quarta-feira, 12 de novembro de 2014

País dividido? 12/11/2014



[*] Adriano Benayon − 10.11.2014
Texto enviado pelo autor
Ilustrações catadas na internet pela redecastorphoto


País dividido...



1 − Só insensatos duvidam que a união faz a força. Quanto mais dividido um país, mais fraco ele fica. Por isso, os impérios, sempre usaram a estratégia de dividir os povos a conquistar.


2. “Divide et impera” foi o lema da Roma Antiga, durante os setecentos anos em que dominou o mundo, e de outros, antes dela. Tem sido seguido, com semelhante perfídia e brutalidade, pelo império britânico e por seu sucessor e associado, o Império Anglo-americano-sionista, nestes 350 anos.


3. O Brasil é vítima da predação imperial, desde quando exportava suas mercadorias sob direção das casas comerciais britânicas e tinha as finanças externas e a infra-estrutura controladas por bancos e empresas estrangeiras.


4. Ao aparecer, com capitais nacionais, a promissora industrialização, na 1ª metade do século XX, antes, durante e depois da Revolução de 1930, o império, descontente com isso, fomentou o divisionismo em nosso País, justamente em São Paulo, onde despontara a industrialização, e de onde saía o café e outros produtos exportados.


5. No início dos anos 1930s, tendo as receitas da exportação caído 2/3 em relação a 1929, sobreveio a falsamente denominada revolução constitucionalista de 1932. De fato, o governo chefiado por Vargas já organizava eleições e o processo varguista culminou na Constituição de 1934.



País dividido...

6. O movimento de 5 de julho de 1932, de conotações separatistas, visava, na realidade, sustar a industrialização e reamarrar o comércio exterior à finança e à direção imperiais.


7. Foi liderado pelos barões da pseudo-elite agrária da Av. Paulista, econômica e culturalmente vinculados a Londres, juntamente com a grande mídia já prostituída.


8. Atitude irracional, pois o retrocesso ao modelo colonial prejudicaria os industriais e até os cafeicultores, que estavam sendo salvos da ruína pela política do presidente Vargas, através da compra pelo governo dos invendáveis estoques de café e de sua queima.


9. Esse é um dos antecedentes do presente tsunami de ignorância, que leva os pró-imperiais de hoje a alimentar mentiras, como a que atribui as misérias do País ao Nordeste e ao Norte, quando elas provêm do modelo dependente, adotado a partir da queda de Vargas, em 1954, quando a política passou a favorecer os carteis transnacionais.


10. É por causa desse modelo que a economia do Brasil se desnacionaliza e se desindustrializa, que as transferências de renda das transnacionais para o exterior só aumentam e que se criaram mecanismos para fazer crescer, sem parar, a dívida pública.


11. Para poder encobrir os fatos importantes, o império, desde os anos 50, investe bilhões de dólares, em contracultura, desinformação e aviltamento dos padrões éticos e culturais, além de cooptação de pessoas em todas as instituições públicas e privadas de maior porte.



País dividido...

12. Essa é a corrupção da grossa, incrementada aceleradamente nos mandatos de FHC (1995-2002), que a mídia sequer menciona. É a que faz dezenas de milhões de brasileiros crerem que um governo do PSDB, vinculadíssimo aos interesses imperiais reduza, e não aumente, a corrupção.


13. Apesar do tsunami de ignorância gerado pelo império e das fraudes eleitorais, o povo brasileiro escapou da radicalização do entreguismo. Entretanto, não escapou de seu avanço, impregnado que está na estrutura econômica e nas instituições.


14. A presidente é alvo de intensa campanha de desestabilização, visando, no mínimo, acuá-la a fazer concessões mais radicais que as que têm feito a banqueiros e transnacionais.


15. As influências imperiais estão dentro do próprio Executivo e suas agências reguladoras, e também no PT, que nunca mostrou consciência clara da questão nacional em face das transnacionais e das potências que as representam.


16. Além disso, o Congresso e os executivos e legislativos estaduais têm composições cada vez menos favoráveis aos interesses do País, e os demais poderes e instituições da República estão grandemente infiltrados pelos esquemas pró-imperiais.


17. Ilustrativa de não ter cessado a campanha de desestabilização da presidente, sequer no dia das eleições, foi a balela proclamada nas grandes redes de TV, na mesma noite do resultado, segundo a qual o País estaria dividido, diante do apertado o resultado das urnas.


18. Logo a seguir, comentaristas e pseudocientistas políticos passaram a difundir a estória de que a divisão do País se manifesta ao longo de linhas de classes sociais e de áreas geográficas.



País dividido...

19. Mais relevante do que fomentar a divisão entre as regiões Norte e Nordeste e o Sul, seria reconhecer a falta de acesso do grosso da população do País inteiro a condições de vida condizentes com os excelentes recursos naturais do País e com as possibilidades tecnológicas dele, se não tivesse sido alijado do real desenvolvimento, devido ao modelo econômico dependente.


20. Esse modelo causa o endividamento, os juros absurdos, as transferências de renda ao exterior, o atraso tecnológico e tudo mais que enfraquece o País.


21. Ele vem de meados dos anos 1950s, sendo, pois, ridículo atribuir suas mazelas só ao presente Executivo federal. Cabe, condenar, em primeiro lugar, governos que mais contribuíram para acentuá-las.


22. O ridículo chega ao absurdo, quando os entreguistas acusam o Executivo de que sua política econômica afugenta os investidores. Ora, o montante dos investimentos, mormente os estrangeiros, nunca foi tão alto. Entretanto, mais que proporcionalmente crescem as transferências de renda e de supostas despesas para o exterior, e mais ainda as de recursos reais.


23. É o modelo de dependência financeira e tecnológica que faz minguar verbas para os investimentos produtivos e sociais, e também direcionar erradamente boa parte deles.



País dividido...

24. Ora, quanto maior o espaço geográfico do mercado nacional, mais cada região tem a ganhar com o comércio e a interação financeira internos.


25. De todo o exposto, decorre que o império, primeiramente tratou de desestruturar o País como um todo. Isso o amoleceu para a etapa seguinte: desmembrá-lo, como se delineia, em face das demarcações de supostas terras indígenas, sobretudo na Amazônia, entregando-as ao controle de fundações, ONGs e igrejas controladas pelos oligarcas donos dos carteis mineradores de âmbito mundial.


26. Outra vertente do projeto separatista parece ser a radicalização da ignorância política e econômica, que investe nas diferenças regionais e de classes de renda.


27. Essa está imbricada com o divisionismo ideológico direita/esquerda. O Império Anglo-Americano-Sionista o tem fomentado, em todo o mundo, desde os tempos da revolução francesa. No Brasil, muito contribuiu para acirrá-lo, como a tentativa de golpe comunista em 1935.


28. Especialmente em função da geopolítica, nunca foram altas as chances de o partido comunista chegar ao poder, mesmo em curtos períodos pós-IIª Guerra Mundial, em que contou com recursos e teve apreciável penetração eleitoral. De qualquer forma, a suposta ameaça comunista encaixou-se como uma luva na estratégia imperial para fazer abortar o desenvolvimento do Brasil.


29. Assim, qualquer coisa que implicasse modificar a arcaica estrutura social e que não fosse favorável aos carteis econômicos e financeiros transnacionais, passou a ser associada ao comunismo, na versão da grande mídia e dos demais instrumentos da intervenção imperial anglo-americana-sionista.



País dividido...

30. Não só empresas transnacionais, mas também industriais e outros empresários nacionais investiram para derrubar os governos voltados para o desenvolvimento industrial e tecnológico.


31. Mas os proprietários brasileiros foram expropriados - não como temiam, pelos comunistas - mas, sim, pelo capital estrangeiro, privilegiado com favores inacreditáveis por governos egressos de golpes cuja direção, como, em 1954, era orientada de fora do País.


32. Esse resultou da armação por serviços secretos estrangeiros de atentado para supostamente matar um adversário do presidente, no qual foi morto um oficial da Aeronáutica. Os comunistas não apoiavam Vargas e até o criticavam.


33. Em 1964, a par das provocações suscitadas para envolver o governo em atos de indisciplina de militares, houve intensa campanha para que fossem vistos como de molde comunista os projetos de reforma econômica e social de Goulart.


34. Apesar de o PT não representar resistência séria à intensificação do modelo dependente, ele nasceu sob falsas bandeiras vermelhas, para dividir a esquerda e, em última análise, participar dos golpes do sistema para cortar as chances de Leonel Brizola.


35. Apesar, também, da política externa simpática a governos vizinhos de inclinação bolivariana, embora não partilhando dela, a retórica e os clichês do PT e sobre ele oferecem campo fértil ao Império Anglo-Americano-Sionista para pressionar a presidente e intensificar as ações para a sua desestabilização.




[*] Adriano Benayon: Consultor em finanças e em biomassa. Doutor em Economia, pela Universidade de Hamburgo, Bacharel em Direito, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Diplomado no Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco, Itamaraty. Diplomata de carreira, postos na Holanda, Paraguai, Bulgária, Alemanha, Estados Unidos e México. Delegado do Brasil em reuniões multilaterais nas áreas econômica e tecnológica. Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados e do Senado Federal na área de economia. Professor da Universidade de Brasília (Empresas Multinacionais; Sistema Financeiro Internacional; Estado e Desenvolvimento no Brasil). Autor de Globalização versus Desenvolvimento, 2ª ed. Editora Escrituras, São Paulo.

POSTADO POR CASTOR FILHO




http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/11/pais-dividido.html

sábado, 8 de novembro de 2014

A Revolução Russa em 12 cartazes 08/11/2014

Para se consolidar politicamente, a Revolução precisava também vencer a batalha das ideias. Os valores do socialismo precisavam ser disseminados entre os operários, camponeses, estudantes, soldados, intelectuais e formadores de opinião na sociedade em geral. O Partido Comunista atribuía grande importância ao trabalho de agitação e propaganda. Os cartazes vieram a se tornar uma manifestação política e ideológica. Com eles a revolução criou também uma nova estética.

Confira os cartazes da Revolução Russa traduzidos:
"Para o futuro brilhante da sociedade comunista, prosperidade universal e paz duradoura"



 "A pátria está chamando"

Cartaz de 1920. "Morte ao capital, saúde à ditadura do proletariado"

Cartaz de 1920. "Literatura: caminho para o comunismo"

Cartaz de 1920. “Mantenha-se em guarda!”

Cartaz de 1918. "Mulheres, vão às cooperativas"
"O poder soviético é um milhão de vezes mais democrático que a mais democrática república burguesa"



Cartaz em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. "Operária organizada ajuda companheira a sair debaixo dos destroços do mundo trabalho"



Cartaz de 1920. "Devemos trabalhar, mas com o rifle por perto"

Cartaz de 1919. "Trabalhadores, a revolução de outubro deu-lhe as fábricas"


Cartaz de 1920. "Ucranianos e russos gritam - Não haverá senhor sobre o trabalhador, Milorde!"



Cartaz de 1918. ”Você já se alistou como voluntário?”

Da redação do Vermelho


http://www.vermelho.org.br/noticia/253081-11

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Lançamento ao mar do Navio Hidroceanográfico Fluvial ‘Rio Branco’ 07/11/2014



No dia 20 de outubro, foi lançado ao mar, no estaleiro INACE (Indústria Naval do Ceará), em Fortaleza (CE), o Navio Hidroceanográfico Fluvial “Rio Branco”. O NHoFlu “Rio Branco” teve seu projeto de concepção realizado pelo Centro de Projetos de Navios, tendo sido posteriormente detalhado pelo estaleiro INACE, contratado após ter sido selecionado em processo licitatório.
A construção foi iniciada em 06 de dezembro de 2012, com a supervisão da Diretoria de Engenharia Naval. Seu batimento de quilha foi realizado no dia 23 de abril de 2013 e sua entrega à Marinha está prevista para dezembro de 2014.
A obtenção do novo meio está inserida no Projeto de Cartografia da Amazônia, realizado em parceria com o Exército Brasileiro, a Força Aérea Brasileira e o Serviço Geológico do Brasil, sob coordenação do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia, órgão subordinado ao Ministério da Defesa.
Ao navio serão atribuídas tarefas de levantamentos hidroceanográficos, coleta de dados ambientais, atualização contínua de cartas e publicações náuticas das principais hidrovias da região amazônica, além de poder atuar de forma extraordinária em apoio a órgãos governamentais na Defesa Civil, em ações de socorro e ações cívico-sociais.
FONTE: MB

Postado por Helio Borba

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Pepe Escobar: Agora, é guerra total contra os BRICS 06/11/2014



4/11/2014, [*] Pepe Escobar, Rússia Today
It’s now total war against the BRICS
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu



BRICS - Reunião de Fortaleza - 15/7/2014

Apertem os cintos, a guerra de informação já desencadeada contra a Rússia deve expandir-se para Brasil, Índia e China.


Brasil, Rússia, Índia e China, como o mundo inteiro sabe, são os quatro principais países do grupo BRICS de potências emergentes, que também inclui a África do Sul e em futuro próximo incorporará também outras nações do Sul Global. Os BRICS perturbam imensamente Washington – e sua Think-Tank-elândia – porque são a corporificação do impulso concertado do Sul Global rumo a um mundo multipolar.


Podem-se apostar garrafas de champanhe crimeano que a resposta dos EUA a esse processo deve ser alguma espécie de guerra total de informação – não muito diferente, em espírito, do “Conhecimento Total de Informação” [orig. Total Information Awareness (TIA)], elemento central da Doutrina da Dominação de Pleno Espectro, do Pentágono. Os BRICS são vistos como importante ameaça –, e conseguir contratorpedeá-los implica dominar toda a grade informacional.


Vladimir Davydov, diretor do Instituto de América Latina da Academia de Ciências da Rússia, acertou o olho do alvo quando observou que:


(...) a situação atual mostra que há tentativas para suprimir não só a Rússia, mas também os BRICS, dado que o papel global daquela associação só faz crescer.


A demonização da Rússia escalou rapidamente nos EUA, das sanções relacionadas à Ucrânia, para Putin o “novo Hitler” e a ressureição do bicho-papão bem testado ao longo da Guerra Fria, tipo “Os Russos estão chegando”.




Dilma Rousseff

No caso do Brasil a guerra de informação já começou antes da reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Assim como Wall Street e suas elites comprador locais faziam de tudo para bombardear o que definem como economia “estatista”, Dilma foi também pessoalmente demonizada.


Passos não inimagináveis para futuro próximo talvez incluam sanções contra a China, por causa de sua posição “agressiva” no Mar do Sul da China, ou Hong Kong, ou Tibet; sanções contra a Índia por causa do Kashmir; sanções contra o Brasil por causa de violações de direitos humanos ou excesso de desflorestamento. Seletos diplomatas indianos, lamentam, off the record, que o primeiro dos BRICS a ser afivelado sob pressão será a Índia.


Dado que os BRICS são tijolos realmente chaves na construção de um sistema global de relações internacionais e um sistema financeiro mais inclusivo – e não há outros no mercado – eles que, pelo menos, mantenham-se bem alertas. Se não, cada um deles será abatido, um depois do outro.


Georgy Toloraya, diretor executivo da Comissão Nacional Russa de Pesquisa sobre os BRICS, lembra que hoje, pelo menos, há “mais e mais comunicação acontecendo pelos canais BRICS.”


Os brasileiros, por exemplo, estão particularmente interessados em cooperação de investimentos. O Banco de Desenvolvimento dos BRICS será realidade já em 2015. E uma equipe russa está preparando relatório detalhado sobre perspectivas futuras para cooperação entre os BRICS, para ser discutido em Pequim, em profundidade, durante uma semana, enquanto acontece a reunião de cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico [orig., Asia-Pacific Economic Cooperation, APEC].


Da guerra de energia à guerra da moeda


O novo choque do petróleo dos sauditas – que, no mínimo, recebeu luz verde do governo Obama – combina perfeitamente com o padrão “Conhecimento Total de Informação” (TIA), em termos de ofensiva contra os BRICS, com dois deles no papel de alvos chaves: Rússia e Brasil.



O preço do petróleo é a questão

Mais de 50% do orçamento da Rússia vem da venda de petróleo e gás. Cada redução de US$ 10 no preço do barril de petróleo significa que a Rússia deixa de receber coisa como US$ 14,6 bilhões por ano. Pode ser, de certo modo, compensado pela desvalorização do rublo – mais de 25% contra o dólar norte-americano, desde o início de 2014. E a Rússia, claro, ainda tem cerca de US$ 450 bilhões em reservas. Mesmo assim, a economia russa pode crescer só de0,5 a 2% em 2015.


Com a redução de US$ 1 nos preços do petróleo cru, a maior empresa brasileira, Petrobras, perde mais de US$ 900 milhões. Aos preços atuais do petróleo, a Petrobras estará perdendo em torno de US$ 14 bilhões por ano. A queda dos preços portanto mina a expansão de longo prazo da Petrobrás para financiar novos projetos de infraestrutura e de exploração conectados aos seus valiosos depósitos de petróleo do pré-sal. A Petrobras foi alvo preferencial para a demonização de Rousseff.


O Irã não é membro dos BRICS, mas partilha o impulso do grupo com vistas a um mundo multipolar. Para equilibrar o próprio orçamento, o Irã precisa de petróleo a US$ 136 o barril. Um acordo nuclear a ser firmado com o P5+1 em três semanas, dia 24/11/2014, pode levar a um alívio nas sanções – pelo menos as vindas da Europa – e permitir que o Irã melhore suas exportações de petróleo. Mas em Teerã não há ilusões sobre o quanto a manipulação dos preços foi cerebrada para desestabilizar ainda mais a economia iraniana e minar sua posição nas negociações nucleares.




Acordo nuclear Irã e P5+1

No front econômico, a doutrina do “Conhecimento Total de Informação” [orig. Total Information Awareness (TIA)] manifesta-se em o Fed pôr fim ao quantitative easing, QE [injeção de dólares recém impressos na economia, lit. “facilitação quantitativa” ou “alívio quantitativo”]: significa que o dólar dos EUA continuará a subir e mais dólares dos EUA deixarão os mercados emergentes. A rede chinesa Xinhua expôs e discutiu seriamente essa questão.


O dólar norte-americano e o Yuan estão efetivamente ligados. Quando o dólar norte-americano sobe, o Yuan também sobe. Mas é a economia chinesa que sofre. O que preocupa Pequim é que é possível que a manufatura chinesa torne-se excessivamente cara, em muitíssimos países nos quais as margens de lucro já são muito estreitas.


Portanto, o que com certeza acontecerá é o Banco Central da China determinar uma queda controlada do Yuan – e ao mesmo tempo desenvolver mecanismos para combater a saída de dinheiro quente, sobretudo para Hong Kong.


A China pode até ser relativamente imune ao fim do QE. Mas todos na Ásia lembram ainda muito bem da crise financeira de 1997, que respingou na Rússia em 1998. Os únicos beneficiados então foram – e quem seria?! – os interesses privados norte-americanos e a hegemonia de Washington.


O centro não se mantém coeso [orig. The center cannot hold]


A demonização dos BRICS, em graus diferentes, prossegue sem parar – com o foco central na Rússia, a qual, por falar dela, iniciará a IIIª Guerra Mundial. Por quê? Porque os EUA dizem que sim.



A adesão de outros países do Sul-Global fortalece os BRICS

A mais recente ação envolve o Serviço de Inteligência da Defesa Dinamarquesa [orig. Danish Defense Intelligence Service (DDIS)], que noticiou, semana passada que a Rússia simulara um ataque com jatos e mísseis sobre a ilha de Bornholm em junho/2014.


DDIS não distribuiu qualquer detalhe concreto sobre o ataque simulado. Mas enfatizou que foi o maior exercício militar russo sobre o Mar Báltico desce 1991. DDIS distribuiu um documento “Avaliação de Risco 2014” [orig. Risk Assessment 2014], no qual prevê que:


(...) ao longo dos próximos poucos anos, a situação no leste da Ucrânia tem alta probabilidade de converter-se em novo conflito europeu frio.


Mas os dinamarqueses foram muito claros:


Não há indicações de que a Rússia constitua crescente ameaça militar direta ao território dinamarquês.



Immanuel Wallerstein

Nada disso impediu que os chefes militares norte-americanos de sempre se pusessem a repetir que a Rússia se prepara para iniciar a IIIª Guerra Mundial.


Não há absolutamente nenhuma prova de que Washington esteja preparada sequer para discutir a possibilidade de modificar o atual sistema-mundo, como teorizado por Immanuel Wallerstein, na busca por gestão mais democrática. A próxima reunião do G20 na Austrália, mais uma vez, deixará isso bem claro.


O que se vê, portanto, é o sistema, cada dia mais fragmentado, deslizando inexoravelmente rumo a um catastrófico ponto de ruptura. O “Conhecimento Total de Informação” [orig.Total Information Awareness (TIA)] e suas reviravoltas e circunvoluções não passam de “estratégia” desesperada para adiar uma decadência inevitável.


No fim, Wallerstein estava certo. O mundo do pós-Guerra Fria está condenado a permanecer imensamente volátil.



[*] Pepe Escobar (1954) é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna (The Roving Eye) no Asia Times Online; é também analista de política de blogs e sites como: Tom Dispatch, Information Clearing House, Red Voltaire e outros; é correspondente/ articulista das redes Russia Today, The Real News Network Televison e Al-Jazeera. Seus artigos podem ser lidos, traduzidos para o português pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu e João Aroldo, no blog redecastorphoto.
Livros:
Globalistan: How the Globalized World is Dissolving into Liquid War, Nimble Books, 2007.
Red Zone Blues: A Snapshot of Baghdad During the Surge, Nimble Books, 2007.
Obama Does Globalistan, Nimble Books, 2009.
− Seu novo livro, Empire of Chaos, será publicado em novembro/2014 pela Nimble Books.


POSTADO POR CASTOR FILHO


http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/11/pepe-escobar-agora-e-guerra-total.html

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Maior túnel do Projeto São Francisco apresenta 94,4% de conclusão 05/11/2014


O túnel Cuncas 1, com 15 km, é o mais extenso para transporte de água da América Latina e interliga os Estados do Ceará e Paraíba.


Mauriti (CE) - 03/11/2014 - O Ministério da Integração Nacional realizou, na semana passada, a última detonação dentro do túnel Cuncas 1. A estrutura, a partir de agora, interliga o Estado do Ceará à Paraíba, pelo Eixo Norte do Projeto de Integração do Rio São Francisco. Com 94,4% executado, o túnel Cuncas 1 é considerado o maior da América Latina para transporte de água. A estrutura tem 15 quilômetros de extensão e seção de 9 metros de altura por 9 de largura.

Atualmente, cerca de 300 profissionais trabalham na estrutura. Ao todo, mais de 1.600 profissionais contribuíram na construção desse túnel. O consórcio responsável pelas obras adotou um sistema de perfuração com fogo controlado, conhecido como novo método de tunelamento austríaco (NATM, sigla em inglês).

Durante os trabalhos, a obra contou com uma moderna máquina importada da Finlândia para as escavações - a perfuratriz hidráulica chamada Jumbo. Cada ciclo de detonações ao longo de sua construção levou entre 12h e 15h. Foram empregados cerca de 700 quilos de explosivos em cada etapa. O avanço médio de cada ciclo foi de 4,5 metros de túnel escavado.

Os operários foram distribuídos em quatro frentes de serviço simultâneas, nas duas extremidades dos túneis (entrada e saída), e em mais duas frentes de serviço em janelas de acesso intermediário. Na medida em que as perfurações avançavam, as equipes se deslocavam em sentidos opostos até as escavações se encontrarem.

Além do Cuncas 1, também faz parte do empreendimento o túnel Cuncas 2, já concluído, com 4 km de extensão, que começa em São José de Piranhas e termina em Cajazeiras, ambos os municípios na Paraíba.

Ao todo, o Projeto de Integração do Rio São Francisco possui quatro túneis, sendo três no Eixo Norte (Cuncas 1, Cuncas 2 e Milagres) e um no Eixo Leste (Eng. Giancarlo de Lins Cavalcanti). O túnel Milagres, com quase 1 km, está localizado em Penaforte (CE), e o túnel Eng. Giancarlo de Lins Cavalcanti (antigo túnel Monteiro) liga Sertânia (PE) a Monteiro (PB) e possui 3 km de extensão.

Projeto São Francisco

O empreendimento é formado por 477 km de extensão, 14 aquedutos, nove estações de bombeamento, 27 reservatórios e quatro túneis. A obra, que vai beneficiar 12 milhões de pessoas nos Estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, está com 66,1% de sua execução física concluída.

Mais de 11.400 mil pessoas estão empregadas na maior obra de infraestrutura hídrica do País. Com previsão de conclusão em 2015, o Projeto de Integração do São Francisco faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal. O empreendimento vai garantir a segurança hídrica de mais de 390 municípios.



http://www.mi.gov.br/pt/noticias/-/asset_publisher/xW1t/content/maior-tunel-do-projeto-sao-francisco-apresenta-94-4-de-conclusao?redirect=http%3A%2F%2Fwww.mi.gov.br%2Fpt%2Fnoticias%3Fp_p_id%3D101_INSTANCE_xW1t%26p_p_lifecycle%3D0%26p_p_state%3Dnormal%26p_p_mode%3Dview%26p_p_col_id%3Dcolumn-3%26p_p_col_pos%3D3%26p_p_col_count%3D4

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Brasil investe em cabo de Internet para evitar a vigilância da NSA 03/11/2014

Kathleen Caulderwood | 01/11/14

O Brasil está instalando um cabo através do Atlântico para escapar do alcance da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA).



"Dilma discursando durante aberturada 68ª Assembleia das Nações Unidas" - Foto: Roberto Stuckert Filho/PR, disponível em http://fotospublicas.com

Esta operação é uma das muitas maneiras que o governo brasileiro está quebrando os laços com as empresas de tecnologia americanas - mas não sairá barato.

O cabo de fibra óptica de 3.500 quilômetros vai ser esticado a partir de Fortaleza para Portugal, com um custo estimado de US $ 185 milhões, informou a Bloomberg.

É claro, nada disso vai para os fornecedores americanos.

No ano passado, Edward Snowden vazou documentos que mostraram que a NSA estava acessando informações pessoais de cidadãos brasileiros, inclusive ouvindo telefonemas da presidente Dilma Rousseff, das suas embaixadas e da companhia petrolífera estatal Petrobras.

"Como muitos outros latino-americanos, eu lutei contra o autoritarismo e a censura e não posso deixar de defender, de forma intransigente, o direito à privacidade dos indivíduos e da soberania do meu país", disse Dilma Rousseff na ONU que ano.

"Os argumentos de que a interceptação ilegal de dados e informações visa proteger as nações contra o terrorismo não pode ser sustentado. O Brasil, Sr. Presidente, sabe como se proteger. Rejeitamos, lutamos e não abrigamos grupos terroristas ", disse ela.

Conforme declarou a Presidente Dilma, “Sem o direito à privacidade não há verdadeira liberdade de opinião e não há democracia. (…) Não se sustentam argumentos de que a interceptação ilegal de informações e dados destina-se a proteger as nações contra o terrorismo”. Voltando-se a Barack Obama, completou dizendo que “o Brasil, senhor presidente, sabe proteger-se. O Brasil, senhor presidente, repudia, combate e não dá abrigo a grupos terroristas”. Este discurso, cabe ressaltar, foi aplaudido por Snowden, delator das ações ilegais da NSA. Em entrevista, disse Snowden: “foi um discurso incrível, porque ela (Dilma) foi a primeira presidente que tomou a liderança para dizer ‘Temos o direito de falar, de nos comunicarmos sem sermos espionados’. E esses não são direitos de um país. São direitos humanos. Não há justificativa para espionar a Petrobras. Por que o presidente americano quer ler os e-mails da Dilma Rousseff? Obama disse que não sabia.



Dilma Rousseff do Brasil olha pela janela de um avião da Força Aérea Brasileira, ao deixar o Palácio da Alvorada, em Brasília, no dia 29 de outubro de 2014. Reuters / Ueslei Marcelino

O Brasil já mudou seu sistema de e-mail dominante do Microsoft Outlook para uma plataforma desenvolvida pelo Estado chamado Expresso, e em novembro passado exigiu que todos os órgãos do governo usem empresas estatais para os seus serviços de tecnologia.

O Brasil é a sétimo maior economia do mundo e as empresas americanas poderiam perder até US $ 35 bilhões em receita nos próximos dois anos, enquanto os compradores possam duvidar da segurança de suas conexões, de acordo com o grupo de pesquisa Tecnologia da Informação & Innovation Foundation.

O cabo está previsto para ser construído no início de 2015, supervisionado pela empresa estatal Telecomunicações Brasileiras SA, conhecida como a Telebrás.

Informações:

http://www.ibtimes.com/brazil-builds-internet-cable-portugal-avoid-nsa-s...

https://onial.wordpress.com/author/onialufsc/

Abreu e Lima começa a operar e já entrega diesel em dezembro 03/11/2014

 Autor: Fernando Brito




Com nenhum destaque na mídia, depois de um clima de denúncias que ameaçou jogar fora a criança junto com a água do banho, a Refinaria do Nordeste da Petrobras, conhecida como Abreu e Lima, recebeu hoje a licença ambiental necessária para operar parcialmente, com 40% de sua capacidade de produção de derivados de petróleo, 70% dos quais serão óleo diesel para a frota de caminhões e ônibus e para instalações industriais do país.

Como toda instalação complexa, o funcionamento será, de início, parcial e interrompido para ajustes, mas ainda logo atingirá a plenitude do primeiro conjunto de refino – “trem”, na linguagem petroleira – dos dois que comporão sua capacidade final. O segundo deve operar em meados de 2015.

O Brasil, hoje, tem de importar anualmente pouco mais de 10 bilhões de litros de óleo diesel.

Nos próximos meses, esta primeira fase da Abreu e Lima, junto ao porto de Suape, em Pernambuco, vai suprir cerca de 20% destas necessidades.

O que tiver de ser apurado sobre irregularidades na obra, que seja trazido às claras.

Mas nada pode apagar a importância desta conquista, por há exatos 30 anos o Brasil não constrói uma grande refinaria de petróleo. A última, a Revap, teve suas obras iniciadas num longínquo 1974, tendo sido concluída seis anos depois.

Neste período, apenas uma pequena planta de refino, basicamente local, no Rio Grande do Norte, foi construída e inagurada.

E por Lula, que iniciou a grande refinaria que agora começa a operar.

http://tijolaco.com.br/blog/?p=22737

O Universo pode ser mais velho do que parece 03/11/2014


David Bradley - Inderscience - 31/10/2014

A estrela Matusalém mereceu os olhares do radiotelescópio ALMA já na sua inauguração.[Imagem: DSS/STScI/AURA/Palomar/Caltech/UKSTU/AAO]


Estrela mais velha que o Universo

Quando os astrônomos calcularam pela primeira vez a idade da estrela HD 140283, que fica a uns meros 190 anos-luz da Terra, na constelação de Libra, eles ficaram confusos.

Esta estrela rara parece ser tão antiga que foi rapidamente apelidada de estrela Matusalém.

É uma sub-gigante pobre em metais, com uma magnitude aparente de 7,223. A estrela é conhecida há cerca de um século como uma estrela de alta velocidade, mas a sua presença em nossa vizinhança solar e sua composição estavam em desacordo com as teorias.

Além disso, a HD 140283 não era apenas uma esquisitice do início do Universo, formada pouco tempo depois do Big Bang. Na verdade, ela parece ter 14,46 bilhões de anos de idade - o que a torna mais velha do que o próprio Universo, atualmente estimado em seus 13,817 bilhões de anos (idade estimada a partir da radiação cósmica de fundo de micro-ondas).

É claro que, em última análise, revelou-se que as margens de erro na estimativa da idade da estrela Matusalém são maiores do que a pesquisa original sugeriu - os astrônomos adicionaram uma margem de erro de 800 milhões de anos. As barras de erro podem torná-la muito mais jovem, o que faz com que esteja entre os objetos estelares mais antigos conhecidos no Universo, mas, certamente, dentro dos limites de tempo desde o Big Bang.

Mas, o que dizer desse igualmente possível limite superior de idade? Existe a possibilidade de que esta estrela possa de alguma forma ser tão antiga quanto as medidas originais sugeriram, mas ainda estar "deste lado do Big Bang"?

Modelo do Universo Irradiante

Birol Kilkis, da Universidade Baskent, na Turquia, acredita que sim.

Em 2004, Kilkis introduziu um novo modelo para o Universo - o Modelo do Universo Irradiante (RUM: Radiating Universe Model).

Este conceito intrigante sugere que a "exergia", a energia que está disponível para fazer o trabalho e o primeiro foco da teoria termodinâmica no século 19, flui desde o Big Bang para o que Kilkis chama de "dissipador térmico de tamanho infinito no zero absoluto" (0 Kelvin), muito, muito distante no futuro.

Usando seu modelo RUM, Kilkis calculou a idade do Universo em 14,885 ± 0,040 bilhões de anos, o que é ligeiramente mais velho do que a estimativa a partir das micro-ondas de fundo, mas acomoda facilmente a idade original da estrela HD 140283.


As chamadas "constantes fundamentais" da natureza costumam mudar de vez em quando, conforme as medições se tornam mais precisas. [Imagem: Julian Berengut/UNSW]

Curiosamente, a teoria de Kilkis dá um novo valor dinâmico para a constante de Hubble e sugere que a expansão do universo está se acelerando desde 4,4 bilhões de anos após o Big Bang, o que pode muito bem acomodar a noção de energia escura. Além disso, esse ritmo acelerado de expansão está ele próprio se desacelerando, o que pode ser explicado pela matéria escura.

Energia escura e matéria escura são, como já se discutiu amplamente, os fenômenos físicos polêmicos para os quais não temos absolutamente nenhuma explicação, mas temos indícios observacionais que sugerem que eles são reais. Além disso, a teoria RUM sugere que a constante de Planck não é uma constante pura, mas uma variável cosmológica, um ponto para o qual foi apresentado algum fundamento em 2013 por dois físicos indianos (veja bibliografia).

Para onde o Universo se expande

"A questão ainda sem resposta é para onde o Universo observável está se expandindo. Se o universo em expansão tem uma massa e um volume, qualquer que seja a sua forma, ele deve se expandir para outro meio", diz Kilkis.

Esse "meio" teria tamanho infinito e estaria no zero absoluto, agindo assim como um ralo térmico para o Universo, que seria uma fonte de radiação térmica dentro da pia.




http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=universo-mais-velho&id=010130141031

Pedaço de continente submerso no meio do Atlântico 03/11/2014

Com informações da Agência Fapesp - 29/10/2014

Elevação do Rio Grande, localizada a cerca de 1.500 km do Rio de Janeiro. [Imagem: CPRM]


Oceano submerso

Há mesmo uma grande porção continental submersa no fundo do Oceano Atlântico, o que muda as teorias aceitas até agora sobre como se deu a separação entre América do Sul e África.

Em 2011, geólogos colheram amostras de granito, um tipo de rocha continental, da Elevação do Rio Grande, uma cadeia de montanhas submersas a cerca de 1.300 quilômetros (km) do litoral do Rio Grande do Sul.

Até então, eles acreditavam que essas montanhas seriam resultado da formação do assoalho oceânico e de erupções vulcânicas, portanto formadas por outro tipo de rocha.

Dois anos depois, por meio de um submarino, foram recolhidas outras amostras de rochas típicas de formações continentais, cuja análise reforçou a hipótese de que essa região do Atlântico Sul poderia de fato ser um pedaço de continente que teria submergido durante a separação da América do Sul e da África, iniciada há 120 milhões de anos.

Mineração submarina

A conclusão deu valor econômico à Elevação do Rio Grande. Em julho passado, o governo federal recebeu a autorização para levar adiante o plano de exploração de jazidas de cobalto dessa região, situada em águas internacionais, e a possibilidade de ali haver reservas de outros minerais, como níquel, manganês e terras-raras tornou-se mais concreta.


Brasil é autorizado a iniciar prospecção mineral no Atlântico



Cresceu também seu valor científico, por servir de argumento adicional para a hipótese de que a separação da América do Sul da África foi mais complicada e fascinante do que se pensava.

Agora já parece haver um consenso entre os geólogos de várias partes do mundo de que os grandes blocos de rochas - ou microplacas, uma referência às placas tectônicas continentais - que formam os dois continentes e o assoalho oceânico não se afastaram como duas partes de uma folha rasgada, mas se esticaram, quebraram-se e se posicionaram caoticamente. Algumas partes podem ter ficado no meio do caminho e afundado, enquanto outras se afastavam e se misturavam, formando um imenso mosaico que agora se torna um pouco mais claro.

As rochas coletadas da Elevação do Rio Grande - granitos, granulitos, gnaises e pegmatitos - devem ter de 500 milhões a 2,2 bilhões de anos, de acordo com as análises de equipes da Universidade de Brasília e e do Serviço Geológico do Brasil (CPRM).

"As idades não estão fora do que encontramos na América do Sul e na África," diz Roberto Ventura Santos, da CPRM. Segundo ele, os levantamentos sísmicos indicaram que a espessura da crosta é de cerca de 30 km na região da Elevação Rio Grande, "típica de crosta continental e não oceânica", reiterando a conclusão de que se trata de um resquício de continente.


A prova definitiva do "continente perdido" no Atlântico Sul foi coletada por um robô submarino durante uma expedição nipo-brasileira. [Imagem: Davi Fernandes/MCTI]

Quebra-cabeças continental

Essa descoberta, uma das mais espetaculares da geologia brasileira dos últimos tempos, trouxe algumas dúvidas. Pensava-se que as duas cadeias montanhosas do Atlântico Sul, a Rio Grande e a Dorsal Atlântica, tivessem se formado na mesma época, mas agora se cogita que pode não ter sido assim.

E quais são os efeitos da Elevação do Rio Grande? Uma cadeia com montanhas de 3.200 metros de altura no fundo do Atlântico Sul, cujo topo está a apenas 800 metros de profundidade, deve formar barreiras para a circulação oceânica, mas ainda não se sabe ao certo como.

Ventura acredita que algumas respostas podem vir à tona com a análise de uma coluna com 70 metros de sedimentos do fundo do mar, que, espera-se, permitirá a reconstituição de fenômenos climáticos e geológicos dos últimos 7 milhões de anos.

"A identificação de rochas continentais na Elevação do Rio Grande muda o quadro da evolução do Atlântico Sul, que se formou com a separação dos dois continentes", comenta o geólogo Peter Christian Hackspacher, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro.

Há quase 20 anos, por meio de pesquisas de campo no Sudeste e Sul do Brasil, na Namíbia e em Angola, ele examina os sinais das possíveis forças que levaram à separação da América do Sul e da África.

Suas conclusões reforçam a contestação do modelo tradicional, segundo o qual as linhas de costa dos dois continentes, representando os blocos de rochas que os formaram, poderiam se encaixar. Há um encaixe na costa do Nordeste com o Oeste da África, mas em outras regiões, como o litoral do Rio de Janeiro, parecem faltar partes do quebra-cabeça de rochas.

http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=pedaco-continente-submerso-meio-atlantico&id=010125141029#.VFeeJ_nF91Y

Bolivarianismo invade os EUA: 146 plebiscitos nas eleições da próxima terça-feira. 03/11/2014






"O Globo" noticia plebiscito nos EUA como algo normal da democracia.
Quando é no Brasil, o jornalão é contra, deturpando e dizendo que plebiscito
seria "golpe na democracia representada pelo Congresso Nacional" .
Isto porque a Globo tem bancada no Congresso dócil a seus interesses,
mas não consegue mais controlar o voto do povo.
Leia o título acima com ironia, por favor.

Segundo nosso "glorioso" PIG (Partido da Imprensa Golpista), plebiscitos invadiriam as prerrogativas do Congresso Nacional e, pasmem, o povo votar diretamente sobre temas de seu interesse, "colocaria em risco a democracia".

Ainda segundo o PIG, plebiscitos seriam "golpe de estado" e transformariam o Brasil em uma "ditadura bolivariana". Sabe-se lá exatamente o que é isso, mas não passa de uma espécie de lenda da mula sem cabeça criada por espertalhões quem quer perpetrar seus privilégios às custas do povo, para colocar medo até do espelho em setores conservadores da classe média.

Pois bem, nas eleições que acontecem na próxima terça-feira nos Estados Unidos, quando se renova parte do parlamento, serão incluídos 146 consultas públicas sobre diversos assuntos em 42 estados . Não é novidade. É muito comum este tipo de consulta popular nos EUA em todas as eleições.

Três estados, Oregon, Alaska e Distrito de Colúmbia (o Distrito Federal de lá, onde fica a capital do país), farão consulta popular sobre a aprovação da maconha para fins recreativos. A Flórida votará a liberação da maconha para uso medicinal. Na Califórnia, a descriminalização da posse de pequenas quantidades da droga será votada.

Outras decisões que eleitores tomarão serão sobre temas polêmicos, como restrições ao aborto no Colorado, Dakota do Norte e Tennessee. O casamento civil gay será votado no Arizona.

Outros temas passam pelo financiamento à educação, jogos, porte de armas, imigração, salário-mínimo, impostos e justiça criminal.

Ah... Esses yankees bolivarianos! Cadê os discursos indignados dos senadores Aloysio Nunes e Álvaro Dias no senado brasileiro? E colunas indignadas de Merval Pereira e Reinaldo Azevedo?

Maconha

Há dois anos, em 2012, nos estados do Colorado e Washington (onde fica a sede da Microsoft), houve plebiscito que aprovou a maconha para fins recreativos. Outros 18 Estados permitem o consumo com fins medicinais.

Aliás, um ex-executivo da Microsoft, James Shively, pretende criar uma rede de lojas para vender maconha nos EUA.


http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com.br/

Mudanças decisivas no sistema global 03/11/2014





– Entre ilusões e guerras desesperadas contra o tempo
por Jorge Beinstein [*]

O FMI informou recentemente que em 2014, a nível global, o primeiro Produto Interno Bruto (medido em paridade de poder de compra) já não é o dos Estados Unidos e sim o da China. De acordo com essa informação, em 2014 a China representa 16,4% do Produto Mundial Bruto contra 16,2% dos Estados Unidos. Em 1980 os Estados Unidos representavam 22,3% e a China apenas 2,3%. No ano de 2004 os Estados Unidos ainda pareciam estar localizados numa altura difícil de alcançar, com 20,1% do Produto Mundial Bruto e a China crescia mas chegava a 9,1% (menos da metade do PIB estado-unidense). Em dez anos mais equilibrou-se a balança e, de acordo com o prognóstico do FMI, a diferença em favor da China aumentará nos próximos anos.



Os dados fornecidos pelo FMI mostram não só a expansão chinesa como também (principalmente) o declínio dos Estados Unidos cujo poderio económico relativo global foi retrocedendo ano após ano desde o início do século actual. A resposta da sua elite dirigente foi continuar com o processo de financiarizaçáo que a havia levado ao cimo ao mesmo tempo que degradava o sistema industrial e acumulava dívidas. Enquanto isso, para proteger e prolongar seus privilégios parasitando sobre o resto do mundo, exacerbou sua tendência militarista. O que havia sido iniciado na última etapa do governo Clinton agravou-se com a chegada de George W. Bush e ainda mais sob a presidência Obama. As guerras foram-se sucedendo e estendendo, a crise financeira de 2008 não acalmou a euforia belicista, pelo contrário, acentuou-a. E as baixas taxas de crescimento produtivo que se seguiram, as ameaças de incumprimento, o aumento da marginalidade social, as perdas de mercados externos e outras calamidades deixaram caminho livre ao autismo imperial. Encontramo-nos diante da reacção desesperada de um sistema drogado embarcado numa fuga louca para a frente. Os lobos da Wall Street convergem com os militares hitlerianos da NATO no leme de um imenso Titanic que alberga o conjunto do G5 (Estados Unidos+Alemanha+França+Japão+Inglaterra).

Não se trata só da China a superar os Estados Unidos. Segundo os dados do FMI, em 2014 os BRICS alcançaram o G5 (cada um representa aproximadamente 30% do Produto Mundial Bruto) e estaria a superá-lo em 2015.



O militarismo é assumido pela classe dominante norte-americana como a "solução" para os seus problemas, procurando assim submeter seus aliados-vassalos da NATO, encurralar a Rússia e a China, submergir nos caos países de todos os continentes e assim tomar posse de uma ampla variedade de recursos naturais da periferia, desde o petróleo e o gás até o coltan, o lítio ou o ouro. Essa rajada de agressões começa a transformar-se num super boomerang que golpeia a cabeça do império, acossado por dívidas e ameaças inflacionárias e recessivas.

Por outro lado, não há desconexão. A União Europeia e o Japão afundam-se junto com o seu amo. Tão pouco se salvam os capitalismos "emergentes" da periferia. Ainda que a curto prazo tirem vantagens do enfraquecimento do centro do mundo, a médio prazo esses países vão ficando presos à decadência global. Seus principais clientes comerciais são precisamente as economias capitalistas centrais em declínio, enquanto a trama financeira (equivalente a vinte vezes o Produto Mundial Bruto) envolve todas as burguesias centrais e periféricas, neoliberais e estatizantes, pobres e ricas.

Tanto a Rússia como a China, seguidas por um amplo espectro de países periféricos, conseguiram, graças aos controles e intervenções económicas dos seus Estados, preservar durante um certo tempo seus mercados internos e suas estruturas produtivas. Mas as economias da China, Índia e Brasil desaceleram-se e, em consequência, aceleram-se suas contradições internas e a Rússia já entrou em recessão (suave, por enquanto).

O velho centro do mundo em torno do G5 verifica sua decadência ameaçando impor o maior desastre civilizacional e ecológico da história, enquanto seus oponentes periféricos procuram resistir a uma avalancha que os ultrapassa. Tentam integrar-se mas acontece que cada potência emergente baseou sua prosperidade recente nas procuras dos mercados centrais em crise que, através de complexas arquitecturas financeiras e comerciais, puderam manter sua economias em funcionamento inundando o planeta com dólares sobrevalorizados que lhes permitiam comprar produções periféricas a baixo custo. Mas agora e no futuro previsível para continuar a funcionar (na realidade, para prolongar sua agonia) precisam baixar ainda mais os custos periféricos até levar o processo ao nível do saqueio. Pelo seu lado, os periféricos não podem prescindir desses mercados centrais, não têm como substituí-los completamente nem a curto nem a médio prazo.

Um horizonte de guerras e crises vai-se instalando de maneira irresistível.





Assistimos actualmente a uma dupla corrida contra o tempo. Em primeiro lugar a do Ocidente e do Japão que procuram submeter o resto do mundo nuns poucos anos para saquear seus recursos naturais e espremer velozmente o que reste dos seus mercados internos. Seus estrategas consideram que desse modo poderiam reduzir os custos das suas empresas, preservas seus lucros e sustentar os mercados internos imperiais ou pelo menos desacelerar seu declínio. Ainda que o alcance dessas metas se choque com resistências periféricas (estatais e populares) que o Império até agora não pôde anular. Além disso, sua decadência económica e política reduz ano após ano a eficácia dos referidos projectos.

Por sua vez, os capitalismos emergentes também desenvolvem uma guerra contra o tempo, ainda que a um prazo mais longo que se vai encurtando. Em torno dos BRICS, as integrações euro-asiáticas, latino-americanas, etc procuram desenvolver mercados comuns que substituam os mercados ocidentais declinantes, gerando desse modo uma dinâmica capaz de salvá-los do desastre global motorizado pelo Ocidente e inclusive arrastando este último mais à frente rumo a uma nova prosperidade. Mas essa ilusão enfrenta problemas de solução quase impossível. Os emergentes periféricos precisam de tempo para se reconverterem e se adaptarem aos mercados de substituição internos e externos. Se os capitalismos centrais ruírem a curto prazo os emergentes sofrerão o impacto dessa retracção e entrarão num período de crises explosivas. Para que os capitalismos centrais não se arruínem a curto prazo prolongando uma espécie de declínio controlado seria necessário que os mesmos preservassem seus privilégios monetários (hegemonia do dólar) e comerciais – mas isso só é possível à custa da estabilidade económica e política dos capitalismos emergentes. Se curvassem a Rússia, China, Irão e seus aliados e amigos periféricos, os capitalismos centrais poderiam então saquear livremente o conjunto da periferia. O Ocidente conseguiria uma espécie de aterragem suave, com o que o planeta entraria numa era de decadência geral prolongada.

Dito de outra forma: para não caírem os emergentes precisam que o Ocidente demore, desacelere sua queda e para que isso aconteça o Ocidente precisa saquear a periferia, fazer cair os emergentes. De qualquer forma, se o Ocidente chegar a ter êxito e submergir no caos o resto do mundo seguramente esse caos provocará a quebra das suas próprias sociedades.

Na realidade ambas as corridas contra o tempo tendem a convergir num processo comum de crise, seus ritmos diferenciados de desaceleração do crescimento económico começam a aproximar-se (Brasil e Rússia, por exemplo, actualmente estancam-se de modo igual à Inglaterra ou Japão) integrando-se num espaço universal de crises políticas, financeiras, militares, sociais, locais, regionais, etc., ou seja, na trama complexa da decadência do capitalismo como sistema mundial. As esperanças de superação da crise a parte do interior do sistema vão-se diluindo. O Ocidente não recupera suas glórias definitivamente perdidas e a partir da periferia não chega a regeneração, o rejuvenescimento do capitalismo.

Alguns anos antes da Comuna de Paris Proudhon descrevia a França decadente do seu tempo da seguinte maneira: "Todas as tradições estão gastas, todas as crenças anuladas, em contrapartida o novo programa não aparece, não está na consciência do povo, daí o que chamo 'a dissolução'. É o momento mais atroz na existência das sociedades" [1] . Como sabemos, uns poucos anos depois, do mais profundo desastre emergiu a Comuna de Paris (1871), insurgência efémera mas decisiva que iluminou as rebeliões do século XX.

O horizonte negro que nos oferece esta civilização contrasta com a incrível vitalidade demográfica, tecnológica e social em geral que a humanidade demonstra – o que anuncia choques, confrontações, alternativas que deveriam ir para lá dos limites deteriorados do sistema.[1] Citado en Pierre Olivier, "La Commune", Ch. 1, Gallimard, Paris, 1939.

[*] Professor da Universidade de Buenos Aires.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

sábado, 1 de novembro de 2014

Estado profundo, eventos profundos: Wall Street, Big Oil e o ataque à democracia nos EUA 01/11/2014




29/10/2014, Lars Schall entrevista o Prof. Peter Dale Scott − Global Research, Canadá
The American Deep State: Wall Street, Big Oil and the Attack on U.S. Democracy
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Aí está o verdadeiro teste para se diagnosticar se estamos diante de um verdadeiro grande evento profundo: quando há muitas investigações, e no final nos vêm com uma história tão cheia de buracos, que todos logo percebem que não passa de um monte de mentiras. Então, por definição, evento profundo é aquele sobre o qual a verdade jamais é apresentada à opinião pública; os maiores deles são aqueles em que aparece alguma “versão” que pode ser verdadeira em alguns aspectos, mas que é absolutamente falsa nos aspectos chaves.





Lars Schall: Peter, decidimos conversar, dessa vez, sobre o Estado Profundo. A primeira pergunta que gostaria de fazer-lhe é: por que você insiste em dizer que ainda é importante falar sobre o 11/9?


Peter Dale Scott: Bem, o 11/9 foi momento de grandes mudanças na política externa e também na política doméstica dos EUA; é a razão pela qual quase imediatamente invadimos o Afeganistão e é também a razão pela qual começamos a planejar, quase imediatamente a invasão do Iraque, que se baseou no pressuposto falso de que Saddam Hussein teria alguma conexão com a Al-Qaeda. Onde houve “provas”, eram provas falsas, mas o governo escolheu acreditar nelas. De um ponto de vista norte-americano, as mudanças na política externa talvez não tenham sido tão graves quanto a implementação, naquele dia, do que chamamos de procedimentos para a “Continuidade do Governo” (orig. “continuity of government” (COG) procedures), e que alteraram radicalmente o status da Constituição dos EUA. Planejaram durante 20 anos o que fazer no caso de emergência gravíssima como o 11/9; o plano foi trabalhado durante duas décadas por Donald Rumsfeld e Dick Cheney, que foram os dois que implementaram aquele plano no 11/9.




Edward Snowden

Não conhecemos detalhes daqueles planos, mas acho que podem ser resumidos em três grandes títulos: um deles é vigilância total, sem autorização judicial. Edward Snowden está aí para provar acima de qualquer dúvida que a vigilância é massiva, nos EUA, e por causa da implementação daqueles procedimentos COG. Outro, é a prisão sem mandado judicial; houve mais de mil muçulmanos detidos sem mandato e mantidos presos. Há, na lei comum dos EUA, o que se conhece como habeas corpus: não se pode manter pessoas detidas indefinidamente, sem formalizar alguma acusação contra o detido. Mas mais de mil pessoas foram detidas nos EUA sem acusação; e alguns desses detidos foram torturados. Essa é mudança imensa, enorme, na realidade doméstica, nos EUA.


E o terceiro título-resumo das mudanças é o envolvimento dos militares no que se chama “segurança da pátria” [orig. homeland security] nos EUA. Os militares têm agora papel de polícia, o que é absolutamente novo. Vez ou outra aconteceu de o exército ser chamado para enfrentar uma ou outra crise pontual, como os tumultos que houve em cidades do interior do país, nos anos 1960s. Mas manter um comando permanente do exército para a América do Norte − chamado NORTHCOM – isso é completa novidade; é mudança radical no papel do exército. Falo principalmente sobre isso, em Deep State [Estado Profundo]. Agora, os EUA temos instituições criadas para operar nos EUA sem serem controladas pela Constituição dos EUA. Não sei de outra mudança que possa ser mais radical que essa.


LS: O que é “Estado Profundo”, o que são “Eventos Profundos” e o que o 11/9 tem a ver com ambos?



Dana Priest

PDS: Permitam-me apresentar uma definição de “estado profundo” que não é minha. Uma repórter do jornal Washington Post, Dana Priest, escreveu um livro Top Secret America [1], no qual ela diz que agora temos


(...) dois governos: um dos cidadãos, com o qual estávamos habituados, operado mais ou menos às claras; o outro, um governo paralelo e top secret, cujas partes engordaram e reproduziram-se como cogumelos em menos de uma década, até formar um gigantesco universo próprio, que não para de crescer.


Está certo, no sentido de que esse estado profundo crescia como cogumelos ao longo da última década, quando ela escrevia. E isso precisamente por causa das mudanças introduzidas pelo 11/9 e pelos procedimentos para “Continuidade do Governo” (COG), que foram autorizadas e implementadas antes de o último dos quatro aviões estar no chão. Implementaram os procedimentos COG, e depois proclamaram a emergência, três dias adiante, e desde então vivemos sob aquele mesmo estado de emergência, o que significa que, na verdade, a Constituição já não vige como antes.


Você pergunta também sobre eventos profundos. Chamo o 11/9 de evento profundo, porque, desde o início, jamais se soube exatamente o que aconteceu. Até jornalistas comentaram a confusão e a profusão de informes; a coisa ficou tão séria que o Congresso teve de pressionar. Foi uma luta para conseguir que se investigasse alguma coisa. É o maior ato criminoso jamais cometido nos EUA, e a Casa Branca tentou não investigá-lo.


A cena do crime foi desmontada, na prática, imediatamente; para muitos, foi crime ter adulterado a cena daquele crime. Disseram que procuravam cadáveres e que, por esse motivo, removeram todo o metal encontrado. Hoje, cientistas mostram-se muito interessados em saber que tipo de resíduos havia naquele aço, para confirmar se os prédios foram explodidos de dentro para fora, ou de fora para dentro. A maior parte do metal retirado da cena do crime foi embarcado rapidamente em navios para fora dos EUA. Por essas e outras, pode-se dizer que, sim, o 11/9 foi um evento profundo, e houve uma comissão de investigação.


Há dois grandes eventos profundos na história recente dos EUA: primeiro, o assassinato de Kennedy em 1963; depois, o 11/9; há outros, e alguns deles são, de fato, bem pequenos: profundos e pequenos. Você sabe que acho que passei por alguns eventos profundos na minha vida pessoal. Narro um deles em The American War Machine. Mas os eventos profundos que tiveram consequências sobre a Constituição foram: o assassinato de Kennedy – com consequências quase invisíveis, mas nem por isso menos reais, que mudaram completamente o papel da CIA e o relacionamento da Agência com o FBI e com a polícia local.


Muito mais importantes foram as mudanças introduzidas depois do 11/9. Considerem o movimento que Edward Snowden documentou tão completamente: a vigilância sem mandado judicial. Essa, dentre as três grandes mudanças, é talvez a menos importante, mas é a única sobre a qual todos estamos falando, nesse país.


Nos dois casos, criaram-se comissões para investigar, e aquelas comissões nos apareceram com fatos que, como já está provado, eram falsos. Aí está o verdadeiro teste para diagnosticar se se está diante de um verdadeiro grande evento profundo: quando há investigações, e no final nos vêm com uma história tão cheia de buracos, que todos logo percebem que não passa de um monte de mentiras. Então, por definição, evento profundo é aquele sobre o qual a verdade jamais é apresentada à opinião pública; os maiores deles são aqueles em que aparece alguma ‘versão’ que pode ser verdadeira em alguns aspectos, mas que é rigorosamente falsa nos aspectos chaves.



John Kennedy

LS: No seu trabalho, dentre outras coisas, você está à procura do padrão que se teria repetido no 11/9 e no assassinato de JFK. Para começar: quando foi que você encontrou esse padrão e o que o levou a ele?


PDS: Logo depois do 11/9 chamou-me a atenção o fato de que eles já sabiam, quase imediatamente, quem fizera tudo. No livro de Richard Clarke (que estava em posição de saber), ele diz que o FBI tinha uma lista dos sequestradores dos aviões já antes das 10h daquele dia (antes, portanto, também, de o último avião cair). Quem conheça qualquer coisa sobre o assassinato de Kennedy sabe que uma das coisas jamais explicadas é como conseguiram divulgar, na fita distribuída pela polícia, uma descrição do assassino, do homem que atirou contra Kennedy, aparentemente de uma janela. E a descrição era bastante precisa: 1,70m [orig. 5 feet ten inches], 74,80kg [orig. 165 pounds]. Ninguém jamais disse de onde saíra tal descrição. Adiante, foi atribuída a um homem, Howard Brennan, que estava na rua e disse ter visto o atirador; mas só viu o topo da cabeça do homem, pela janela; como poderia saber que media 1,70m e pesava 74,8 kg?



Lee Harvey Oswald

O que interessa é que essa é precisamente a descrição de Lee Harvey Oswald na ficha do FBI e na ficha da CIA, apesar de estar errada. 15 minutos depois do assassinato, a rádio interna da Polícia já divulgava uma descrição do assassino, copiada dos arquivos do FBI e da CIA; e o FBI nunca conseguiu explicar, ninguém, do lado do governo, jamais conseguiu explicar como aconteceu tudo isso.


Vale o mesmo também para o 11/9. Também nesse caso logo apareceu internamente uma lista de sequestradores, e dois nomes que lá estavam foram rapidamente excluídos, porque um [Adnan Bukhari] havia morrido, e o outro [Ameer Bukhari] comprovadamente não estava em avião algum. Acho que essa também foi uma lista copiada de arquivos. E essa é só a primeira semelhança entre esses dois eventos profundos. Em meu livro The War Conspiracy listo mais de uma dúzia de semelhanças e, desde então, continuo a acrescentar outras semelhanças, no modus operandi.


Outra coisa é que essas pessoas sempre deixam rastros “em papel”: Oswald mantinha um diário e fez quantidade enorme de coisas que, adiante, foram usadas para incriminá-lo (quando, claro, já estava morto); e, no Aeroporto Logan, Mohamed Atta e seus amigos deixaram um carro cheio de provas. Sempre muito conveniente para o FBI que os perpetradores – ou os que chamo de “culpados por designação”, porque evidentemente já estava resolvido, desde antes, quem levaria a culpa pelo crime – todos eles, tenham fornecido provas documentais contra eles mesmos. E há muito mais. Não sei se basta para você, agora.


LS: Gostaria de perguntar-lhe sobre canais de comunicação específicos envolvidos nos dois casos, no assassinato de JFK e no 11/9. Por que essa talvez seja a semelhança mais importante?


PDS: É verdade, sim, que acho que a rede nacional de comunicações – nomes diferentes ao longo dos anos, mas é a rede especial de comunicações que foi montada em conexão com os planos para Continuidade do Governo, e a coisa começa nos anos 1950s, mudando sempre de nome. Essa semelhança só a encontrei mais tarde. Durante muitos anos eu soube que a Agência de Comunicação da Casa Branca [orig. White House Communications Agency (WHCA)] foi fator importante no assassinato de Kennedy, porque trabalharam junto com a investigação feita pela Warren Commission, distribuíram as transcrições e liberaram algumas mensagens do Serviço Secreto, mas sabe-se que havia dois canais da Polícia, ambos divulgados, mas também havia um terceiro canal, que estava sendo usado no Daily Plaza, e o Serviço Secreto estava usando o canal do que se conhece como Agência de Comunicação da Casa Branca.


Eu soube, durante anos, que tínhamos de explicar isso, mas não conseguíamos. Em 1993, quando organizaram um Corpo para Revisão dos Registros do Assassinato [orig. Assassination Records Review Board], fui até lá e disse que eles tinham de obter aqueles registros, mas não foram divulgados. Mesmo assim, a Agência de Comunicação da Casa Branca vangloria-se, no seu website – suponho que ainda se possa ler lá – de ter ajudado a resolver o caso do assassinato de Kennedy. Acho muito estranho, porque há muitos registros que nunca foram entregues à Comissão Warren, supostamente encarregada de resolver o mesmo caso.


E então, quando os registros começaram a aparecer sobre o 11/9 – demorou alguns anos, tivemos o relatório da comissão do 11/9 e lá se via que há algumas comunicações, telefonemas, que foram feitos e recebidos, mas sem qualquer registro. Em meu livro The Road to 11/9, escrevi que as provas sugerem que estivem usando... que já estivessem implementando os procedimentos para Continuidade do Governo (COG). Significa que, se isso se confirmar, eles implementaram [e já estavam usando] a rede especial de comunicaçõesCOG, a qual, com troca de nomes, é herdeira da rede de emergência; e que a Agência de Comunicações da Casa Branca era, como continua a ser até hoje, parte daquela rede de emergência.


Por causa disso, pude confirmar que o caso Irã-Contras foi mais um evento profundo, porque se descobriu que Oliver North, em 1985-86, enviava armas para o Irã, o que é ilegal, e muita gente no governo nada sabia sobre a “prática”. Não sabiam, porque Oliver North era o encarregado daquela mesma rede de emergência e usou aquela rede de emergência para comunicar-se com a Embaixada em Portugal, por exemplo, para facilitar o processo de levar as armas ao Irã. Isso, para mim, é mais um denominador comum.



Oliver North

Watergate foi outro evento profundo. Até hoje ainda não se sabe por que fora instalada uma escuta no telefone do Comitê Nacional do Partido Democrata, mas sabemos que James McCord, encarregado da equipe que instalou a escuta, era membro da rede Especial da Reserva da Força Aérea conectada aos procedimentos para Continuidade do Governo. E que estava encarregado dos diferentes passos para o mesmo tipo de ação: quem vigiar, as prisões sem ordem judicial. Todas essas ações já estavam organizadas e operantes na época de Watergate.


Esses, portanto, são os denominadores comuns que mais me chamam a atenção nesses quatro eventos profundos – JFK, Watergate, Irã-Contra e, finalmente, o 11/9. E se algum dia voltarmos a ter evento profundo desse tipo, posso prever agora, com base no que já se sabe sobre o desempenho passado, que a rede de emergência, essa rede à qual as pessoas comuns que trabalham no governo não têm acesso, novamente será fator decisivo.


LS: O Serviço Secreto foi ativo nos dois eventos principais?


PDS: São eventos principais precisamente por causa do que dissemos: porque usaram a Agência de Comunicação da Casa Branca para suas comunicações. Já se escreverem muitos, muitos livros sobre o Serviço Secreto e o assassinato de JFK – alguns muito exagerados, e houve quem envolvesse o Serviço Secreto naqueles eventos. Acho que, nisso, muita gente fez mal o próprio trabalho; ou não fizeram o que deveriam ter feito, não investigaram quem deveriam ter investigado. Não implica dizer que sejam culpados, e não estou subscrevendo aquelas teorias. Menos óbvio no caso de 11/9, o Serviço Secreto. Mas, o que é interessante, eles tiveram um papel ali, porque, num certo ponto – há um avião especial para a Continuidade do Governo, chamado E4B, conhecido como o “Avião do Juízo Final” [orig.Doomsday Plane], e chamam o planejamento para a Continuidade do Governo de “Programa do Juízo Final” [orig. Doomsday Program], e esse avião sobrevoou a Casa Branca.


Nenhum avião pode sobrevoar a Casa Branca, em nenhum caso. Mas precisamente naquele dia, quando tudo deu errado, o E4B – deve ser o avião especial para a Autoridade Nacional em Comando, que são o presidente e o secretário de Defesa. Mas, evidentemente, nem um nem outro estavam naquele avião: o presidente estava na Florida, e o secretário de Defesa estava no Pentágono, segundo seu próprio relato, ajudando a pôr gente em macas – o que parece serviço bem esquisito para o secretário de Defesa, no momento em que a nação estava sendo atacada.



Dick Cheney

Mas o avião lá esteve, e o Serviço Secreto reagiu, fazendo evacuar o prédio. Há narração muito vívida de como praticamente tiveram de puxar o vice-presidente Cheney da cadeira onde estava e empurrá-lo para fora e é claro que lhe disseram que o país estava sendo atacado e que o mais lógico, o mais sensível, para ele, seria sair o mais depressa possível para o que se conhece como PEOC (Presidential Emergency Operations Center, o bunker de emergência que há no subterrâneo da Casa Branca, para quando a nação seja atacada. Mas o mais interessante é que Cheney não foi diretamente para o PEOC; passou vários, vários, muitos minutos no túnel, usando um telefone que havia ali. E o que poderia ser aquele telefone? Aposto bom dinheiro que era telefone conectado à rede de emergência, e acho que ali, por aquele telefone, tomaram-se várias decisões chaves; ali, não na presença dos principais conselheiros que já estavam no PEOC.


Quero dizer pois que o Serviço Secreto estava envolvido, no sentido de que sua missão era levar Cheney e permanecer com ele naquele corredor – por cerca de 20 minutos – enquanto Cheney fazia várias ligações e falava com ambos, o presidente e o secretário de Defesa.


LS: Sobre o “Programa Continuidade do Governo”: por que é tão importante saber mais sobre ele? E continua ativado, até hoje?


PDS: Comecemos pela segunda parte da pergunta. Sim, tanto quanto se sabe, continua ativado. Não é fácil falar sobre isso, porque ninguém jamais pronunciou uma única palavra sobre o que são esses procedimentos especiais. Só se sabe o que foi revelado nos anos 1980s. Mas fato é que tudo de que se falou nos anos 1980s é o que se vê implementado desde então: vigilância total sem autorização judicial, está aí, para quem queira ver; detenção por tempo ilimitado e sem acusação formal, está aí, para todos verem; os militares envolvidos permanentemente nas funções tradicionais de polícia. Há uma brigada do exército em permanente estado de prontidão, para enfrentar quaisquer casos de perturbação social interna.


LS: E por que é importante saber mais sobre isso tudo? Por exemplo, significa que a Constituição dos EUA, de que os norte-americanos tanto se orgulham, está suspensa, sem efeito?


PDS: Não está suspensa completamente, mas em larga medida foi suplantada. As três coisas de que falei, todas, especialmente as duas primeiras. Quero dizer que todos sabemos que o habeas corpus é muito claramente mencionado na Constituição. Não que seja exatamente garantido pela Constituição, mas é assumido como direito garantido na Constituição, porque tem longa história que vai até a Carta Magna no século XIII. É um dos mais antigos direitos fundacionais das liberdades da common law. E foi gravemente ab-rogado, não suspenso. Se quiserem deter alguém, deterão, como têm detido. E não só estrangeiros: também cidadãos norte-americanos.


Assim portanto, sim, o status constitucional foi gravemente erodido, e mais e mais pessoas começam a falar sobre isso. Finalmente começamos a ver debate sério sobre a vigilância ilegal, que é inconstitucional, e o presidente disse que tomaria providências, mas ainda não se viu, até agora, providência alguma, além de muito se dedicarem a processar Snowden, que prestou relevante serviço público. Como se não bastasse, acusaram também o homem que criou o programa de encriptação que possibilitou que Snowden partilhasse os documentos com Greenwald. E tanto perseguiram esse homem, que ele foi forçado a fechar sua empresa. Estão impondo a todos, com requintes de crueldade, esse sistema de segredos – governo que governa por segredos, como se houvesse uma segunda carapaça que fecha o governo sobre ele mesmo e mina qualquer tentativa de abertura e transparência.


LS: Quanto ao 11/9, você diz que, de certo, só sabe uma coisa: que com certeza houve encobrimento massivo. O que foi encoberto e por quê?


PDS: Até hoje não há explicação satisfatória de por que os aviões caíram. O mais provável é que tenham sido interceptados em voo. Com certeza, ao tempo do 3º e do 4º aviões, eles têm de ter sido interceptados. Há uma explicação elaboradíssima da comissão que investigou o 11/9, mas muitas coisas permanecem sem explicação. O comportamento do vice-presidente, que era figura chave. Houve um telefonema que implementou o programa Continuidade do Governo; aí está o centro de tudo que aconteceu aqui. Não há nenhum vestígio desse telefonema. Não porque jamais teria havido traço algum, porque é claro que o telefonema não foi feito de telefone particular, ou coisa assim; não há vestígio desse telefonema porque ele foi com certeza feito por canais internos, tenho certeza de que foi feito por uma linha do programa Continuidade do Governo. E é direito nosso saber exatamente o que aconteceu e o que foi feito.


Tudo isso, além do mais, tem consequências legais reais, porque uma das coisas que ainda terão de ser explicadas é por que o vice-presidente tomou decisões que, por lei, não podia tomar. Temos uma Autoridade Nacional em Comando que governa os militares: são o presidente e o secretário de Defesa. Tanto quanto se sabe – e faltam muitas informações, o que permite supor que estejam sendo ocultadas – as decisões reais foram tomadas pelo vice-presidente que não é parte da Autoridade Nacional em Comando.


Tudo isso teria de ser investigado, porque é muito possível que se tenham cometido vários crimes, na reação ao 11/9. Aqui não falo do próprio dia 11/9, que não discuto em meu livro, porque já foi discutido em muito livros. Mas na resposta ao 11/9 com certeza fizeram-se coisas que não foram feitas como a lei determina que sejam feitas. Como foram feitas, é o que hoje se encobre, porque não há registros de coisa alguma.


LS: Teria sido possível evitar que o 11/9 acontecesse? Quero dizer, é pergunta crucial para tudo quanto tenha a ver com a Agência de Segurança Nacional (NSA). A NSA ignorava completamente os planos para atacar os EUA?



Curt Weldon

PDS: Sabe-se tão pouco dessa Agência de Segurança Nacional dos EUA, que é difícil, para mim, responder sua pergunta. Há alegações, é claro, de que esse tenente Shaffer apresentou-se e disse que a Agência de Inteligência da Defesa (DIA) tem, de fato, arquivos completos sobre Mohamed Atta e outros (...) Mas o Pentágono negou e depois o deputado Republicano Curt Weldon levou a coisa ao Congresso e queria mesmo ir ao fundo de tudo e, na sequência, o FBI tratou-o de forma horrorosa. O FBI vazou a “ideia” de que Weldon estaria sob investigação por causa de algo que envolveria a filha dele, e todos os jornais encheram-se daquele assunto. Weldon não chegou a ser acusado formalmente, mas não foi reeleito, quer dizer, o FBI conseguiu tirá-lo do Congresso.


Foi portanto um sinal, e falo disso no meu livro, de que é muito perigoso, para políticos eleitos, desafiarem essa parte do governo dos EUA que chamo de “estado profundo”, porque inevitavelmente, se se atrevem a desafiar o estado profundo, acabam derrotados nas urnas, quando se candidatam à reeleição. Escrevi isso antes do caso Curt Weldon, mas o caso foi muito importante.


Falemos sobre a CIA. A CIA com certeza absoluta sabia sobre os dois sequestradores, que eles estavam naquela ação – costumo dizer “ditos sequestradores” porque, não sei com certeza, até hoje − que papel tiveram no 11/9, mas acho provável que eles tenham embarcado nos aviões, embora absolutamente não consiga acreditar que seriam capazes de dirigir os aviões para atacar os prédios. Essa foi ação de alguma outra força agindo do lado de fora dos aviões, uma tecnologia simples e fácil de operar no século XXI. Mas se aqueles dois sequestradores... A CIA teria de ter informado o FBI sobre eles, mas não informou. E eles puderam movimentar-se à vontade, fazer contato com outros sequestradores. Se os procedimentos tivessem sido respeitados, a CIA teria notificado o FBI, o FBI os poria sob vigilância e, a partir daqueles dois, seria possível conhecer virtualmente todos os sequestradores. Portanto, o fato de a CIA não ter encaminhado a informação que tinha sobre eles é uma das causas de as coisas terem acontecido como aconteceram dia 11/9.


É só uma parte do grande quadro, mas é parte significativa; e houve falhas de comunicação semelhantes a essa também no caso do assassinato de John F. Kennedy. Aí está mais uma das muitas semelhanças – que a CIA enviou um telegrama ao FBI ... Não foi telegrama, foi uma mensagem: enviaram uma mensagem ao FBI sobre Lee Harvey Oswald, mas suprimiram a informação sobre o que os teria levado a pôr Lee Harvey Oswald sob vigilância total. E se ele não estivesse sob vigilância, não teria tido o papel que acabou por ter, quando foi “designado” culpado pelo assassinato de Kennedy. Nesse sentido é que me parece muito, muito significativo que a CIA tenha ocultado essa informação.


Não estou dizendo que eu saiba quem fez acontecer o 11/9 e, diferente de muitos, não estou dizendo que a Casa Branca fez acontecer o 11/9. Não. Acho que alguém no estado profundo fez acontecer o 11/9. Mas, veja bem, pela minha concepção, há muitos elementos, nesse estado profundo, que não participam sequer do governo. Por isso, dizer que uma ou outra coisa foi obra do estado profundo não informa muito sobre coisa alguma. Mas temos de saber mais e há registros escondidos que têm de ser expostos, porque nos ajudarão a compreender o que houve.


LS: Mas digamos que, se houvesse elementos do governo envolvidos no 11/9... O que se diz é que, se houvesse, alguém já teria falado. Ninguém consegue guardar segredos em Washington. O que você pensa sobre isso?


PDS: Bem... Há até um livro sobre o assassinato de Kennedy, que leva o título de “Alguém já teria falado” [orig. Someone would have talked]. De fato, dizem isso desde o início, depois do assassinato de Kennedy, e a resposta do livro é que ninguém deu ouvidos aos que, sim, falaram.


Acontece o mesmo sobre o 11/9. Ontem mesmo estava conversando sobre o 11/9, e lá havia alguém disposto a jurar sobre a Bíblia, que o último avião, o voo 93, foi provavelmente atingido sobre Shanksville, parte do avião caiu ali, mas o avião continuou porque... o sujeito tem um amigo que falou com um grande amigo de alguém que tem um outro grande amigo que viu o míssil atingir o voo 93 sobre Camp David, onde o presidente poderia estar, escondido nas montanhas. Nada disso apareceu nos jornais, não porque o homem não tenha falado, mas porque ele falou; imediatamente depois recebeu uma visita do FBI e o FBI disse ao homem que nunca mais voltasse a falar sobre o tal assunto.


Na verdade, apareceu na mídia. Há – acabo de rever – uma matéria de TV daquele momento. E o FBI diz que um avião foi abatido sobre Camp David e que receberam a informação da Administração Federal de Aviação (FAA). Estava tudo na televisão, mas foi tirado da televisão, e a nação esqueceu aquilo, ou quase toda a nação esqueceu o que vira e ouvira. O voo do E4B sobre a Casa Branca – também foi notícia da CNN, na televisão. É parte muito importante da história. Mas, na sequência, a coisa é apagada. Por sorte, algumas pessoas gravaram e repuseram a informação no YouTube (vídeo a seguir).





A Força Aérea negou que tenha acontecido, mas não há dúvidas de que aconteceu, é claramente o E4B. Depois, outras pessoas apareceram com algumas explicações.


É sabido que a informação é sempre controlada em qualquer sociedade, e se alguém diz algo que não se enquadra na história oficial... Somos sociedade bastante aberta, nos EUA. De fato, as pessoas dizem, sim, o que veem e sabem. Mas as autoridades e a imprensa-empresa comercial absolutamente não lhes dão ouvidos.


LS: Ainda sobre essa questão, se alguém tivesse falado sobre o 11/9, e que pode ter acontecido coisa muito diferente do que foi informado às pessoas e o caso de Sibel Edmonds. Você pode falar um pouco sobre ela?


PDS: Sibel Edmonds era tradutora e trabalhava para o FBI, e viu coisas. Suas línguas eram, se bem me lembro, turco e farsi, e ela viu que o FBI estava investigando gente e, porque os agentes não falavam farsi, precisavam que ela traduzisse as comunicações que tinham. E o que ela viu era tão alarmante, que ela tentou levar a coisa ao conhecimento dos chefes dela.


Faz muito tempo que estudei o caso dela, mas, basicamente, lhe disseram que calasse a boca. Depois e até hoje, ela está sob ordem judicial e proibida de falar. Então, não contou tudo o que sabe, fala sobre outras coisas, mas, sim, deu fortes indicações de que gente muito “graúda” dentro do governo esteve envolvida em atividades pouco recomendáveis com outros governos e ela citou aqueles governos, entre os quais o governo da Turquia. Sibel é só um exemplo, e não é o único caso, de cidadão proibido de declarar a verdade, nessa sociedade livre em que vivemos.


LS: A versão oficial do 11/9 está baseada em grande parte no que prisioneiros disseram sob tortura. A história fica toda comprometida, por causa disso? E essa informação continua a ser ocultada de muitas e muitas pessoas, até hoje?


PDS: O relatório da Comissão do 11/9 é apenas uma pequena parte da investigação, mas a parte em que se fala sobre o que a Al-Qaeda teria feito, como teriam planejado e tal e tal, sim, todas essas informações foram obtidas de prisioneiros sob tortura. Algumas dessas testemunhas já não permanecem presas e retiraram aquelas declarações. Abu Zubaydah, por exemplo, “confessou” que seria membro da Al-Qaeda, o que jamais foi, em tempo algum. Tudo, aí, me parece mal conduzido e desencaminhado. Minha opinião é que aqueles depoimentos devem ser descartados para sempre.


Isso não invalida todo o relatório da Comissão do 11/9, mas alguns capítulos, os que falam sobre o que a Al-Qaeda teria feito, sim, esses capítulos não merecem nenhuma confiança e não podem ser tomados em consideração. Na verdade, a Comissão do 11/9 pediu para ver as transcrições, mas jamais as recebeu; basta isso, para que tudo se torne muito suspeito. A Comissão não foi jamais informada de que as testemunhas estavam depondo sob tortura. A partir disso, acho que ambos os co-presidentes daquela comissão, Thomas Kean e Lee Hamilton, reclamaram que teriam sido realmente enganados pela CIA.


Por essas e outras, a versão oficial que se lê no relatório da Comissão do 11/9 está em farrapos. Foi desqualificada até pelos co-presidentes da própria comissão. Seja como for, o importante é que, em primeiro lugar, nunca poderia ter acontecido de autoridades dos EUA usarem tortura para extrair depoimentos de prisioneiros. Em segundo lugar, o fato não poderia ter sido escondido das autoridades. Se torturaram, teriam de dizer que torturaram e que aquelas informações foram extraídas sob tortura; mas mentiram sobre isso, quero dizer, mentir é o terceiro crime. E em todos os casos e seja como for, tudo isso é uma desgraça.


LS: Você acha que a hegemonia dos EUA declinou por causa da ação que se seguiu ao 11/9? Por exemplo: tudo sugere que os verdadeiros beneficiários da Guerra ao Terror são, mesmo, China e Rússia.


PDS: Bem, vejamos tudo isso, passo a passo. Uma das principais consequências do 11/9 foi os EUA invadirem o Iraque. E acho que ninguém, no mundo, discordará se dissermos que o poder dos EUA principalmente no Oriente Médio começou a ser erodido por causa daquela ação de invadir o Iraque. O primeiro resultado não desejado surgiu logo em seguida, nas eleições: se querem democracia no Iraque, e no Iraque a maioria é xiita, a maioria elegerá governo xiita. E os xiitas são muito mais amigos do Irã, que dos EUA. Muita gente previu que aconteceria exatamente o que aconteceu. Não se trata de engenharia espacial; é o óbvio.


Aquela invasão também fez aumentar as tensões entre EUA e Arábia Saudita. A Arábia Saudita historicamente — se é bom ou mau que assim seja é outra questão a debater –sempre foi o mais forte aliado dos EUA naquela região. E hoje há grandes diferenças, porque a Arábia Saudita adorou ver o fim de Saddam Hussein, mas não queria invasão; porque sabia que a invasão desestabilizaria o Iraque e criaria um estado... não gosto de dizer “estado falhado”, não gosto dessa expressão... mas criaria uma autoridade muito enfraquecida no Iraque, o que é muito perigoso para a Arábia Saudita. Os sauditas têm todos os motivos para estar muito desgostosos com o que os EUA fizeram no Iraque; a invasão enfraqueceu as relações dos EUA com os sauditas.



Zbigniew Brzezinski

Agora, aí está todo o Oriente Médio – o que Zbigniew Brzezinski chamou de Arco das Crises, em 1978 ou 79; e hoje é muito mais Arco das Crises do que era naquele momento, por causa... Você sabe que, para mim, a invasão contra o Afeganistão também foi erro grave, mas ainda me parece mais defensável que a invasão contra o Iraque, mas esses dois erros expandiram-se enormemente e, isso, ainda sem falar sobre a Al-Qaeda. E surgiram novas forças al-Qaedistas, gente em tudo assemelhada à Al-Qaeda, e há hoje muitos grupos que têm realmente base no Iraque, hoje, como resultado da invasão dos EUA contra o Iraque. E a coisa está-se expandindo também para a África. Por tudo isso, não sei se os maiores beneficiados são mais a Rússia e a China, que grupos de foras-da-lei e a anarquia.


Entendo que Rússia, China e os EUA todos têm interesses comuns em não promover terroristas e o terrorismo, e acho que a Rússia já disse muito claramente que gostaria de cooperar com os EUA para enfrentarem o terrorismo; até houve momentos em que parecia que Obama, pelo menos, tinha vontade de trabalhar mais em associação com a Rússia, especialmente no caso da Síria, por exemplo, onde elementos al-Qaedistas são hoje parte importante do problema, e para ambos, para a Rússia e para os EUA.


E então, de repente, os EUA inventamos a Ucrânia. De fato, até a Ucrânia se pode dizer que teve muito a ver com o que aconteceu depois do 11/9. Essas discussões podem exigir mais tempo do que temos aqui, mas a deterioração do entendimento entre Rússia e EUA – e o Afeganistão é parte disso – é questão muito complicada, e outras questões também são complicadíssimas, mas uma coisa é bem clara: o Iraque foi desastre completo e criou tensões de tal ordem que, se não aprendermos a lidar com essas tensões, nos aproximaremos cada vez mais perigosamente de uma guerra nuclear, mais rapidamente hoje, do que há 20 ou 30 anos. Essa, sim, é situação muito alarmante.


LS: Sobre a guerra do Iraque, você diria que o movimento pela paz em todo o mundo falhou depois do 11/9, porque muito protestaram, por exemplo, contra a guerra no Iraque, mas sem questionar as raízes do mal, a saber, a narrativa oficial sobre o 11/9, como pretexto e suposta justificativa para ir à guerra?


PDS: Com certeza teríamos movimento muito mais poderoso contra a guerra do Iraque, se já tivéssemos compreendido exatamente o que aconteceu no 11/9. Mas não acho que seja realista supor que poderíamos saber, naquele momento, o suficiente. Você sabe... os EUA invadiram o Iraque em 2003, e só em 2004 foi divulgado o relatório da Comissão do 11/9, que não é grande coisa, mas nem isso havia em 2003. Por isso, não me parece que poderia ter ajudado o movimento antiguerra em 2003, mas com certeza ajudará em movimentos futuros, do mesmo tipo.



John Kerry

Não sei o que acontecerá na Ucrânia, mas... Bem, a verdade é que, sim, acho que agora já sei. Acho que a Europa está intervindo para impedir que os EUA façam papel de perfeitos imbecis. Não posso acreditar que John Kerry tenha realmente dito algumas das coisas que, sim, ele disse recentemente. Penso, por exemplo, no que disse a Putin depois da Crimeia, que não se faz tal coisa no século XXI. Ora! Os EUA são o mais desavergonhado e visível exemplo de, exatamente, a mesma prática!


Portanto, penso que quem não está no governo tem de mobilizar-se em todo o mundo para criar uma opinião pública global que possa deter – não digo só os EUA, mas os EUA e todos os demais governos que se excedam, como os EUA excedem-se. Várias vezes aconteceu de os governos não se preocuparem com a opinião pública, o que sempre foi mau. E agora estamos começando a desenvolver uma opinião pública, que pode controlar os governos, o que é bom.


Acho que a opinião pública for fator determinante para persuadir empresas norte-americanas a não investir na África do Sul. E o movimento de desinvestimento, que foi ação da opinião pública, foi fator importante, e o próprio Nelson Mandela reconheceu-o como tal, como fato importante da libertação da África do Sul. Foi ação da opinião pública. No fim, quem pôs fim à segregação racial no sul dos EUA também foi a opinião pública. É uma ação positiva. Nada conseguiu no caso do Iraque, mas não se pode concluir que, porque não deu certo uma vez, o movimento não valeria a pena. Vale. Vale muito a pena.


LS: Você tem alguma esperança de que algum dia, no futuro, será possível dar resposta satisfatória à pergunta sobre o que, realmente, aconteceu no dia 11/9 nos EUA?


PDS: Se você está falando de o governo dos EUA dar resposta satisfatória a essa pergunta, o mais provável é que jamais dê. Mas as pessoas estão investigando. Muita gente dedicou a vida a investigar aqueles eventos. Não é o meu caso, mas há gente que fez exatamente isso. Acho que já há descobertas importantes. Já se sabe com certeza, por exemplo, que, sim, havia material explosivo no Prédio Sete e nas duas torres. Houve uma investigação conduzida pelo NIST – Instituto Nacional de Tecnologia e Padrões; recentemente, o mesmo NIST foi obrigado a revisar suas conclusões daquela época.


Você sabe, eles disseram que o Prédio Sete caiu em 5,3 segundos e os críticos responderam que parte desse tempo foi queda livre; e eles disseram simplesmente que a queda em 5,3 segundos não poderia ter sido queda livre. Pediram então definição mais clara sobre o que significavam aqueles números, e apareceu um gráfico no qual se viu que, de fato, durante dois ou três segundos, no meio da queda, o prédio desabou em queda livre. Ora, se o prédio desabou em queda livre, tem de ter havido algum tipo de explosão que “esvaziou” o caminho da queda da parte superior do prédio, até o chão: bem simples de entender.


Tudo isso para dizer que acho que fizemos progressos significativos; podemos falar seriamente sobre os eventos, para fazer o governo admitir a verdade dos fatos. Mas... Você sabe, já estamos em 2014 e ainda não apareceu ninguém para corrigir as conclusões da Comissão Warren, mas a maioria dos norte-americanos sabemos que a Comissão não chegou a nenhum tipo de resposta confiável. A própria opinião pública, os próprios cidadãos, penso eu, continuarão a investigar com seriedade.


LS: Mas vinda da comunidade internacional, há algum tipo de pressão para que os EUA promovam investigações claras e limpas? Você acha que haverá, algum dia?



Glenn Greenwald

PDS: Sou ex-diplomata e acho que governos não falam nesse tom, entre governos. Não sei, sequer, se seria bom que falassem. Governos têm de lidar com interesses sempre estreitos. Não é tarefa para governos, é tarefa para o povo, para alguma imprensa-empresa livre, onde houver, pressionar para que a verdade venha à tona. Por sorte, outros países também falam inglês, de tal modo que a imprensa britânica, por exemplo, pôde acolher e divulgar com muito mais precisão os feitos de Snowden e o material que entregou aos cuidados de Glenn Greenwald. De modo geral, acho que se os norte-americanos quiserem saber o que se passa no país, melhor que passem a ler o Guardian inglês – em inglês, e que pode ser lido online. Verdade é que só não sabe das coisas quem prefira não saber.


É o tipo de coisa que pode restaurar certo grau mínimo de sanidade, num mundo que... Devo dizer que os EUA são país maravilhoso, gosto muito de viver aqui. Problema, mesmo, é o governo dos EUA que, ultimamente, tem agido como doido. Invadir o Iraque foi loucura. Muitos especialistas disseram que nunca daria certo. Depois, o governo disse que Saddam Hussein teria armas de destruição em massa, mas as provas logo foram desmentidas, e tão completamente desmoralizadas que o governo sequer conseguiu usar a ideia-ameaça como planejara usar. Para devolver o governo dos EUA à sanidade, só muita pressão feita pela opinião pública.


LS: E como você avalia o fato de que ninguém foi punido pela produção e divulgação de todas aquelas mentiras sobre a guerra do Iraque?


PDS: Pode-se discutir muitos detalhes sobre isso. Em meu livro The American War Machinemostro como uma empresa privada foi paga para produzir informação de inteligência sobre se Sadam tinha ou não armas de destruição em massa, e aquela empresa concluiu que sim, que Sadam tinha armas de destruição em massa: a empresa chama-se Science Applications International Corporation, SAIC. Depois, quando afinal já ninguém acreditava que houvesse lá as tais armas de destruição em massa, o problema passou a ser entender como, afinal, o governo fora convencido de que havia as tais armas. E qual foi a empresa selecionada para explicar o que havia sido tão espantosamente mal feito na “investigação” inicial de inteligência no Iraque? A mesma empresa Science Applications International Corporation , SAIC!



Science Applications International Corporation, SAIC

Penso mais ou menos como o Bispo Tutu da África do Sul: acho que precisamos de verdade e de reconciliação; é mais importante hoje, do que mandar gente para a cadeia. Precisamos tão urgentemente de verdade que nem me incomodaria adiar a prisão dos bandidos, se isso ajudasse a encontrar a verdade. Porque, se os EUA conhecermos a verdade, será possível pensar, por exemplo, no fim do estado de emergência que ainda continua implantado aqui – renovado por Obama ano após ano (tem de ser renovado anualmente), sem qualquer discussão. Com informação verdadeira e bem provada, o Congresso poderia afinal fazer o que é sua missão – em vez de só pensar em estados de emergência, programas Continuidade do Governo, em tripudiar sobre a Constituição dos EUA. Quanto maior a quantidade de informação verdadeira sobre essas coisas, mais rapidamente os EUA voltarão a ser o que um dia foram, que nunca esteve sequer perto do ideal, mas sempre foi muito, muito melhor do que os EUA que há hoje.


LS: Os interesses de Wall Street estão implantados no fundo do coração do estado profundo?


PDS: Ah, sim, estão. Em meu livro... A noção inicial do estado profundo é que todas as instituições públicas estão sendo sobrepujadas pela Agência de Segurança Nacional, pela CIA, pelo Comando de Operações Especiais Conjuntas e pelo Pentágono – todas essas novas instituições secretas – e aí está o primeiro nível do estado profundo. Mas essas agências são poderosas porque têm conexões fora do governo; elas não reportam só ao Presidente – especialmente a CIA, e é fácil provar – mas também têm raízes em Wall Street, estrutura que foi projetada de fato por Allen Dulles, quando ainda era advogado em Wall Street, antes de passar a trabalhar na CIA.


E a CIA é tão poderosa por causa dessas conexões com Wall Street e – o que sempre foi praticamente a mesma coisa – por causa de suas conexões com o big oil, porque as gigantes do petróleo sempre tiveram sede em New York e, reunidas, operavam como cartel cujo advogado, sempre muito bem-sucedido, era o escritório Sullivan & Cromwell, escritório de advocacia em Wall Street, cujos principais sócios eram – não por acaso – John Foster Dulles e Allen Dulles.



John e Allen Foster Dulles

Wall Street, sim, é importante; já era, como é fácil mostrar historicamente, nos anos 1950s, e mostro no meu livro. Hoje é mais difícil provar, mas há muitas pistas. Uma das provas desse “envolvimento” é, hoje, o estado profundo o qual, é preciso reconhecer, vai-se tornando cada vez mais multinacional, ao mesmo ritmo em que as empresas se foram tornando multinacionais. A Exxon é empresa multinacional e há outras, especialmente a empresa Blackwater, que é essa espécie de exército privado que atua em vários locais. Não sei se foi a imprensa alemã... mas acho que, sim, li na imprensa alemã, que a mesma Blackwater ou uma sua subsidiária, está hoje operando na Ucrânia.


LS: É verdade. A imprensa alemã divulgou essa informação.


PDS: O que conhecemos como uma empresa norte-americana mantém hoje, tecnicamente, a própria sede no Qatar, no Golfo Persa. Não é mais controlável. Como as leis vigentes em Washington conseguirão controlar uma empresa cuja sede está localizada no Golfo Pérsico? Assim age o aparelho de um estado profundo supranacional, e teremos de desenvolver instituições supranacionais para controlar essas novas instituições, esses novos tipos de empreendimento, cujo “plano de negócio” inclui provocar agitação e tumultos, porque, nessas condições, os lucros delas aumentam: revoluções coloridas, por exemplo, são bom negócio para elas.


LS: Duas perguntas pessoais, que deixei para o fim. Como você lida com o fato de que, de tempos em tempos, você é desmentido pelo governo dos EUA e tratado, pelos jornais, como maníaco de teorias conspiracionais? E como você lida com a tristeza, o desencanto que, com certeza acompanha todos os seus livros e toda a sua obra. Quero dizer: leio o que você escreve e, sempre, depois da leitura, mergulho em depressão profunda. Queria saber... Acontece também com você, afinal, você é quem investiga, descobre e escreve aquelas coisas. Você é o homem que tem de enfrentar a verdade. Como você lida com ela?


PDS: Bem... Acabei por aprender a esperar cada vez menos, durante a minha existência. Sou... pode me chamar, sim, de teórico de teorias conspiracionais, porque, para mim, é como um título de honra. Não sei se você já percebeu, mas estou posto na mesma categoria do pessoal que pesquisa seres extraterrestres e abduções e coisa e tal. Para mim, é o meio que encontraram de não ter de argumentar sobre o que eu estou realmente investigando, descobrindo e publicando. Recebo a reação deles como uma espécie de homenagem ao contrário.



Não sei se compreendi bem a sua pergunta, mas se você perguntou como lido psicologicamente com o fato de não ser ouvido... Às vezes, na minha vida, foi muito difícil. De fato, lá por 1980, estava com um livro pronto para publicar, primeira edição de 250 mil cópias, já em impressão, sobre o assassinato de Kennedy. E meu editor cancelou a publicação; para mim foi horrível, caí numa espécie de depressão. Mas foi das melhores coisas que me aconteceram, porque daquela depressão comecei a escrever um poema-livro intitulado Coming to Jakarta – que lida com a depressão e lida com o terror e lida com questões que estavam realmente me atormentando. O outro livro, que não foi publicado, não tem, nem de longe, a mesma importância, para mim, que Coming to Jakarta, que resultou do cancelamento do outro livro. Recebi a coisa toda como um golpe de sorte.


Vivo hoje um segundo casamento bem-sucedido, e me sinto amparado por pessoas como você, Lars, na Alemanha, e conheço também alguém que vive atualmente em Moscou; e tenho meu tradutor francês (Maxime Chaix). Todos são pessoas maravilhosas, e é um grande privilégio conhecer e trabalhar com vocês. E, porque sempre acreditei que a tarefa da minha geração seria lançar as bases do que um dia será uma opinião pública global, uma sociedade civil global, e acho que já começou a acontecer, nunca mais me senti deprimido.


É tudo ainda muito frágil, porque depende da Internet e a Internet é “brinde” que, assim como nos foi dada pode nos ser tomada pelo poder, e bem facilmente, e várias vezes é. Minha página em Facebook foi cancelada, num certo momento, não sei por quê, talvez até acidentalmente, porque estavam tentando pegar outra pessoa. Quero dizer: é tudo muito frágil, mas está funcionando. Pode ser suprimida... mas, qualquer coisa pode ser suprimida.


Creio firmemente na bondade essencial dos seres humanos e também creio que sempre houve governos péssimos, desde o começo do mundo, o que nos fez regredir várias vezes... É verdade, sim, que fizemos alguns progressos em alguns pontos, mas fizemos o oposto de qualquer progresso em outros aspectos, porque, hoje, os riscos de a humanidade se autodestruir são maiores do que eram há cem anos. Nisso, não houve progresso algum. Em meus livros de poemas costumo escrever que sou rematado idiota por insistir em escrever sobre política. Muitas vezes sinto-me como rematado idiota. Mas gosto do que faço, gosto de conversar com você. E vou levando.


Nota de rodapé
[1] Dana PRIEST e William ARKIN: Top Secret America: The Rise of the New American Security State, Little Brown, New York, 2011, p. 52.
_______________________



[*] Peter Dale Scott (nascido em 11/1/1929) é um poeta canadense, ex-diplomata e ex-professor de Inglês na University of California, Berkeley. É ácido crítico da política externa americana desde a época da Guerra do Vietnã. Scott foi um dos signatários, em 1968, do “Writers and Editors War Tax Protest”, no qual os participantes juraram recusar o pagamento de impostos, em protesto contra a Guerra do Vietnã. Passou quatro anos (1957-1961) no serviço diplomático canadense. Aposentou-se do corpo docente da UC Berkeley, em 1994.
Scott tem escrito sobre o papel do “Estado Profundo” (em oposição ao “Estado Público”) dos EUA rejeitando o rótulo de “Teoria da conspiração”. Usou a expressão “Política Profunda” para descrever suas preocupações políticas. Seu interesse pela história contemporânea transbordou em suas obras de poesia, algumas das quais contém notas marginais para explicar aos leitores que documentos ou eventos de notícias do mundo real estão sendo mencionados. Seu livro, The Road to 9/11 (2007), trata de contexto geopolítico de eventos que levam a 11/09, e argumenta que “como a política externa dos EUA desde a década de 1960 levou a encobrimentos parciais ou totais das infrações penais nacionais anteriores, incluindo, talvez, a catástrofe de 9/11”. Seus livros The Road to 9/11 e American War Machineestão disponíveis em francês sob os títulos La Route le Nouveau Désordre Mondial e La Machine de Guerre Américaine. Seus livros foram traduzidos para o francês, alemão, italiano, espanhol, russo e indonésio. Seus artigos foram traduzidos para 16 idiomas, incluindo o turco, árabe, persa, chinês e japonês.
_____________




[*] Lars Schall é um jornalista alemão independente, especializado em Finanças e está na sua pauta a dimensão financeira das atividades da Agência de Segurança Nacional dos EUA e seus cúmplices bem como as implicações dessa espionagem nas negociações internacionais e as habilidades técnicas e tecnológicas colocadas à disposição das agências de inteligência. Particularmente discute a nazi-fascistização dos EUA.


POSTADO POR CASTOR FILHO

http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/11/estado-profundo-eventos-profundos-wall.html