa missão comum.
_____________________



[*] Vera Graziadei é atriz, escritora e investigadora política anglo-russo ucraniana. Antes de ser atriz, obteve licenciatura em Filosofia e Economia e Mestrado em Filosofia e Políticas Públicas (Tese: Capital Social e Crítica do Relatório de Desenvolvimento do Banco Mundial) pela London School of Economics. Continuou estudando Filosofia, enquanto trabalhava como atriz, com foco no Existencialismo; completou o bacharelado em Psicoterapia e Psicanálise. Seus outros interesses são Comédia e Literatura (especialmente os Clássicos russos).




POSTADO POR CASTOR FILHO


http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/10/a-ucrania-e-o-brasil-amanha-ii.html

terça-feira, 7 de outubro de 2014

A Ucrânia é o Brasil amanhã! 07/10/2014

As velhas roupas novas do Imperador Obama e a Guerra da Energia dos EUA (Parte 1 de 2)



2/10/2014, [*] Vera Graziadei, Blog Vera Graziadei
Emperor Obama’s old new clothes and the US energy war
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu




Entreouvido no Mocó do Padre na Vila Vudu:


Cróóooooooozes! A Ucrânia é aqui! Já explodiram o avião do Eduardo Campos, já empurraram Marina Silva feito boi-de-piranha, pra abrir caminho prô Aécim... Porque uma coisa é certa: a GRANDE GRANA mundial NUNCA entregaria o governo do Brasil a Marina Silva. Nunca. Porque é mulher, porque é pobre, porque é mulata, porque é “de ONG”... E é BURRA a ponto de apoiar Aécim no 2º turno. Marina consegue “negociar” só até o nível “Neca” (às vezes nem isso), e dali não passa.


Marina foi uma espécie de Cavalo de Troia, metida lá entre a população da “esquerda” emburrecida e despolitizada por anos de bobajol dos petistas anti-jornais e por besteirol de jornalistas anti-petistas & pelas doideiras metidas a “intelectuais”, “sociológicas”, “históricas” e “geográficas” de professores-doutores e diplomatas midiáticos descalços que, piores, como gente-de-saber, no mundo não há.


Marina foi metida lá só para ajudar Aécim dividindo o eleitorado e provocar o 2º turno (coisa que Eduardo Campos não estava fazendo); o próprio Cavalo de Tróia. Aécim, verdade seja dita − e a GRANDE GRANA logo viu − é um saco de bosta.


Foi serviçal-criado do avô, depois serviu como subserviçal-criado da irmã, verdadeira, ao seu tempo, governadora de Minas. Mas Aécim é pau−mandado, no sentido de que obedece bem: é mandar, que ele faiz direitim...


É a “qualidade” que a GRANDE GRANA INTERNACIONAL (com seus cúmplices nacionais) e as BIG SISTERS do petróleo mais apreciam.



É onde afinal se vê que, sim, A UCRÂNIA É AQUI! Leiam o que abaixo se lê e ME DIGAM: se os EUA fizeram e fazem o que fizeram e fazem hoje na Ucrânia, por uns puns-lá, de gás de xisto... O que não tentariam, tentaram, tentarão por aqui, com o pré-sal e o Brasil crescendo de braços dados com a América Latina e com China e com Rússia e outros BRICS?!


Agora só falta, então, reeleger Dilma e despachar esse Aécim “Yats”, de volta prá Minas.


Depois não digam que não sabiam! Está escrito aí, porque Obama foi lá na ONU e disse com todas as letras. Assista aí no vídeo:


“(...) os Estados Unidos da América não se deixarão distrair ou desviar do que tem de ser feito. (…) Estamos preparados para fazer o que for necessário”.





É realmente pena que não deixem entrar crianças nas reuniões da ONU. Sem elas lá, não havia ninguém que, durante o discurso de Obama à Assembleia Geral, gritasse: “O rei está nu!” Porque até nas intenções o discurso de Obama foi pensado para ser visto como vestimenta finamente tecida para tornar críveis os motivos utópicos de cavaleiros andantes dos EUA, vestidos nas armaduras rutilantes da ONU e lutando por progresso humano, democracia, paz e prosperidade pelo planeta. Mas havia tantos furos naquela falso pano inventado por “especialistas” midiáticos, que era impossível não ver a feia carne nua das verdadeiras agendas da política exterior dos EUA.


Todos os presentes, e a mídia dominante, mantiveram a mentira, ignorando deliberadamente as falhas e os furos, e sempre elogiando a beleza e delicado equilíbrio do tecido e da tessitura (The Guardian: “Obama visou a um delicado equilíbrio na Assembleia Geral da ONU”), e sempre destacando a qualidade do padrão de haute-couture na justificação de mais guerras (BBC: A frase que perdurará é “a rede da morte”); e tudo rapidamente será repetido e repetido, nas narrativas dos jornais e redes de notícias.


Convenientemente, a maioria dos jornalistas da rede MSM escolheu não ver as inversões irônicas na trama do tecido urdido pelos conselheiros de Obama: “Centenas de milhões de seres humanos foram libertados da prisão da pobreza” (sim, exceto 67% das famílias de Detroit e 46,5 milhões de pessoas em todos os EUA); “digo sempre aos jovens dos EUA que esse é o melhor tempo, de toda a história, para estar vivo (a taxa de mortalidade infantil nos EUA é a 4ª mais alta, dentre as 29 nações mais desenvolvidas do mundo), porque há a maior probabilidade para todos de serem alfabetizados (há 32 milhões de adultos analfabetos nos EUA, 14% da população), terem boa saúde (os EUA têm o sistema de assistência à saúde mais caro e menos efetivo, na comparação com 10 outras nações ocidentais e altamente industrializadas), e serem livres para perseguir seus sonhos (é o Conto da Mobilidade Social nos EUA)”.


“Chegamos juntos à encruzilhada entre guerra e paz; entre desordem e integração; entre medo e esperança” – disse o Prêmio Nobel da Paz de 2009, o mesmo que na véspera começara a bombardear o sétimo país (!) predominantemente muçulmano de seu currículo de bombas, depois de Afeganistão, Paquistão, Iêmen, Somália, Líbia e Iraque. Horas antes de os EUA começarem a bombardear território sírio com ataques aéreos e mísseis, um alto funcionário do governo Obama dissera ao Guardian que “nenhum dos dois grupos tomados como alvos nos ataques da noite de 2ª-feira – o grupo militante Estado Islâmico ou o grupo coligado da Al-Qaeda, Corassão – significam ameaça iminente aos EUA”. Na verdade o Grupo Corassão, é grupo terrorista completamente inventado, só para justificar o bombardeamento contra a Síria.


Com Obama convocando o mundo para a via da guerra (que ele àquela altura já trilhava), ninguém lá se levantou para perguntar que possível autoridade legal ele teria para bombardear território sírio. Nos dias seguintes, os veículos da imprensa-empresa dominante, os quais em meses anteriores tanto falavam a favor de defender a soberania dos estados, sobretudo do estado ucraniano contra alegadas agressões russas, permaneceram impenetravelmente mudos a respeito de não haver nenhum tipo de autorização, nem da ONU nem do Congresso dos EUA, para a guerra de Obama na Síria, e servilmente repetiram toda a propaganda pró-guerra que o governo Obama distribuía. (Nota: Distribuir propaganda de guerra é crime de guerra, nos termos dos Princípios fixados pelo Tribunal de Nuremberg: é Crime contra a Paz. Ao divulgar a política externa dos EUA, a rede MSM torna-se cúmplice de crimes de guerra).


Deixando de lado a tragédia do conflito no Oriente Médio, e focando-se a seguir na Europa, o Imperador mostrou ainda mais claramente que seus trajes supostos humanitários eram só buracos – mentiras, hipocrisia, duplifalar. Só os mais caninamente fiéis defensores do Império, ou idiotas úteis da corte de Obama, poderiam ainda tentar manter a ficção de que aquela carne feia, podre, visível, das políticas exteriores dos EUA não aparecia ali, ante os olhos de todos. Presumivelmente, porque a maioria dos britânicos e europeus ainda creem que o progresso e a prosperidade deles depende(ria) de os EUA dominarem o planeta, o discurso de Obama encontrou eco nas crenças e nos valores deles, embora fosse discurso falso, do início ao fim. Porque, se se consideram os fatos do que os EUA têm feito na Grã-Bretanha e na Europa em anos recentes, é mais que claro que nenhuma agressão real jamais partiu da Rússia, mas do outro lado do Atlântico – semeando práticas antidemocráticas e corruptas na política europeia, pondo em risco o meio ambiente, minando direitos e poderes dos cidadãos e até encorajando o confronto com derramamento de sangue (como os EUA fizeram na Ucrânia).


Só as multinacionais e os políticos mais corruptos beneficiam-se das práticas que os EUA disseminam pelo mundo, as e os mesmos que trabalham juntos, em aliança, para manter a atual ordem corrupta do mundo, que tanto as/os beneficia, mas que já começa a ser ameaçada.


Segundo a revista Foreign Policy, “A liderança norte-americana no mundo está em perigo”: vê-se muito mais crescimento econômico no mundo em desenvolvimento (vide gráfico abaixo); os países em desenvolvimento começam a investir mais na autoproteção militar (o que reduz o poder relativo dos EUA); e a dívida interna dos EUA já chega a US$13 trilhões, 75% do PIB. Esse último é o maior dos problemas que os EUA enfrentam no momento: “entre aliados, adversários e estados indecisos, a política fiscal dos EUA já põe cada dia mais em questão a capacidade dos EUA para liderarem globalmente”.



Gráfico: “PIBs dos países do G-7 e E-7”



Foreign Policy listou medidas que os EUA teriam de tomar para manter-se na liderança global (...), como [dentre outras] atrair cérebros de todo o mundo, e capitalizar o boom de energia pelo qual passam os EUA.


Há menos de uma década, os EUA eram completamente dependentes de energia importada, sobretudo do Oriente Médio. Essa situação mudou a partir de 2007, quando uma combinação de fracking e perfuração horizontal gerou acentuado crescimento na produção de petróleo e gás natural nos EUA, ajudando os EUA em 2013 a assumir a posição de maior produtor de petróleo e gás do mundo, superando a Rússia e gerando a esperança de que o país supere a Arábia Saudita como principal produtor de petróleo cru, já em 2015. Esse progresso na “revolução da energia na América do Norte” tornou os EUA relativamente independentes em energia e, por sua vez, estimulou a produção petroquímica, gerou 2 milhões de empregos na indústria do gás de xisto, alegadamente teria reduzido as emissões de dióxido de carbono e, mais importante, transformou a política exterior dos EUA.


Tudo começou com Hillary Clinton que, quando comandou o Departamento de Estado, trabalhou em íntima associação com empresas de energia para espalhar pelo mundo o fracking – vendido como solução eficaz na luta contra a mudança climática e meio para fornecer energia, mas também para enfraquecer adversários poderosos, que desafiavam os EUA no mercado global de energia, como Rússia, China, Síria e Irã; e para beneficiar empresas norte-americanas, as quais, com a ajuda de funcionários do governo dos EUA, conseguiriam altas concessões para extrair gás de xisto por todo o mundo.


No início de 2009, quando Clinton assumiu como Secretaria de Estado, deu instruções ao advogado David Goldwyn para que “elevasse a diplomacia da energia à posição de função chave da política exterior dos EUA”. Em 2010, Goldwyn apareceu com a Iniciativa Global para o Gás de Xisto, que visava a “ajudar outras nações a desenvolverem seu potencial de xisto”, de um modo que seria ‘o mais ambientalmente amigável possível’. Mas, quando a Iniciativa foi lançada, os grupos ambientalistas mal foram ‘avisados’, e foi a Associação de Energia dos EUA, organização empresarial que representa Chevron, Exxon Mobil e Conoco-Phillips, que ficaram no papel de protagonista.


No início de 2011, o Departamento de Estado decidiu criar um novo gabinete, para integrar a energia em todos os aspectos da política exterior, ideia pesadamente inspirada pelo livro, de autoria de um executivo da Chevron, Jan Kalicki, Energy and Security: Toward a New Foreign Policy Strategy. O novo Gabinete de Recursos de Energia, com 63 empregados e orçamento de vários milhões de dólares (dinheiro, claro, que saiu do bolso dos contribuintes norte-americanos) começou a trabalhar no final de 2011. Uma das estratégias para as embaixadas foi “buscar maior alcance junto a firmas de energia do setor privado (algumas das quais haviam sido doadoras de muito dinheiro para as campanhas políticas de Hillary Clinton e de Obama, por ex., a Chevron). Desse ponto em diante, o governo dos EUA e as gigantes do petróleo trabalharam juntas, como se fossem uma só empresa multinacional perseguindo o mesmo plano de negócios.


A Europa foi um dos principais alvos desse plano de negócio/política exterior dos EUA focado na energia, e Clinton visitou pessoalmente vários países (a Bulgária, p. ex.) para promover a indústria do fracking. Lobbyistas fizeram circular um relatório segundo o qual a União Europeia poderia economizar 900 bilhões de euros se investisse em gás, em vez de investir em energia renovável para cumprir suas metas para o clima até 2050. Simultaneamente, o gás de xisto era anunciado como combustível de eleição, por reduzir as emissões de carbono. Ambientalistas contra-argumentaram, dizendo que o fracking teria pouco efeito para conter o aquecimento global, uma vez que poços e dutos deixariam vazar grandes quantidades de metano, potente gás gerador do efeito estufa. Também havia quem se preocupasse porque os investimentos em fracking reduziriam o investimento em fontes de energia renovável. Ao mesmo tempo cresciam as provas de que o fracking estava associado à contaminação da água subterrânea e a terremotos.


Apesar dessas contracorrentes, 2012 foi ano de muita agitação no Departamento de Estado, que promoveu conferências para promover o fracking da Tailândia a Botswana, com diplomatas e funcionários do governo ajudando as gigantes norte-americanas do petróleo a espalhar sondas e vazamentos de gás de xisto por todo o planeta. Coube à Chevron a maior fatia das concessões para exploração de gás de xisto na Argentina, Austrália, Canadá, China e África do Sul, bem como na Europa Oriental, especialmente na Polônia, que concedeu mais de 100 lotes para extração de gás de xisto, que cobriam 1/3 do próprio território.



Concessões p/ "fracking" na Europa



Mas o plano de negócios/política externa dos EUA não avançou como o esperado: novas pesquisas do Centro Geológico dos EUA sugeriram que as avaliações da Agência de Energia haviam superestimado muitíssimo (99%) os depósitos de gás de xisto na Polônia, e estudos de uma indústria estimava que perfurar gás de xisto na Polônia custaria três vezes mais caro que nos EUA. E também surgiram controvérsias novas sobre direitos de propriedade e exploração do subsolo na Europa Oriental.


Ante todos esses obstáculos, o Departamento de Estado dos EUA a as empresas-monstro do petróleo puseram em campo, numa blitz de lobbying por toda a União Europeia: políticos receberam estudos e pesquisas pagos pela indústria, criaram-se ONGs de fachada, os funcionários dos centros de regulação e controle comeram incontáveis jantares e beberam incontáveis garrafas de vinho em incontáveis conferências e “eventos” os mais extravagantes. Tudo, sempre, acompanhado do alerta de que o fracasso no desenvolvimento do gás de xisto teria “consequências danosas para a segurança energética e a prosperidade da Europa”.


Num dado momento desse frenesi-bonanza de lobbying europeu, o escritório Covington & Burling, grande escritório de advogados de Washington, contratou vários ex-políticos da União Europeia – incluindo um alto funcionário do setor de energia que, segundo o New York Times, chegou com uma versão ainda não divulgada das regulações da Comissão Europeia para o fracking. Não apenas vários escritórios de advocacia nos EUA estavam promovendo a corrupção, pagando gordos cheques a políticos europeus, inclusive a altos oficiais dos três principais corpos – a Comissão Europeia, o Parlamento Europeu e o Conselho Europeu – mas, também faziam todo o possível para manter suas práticas delobbying envoltas na mais impenetrável sombra, sempre recorrendo a cláusulas de confidencialidade para escapar de qualquer investigação que por acaso se empreendesse. Essa falta de transparência deixou muitos dos resultados daquela operação de lobbying bem distantes de qualquer exame ou discussão pela opinião pública, comprometeu seriamente a própria democracia europeia, mas trouxe gordos lucros a vários clientes multinacionais.


Entre janeiro e outubro de 2012, Goldwyn, da Iniciativa Global para o Gás de Xisto dos EUA, organizou workshops de divulgação do fracking pagos pela Chevron na Bulgária, Lituânia, Polônia, Romênia e Ucrânia. Todos esses países, exceto a Bulgária, onde cresceram os protestos anti-fracking, premiariam a Chevron com grandes concessões para extração de gás de xisto. Na Romênia, o Departamento de Estado dos EUA envolveu-se diretamente nas negociações – com o embaixador dos EUA conduzindo negociações entre funcionários da Chevron “interessados e preocupados” e o governo romeno, que resultaram num negócio de 30 anos para a Chevron.


Quando a Chevron começou a instalar sua primeira bomba de extração na Romênia, moradores da região bloquearam completamente o acesso aos pontos de perfuração. Imediatamente surgiram protestos anti-fracking por toda a Europa, da Polônia ao Reino Unido, mas a Chevron não recuou; com outras empresas norte-americanas de energia, organizou uma grande ação de lobbying para “inserir termos, numa proposta de acordo comercial entre EUA e UE, conhecido como “Parceria Trans-Atlântica para Comércio e Investimentos” [orig. TTIP (Transatlantic Trade and Investment Partnership)], para permitir que empresas norte-americanas processem governos europeus, em painéis internacionais de arbitragem, no caso de qualquer ação que ameace investimentos daquelas empresas, com vistas a proteger seus acionistas contra tratamento “arbitrário” e “injusto” por autoridades locais”.


Apesar dos protestos populares na Europa, o Departamento de Estado dos EUA, trabalhando com as multinacionais de energia, como se “fossem ramos de uma mesma grande empresa”, manteve o seu curso, com vistas a tornar a Europa mais dependente da plataforma de energia dos EUA. Um dos principais obstáculo a essa meta era – como ainda é – a Rússia, que fornece 30% do gás natural que a Europa consome. A campanha pela imprensa-empresa, comandada pelos EUA, de demonização da Rússia, tem a ver com essa revolução do frackingque os EUA querem fazer na Europa; demonizam a Rússia, para levar os europeus a rejeitar o gás russo!


Infelizmente, a Ucrânia foi apanhada no centro dessa batalha, porque depende quase integralmente do gás russo, e é um dos principais países de trânsito do gás na Europa. Um relatório interno, intitulado “Texto de circunstância 291: a política energética ucraniana e a política estratégica dos EUA na Eurásia” diz o seguinte sobre o “problema”:


12 anos depois da independência, a Ucrânia parece incapaz de achar meio de romper sua dependência energética da Rússia, ou de administrá-la com eficácia. A atual situação energética da Ucrânia e seu encaminhamento têm também graves e importantes implicações negativas para a estratégia dos EUA na região (...). A falta de estratégia para a política energética da Ucrânia complica a estratégia dos EUA de apoiar várias rotas de gasodutos no eixo leste-oeste como modo de promover um sistema mais pluralista na região, como alternativa contra a continuada hegemonia dos russos. (Ah! Se os discursos de Obama fossem, pelo menos, tão honestos como esse parágrafo!).



Quase todo o gás que vai da Rússia
para a Europa passa pela Ucrânia
(clique no "link" para aumentar)

Dia 5/11/2013, parecia que a independência da Ucrânia, que se livraria do gás russo, era assunto resolvido – Ucrânia e Chevron afinal firmaram acordo de concessão por 50 anos, depois de um primeiro acordo, de janeiro de 2013, com a Royal Dutch Shell. O presidente da Ucrânia, Yanukovich, parecia otimista quanto a essas parcerias, e disse, por sua página na Internet, que elas “permitirão que a Ucrânia satisfaça completamente sua demanda de gás e, num cenário otimista, comece a exportar recursos energéticos já em 2020”.


Rolhas e rolhas de garrafas de champanhe devem ter pipocado nesse dia, porque já fazia vários anos que os EUA tentavam afastar a Ucrânia do gás russo. Já em 2004, o governo Bush gastara $65 milhões “para ajudar organizações políticas na Ucrânia, pagando para que o líder da oposição Viktor Yushchenko se reunisse com líderes dos EUA, e ajudando a produzir pesquisas que indicavam que ele vencera as eleições do mês anterior, num disputado segundo turno”.


Durante a presidência de Yushchenko (2005-2010), Ucrânia e Rússia tiveram vários “confrontos de gás”, um dos quais, em 2009, deixara nada menos que 18 países europeus sem receber gás russo. Como resposta, a Gazprom, a estatal russa de energia, propôs a construção de um novo gasoduto, ao custo de US$ 21,6 bilhões, chamado Ramo Sul, como solução para contornar a Ucrânia e garantir fluxo ininterrupto de gás para a Europa. A Itália e sete outros países europeus uniram-se no mesmo negócio.



Gasodutos russos que atendem
países da Europa Oriental



Dado que o projeto só estaria concluído em 2018, os EUA ainda tinham tempo para desafiar a Rússia, no cenário do mercado de energia europeu; e o negócio da Chevron com a Ucrânia foi uma tentativa para conseguir exatamente isso. Como é praxe, os EUA suplementaram o plano de negócios com poderosa campanha de propaganda e Relações Públicas. Alguns meses antes de fechar o negócio Chevron-Ucrânia, as embaixadas dos EUA (Chevron) e da Holanda (Shell), com a Fundação International Renaissance de George Soros “anunciaram'’ a criação de uma “ONG” – uma rede de televisão anti-Rússia e pró-Ocidente, chamada Hromadske TV, [1] a qual, e sempre, claro, por pura coincidência, foi lançada dia 22/11/2013, exatamente um dia depois de Yanukovich ter desistido de um acordo com a União Europeia, em favor de uma oferta que lhe fez Putin, de gás 30% mais barato, e um pacote de ajuda de US$ 15 bilhões.



Fluxo de Caixa da Hromsdske TV
(clique na imagem para aumentar)



Foi essa Hromadske TV, patrocinada por EUA/Holanda/Soros, que se converteu em principal veículo de estimulação e insuflamento por trás dos protestos da Praça Maidan, iniciados pelo editor-chefe daquela rede de TV, Mustafa Nayem, que usou a página de Facebook para convocar os ucranianos para que se reunissem na Praça da Independência (Maidan) em Kiev, para protestar contra a decisão de Yanukovich. A narrativa difundida pela Hromadske TV, pela televisão ucraniana que pertence a membros da oposição e pela imprensa-empresa ocidental foi que aqueles protestos teriam sido “movimento popular, acionados pelo desejo dos cidadãos ucranianos que anseiam por melhor governo e laços mais próximos com a União Europeia”. Estranhamente, raros foram os jornalistas ocidentais que se preocuparam com o fato de o homem que convocava gente para a Praça Maidan ser pago pelas embaixadas dos EUA e da Holanda, e por George Soros.


Enquanto publicamente os funcionários do governo dos EUA falavam do “direito do povo ucraniano à autodeterminação, liberdade e democracia”, por trás do palco estavam “nomeando” presidentes, eles mesmos, sem considerar qualquer interesse dos ucranianos, mas exclusivamente interesses dos EUA. Exemplo disso é uma conversa privada, que vazou, em que a Secretária de Estado Assistente dos EUA, Victoria Nuland, disse ao embaixador dos EUA em Kiev, Geoffrey Pyatt: “Não acho que “Klitsch” [líder da oposição] deva ir para o governo (Klitshchko não foi; em vez disso, concorreu às eleições para a prefeitura de Kiev e foi eleito). Acho que o homem é “Yats”, que tem experiência econômica, experiência de governo”. (Yatsenyuk foi nomeado primeiro-ministro interino. Também totalmente por acaso, a fundação dele, “Open Ukraine” é mantida por uma lista de patrocinadores odiadores-de-russos, incluído o Centro de Documentação e Informação da OTAN e o Departamento de Estado dos EUA).


Na mesma conversa, Nuland, que é casada com Robert Kagan, figura de destaque da política externa dos neoconservadores, que muito trabalhou a favor da guerra ao Iraque, ofereceu uma perfeita definição do papel da ONU nesse mundo: “Ele [Jeff Feltman, sub-secretário-geral da ONU para assuntos políticos] já deu jeito para que os dois [funcionário da ONU Robert] Serry e [secretário-geral da ONU] Ban Ki-moon concordem que Serry deve ir na 2ª ou na 3ª-feira. Isso assim fica ótimo, eu acho, ajudar a colar a coisa toda, e ter a ONU para ajudar a colar tudo. E, você sabe, foda-se a União Europeia”.


Acho que a ONU deve alterar a frase que se vê no website, de “Bem-vindo à ONU. Esse é o seu mundo”, para “Bem-vindo à ONU. Esse é o mundo dos EUA e estamos aqui para colar a coisa toda”.


“Foda-se a União Europeia” é resumo perfeito das relações entre EUA e UE nos anos recentes. E poria um toque de veracidade e sinceridade, se acrescentado como post-scriptumao discurso de Obama da Assembleia Geral da ONU.


[Continua]


Nota dos Tradutores
[1] Na página dessa rede ucraniana, há uma lista de países classificados por número de canais de televisão que lá operam. Interessante a experiência de clicar no item “Brasil”. George Soros sabe da existência de canais de televisão no Brasil dos quais o pessoal aki em kasa nunca nem ouviu falar!
_____________________



[*] Vera Graziadei é atriz, escritora e investigadora política anglo-russo ucraniana. Antes de ser atriz, obteve licenciatura em Filosofia e Economia e Mestrado em Filosofia e Políticas Públicas (Tese: Capital Social e Crítica do Relatório de Desenvolvimento do Banco Mundial) pela London School of Economics. Continuou estudando Filosofia, enquanto trabalhava como atriz, com foco no Existencialismo; completou o bacharelado em Psicoterapia e Psicanálise. Seus outros interesses são Comédia e Literatura (especialmente os Clássicos russos).




POSTADO POR CASTOR FILHO

http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/10/a-ucrania-e-o-brasil-amanha.html

Petrobras descobre reserva em águas ultraprofundas 07/10/2014

ENERGIA



Jornal GGN - A Petrobras anunciou nesta terça-feira (7) nova descoberta em águas ultraprofundas, na camada pós-sal da Bacia do Espírito Santo. O poço, chamado Pudim, foi perfurado em profundidade de 1.886 metros, na área de Brigadeiro.

" A Petrobras informa que confirmou a extensão de uma acumulação de hidrocarbonetos em águas ultraprofundas, no pós-sal da Bacia do Espírito Santo, através da perfuração do poço de extensão 3-BRSA-1253D-ESS (nomenclatura ANP) / 3-ESS-219D (nomenclatura Petrobras), informalmente conhecido como Pudim, em profundidade de água de 1.886 metros", disse a estatal, em nota divulgada ao mercado.

O poço está localizado na área do Plano de Avaliação da Descoberta (PAD) de Brigadeiro, a 121 km da cidade de Vitória, no estado do Espírito Santo.

Foi comprovada a presença de óleo de boa qualidade através da análise de dados de perfis, de amostragens de fluido e de teste a cabo, em reservatórios localizados em profundidade de cerca de 3.550 metros.

A Petrobras é a operadora do consórcio para exploração do Plano de Avaliação da Descoberta (PAD) de Brigadeiro (65%), em parceria com a Shell Brasil Petróleo Ltda (20%) e Inpex Petróleo Santos Ltda (15%). O consórcio dará continuidade à perfuração do poço até a profundidade final prevista de 4.500 metros.




http://jornalggn.com.br/noticia/petrobras-descobre-reserva-em-aguas-ultraprofundas

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Petrobrás descobre mais gás no Espírito Santo 03/10/2014


Por Miguel do Rosário





Enquanto os cães ladram, a Petrobrás continua a bater recorde de produção, e a encontrar mais petróleo.

Segue uma informação que a estatal acaba de divulgar.

*
Descoberta de acumulação de gás na Bacia do Espírito Santo

A Petrobras informa que descobriu nova acumulação de gás no pós-sal da Bacia do Espírito Santo. A descoberta ocorreu durante a perfuração do poço 3-BRSA-1259-ESS (nomenclatura ANP) / 3-ESS-222 (nomenclatura Petrobras), informalmente conhecido como Tanganika, em profundidade de água de 1.043 metros, localizado no Plano de Avaliação da Descoberta PAD) Malombe, a 72 km da costa do estado do Espírito Santo.

A comprovação da descoberta ocorreu por meio de perfilagem em reservatórios localizados em profundidade de cerca de 2.880 metros. A profundidade final do poço foi de 2.996 metros.

O consórcio, operado pela Petrobras (89,89%) em parceria com a Repsol Sinopec (11,11%), dará continuidade às operações previstas, com o objetivo de melhor avaliar a descoberta, por meio de teste de formação.

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Dilma Rousseff pode ser reeleita no primeiro turno das eleições no Brasil 03/102014



Brasileiros obtiveram muito do que esperavam da eleição de Rousseff



2/10/2014, [*] Mark Weisbrot, The Guardian, UK
Why Dilma Rousseff could win Brazil’s presidential election
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


A explicação para a re-eleição de Dilma Rousseff com certeza deve ser buscada na evidência de que a maioria da população brasileira examina os 12 anos de governo do Partido dos Trabalhadores. Para os que tenham idade para lembrar ou interesse em comparar os números de hoje e os dos Brasil de antes, as mudanças para melhor são muito visíveis (para os dados, vide The Brazilian Economy in Transition: Macroeconomic Policy, Labor and Inequality”, Mark Weisbrot, Jake Johnston and Stephan Lefebvre, Center for Economic and Policy Research, outubro-2014 em .pdf).



Dilma e os trabalhadores

Quando a candidata desafiante Marina Silva apareceu nas pesquisas, há algumas semanas, à frente da presidenta Dilma Rousseff do Brasil, houve grande excitação aqui em Washington, na imprensa-empresa do business e nos mercados financeiros brasileiros. O partido de Rousseff, Partido dos Trabalhadores (PT) está no governo há 12 anos e muita gente rica e poderosa – no Sul e no Norte – muito apreciaria uma mudança. Chegou a parecer que a sorte os ajudaria: a economia brasileira consideravelmente desacelerada nos anos recentes teria entrado oficialmente em recessão esse ano – detalhe que, em tese, apressaria o fim de muitos governantes. Antes disso, houve protestos de rua a propósito de um aumento do preço do transporte público e dos gastos do governo na Copa do Mundo; até o próprio futebol parecia conspirar, sobretudo quando a seleção do Brasil perdeu por humilhantes 7-1, destroçada pelos alemães.


O que se viu, contudo, foi que Dilma superou cada um e todos esses golpes e aparece agora posicionada em primeiro lugar, com reais chances de vencer no primeiro turno e já dada por re-eleita, se houver segundo turno nas eleições. Por que e como aconteceu?


A explicação para a re-eleição de Dilma Rousseff com certeza deve ser buscada na evidência de que a maioria da população brasileira, sim, examina os 12 anos de governo do Partido dos Trabalhadores. Para os que tenham idade para lembrar ou interesse em comparar os números de hoje e os dos Brasil de antes, as mudanças para melhor são muito visíveis (para os dados, vide “The Brazilian Economy in Transition: Macroeconomic Policy, Labor and Inequality”, Mark Weisbrot, Jake Johnston and Stephan Lefebvre, Center for Economic and Policy Research, outubro-2014” (.pdf).



Brasil com Dilma superando a pobreza extrema

Apesar de o ritmo ter diminuído em anos recentes, e da recessão mundial de 2009, o PIB per capita do Brasil cresceu em média 2,5% por ano, de 2003-2014. Foi mais que três vezes a taxa de crescimento que se viu durante os dois governos do presidente Fernando Henrique Cardoso, que implementou as políticas do “Consenso de Washington” e ainda é o estadista “preferido” na capital dos EUA. (Antes de Cardoso, houve uma década e meia de fracassos econômicos ainda maiores, ocasião em que Washington teve ainda maior influência na política econômica e quando a renda per capita real diminuiu no Brasil).


A volta do crescimento, mais o uso pelo governo de Rousseff do aumento de renda, para ampliar o investimento social, fizeram cair a pobreza no Brasil em quase 55%; e a pobreza extrema, em 65%. Para os que viviam em pobreza extrema, o programa brasileiro de transferência de renda mundialmente reconhecido (“Bolsa Família”), garantiu 60% de sua renda (em 2003, foram 10%).


Aumento consistente no salário mínimo – aumentou 84% desde 2003, ajustado pela inflação – também ajudou muito.


O desemprego caiu ao número recorde de 4,9% (chegava a 12,3% quando Lula da Silva chegou à presidência, em 2003. A qualidade dos empregos gerados também aumentou: a porcentagem de trabalhadores presos no setor informal da economia caiu de 22% para 13%.



Variação da Taxa de desemprego no Brasil

A distribuição de renda no Brasil ainda é uma das mais desiguais do mundo, mas também aí houve melhora significativa. De 2003-2012, os 40% da população imediatamente abaixo da média quase dobrou sua participação na riqueza do país, em comparação com os dez anos anteriores. Aconteceu às expensas dos 10% mais ricos.


Os pobres muito obviamente se beneficiaram dessa transformação na economia brasileira – e isso é o que se vê refletido nas pesquisas de intenção de voto. Mas não só os pobres beneficiaram-se com as condições melhoradas de bem-estar: com renda média familiar de apenas US$ 800, a vasta maioria dos brasileiros também se beneficiou com salários mais altos, desemprego em queda e aumento significativo nas aposentadorias, que também aconteceu na última década.


Para as elites, é claro, essas melhorias na vida do trabalhador comum não são boa notícia. Uma nova lei que exige que trabalhadores domésticos (o que há em grande número no Brasil, por causa da desigualdade ainda enorme) sejam oficialmente tratados como empregados formais, com horário máximo de trabalho e direito à assistência social, é o mais recente incômodo a atormentar os endinheirados no Brasil.



A mídia no Brasil tem candidato

A chamada “mídia” brasileira operando contra o governo e com candidato próprio tornou-se veículo de uma contranarrativa, segundo a qual o Brasil governado pelo PT estaria a caminho da ruína – contranarrativa que se viu também na mídia internacional. Para as empresas de imprensa no Brasil, a economia estaria declinante porque o governo não é suficiente “amigo do mercado” e do business. A inflação (que está hoje no topo da meta fixada de 6,5%) seria insuportavelmente alta, empurrada para cima por mercado de trabalho “muito regulado”; e o governo teria de “cortar gastos”. E sim, sim – o governo tem também de ser “mais amigo” dos EUA e da política dos EUA para a região (que é altamente impopular em toda a América Latina). Foi um dos temas de campanha para as eleições de 2010, que foi agora ressuscitado.


A realidade da política econômica é praticamente o contrário do que se lê na imprensa brasileira: de fato, mesmo, desde o final de 2010 o governo tem dado o que parece a muitos ser excessiva atenção à Big Finance, aumentando taxas de juros e cortando gastos em momentos em que a economia pareceu fraca demais. Esperemos que esses erros não se repitam.


Se Dilma vencer, terá sido porque a maioria dos brasileiros obtiveram, sim, muito dos objetivos para os quais a elegeram. O mais provável é que queiram mais, e certamente querem. O mais improvável é que os brasileiros votem por um retrocesso.






[*] Mark Weisbrot é economista e co-diretor do Center for Economic and Policy Research em Washington DC.. É coautor, com Dean Baker, de Social Security: the Phony Crisis. Criticou a privatização do sistema norte-americano de seguridade social (hoje um dos mais precários do mundo) e foi um grande crítico da globalização e do FMI. Os trabalhos de Weisbrot a respeito dos países latino-americanos (incluindo Argentina, Bolívia, Brasil, Equador e Venezuela) atraíram interesse nacional e internacional. É comentarista de política econômica internacional com artigos publicados, p.ex., no New York Times (USA) e no The Guardian (UK).




POSTADO POR CASTOR FILHO


http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/10/dilma-rousseff-pode-ser-reeleita-no.html

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

AEB prepara lançamento do segundo nanossatélite brasileiro 02/10/2014

Com informações da AEB - 01/10/2014


A Agência Espacial Brasileira (AEB) está negociando com uma companhia norte-americana o lançamento do segundo nanossatélite brasileiro.

A ideia é que o Itasat-1 seja lançado no segundo semestre de 2014 a bordo do foguete Falcon-9 da empresa SpaceX.

Após ser readequado sob coordenação da AEB, o Itasat-1 teve agregado experimentos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE/MCTI), do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), das universidades do Vale dos Sinos (Unisinos), Federal do Rio Grande do Nortre (UFRN) e do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE).

Entre os novos experimentos estão um GPS Orion e uma placa microcontrolada com sensores de radiação ionizante, que terá seus dados processados em conjunto com o laboratório de estudos do clima espacial (Embrace) no INPE.

A conclusão da integração do modelo de engenharia e realização de testes funcionais está prevista para até o fim de dezembro próximo.

A integração do modelo de voo, com testes de aceitação funcionais e de requisitos de lançamento a cargo do Laboratório de Integração e Testes (LIT), no INPE, serão realizados entre janeiro e abril de 2015.

Itasat-1

O ITASAT-1 é um satélite experimental científico com cinco funções principais (cargas úteis) e vida útil de um ano.

Nesse período, o equipamento deverá testar em órbita: o transponder de coleta de dados (DCS) desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em parceria com o Centro Regional do Nordeste (CRN); o GPS Orion, desenvolvido pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em parceria com o IAE; a placa de sensores para medidas de caracterização do campo magnético terrestre, desenvolvida pela Universidade de Santa Maria (RS); o funcionamento de uma câmera fotográfica para satélites de pequeno porte, utilizada em missões estratégicas; e um experimento de comunicação e transferência de dados com a comunidade de radioamador.

Para atender aos objetivos da missão, a plataforma conta com os seguintes subsistemas: estrutura, painéis solares, unidade de condicionamento e distribuição, computador de supervisão de bordo, interfaces de expansão, GPS, computador de controle de atitude, sensores solares e magnéticos, atuadores, sistema de telemetria, rastreamento e comando (TT&C).

Nanosatc-Br1

O primeiro nanossatélite brasileiro, o Nanosatc-Br1, está há quase  (três)* meses em órbita.

O cubesat está operacional e transmitindo dados para estações localizadas em Santa Maria (RS) e São José dos Campos (SP).

A bordo estão instrumentos para o estudo de distúrbios na magnetosfera, principalmente na região da Anomalia Magnética do Atlântico Sul, e do setor brasileiro do Eletrojato Equatorial Ionosférico.

http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=aeb-lancamento-segundo-nanossatelite-brasileiro&id=010175141001#.VC0t6PldXkU

* informação complementada pelo autor do blogue

Água da Terra é mais velha do que o Sol 02/10/2014

Redação do Site Inovação Tecnológica - 30/09/2014


A água dos oceanos da Terra parece ter uma história bem mais antiga do que se acreditava. [Imagem: Bill Saxton/NSF/AUI/NRAO]


Idade da água

Uma equipe de astrofísicos analisou o gás hidrogênio e seu isótopo deutério, espalhados pelo Sistema Solar e concluiu que a água da Terra é mais antiga do que o próprio Sol.

Isótopos são átomos do mesmo elemento que têm o mesmo número de prótons, mas um número diferente de nêutrons. A diferença de massa entre os isótopos resulta em diferenças sutis em seu comportamento durante as reações químicas.

Como resultado, a razão entre hidrogênio e deutério nas moléculas de água pode mostrar sob quais condições as moléculas de água se formaram.

Por exemplo, a água interestelar tem uma alta relação deutério/hidrogênio por causa das temperaturas muito baixas nas quais se formam, dizem os cientistas.

Até agora, não se sabia o quanto desse enriquecimento de deutério foi removido por processamento químico durante o nascimento do Sol, ou quanto de água rica em deutério o Sistema Solar recém-nascido foi capaz de produzir.

A equipe criou então modelos que simulam um disco protoplanetário nos quais todo o deutério do gelo do espaço já foi eliminado por transformação química, e o sistema tem que começar de novo "do zero" a produzir gelo com deutério em um período de milhões de anos.

Eles fizeram isso para ver se o Sistema Solar poderia produzir água com as proporções de deutério e hidrogênio encontradas em amostras de meteoritos, na água dos oceanos da Terra e nos cometas.

A equipe concluiu que não, que o Sistema Solar não produziria água desse tipo, o que foi interpretado como uma mostra de que pelo menos um pouco da água em nosso Sistema Solar - incluídos aí os oceanos da Terra - tem origem no espaço interestelar anterior ao nascimento do Sol.

A constatação é crucial para a busca de vida fora da Terra porque, se isso aconteceu aqui, deve acontecer em outros sistemas planetários, que podem nascer em ambientes bastante adequados a servir como base de uma futura vida orgânica.

http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=agua-terra-mais-velha-sol&id=010130140930#.VC0tQPldXkU

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Os abutres financeiros querem a chave do cofre 01/10/2014


– Notas para um debate sobre a independência do Banco Central do Brasil
por EdmiIson Costa [*]

A questão da independência do Banco Central (Bacen) ou sua submissão aos governos eleitos democraticamente é um tema recorrente no debate sobre a economia brasileira, especialmente nos momentos de aumento da inflação, quando se discute o problema do déficit público, por ocasião de qualquer crise econômica e, especialmente, nos momentos eleitorais. Um frenesi intenso toma conta dos chamados formadores de opinião e a mídia corporativa, quase toda alinhada com o capital financeiro nacional e internacional e com as teses neoliberais, se encarrega de multiplicar a catilinária ortodoxa e creditar todas as dificuldades da economia à falta de independência do Banco Central. Para as pessoas que não são versadas no conhecimento da economia, esse parece ser um assunto bizantino, distante de sua vida real, afinal o que o cidadão comum tem a ver com política monetária, taxa de juros, dívida interna, metas de inflação, superávit primário, emissão de moeda, controle da liquidez, câmbio e coisas do gênero?

Apesar de parecer um tema distante da vida cotidiana das pessoas, todas essas variáveis econômicas são administradas pelo Banco Central e têm uma importância fundamental na vida das pessoas, pois delas depende o investimento na economia e, portanto, o nível de emprego; os recursos para gastar na construção de escolas, hospitais, saneamento público; as verbas sociais e até mesmo as facilidades ou dificuldades para comprar à prestação um eletrodoméstico como televisão, geladeira, fogão ou um computador. Isso porque o Banco Central é o banco dos bancos, o xerife do sistema financeiro, o executor do conjunto da política monetária do governo. Numa economia desenvolvida como a brasileira, onde a moeda desempenha um papel fundamental, o Banco Central é uma das instituições mais importantes do País, pois possui a chave do cofre do Tesouro Nacional e tem um poder imenso sobre o conjunto da política econômica.

Talvez por isso a discussão sobre a independência ou não do Banco Central voltou novamente à ordem do dia nesta reta final do primeiro turno e prosseguirá ao longo do segundo turno. Como de costume, toda a mídia corporativa abre generosos espaços para os defensores da independência do Banco Central e quase nenhum para aqueles que são contrários, num esforço de manipulação digno da velha imprensa burguesa brasileira, que sempre se comportou como linha de frente dos interesses mais conservadores das classes dominantes do País. Os candidatos, especialmente os três mais bem colocados nas pesquisas, transformaram esse tema num dos motes principais de suas campanhas.

O PSDB, seguindo a tradição clássica neoliberal, é favorável à autonomia do Banco Central e não ficaria contrariado se encontrasse força suficiente para transformar a autonomia em independência formal legalizada. Mas a novidade veio por conta da candidata do PSB, Marina Silva, que militou a maior parte de sua vida no PT e se afastou do governo ainda no período Lula. Para a surpresa de alguns, a ex-militante petista agora trouxe como uma das principais bandeiras de campanha a independência do Banco Central, talvez influenciada por uma herdeira do Banco Itaú e coordenadora de seu programa de governo e pelos economistas neoliberais que formam sua equipe. A candidata do PT aproveitou habilmente o debate para se contrapor à independência do Banco Central e criticar os adversários, às vezes com uma contundência muito forte, como se o Banco Central não tivesse autonomia operacional há pelo menos duas décadas.

Na verdade, o Banco Central brasileiro opera com autonomia desde o início do período neoliberal no começo da década de 90 e cumpriu como bom aluno aplicado todas as determinações do Consenso de Washington. No governo Lula, foi dirigido por Henrique Meireles, ex-presidente do Bank of Boston e, além da autonomia operacional, o presidente do Banco Central ainda ganhou o status de ministro. Portanto, esse é um debate em que apenas formalmente há grandes contradições entre os candidatos dos partidos da ordem, mas em temos de conteúdo todos pensam e agem de maneira muito semelhante. De qualquer forma, esse é um momento oportuno para se esclarecer o verdadeiro sentido da discussão e mostrar o que se esconde por trás do véu que encobre esse debate.

Em outros termos, o que se pode deduzir é que o sistema financeiro nacional e internacional e os rentistas em geral não estão totalmente conformados em embolsar apenas os R$ 2,8 trilhões (U$ 1,4 trilhão) que receberam de juros do governo entre 2002 e 2013 [1] , nem com as tarifas exorbitantes que cobram dos correntistas, com as quais pagam a folha de pessoal dos bancos e ainda sobram recursos, nem com os juros estratosféricos que cobram da sociedade. Os abutres financeiros querem agora a chave do cofre, para raspar o fundo do tacho e acabar até mesmo com as migalhas que são destinadas ao programa Bolsa Família (representa apenas cerca de 10% do pagamento dos juros), reduzir ainda mais as aposentadorias, os salários dos funcionários públicos e privatizar o que ainda resta de empresas públicas como a Petrobrás, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.

Política monetária e Banco Central

Para se compreender o que está em discussão é fundamental entendermos o papel da política monetária do País e o significado do Banco Central na política econômica do País. Procuraremos abordar o tema de forma didática, especialmente para os trabalhadores e a juventude, a fim de que possam entender os meandros dessa discussão. Não se trata de um debate técnico, que só interessa aos que dominam o economês. Pelo contrário, as medidas tomadas pelo Banco Central afetam o conjunto da economia e a vida pessoal da grande maioria da população. Por exemplo, a política de juros elevados praticada nas duas ultimas décadas representou a maior transferência de renda[NR] do setor público para o setor privado, especialmente para o sistema financeiro nacional e internacional e os rentistas em geral. E quanto mais esse pessoal ganha, menos recursos sobram para saúde, educação, saneamento.

A política monetária de um País tem como objetivo administrar a liquidez da economia, ou seja, a quantidade de moeda e o poder de compra da economia, controlar os empréstimos bancários, emitir e resgatar títulos públicos, definir a taxa de juros, administrar a dívida pública e definir a politica cambial. Esse conjunto de variáveis econômicas é executado pelo Banco Central, através de instrumentos macroeconômicos. Por isso, o Banco Central é importante, pois cada uma das medidas que toma afeta a vida de toda a população, especialmente a dos trabalhadores e da juventude, principais vítimas da política governamental neoliberal.

Como banco do governo e xerife da política monetária, o Banco Central é o principal instrumento de regulação e fiscalização do sistema financeiro nacional, com poderes inclusive para realizar intervenções extrajudiciais no sistema bancário – em outras palavras pode fechar qualquer banco desde que este esteja realizando operações que ponham em risco o sistema, como já aconteceu várias vezes no País. Como emprestador de última instância, pode socorrer os bancos com dificuldades momentâneas de caixa, além de definir a quantidade de crédito que os bancos comerciais podem emprestar para os agentes econômicos, mediante a fixação do compulsório bancário. Abordaremos nestas breves notas apenas três aspectos mais importantes da atuação do Banco Central: a administração da dívida interna e a fixação da taxa de juros e a política cambial, para que se possa ter uma ideia da importância do Banco Central na economia.

a) A administração da dívida interna

O Banco Central é responsável pela administração da dívida pública do País, especialmente a dívida interna. Essa dívida estava orçada no final de 2013 em R$ 2,4 trilhões (U$ 1,2 trilhão) e foi contraída por vários governos, mas a explosão de endividamento ocorreu a partir do governo Fernando Henrique Cardoso. Em números corrigidos, em 1994 a dívida interna correspondia a R$153 mil milhões e, nos anos seguintes, cresceu a uma taxa de 24,5% ao ano. Em 2002, ao final do governo neoliberal de FHC, a dívida já somava R$ 881 mil milhões (US$ 440,5 mil milhões). Com o governo Lula e Dilma, a dívida praticamente triplicou, atingindo em 2013 R$ 2,4 trilhões, num crescimento médio anual de 9,5%. [2] Geralmente, as dívidas governamentais são feitas quando o governo quer realizar gastos (por exemplo, construção de escolas, hospitais, rede de saneamento, etc.) e não tem recursos para pagar esses equipamentos sociais. Então, o governo lança títulos públicos no mercado, com a promessa de pagá-los após um determinado período (dois anos, por exemplo) e remunera os compradores desses títulos com uma taxa de juros.

Esse é o endividamento clássico dos governos, mas no Brasil a dívida não resultou na construção de escolas, hospitais, nem em rede de esgoto ou construção de estradas. A dívida interna brasileira é puramente financeira, ou seja, cresceu exponencialmente porque os sucessivos governos implementaram uma política de taxas de juros irresponsável, em média de 26%, entre 1994 e 2002, quando internacionalmente essas taxas variavam em torno de menos de 5%. Mesmo no governo Lula, as taxas de juros continuaram nas alturas. Como a arrecadação não cresce na mesma proporção do aumento das taxas de juros, o governo vai rolando a dívida porque não tem recursos para pagar as amortizações, ou seja, as prestações que vencem a cada período. Dessa forma, a dívida vai aumentando como uma bola de neve e, quanto mais aumenta, mais juros o governo tem que pagar para os detentores de títulos, banqueiros e rentistas em geral. Para pagar esses juros as autoridades criaram o chamado superávit primário , que é a economia que o governo faz para pagar os juros (leia-se corte nos gastos públicos, nas verbas sociais, etc).

Para se ter uma ideia do que significa esse pagamento de juros, basta dizer que somente nos três primeiros anos do governo Dilma (2011, 2012, 2013) o Brasil pagou para os banqueiros e rentistas, em valores corrigidos, R$741 mil milhões de juros por conta da dívida interna. Com esse dinheiro era possível resolver o problema da saúde, da educação e dos transportes no país. Mas como o governo privilegia o pagamento do serviço da dívida, falta dinheiro para tudo: por isso a saúde é uma calamidade, a educação pública é precária e o transporte urbano é um caos, especialmente nas grandes metrópoles.

b) Definição das taxas de juros

Outra das funções importantes do Banco Central e que afeta diariamente a vida dos trabalhadores e da juventude, é a definição da taxa de juros. Como se sabe, a taxa de juros é uma das varáveis mais importantes da economia, uma espécie de bússola que orienta a ação dos agentes econômicos, alguns conscientemente outros não. A taxa de juros influencia as decisões das empresas, dos consumidores, afeta as contas governamentais e as prioridades do orçamento nacional, a poupança das famílias e a atividade global do sistema econômico.

No Brasil, a cada 45 dias, o Comitê de Política Monetária (Copom) define a taxa de juros básica da economia, a SELIC, que remunera os títulos públicos do governo e, a partir da qual, todos os agentes econômicos compõem as suas taxas de juros específicas. As taxas de juros no Brasil, ao longo de todo o período neoliberal, e mesmo nos governo Lula e Dilma sempre foram muito altas, o que tornou o Brasil campeão mundial das taxas de juros. O governo justificava inicialmente as elevadas taxas de juros sob o argumento de que era necessário captar recursos externos para cobrir os déficits na balança comercial, na conta turismo, além do pagamento dos serviços da dívida externa. Mesmo depois que o Brasil passou a ter elevados superávits comerciais no período Lula, as taxas continuaram muito altas.

Quais as implicações que a definição das taxas de juros tem para a economia? Antes de tudo, a taxa de juros é um importante sinalizador para as decisões de investimento das empresas. Quando estas taxas estão mais altas que as perspectivas de lucros dos investimentos na produção, os empresários costumam optar por aplicar seus recursos no mercado financeiro, afinal o capital geralmente busca o setor em que pode obter maiores lucros. Os capitais aplicados no mercado financeiro não têm a mesma dinâmica que os investimentos na produção, pois a órbita financeira não gera valor nem proporciona emprego e renda [NR] na mesma proporção que a órbita produtiva da economia.

Já os investimentos na produção, quando as taxas de juros estão mais baixas que as perspectivas de lucro, elevam a capacidade produtiva do País, aumentam o crescimento econômico, ampliam o emprego e, à medida que as pessoas estão empregadas, aumenta da renda [NR] disponível e, consequentemente, há uma elevação do consumo, gerando assim uma dinâmica virtuosa para o conjunto da economia. Portanto, quanto mais elevadas forem as taxas de juros, menor será o investimento na produção e, portanto, menor o nível de emprego e da renda [NR] . As elevadas taxas de juros praticadas no Brasil nas últimas duas décadas explicam em grande parte o baixo crescimento da economia brasileira, especialmente no período neoliberal.

As taxas de juros altas também influenciam nas decisões de consumo das pessoas, pois os juros elevados estimulam as aplicações financeiras. Muitas vezes os consumidores deixam de comprar um bem de consumo durável para colocar o dinheiro na poupança e, com o rendimento, compra-lo à vista no futuro. Além disso, as taxas de juros aumentam também o valor dos bens, pois as empresas vendem a maior parte dos seus produtos a prestação, com taxas de juros muito elevados, sendo que no final das contas o consumidor termina pagando um preço muito maior pelas mercadorias do que se tivesse comprado à vista. No agregado, os juros altos reduzem o consumo e contribuem para o processo de desaceleração da economia.

Mas as taxas de juros elevadas também produzem um impacto muito grande nas contas do governo. O principal fator determinante para o aumento acelerado da dívida interna brasileira foi exatamente as altas taxas de juros praticadas nas duas últimas décadas. À medida que a dívida interna vai crescendo, o pagamento de juros também cresce na mesma proporção. Se fizermos um exercício simples, veremos o brutal impacto que as taxas de juros altas provocam no orçamento do País. Em 1994 a dívida interna brasileira estava calculada em R$153 mil milhões, em valores atualizados. Se aplicarmos uma taxa de juros de 20% ao ano para o total dessa dívida (as taxas foram bem maiores durante longo período), teremos um pagamento de juros anual de R$30,6 mil milhões. Quando FHC deixou o governo em 2002 a dívida já era de R$881 mil milhões, portanto se aplicarmos o mesmo critério teremos então um pagamento de juros de R$176 mil milhões, mais de cinco vezes o pagamento de 1994. Em 2013, a dívida já alcançava R$ 2,4 trilhões. E o pagamento de juros, mesmo com taxas de juros menores que no período FHC, foi de R$249 mil milhões em 2013.

Esses números aparentemente complexos para o cidadão comum tem um profundo impacto em sua vida cotidiana, pois quanto maior for o pagamento dos juros da dívida interna, mais os banqueiros e rentistas em geral terão capturado maiores fatias do orçamento nacional, pois são exatamente eles os detentores dos títulos da dívida interna. Traduzindo tudo isso: quanto maior o pagamento dos juros, menos recursos serão destinados para as áreas sociais, como saúde, educação, transporte e saneamento. Ou seja, a calamidade do atendimento no setor de saúde, a precariedade da educação pública, o caos urbano nos transportes, a falta de saneamento está ligado diretamente ao pagamento dos juros da dívida do governo.

c) A política cambial

O Banco Central também é responsável pela política cambial do País. Política cambial significa a relação da moeda nacional, o Real, com as outras moedas do mundo, especialmente o dólar, que ainda é a moeda de referência para as transações internacionais. O Brasil já passou por diversos regimes cambiais, como o câmbio fixo, pelo qual o governo fixa uma paridade entre o real e o dólar e esta não se altera no curto prazo; o regime de bandas cambiais, através das quais o preço do dólar em relação ao real varia de acordo com um intervalo de flutuação definido pelo Banco Central (por exemplo, entre janeiro e junho o dólar poderá flutuar em relação ao real entre U$ 2,00 e U$ 2,20) e o governo se compromete em bancar essa variação; o câmbio flutuante, regime que vigora atualmente, no qual o preço do dólar varia de acordo com o mercado. Quando existe uma quantidade de dólares maior que as necessidades do País, o preço do dólar tende a cair. Quando há escassez de dólares o preço do dólar tende a subir. Mas o câmbio flutuante não é tão livre assim, pois o Banco Central geralmente intervém no mercado, comprando ou vendendo dólares, para ajustar a taxa de câmbio aos interesses e necessidade da política econômica governamental.

O importante a esclarecer é o fato de que o preço do dólar tem uma influência muito grande na economia, tanto no comércio exterior, quanto na conta turismo, quando nos preços dos bens e serviços praticados no mercado interno. Por exemplo, hoje a taxa de câmbio é de R$ 2,40 para cada dólar. Se o preço do dólar cair para R$ 1,00 (US$ 1 – R$ 1), ocorrerá um impacto negativo nas exportações brasileiras, pois os produtos brasileiros se tornarão mais caros em relação aos produtos estrangeiros e os exportadores irão receber menos reais por cada dólar exportado. Em contrapartida, as importações aumentarão, pois os produtos estrangeiros se tornarão mais baratos em relação aos produtos brasileiros, em função do real valorizado. Em resumo, um dólar muito barato reduz as exportações e estimula as importações, gerando déficit na balança comercial. Um dólar barato também estimula os turistas brasileiros a viajar ao exterior e desestimula e vinda de turistas estrangeiros ao Brasil. Quando os turistas brasileiros gastam mais no exterior que os turistas estrangeiros no Brasil também ocorre um déficit na conta turismo.

Por outro lado, quanto o preço do dólar está elevado (US$1 – R$3,00) ocorre exatamente o contrário: o volume das exportações tende a aumentar porque as mercadorias brasileiras ficarão mais baratas em relação aos bens internacionais e os exportadores receberão mais reais por cada dólar exportado. Em contrapartida, haverá um desestímulo às importações, porque os produtos internacionais se tornarão mais caros em relação aos brasileiros, em função do real desvalorizado. Mas numa conjuntura dessa ordem, se o País depender muito de matérias primas importadas, vai haver um impacto negativo nos preços internos, pois o aumento no custo de matérias primas será repassado para o consumidor e vai gerar uma elevação da inflação. O fundamental é o Banco Central administrar a política cambial de forma a encontrar um preço do câmbio que não prejudique as exportações, nem torne as importações um elemento desestabilizador dos preços internos.

O Banco Central também é responsável pela administração das reservas do país. As reservas são formadas por superávits comerciais, transferências unilaterais de dólares para o Brasil por conta de brasileiros vivendo no exterior, além de recursos oriundos de empréstimos no exterior tomados por empresas brasileiras ou pelo governo, aplicações de estrangeiros no Brasil, entre outros itens. Ter uma quantidade elevada de reservas é importante para o País (principalmente se essas reservas não forem constituídas de capitais voláteis que podem entrar e sair do País a qualquer momento), pois as reservas funcionam como um lastro contra ataques especulativos, permitem constituir Fundos Soberanos contra crises e dão respeitabilidade internacional à nação. O Brasil possui hoje reservas internacionais que correspondem a US$ 350 mil milhões, um patamar muito expressivo comparado com os anos neoliberais quando o País vivia uma grave crise de vulnerabilidade externa.

Por todas essas funções, já se pode ter uma ideia da importância de um Banco Central para o País, pois essa instituição constitui a principal ferramenta de execução da política monetária e suas decisões influenciam tanto o perfil da atividade econômica como um todo, como a vida cotidiana das pessoas comuns. Por isso, não é de estranhar o interesse das classes dominantes, dos seus escribas e de sua representação política em ter o controle de 100% do Banco Central e não prestar contas para ninguém. Ter o controle pleno de uma instituição desse porte é como ter a chave do cofre do Tesouro à sua disposição. Por isso, a importância do debate e o esclarecimento sobre os interesses que estão por trás dessa discussão em relação à independência do Banco Central.

Os argumentos favoráveis à independência do Bacen

A questão da independência do Banco Central ganhou força política no final da década de 70 a partir de uma mudança de fundo no interior do bloco de forças dominantes do grande capital internacional, com a ascensão dos setores mais conservadores desse bloco, representados politicamente por Thatcher, na Inglaterra, e Reagan nos Estados Unidos. A ascensão dessas forças políticas reacenderam a velha doutrina neoclássica travestida de monetarismo-neoliberal. Vale ressaltar que, com a derrota dos neoclássicos (os neoliberais de hoje) em função da grande depressão na década de 30, o mundo viveu uma etapa de grande intervenção do governo em busca do pleno emprego e crescimento econômico, tendo por base os postulados keynesianos. A partir de 1979, os neoclássicos voltaram com uma força avassaladora e rapidamente substituíram os fundamentos keynesianos pelos postulados monetaristas. Com a nova doutrina, o papel da política monetária de um País passou novamente a se concentrar na busca da estabilidade dos preços, sendo que as outras variáveis da economia, como crescimento e emprego, seriam apenas uma derivada da moeda estável.

Com a nova orientação, a política monetária passaria a ser implementada com regras bem definidas e transparentes, com metas de inflação baixas e previamente determinadas e um banco central independente do governo, de forma a obter credibilidade e a confiança do mercado. Para os neoclássicos, isso é necessário porque os políticos costumam influenciar negativamente a política monetária, pois colocam seus interesses populistas e gastadores acima dos postulados técnicos das autoridades monetárias. Ou como diz um ex-presidente do Banco Central do Brasil muito festejado pela mídia: "A legitimidade conferida pelas urnas não faz do presidente uma encarnação do interesse público, mas apenas um custo diante deste, e por tempo determinado e dentro dos limites, como em qualquer democracia ... É importante, por exemplo, a exclusão do Tesouro do comitê que decide sobre juros e de ministros gastadores do Conselho Monetário Nacional". [3]

Portanto, o paraíso institucional dos neoclássicos seria um ambiente em que a política monetária fosse executada visando exclusivamente a estabilidade da moeda, através de um Banco Central independente, com mandato fixo de seu presidente e da diretoria, e que este mandato não fosse coincidente com os mandatos dos presidentes da República. Como analisa Penido de Freitas, citando Cukierman, um dos principais formuladores da política neoclássica; "A independência do Banco Central diz respeito à sua competência e atribuições para formular e executar a política monetária, sem a intervenção do Executivo, com o objetivo de assegurar a estabilidade dos preços, dado que o Banco Central é, em geral, mais conservador no que se refere à busca da estabilidade e atua com uma visão mais de longo prazo do que a autoridade política". [4]

Essas atribuições, dizem os neoclássicos, deveriam ser entregues ao Banco Central independente porque este é um órgão neutro e dispõe de um saber técnico não contaminado pelos embates e decisões políticas e, por isso mesmo, estaria em melhores condições de zelar mais pelo interesse público do que um Banco Central atrelado às vicissitudes da política cotidiana. Isolado das influências políticas e do arbítrio do presidente da República, o Banco Central poderia tomar as decisões fundamentado apenas em análises técnicas, o que tornaria mais fácil fixar e cumprir as metas de inflação, manter os preços estáveis e construir as condições para um crescimento estável da economia.

Quais são as regras de funcionamento do Banco Central no Brasil? Como em todos os países onde o Banco Central já possui autonomia operacional, seu presidente é indicado pelo presidente da República e sabatinado pelo Parlamento. Teoricamente, o presidente da República pode demitir o presidente do Banco Central, mas o lobby midiático, dos oligopólios e do sistema financeiro é tão grande que os presidentes dos Bancos Centrais se tornam personagens intocáveis, especialmente se tiverem cumprindo a cartilha elaborada pelo sistema financeiro. Henrique Meireles, não só ganhou status de ministro como ficou na direção do Banco Central durante todos os dois mandatos de Lula e Alexandre Trombini ao longo do mandato atual da presidente Dilma. A estratégia do sistema financeiro e dos rentistas é transformar o Banco Central numa cidadela inexpugnável onde só eles, o chamado mercado, poderão ditar as regras do jogo.

Por isso, a discussão em torno da independência do Banco Central ganha contornos apaixonados e muitas vezes irracionais. Uma das candidatas que mais tem enfatizado em seus programas a necessidade da independência do Banco Central se comporta como uma boba da corte embevecida por estar convivendo na sala de estar da Casa Grande. Cercada de herdeiros de banqueiros e economistas neoclássicos fundamentalistas, ela repete esse mantra como um papagaio treinado que decorou bem os ensinamentos dos seus mestres. Por outro lado, a outra candidata em busca da reeleição se comporta como se a questão da independência ou autonomia não tivesse nada a ver com o atual governo, chegando mesmo a afirmar (corretamente) que a independência do Banco Central equivaleria entregar o Banco Central aos banqueiros e tirar a comida da mesa do trabalhador. Quanta coerência!!!

É necessário esclarecer que o Banco Central do Brasil tem total autonomia operacional, define de maneira autônoma as taxas de juros, executa as metas de inflação, a intervenção no mercado de câmbio e seu presidente tem status de ministro. Sua direção se reúne regularmente com as direções do sistema financeiro para discutir a conjuntura e a inflação e publica ainda um boletim, o FOCUS, que é um apanhado geral das opiniões dos dirigentes do sistema financeiro. Além disso, há uma enorme promiscuidade histórica entre as diretorias do Banco Central e o sistema financeiro, expressas no fato de que essas diretorias geralmente são oriundas do sistema financeiro e quase todos seus membros quando deixam o Banco Central são guindados a altos postos no sistema financeiro, nas multinacionais, nos oligopólios e nas consultorias milionárias.

Eles querem a chave do cofre

Mas o que se esconde por trás dos argumentos em relação à independência do Banco Central? Antes de tudo é importante desmontar os chamadosargumentos técnicos para depois expormos os verdadeiros interesses políticos e econômicos que estão sob o véu tecnocrático. Primeiro, a questão da neutralidade e do apoliticismo das direções do Banco Central: esse é um argumento muito frágil, pois não existe neutralidade nas tomadas de decisão nas instituições capitalistas. Todas as medidas têm caráter eminentemente político, pois favorecem a um setor ou outro da sociedade. Não existe medida que favoreça aos polos antagônicos ao mesmo tempo. O argumento da neutralidade e do apoliticismo é apenas uma cortina de fumaça para justificar a apropriação da máquina pública pelo sistema financeiro e pelos rentistas e dar a este ato um caráter técnico.

Outro dos argumentos utilizados para a independência do Banco Central é a questão do saber técnico que os funcionários e dirigentes do Banco Central teriam na condução da política monetária. Esse argumento é uma meia verdade, pois o saber técnico está ao serviço de interesses econômicos e sociais. É evidente que a diretoria do Banco Central concentra um nível de informação técnica maior que a maioria da população. Mas esse saber técnico não foi capaz de gerar um ciclo de crescimento econômico positivo como ocorreu entre os anos de 1947 e 1980, quando não existia autonomia do banco Central e o País cresceu a taxas anuais superiores a 7% ao ano, consolidando ainda seu processo de industrialização, enquanto que no período que vai de 1994 a 2002 o crescimento econômico foi pífio, 2,5% ao ano. Mesmo no período dos governos do PT, onde o crescimento foi um pouco maior, nunca se chegou ao nível do período em que não existia autonomia do Banco Central.

Portanto, se o saber técnico não consegue realizar uma política que proporcione ao País um nível de desenvolvimento econômico que seja capaz de aumentar o emprego, a renda [NR] e o consumo, então este saber não serve para nada, pelo menos para a maioria da população brasileira. Se verificarmos mais atentamente que na maior parte desse período neoliberal houve queda nos salários, concentração de renda [NR] e enorme transferência de recursos do setor público para a órbita privada, através de um conjunto de medidas criadas pelo próprio saber técnico , entre as quais se destacam as elevadas taxas de juros e o exorbitante pagamento dos serviços da dívida interna, então descobrimos o verdadeiro segredo desse tipo de saber técnico que é, nada mais nada menos, estar a serviços das classes dirigentes, especialmente do sistema financeiro e dos rentistas.

É importante ressaltar ainda que a sofisticação técnica e as matrizes baseadas em modelos matemáticos desligados da realidade que os tecnocratas costumam apresentar, têm pouca efetividade num mundo globalizado, com as economias integradas, com livre mobilidade de capitais, especialmente se levarmos em conta que a especulação financeira mundial criou um leque enorme de instrumentos e inovações financeiras, que o chamado saber técnicoencastelado nos Bancos Centrais tem poucas condições para manobras. Somente o poder político é capaz de construir mecanismos de defesa da soberania e dos trabalhadores.

Se esse saber técnico fosse assim tão infalível teria sido capaz de evitar a maior crise econômica que vem castigando o sistema capitalista há cerca de seis anos e que vai durar ainda muito mais e que até agora o saber técnico não conseguiu tirar o mundo da crise. Aliás, essa crise está tendo um significado especial porque desmoralizou o discurso do saber técnico neoliberal que por mais de 30 anos infernizou a vida dos trabalhadores do mundo inteiro. Mesmo assim esses essa ideologia reacionária continua a importunar a sociedade como um pesadelo que teima em continuar morto-vivo.

Também os argumentos de que o Banco Central independente seria a garantia de baixas taxas de inflação é uma balela. O próprio FMI tem trabalhos que contesta essa afirmação [5] e, além disso, na segunda metade da década de 70 as taxas de inflação nos Estados Unidos ficaram acima de dois dígitos com o Banco Central independente, da mesma forma que na Inglaterra, na França e outros países centrais. O próprio Joseph Stiglitz, um ex-monetarista convertido à heterodoxia e ganhador do Prêmio Nobel, diz claramente que a independência do Banco Central é desnecessária e que os países que a adotaram tiveram muito mais dificuldades diante da crise sistêmica global do que aquele que não praticaram essa política. Portanto, essa correlação entre banco central independente e baixas taxas de inflação é uma lenda tecnocrática muito mal contada.

Na verdade, toda essa parafernália neoliberal, fantasiada de sofisticação técnica, não é nada mais nada menos que lixo teórico reciclado da economia política vulgar, construído nos laboratórios das instituições anglo-saxônicas, a partir da virada conservadora dos governos Reagan e Thatcher no final dos anos 70 e que se impôs como política de Estado para quase todos os países capitalistas nos 30 anos de hegemonia neoliberal. Mesmo que a crise sistêmica mundial tenha desmoralizado essas veleidades e fantasias monetaristas, esses fantasmas continuam teimando em prolongar a agonia desse baile de máscaras, como dráculas ensandecidos que se recusam a morrer.

Poder paralelo antidemocrático

Mas os principais argumentos contrários à independência plena do Banco Central são de caráter político, pois a independência do Banco Central na prática significa a criação de um governo paralelo ao do presidente da República, eleito pelo voto e com o mandato popular. Portanto, esse status que os tecnocratas neoliberais querem dar ao banco Central é não só antidemocrático, como significaria uma regressão política de grande porte, semelhante aos tempos da monarquia de Pedro II, quando este tinha o chamado poder moderador, o quarto poder, que estava acima dos outros poderes e podia inclusive anular as decisões das outras instituições.

Em outros termos, permitir a criação de um Banco Central formalmente independente significaria entregar o poder de uma vez por todas ao mercado, ou seja, aos banqueiros e à oligarquia rentista, que passaria a controlar o principal instrumento de execução da política econômica do país. Vale lembrar que o Banco Central define a emissão de moeda, o volume de crédito na economia, as taxas de juros, administra a dúvida pública e a emissão e resgate dos títulos públicos, controla a política cambial e, portanto, o destino do comércio exterior, além de outras variáveis. Como vimos, todas essas varáveis afetam diretamente a condução da política econômica do País e a vida das pessoas.

Nesse contexto, com o Banco Central independente, seu presidente passaria a ter um poder muito maior que o do presidente da República, mesmo sem ter tido um só voto em eleição para inspetor de quarteirão ou síndico de prédio. Na verdade, os banqueiros e os rentistas em geral, com a tese da independência do Banco Central, querem dar um golpe no conjunto da sociedade e se apossar da chave do cofre para saquear com mais liberdade o erário público e nem sequer prestar contas à sociedade.

Vamos imaginar, por hipótese, que o presidente do Banco Central esteja dissociado da política econômica adotada por um presidente com mandato popular, em função de sua independência. Numa situação dessa ordem, esse Banco Central poderia se tornar um poderoso instrumento de instabilidade econômica, pois teria instrumentos para promover a anarquia econômica, para gerar uma crise de proporções gigantescas, e poderia levar à desorganização da economia, com repercussões profundamente negativas junto à vida cotidiana da população.

Um Banco Central independente também traria consequências danosas para os trabalhadores, pois toda a política econômica estaria subordinada à administração da dívida interna e ao combate á inflação. Isso significaria um aumento do superávit primário e, portanto, redução das verbas sociais orçamentárias para saúde, educação, saneamento, para os salários dos funcionários públicos em função da prioridade do pagamento dos serviços da dívida interna. Como o foco é a estabilidade dos preços, que se dane o emprego e o crescimento econômico, afinal essas variáveis são apenas derivadas da política maior da estabilidade da moeda.

É como se no País não existisse gente de carne e osso, que depende do emprego para sobreviver, que precisa de renda [NR] para comer, vestir, calçar e viver. Esses tecnocratas neoliberais são tão ou mais nocivos para sociedade que os fundamentalistas religiosos (eles são fundamentalistas econômicos) ou os marginais que infernizam a vida das populações pobres nas favelas e periferias. Eles matam mais silenciosamente, mais ardilosamente, mais sofisticadamente, com um sorriso maquiavélico, milhões de pessoas todo o ano no País, com sua política econômica de concentração da riqueza nas mãos de uma elite parasitária e ampliação da miséria entre a maioria da população, que não pode usufruir serviços públicos de qualidade porque o governo é obrigado a gerar superávits primários para pagar os juros da dívida interna.

Uma instituição com a importância de um Banco Central fora do controle democrático da sociedade seria o paraíso para os banqueiros e rentistas. O mercado financeiro deixaria de terceirizar a administração da política monetária e econômica para assumir diretamente o controle das finanças do país, com total autonomia, sem prestar contas à sociedade. Seria como a raposa tomando conta do galinheiro. Realmente, a voracidade dos abutres financeiros não tem limites. Por isso, é importante dar um basta tanto a autonomia quanto à independência formal do Banco Central e estatizar todo o sistema financeiro, de forma a que passe a servir aos interesses da maioria da população e não a meia dúzia de parasitas sociais.

[1] A tabela com os juros da dívida interna pode ser consultada em: Edmilson Costa. Os 20 anos do Plano Real: uma herança terrível para os trabalhadores , publicada inicialmente em; resistir.info ,www.odiario.info ; e www.pcb.org.br e posteriormente reproduzida em dezenas de blogs e sites do Brasil e do exterior.
[2] Uma tabela com o volume da dívida interna e sua relação com o Produto Interno Bruto (PIB) e o nível das taxas de juros também pode ser encontrado no artigo acima referenciado.
[3] Franco, Gustavo. A independência do Banco Central. Jornal O Estado de São Paulo, Caderno de Economia, 14/set. 2014.
[4] Penido de Freitas, Maria Cristina. Banco Central independente e coordenação das políticas macroeconômicas: lições para o Brasil. Economia e Sociedade, vol. 15, No. 2 (27), agosto, 2006.
[5] Em 2003, o FMI divulgou trabalho de autoria de dois de seus técnicos no qual realizam comparação entre países que efetivaram políticas de metas de inflação e outros que não realizaram essas políticas e chagaram a conclusão de a política de metas de inflação serve mais a interesses políticos que econômicos. Ver Penido de Freitas, op. cit.

[NR] No Brasil chamam de renda a qualquer espécie de rendimento, não apenas aos ganhos com actividades rentistas.

Do mesmo autor em resistir.info:

A explosão social bate às portas do Brasil
Os 20 anos do Plano Real: Uma herança terrível para os trabalhadores brasileiros
"Abrem-se janelas de oportunidades para a emergência do movimento popular"
O Brasil está maduro para o socialismo
Capitalismo contemporâneo, imperialismo e agressividade
Brasil: extraordinária jornada de lutas
A crise do euro e a crise sistêmica global
A terceira onda da crise: O capitalismo no olho do furacão
Os movimentos sociais e os processos revolucionários na América Latina: Uma crítica aos pós-modernistas


A crise mundial do capitalismo e as perspectivas dos trabalhadores

[*] Doutorado em economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com pós-doutoramento no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da mesma instituição. É autor, entre outros de A globalização e o capitalismo contemporâneo (expressão Popular, 2009) e A crise econômica mundial, a globalização e o Brasil (edições ICP, 2013). É professor de economia, membro do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB), diretor de pesquisas do Instituto Caio Prado Junior e um dos editores da revista Novos Temas.

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