quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Na ONU, Raúl Castro denuncia clima golpista na América Latina 30/09/2015


Presidente cubano defendeu avanços sociais no Brasil e atacou os golpes brancos engendrados no continente contra governos de esquerda.



Carta Maior
O presidente de Cuba, Raúl Castro denunciou na Assembleia da ONU o clima de desestabilização contra governos democráticos da América Latina.

Ele usou seu discurso para defender o governo da Venezuela das iniciativas desestabilizadoras de alguns setores, e também o governo do Equador, nação que vem sendo “alvo do mesmo roteiro” opositor. Por outro lado, também usou seu palanque para celebrar as conquistas sociais alcançadas pela presidenta brasileira Dilma Rousseff e expressou seu apoio à demanda dos países caribenhos por uma reparação pelos anos de escravidão que parte de sua população sofreu.

Raúl exigiu da comunidade internacional que busque na pobreza e na desigualdade a origem dos conflitos gerados pelo colonialismo e pelo assalto aos recursos das populações nativas, pelo imperialismo e pela divisão das esferas de influência. Em seu primeiro discurso numa Assembleia das Nações Unidas (ONU), Castro – que não se esqueceu da luta dos argentinos para recuperar a soberania das Ilhas Malvinas –, lembrou que a primeira meta traçada pela organização era a de preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra e edificar uma nova forma na qual os países pudessem se relacionar, favorecendo a paz e o desenvolvimento. Porém, muito pelo contrário, o resultado foi que os conflitos se multiplicaram. “Desde então, passaram a ser constantes as guerras de agressão, a intervenção em assuntos internos dos Estados, a derrubada de governos soberanos através da força ou dos denominados ‘golpes suaves’”, afirmou Castro, insistindo em que a militarização do ciberespaço e o uso das tecnologias da informação e das comunicações para agredir a outros Estados de forma disfarçada e ilegal são inaceitáveis.

O mandatário cubano lamentou que o compromisso inicial da ONU, de promover o progresso social e elevar o nível de vida dos povos de todos os países, continue sendo uma quimera, e contrapôs a situação das 795 milhões de pessoas que sofrem com a fome no mundo com as cifras dos gastos realizados na área militar, que alcançam 1,7 milhão de dólares. Após reivindicar a conformação da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e a declaração da América Latina como zona de paz, o líder cubano enumerou uma lista de gestos de solidariedade do seu país para com as nações da região.

Castro não perdeu a chance de usar suas palavras para criticar a União Europeia, cujas políticas são responsáveis, segundo ele, pelas ondas migratórias provocadas nas últimas semanas, com refugiados que se deslocam em massa desde países do Oriente Médio e do norte da África. “A União Europeia deve assumir de forma plena e imediata as suas responsabilidades para com a crise humanitária que ajudou a gerar”, sentenciou.

Ao mesmo tempo, condenou as distorções a respeito da promoção e proteção aos direitos humanos para validar e impor decisões políticas. E se colocou ao lado da Rússia, país com o qual os Estados Unidos mantêm diferenças claras sobre como solucionar a crise na Síria e a ocupação de territórios na Ucrânia. Reclamou inclusive que Porto Rico, nação associada aos Estados Unidos, “possa ser livre e independente, depois de mais de um século submetida à dominação colonial”. Castro valorizou o acordo nuclear entre os países do ocidente com o Irã, condenou o militarismo, a pobreza e o consumismo, e opinou que os países têm diferentes responsabilidades em relação às mudanças climáticas – tema que com o qual o seu irmão Fidel já se preocupava em 2000, segundo ele mesmo recordou ontem.

Na primeira visita do presidente de Cuba aos Estados Unidos em mais de 50 anos, ele se reuniu em Nova York com o ex-presidente estadunidense Bill Clinton e com o governador e o prefeito novaiorquinos, Andrew Cuomo e Bill de Blasio. Depois, teve um encontro com um grupo de empresários e executivos locais encabeçado pelo presidente e pela vice-presidenta da Câmara de Comércio dos Estados Unidos, Tom Donohue e Jodi Bond.

O líder cubano agradeceu o apoio quase unânime recebido por parte da comunidade internacional em favor do fim do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos sobre Cuba há mais de meio século, e antecipou que a ilha seguirá apresentando o projeto na ONU até conseguir uma vitória e anular a medida. Nesse sentido, Castro insistiu em que não haverá relações normais com os Estados Unidos até que se termine o bloqueio, se devolva o território ocupado pela Base Naval de Guantánamo, que se interrompam as transmissões ilegais de rádio e televisão desde Miami, os planos desestabilizadores e se compense a ilha pelos danos humanos e econômicos que ainda sofre. Visando a reunião de hoje, com Obama, somente a posição sobre o embargo parece ter um ponto em comum.

As palavras do chefe de Estado cubano provocaram muitos aplausos do plenário de presidentes, e Raúl Castro foi incisivo, embora menos que Fidel. Em apenas 15 minutos, seu discurso esteve longe do tempo normalmente utilizado por seu irmão em sua primeira intervenção na Assembleia Geral da ONU em 1960 – que marcou um recorde, ao falar por 269 minutos, com uma mensagem de crítica contundente contra os Estados Unidos –, e apontou seus questionamentos às políticas imperialistas, sem mencionar diretamente nem os Estados Unidos nem o presidente norte-americano Barack Obama.

Entretanto, o mandatário cubano aproveitou sua primeira aparição diante da Assembleia para analisar os contrapontos que mantêm com os Estados Unidos, apesar da aproximação diplomática. Agora o contexto é outro, devido ao processo de descongelamento das relações, embora as diferenças ideológicas continuem. Castro as expôs com claridade, num ato que demonstra o regresso da ilha ao cenário maior da política mundial.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Mais petróleo no pré-sal. Área de Carcará indica ser novo megacampo 29/09/2015


Por Fernando Brito






O anúncio, ontem à noite, das descobertas do terceiro poço perfurado na área denominada Carcará do bloco BM-8 da Bacia de Santos tem tudo para ser a confirmação de que se a área pode ser um novo mega campo de petróleo, semelhante ao de Lula, o maior já em exploração do pré-sal brasileiro, situado cerca de 50 km a leste.



Tanto o tipo de rocha, as características do petróleo (leve, 31 graus API), a pressão, profundidade e espessura da coluna de acumulação encontrados indicam que é o mesmo reservatório encontrado nos dois primeiros poços, com espessura entre 320 e 470 metros (Libra tem pouco mais de 300 m, por exemplo) estão em linha do que o pessoal da área de petróleo já suspeitava desde 2012, como registrava uma nota da Agência Reuters em agosto daquele ano e confirmada poucos meses depois:



“A expressiva coluna de Carcará tem potencial para colocar o prospecto no mesmo patamar das maiores descobertas do Brasil, ao lado de campos como Lula e Guará (Nota do Tijolaço: Guará é hoje denominado Sapinhoá e onde estão os mais produtivos poços, na faixa de 40 mil barris/dia, cada), localizados na mesma região.“



Evidente que não se pode ser preciso sem todos os estudos geológicos, mas isso indica expectativas na casa de alguns bilhões de barris. Mas a turma especialista da Petrobras, pelas características que se listou, tem uma boa capacidade de estimar o potencial.



E a posição do terceiro poço, assim como a do segundo, sugere que a formação possa estender-se mais para o Norte, em área ainda não licitada nos leilões de concessão. Carcará foi leiloado em 2000, na segunda rodada de leilões, por um valor, na época, de apenas R$ 51 milhões. Atualizado em dólares, cerca R$ 140 milhões, hoje.



Tomando a produção de um campo como o de Lula e mesmo com o valor baixo do petróleo hoje, daria o equivalente ao faturamento bruto de dois a três dias de produção.



É a isso que os espertíssimos defensores do fim da partilha do petróleo querem voltar, sob o argumento de que a Petrobras não tem recursos para investir.



Para bom negócio, garantido como o petróleo – e não o “pode ser” que arrebentou a Shell no Ártico – sempre há dinheiro.



http://tijolaco.com.br/blog/mais-petroleo-no-pre-sal-area-de-carcara-indica-ser-novo-megacampo/

NASA anuncia indícios de água em Marte 28/08/2015

Com informações da NASA e BBC - 28/09/2015



    Linhas recorrentes em encostas de Marte podem ser criadas por sais hidratados, embora a água que entra na composição desses sais ainda não tenha sido detectada. Esta imagem foi colorida artificialmente para mostrar melhor os detalhes. [Imagem: NASA/JPL/University of Arizona]


Água em Marte
"Marte não é o planeta seco que pensávamos. Em certas circunstâncias, existe água líquida em Marte."


A frase é de Jim Green, diretor de ciência planetária da NASA, em uma conferência nesta segunda-feira feita para anunciar "a solução de um mistério de Marte", segundo a agência.


Na entrevista coletiva, cientistas da agência afirmaram que manchas escuras observadas em vários pontos inclinados do solo de Marte podem estar ligadas à existência de água corrente durante o verão no planeta.


"Essas manchas se formam no fim da primavera, aumentam no verão e somem no outono. Por 40 anos, não pudemos explicar por que elas existiam", afirmou Green. "Marte sofreu uma enorme mudança climática e perdeu sua água. Mas há muito mais umidade no ar do que jamais havíamos imaginado," acrescentou ele, sem apresentar dados sobre essa umidade.


Sais hidratados

Segundo o anúncio, dados da sonda orbital MRO (Mars Reconnaissance Orbiter) mostram que as linhas escuras, que aparecem nos declives marcianos, estão associadas a depósitos de sal, que podem alterar os pontos de congelamento e evaporação da água, fazendo com que ela fique líquida por tempo suficiente para se mover. Sem isso, a água congelaria nas baixas temperaturas do planeta.


Ou seja, as sondas não detectaram água propriamente dita, mas sinais no relevo que podem ser explicados pela formação de sais hidratados - sais que contêm moléculas de água em sua formulação.


"Nossas descobertas apoiam fortemente a hipótese de que as linhas recorrentes em declives se formam como resultado de atividade contemporânea de água em Marte," afirma o estudo que embasa o anúncio, publicado na revista Nature Geoscience, que esclarece ainda que "a origem da água que forma as atuais linhas em declives ainda não foi compreendida".


"Os sais hidratados mais consistentes com as características de absorção espectral que detectamos são perclorato de magnésio, clorato de magnésio e perclorato de sódio," escrevem Lujendra Ojha e seus colegas no estudo.




As linhas na encosta aumentam e diminuem ao longo das estações marcianas. [Imagem: NASA/JPL/University of Arizona]


Sal aguado

As imagens divulgadas durante o evento mostram penhascos e paredões em vales e crateras, marcados por linhas que podem se estender por centenas de metros durante o verão marciano. Em alguns pontos, as linhas se combinam, formando padrões intrincados.


Os cientistas ainda não sabem de onde poderia vir a água que entra na formação dos sais, mas o estudo levanta possibilidades, ainda não comprovadas, como a de que ela venha de aquíferos salgados, se condense a partir da fina atmosfera marciana, ou mesmo de uma combinação de ambos os fatores, em diferentes partes do planeta.



O pesquisador Alfred McEwen, membro da equipe de pesquisadores do MRO e professor de geologia planetária na Universidade do Arizona, afirma que ainda não foi encontrada "água parada" no planeta, mas, sim, camadas finas de solo molhado. "Essa água é mais salgada do que a dos oceanos da Terra", afirmou.


Exageros da NASA


São incontáveis as vezes em que a NASA fez anúncios sobre algum tipo de "descoberta de água em Marte".



A descoberta de sais hidratados é muito interessante, mas ainda está longe de significar a constatação de um cristal de gelo ou uma gota de água no planeta, como poderiam levar a crer as discussões feitas durante a entrevista coletiva, versando sobre a importância que teria a descoberta de água em Marte, sobretudo para o uso de astronautas no futuro - uma descoberta que ainda não foi feita, infelizmente.


Por exemplo, o estudo científico publicado na Nature Geoscience tem o título "Evidência espectral de sais hidratados em linhas de encostas recorrentes em Marte", em tradução literal. Mas o anúncio publicado no site da agência espacial é intitulado "NASA confirma evidência de que água líquida flui [no planeta] Marte atual". Exageros como esse fizeram com que a "descoberta de água em Marte" virasse uma das piadas mais comuns entre os cientistas.


O mesmo aconteceu com as "descobertas" de água na Lua, anunciadas com grande esforço de mídia, incluindo conclusões de que a Lua poderia ter água disseminada em todo o seu interior. Contudo, estudos posteriores que mostraram que os minerais descobertos não se formam na presença de água não mereceram a mesma atenção.


De qualquer forma, a existência de percloratos em Marte é bastante interessante porque esses minerais entram na composição de alguns combustíveis para foguete, podendo suprir combustíveis para futuras naves que retornem à Terra - eventualmente para buscar água.

http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=nasa-anuncia-indicios-agua-marte&id=010130150928

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

O fantasma do Ultra-capitalismo 25/09/2015



Esta matéria publicada pelo Outras Palavras discute tratados internacionais negociados no momento, em segredo,que favorecem grandes corporações transnacionais; restringem severamente a democracia, bloqueiam a capacidade das sociedades e Estados para definir suas próprias leis e atacam direitos sociais e o ambiente. Que são estes acordos comerciais, tramados tão secretamente por governos e grandes corporações, quase sem cobertura alguma por parte da velha imprensa? Quais suas consequências? De que maneira eles podem afetar o Brasil? Responder a estas questões será cada vez mais importante, para os que desejam compreender as configurações atuais do capitalismo – e enfrentar seu poder. Por isso reproduzimos aqui o texto.

Por Antonio Martins, no Outras Palavras


1. Sobre salas blindadas e seus segredos

Num texto publicado há dias, por Outras Palavras, o sociólogo Michel Löwy expõe, em termos teóricos, a crescente tensão entre a voracidade do capitalismo e a fragilidade da democracia, acossada por um sistema que deseja reduzir todas as relações sociais a mercadoria. Para um exemplo concreto, considere este relato, feito pelo jornalista Robert Smith e publicado em 14/8 pelo diário britânico The Independent.

“No porão do Capitólio [a sede do Legislativo dos EUA], há uma sala, blindada e a prova de som, e as únicas pessoas autorizadas a entrar são os senadores norte-americanos; e eles não podem levar seus assistentes, não podem levar seus telefones, eles não podem sequer tomar notas no interior da sala. Dentro desta sala, não estão os códigos para as armas nucleares, nem os arquivos da CIA, nem os documentos que nos contam que um alienígena aterrissou em Roswell. Não: nesta sala está o texto de um acordo comercial”.

Não é ficção, mas algo muito concreto (ainda que desconhecido do público), contou The Independent. Dias antes, restrições idênticas haviam sido estabelecidas do outro lado do Atlântico. A Comissão Europeia determinou que o texto, em negociação, do Tratado Transatlântico de Comércio e Investimentos (TTIP, em inglês) só permaneça disponível, mesmo para os membros do Parlamento Europeu, numa “sala de leitura”, onde enfrentarão restrições idênticas às impostas aos senadores norte-americanos.

Que são estes acordos comerciais, tramados tão secretamente por governos e grandes corporações, quase sem cobertura alguma por parte da velha imprensa? Quais suas consequências? De que maneira eles podem afetar o Brasil? Responder a estas questões será cada vez mais importante, para os que desejam compreender as configurações atuais do capitalismo – e enfrentar seu poder.

À margem de qualquer debate democrático e da própria Organização Mundial do Comércio (OMC), três grandes acordos sobre trocas internacionais estão em debate, em fóruns restritos, neste momento. Seu principal motor é o governo dos Estados Unidos. São eles:

> Acordo Comercial Transpacífico (TTP, ou Transpacific Trade Partnership, em inglês). Unirá, se aprovado, os Estados Unidos a dez países asiáticos (entre eles, Japão e Coreia do Sul), quatro latino-americanos (México, Chile, Peru e Colômbia), mais Austrália e Nova Zelândia. A China, hoje a nação que mais movimenta o comércio internacional, está propositalmente excluída.

> Acordo Transatlântico de Comércio e Investimentos (TTIP, ou Transatlantic Trade and Investiments Partnership). Reúne a nata do capitalismo: Estados Unidos e União Europeia (UE). Debatido sigilosamente ao menos desde 2006 (versões anteriores da mesma proposta datam do final do século passado), só teve seu rascunho revelado em março de 2014, graças a um vazamento do jornal alemão Die Zeit.

> Acordo sobre Comércio de Serviços (TiSA, ou Trade in Services Agreement). É o mais opaco de todos – e também o mais abrangente e perigoso. Inclui 53 países: Estados Unidos, toda a União Europeia (UE), a maior parte dos membros do TTP (inclusive Japão e Coreia), mais nações como Turquia, Paquistão, Suíça e, talvez surpreendentemente, Uruguai). A partir de junho de 2014, uma série de vazamentos do Wikileaks revelou seus primeiros rascunhos. Talvez por seu caráter secreto, o acordo encarna abertamente, como se verá a seguir, cláusulas de bloqueio à democracia. Nenhum membro dos BRICS foi convidado.

Mas qual o conteúdo e o sentido político dos acordos? Embora as informações disponíveis sejam muito fragmentárias, devido à natureza ultra-sigilosa das negociações, os vazamentos permitem, aos poucos, compreender o essencial. Fala-se, na fachada, em facilitar circulação de riquezas e conhecimentos. Mas impõe-se um preço amargo: favorecimento das grandes corporações transnacionais; restrição severa da democracia, com bloqueio da capacidade das sociedades e Estados para definir suas próprias leis; ataques aos direitos sociais e ao ambiente. Como este passo é possível?





2. O setor mais vasto da economia mundial

TiSA, TTP e TTIP tratam, todos, do comércio de serviços – daí sua abrangência e alcance. É há décadas, em praticamente todo o mundo, o setor mais vasto das economias: 80% do PIB, nos EUA e UE; 65% no Brasil; 46,8% na própria fábrica do mundo – a China, onde superou pela primeira vez, em 2013, a indústria. Ao contrário da agricultura e atividade fabril, aqui não se produzem bens materiais, mas relações sociais. Conhecimento, Cultura, Comunicação, Afetos: um universo amplo de atividades cada vez mais central em todas as economias, que inclui o projeto de engenharia, a canção, o programa de computador, o atendimento psicanálitico, a campanha publicitária, o corte de cabelo, o restabelecimento de uma rede elétrica ou hidráulica.

Por sua natureza imaterial e relacional, este vasto arquipélago foi menos atingido, até agora, pela globalização e ultra-concentração empresarial. Grandes corporações são capazes de abrir os mercados externos à importação de sementes Monsanto ou de IPads. Mas como dominar num país, cultura e idioma estrangeiros, os escritórios de advocacia, as empresas de construção civil, as escolas secundárias, as redações de jornais e revistas, as oficinas mecânicas?

Esta dificuldade objetiva é um dos dois fatores que têm mantido o setor de serviços razoavelmente nacionalizado, na maior parte do mundo. O segundo são as legislações: quase todos os países estabelecem proteções à produção nacional. As duas grandes tentativas de quebrar estas barreiras fracassaram na virada do século, porque as sociedades reagiram, em ações memoráveis. Em 1998, naufragou, após três anos de negociações secretas, o Acordo Multilateral de Investimentos (AMI). Um ano depois, sucumbiu a “Rodada do Milênio” da Organização Mundial do Comércio. A debacle deu-se em Seattle (EUA), sob pressão, então inédita, de movimentos sociais de todo o mundo, em protestos de rua que dariam origem ao chamado “altermundismo” e, em seguida, aos Fóruns Sociais Mundiais.

TiSA, TTP e TTIP buscam reverter esta derrota, num cenário político global transformado. Desde 2008, o mundo vive crise financeira prolongada. A partir de 2009, ela tem resultado, no Ocidente, em intensa ofensiva contra os direitos sociais e a democracia: começou na Europa, espalhou-se para a América do Norte e bate, agora, às portas da América do Sul. Quebrar as defesas que protegem o setor de serviços, abrir às corporações internacionais a imensa economia do imaterial, é o objetivo declarado dos três acordos. Quando forem adotados, os países que os firmarem deverão tratar como se fossem nacionais as empresas prestadoras de serviço com origem em qualquer outra nação signatária do mesmo acordo.

Em alguns ramos, as consequências podem ser imediatas. Há décadas, por exemplo, as poderosas corporações de abastecimento de água e saneamento dos EUA e França lutam para se expandir internacionalmente, derrotando empresas locais. Ao analisar o texto do TiSA, vazado pelo Wikileaks, a pesquisadora mexicana Silvia Ribeiro, do grupo ETC, chamou atenção para sua abrangência. Ele requer o fim das proteções nacionais a um leque de atividades que inclui “desde água e alimentação a saúde, educação, pesquisa científica, comunicações, correios, transportes, telecomunicações, comércio eletrônico, vendas no varejo e atacado, serviços financeiros e muito mais – incusive os mal-chamados ‘serviços ambientais’ relacionados a florestas, sistemas hidrológicos e outras funições dos ecossistemas”.

Além de derrubar barreiras alfandegárias, os Estados Nacionais envolvidos nos três acordos devem fazer uma concessão a mais. Precisam renunciar até mesmo ao direito de estimular a produção nacional, dando-lhe preferência nas compras governamentais. Sob, tais regras, seriam anuladas, por exemplo, as normas que fizeram renascer a indústria naval brasileira, ao torná-la fornecedora preferencial de sondas para a extração de petróleo no país.

3. Democracia encurralada e tribunais de exceção

Mas TTP, TTIP e TiSA não buscam apenas abrir, em todo o mundo, o setor de serviços às corporações planetárias. Um segundo objetivo é padronizar as legislações dos países signatários sobre temas cruciais como sistema financeiro, seguridade social, produção e circulação do conhecimento, liberdade na internet, segurança alimentar. Adotada a pretexto de facilitar a “livre circulação” de serviços, esta uniformização tem, curiosamente, mão única. Em todos os casos, atende a reivindicações das transnacionais e atinge direitos sociais e meio-ambiente.

Num texto sobre o TTP disponível na edição original do Le Monde Diplomatique, a jornalista Martine Bulard destaca a ameaça aos medicamentos genéricos. Os vazamentos revelam que, apoiadas pelos Estados Unidos, as transnacionais farmacêuticas reivindicam ampliar a vigência das patentes que lhes garantem exclusividade na produção das drogas que registram. Há muito criticado pelos movimentos que lutam pelo Direito à Saúde, este monopólio, que hoje em geral estende-se por vinte anos, passará a oitenta ou mesmo 120, caso o texto entre em vigor. Além disso, alerta Bulard, seriam patenteáveis – ou seja, passíveis de controle monopolista – as plantas, os métodos de diagnóstico, de tratamento e de operações cirúrgicas…

No altar da chamada “propriedade intelectual”, sacrifica-se também o direito à livre circulação de cultura e produções artísticas. Em, 31/7, Michael Geist, advogado e ativista da Eletronic Frontier Foundation (EFF), alertou em sua coluna do Huffington Post para as pressões conjuntas da Casa Branca e indústria cultural norte-americana estão fazendo sobre os demais países envolvidos nas negociações. . Segundo revelam rascunhos vazados do TTP, tanta-se exigir dos países envolvidos nas negociações que inscrevam, em suas legislações nacionais, medidas ainda mais duras contra quem compartilhar, via internet, música, filmes, vídeos, livros, artigos ou outros bens culturais.

Em todos os novos acordos, seções especiais são consagradas ao sistema financeiro. A pedido do Wikileaks, a jurista Jane Kelsey, da Universidade da Auckland (Nova Zelândia) analisou a parte do rascunho do TiSA, que trata deste tema. Num vasto relatório, ela demonstra que os bancos e instituições financeiras são, provavelmente, o setor mais favorecido pelo acordo – e o que ganha mais poderes para confrontar sociedades e governos. Os Estados nacionais ficam proibidos de estabelecer qualquer restrição ou exigência aos grupos financeiros internacionais que desejem instalar-se em seu território. Não podem limitar seu tamanho. Não podem, sequer, controlar os fluxos de capital – privando-se, portanto, de um instrumento decisivo contra ataques especulativos a suas moedas. Perdem o dirieto de impedir a entrada e saída de recursos para “instituições offshore”, ou paraísos fiscais. É uma espécie de contra-ataque preventivo. Num momento em que cresce a consciência sobre estes locais à margem da lei e seu papel na lavagem de dinheiro e sonegação de impostos pelas elites, o TiSA procura assegurar, aos super-ricos, uma proteção contra conquistas sociais futuras da democracia.

Ameaças ao meio-ambiente estão claras no texto vazado de outro dos três acordos: o TTIP. Tim Smedley, jornalista inglês especializado em Energia e Sustentabilidade, escreveu para o Guardian sobre as consequências, para a matriz energética dos países europeus, da eventual adoção do tratado. As barreiras legais que garantem a geração solar e eólica na União Europeia, diz ele, poderão ser questionadas pelos produtores de petróleo norte-americanos que usam fragmentação de rochas, ou fracking. Trata-se do método mais poluente que se conhece; no entanto, sob o TTIP, os que o praticam poderão alegar que as energias limpas europeias constituem uma “barreira artificial ao livre comércio”.

Talvez o dispositivo que melhor esclareça o verdadeiro sentido dos três tratados seja, porém a Resolução sobre Disputas entre Investidores ou Estados (ISDS, ou Investor-States Disputes Settlement), em inglês. Trata-se de uma barreira geral construída em favor das corporações transnacionais contra futuras decisões das sociedades e Estados em favor de direitos sociais e do meio-ambiente.

O ISDS é um claro limite à própria democracia. Ele permite que empresas (tratadas como “investidores”) processem Estados Nacionais sempre que julgarem que uma nova decisão política provocou redução de lucros – mesmo que não tenha atingido nenhum direito adquirido. A redução da jornada de trabalho, ou a demarcação de uma terra indígena, que interrompe a extração de minérios ou madeira, são casos típicos. Segundo os novos acordos, o julgamento das ações judiciais movidas como base no ISDS não se faz nos tribunais nacionais, como revela o site FullFact – mas sim em cortes de exceção. Trata-se de “tribunais arbitrais”, onde os processos não são públicos e os “juízes” são, frequentemente, advogados de grandes empresas.

Alguns casos concretos esclarecem como agem tais cortes. Desde 2011, a Philip Morris, empresa transnacional de tabaco, processa o governo da Austrália, e quer forçá-lo a revogar lei sobre embalagens de cigarro, que inclui advertência quanto aos malefícios do produto à saúde. A Philip Morris levou a demanda até a Suprema Corte australiana e foi derrotada. Ainda assim, pôde reabrir a questão num “tribunal arbitral” internacional, servindo-se do dispositivo ISDS presente num acordo de “livre” comércio entre a Austrália e Hong Kong. Ainda não há decisão final.

Em caso igualmente revelador, a Lone Pipe, uma empresa norte-americana de extração de petróleo por fracking, abriu processo, em 2013 contra o Estado canadense do Quebec. Exige indenização de 250 milhões de dólares, porque Montreal decidiu suspender a exploração petrolífera no subsolo do Rio São Lourenço, considerando-a nociva ao meio-ambiente, às fontes de água e à própria saúde da população… A ação da Lone Pipe é possível porque o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), do qual Canadá e EUA são signatários, inclui dispositivo ISDS.





4. “Livre” comércio ou ultra-capitalismo?

É impossível examinar a relação dos países envolvidos na negociação dos três acordos sem surpreender-se, de cara, com cinco ausências notáveis. Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul estão excluídos simultaneamente do TTP, TTIP e TiSA. As cinco nações reúnem quase metade (42%) dos habitantes do planeta e 20% do PIB global. Suas reservas externas superam 5 trilhões de dólares. Todas são participantes destacados do comércio internacional. Juntas, criaram um bloco que representa uma das grandes novidades geopolíticas do século e estão avançando para constituir alternativas ao FMI e ao Banco Mundial. Por que curioso motivo os 59 participantes1 do esforço para estabelecer os três acordos preferiram o Paraguai ao Brasil; Brunei à China; o pequenino Liechtenstein à Rússia; o Panamá à África do Sul?

O sociólogo Immanuel Wallerestein começou a explorar a resposta num texto recente sobre o tema. Ele desfaz um mito. Ao contrário do que gostam de dizer seus ideólogos, tratados como TiSA, TTP e TTIP não estebelecem, argumenta Wallerstein, cenários de “livre” comércio. Esta condição só poderia ser alcançada se a redução de barreiras comerciais beneficiasse todos os países participantes do sistema de trocas internacionais. Não é disso que se trata, porém. Tanto os tratados em negociação agora quanto todos os de mesmo tipo que os precederam excluem certas nações. Seu caráter é, portanto, de protecionismo – seja por interesse comercial, seja por razões geopolíticas.

No artigo do Le Monde Diplomatique citado acima, Martine Bulard, arrisca um passo a mais. Para ela, a própria geografia das três áreas de “livre” comércio estabelecidas pelos acordos expõe o interesse e a ação norte-americana, expressa em dois grandes movimentos. O primeiro é ocupar o centro do cenário, na negociação de três tratados que terão, se forem adiante, importância capital para o capitalismo do século XXI. Não é à toa que os EUA são, além de principais impulsionadores do TTP, TTIP e TiSA, o único país presente ao mesmo tempo nas três negociações.

O segundo movimento – ligado ao anterior porém mais específico – é isolar a China. Com o TTIP, Washington reforça sua aliança secular com a Europa Ocidental. Mas tanto TTP quanto TiSA visam reforçar o objetivo geopolítico e militar central acalentado pelos EUA nos últimos anos. Implica deslocar-se do Oriente Médio para a Ásia, onde, consideram os estrategistas norte-americanos, vai se dar a disputa crucial pela hegemonia planetária no século XXI.

Os novos tratados são também, portanto, elementos de uma nova “Guerra Fria”. Porém, algo mudou, em relação ao conflito que opôs, entre 1946 e 1989, Estados Unidos e União Soviética. Naquele período, Washington procurou aparecer como defensora da democracia e das liberdades. Estava alarmada com a posição de destaque que Moscou assumiu após a II Guerra e com o apelo que os ideais de igualdade social suscitavam, num mundo marcado por pobreza e subdesenvolvimento.

Agora, as máscaras caíram. Como frisa Michel Löwy e como mostra o que vimos até agora, vivemos um tempo em que o capitalismo procura livrar-se da democracia. Immanuel Wallerstein construiu uma narrativa ainda mais sofisticada para dar conta do novo cenário. Para ele, o capitalismo vive uma crise sem saída; mas este fato não deve alimentar esperanças vãs. Porque o que sucederá ao sistema hoje hegemônico pode ser tanto algo muito mais democrático e igualitário quanto o contrário. TTP, TTIP e TiSA são a prova deste argumento: sinais de um ultra-capitalismo distópico e assustador.



5. Onde se fala de Dilma, Aécio e Eduardo Cunha

Nada garante que TTP, TTIP e TiSA entrarão em vigor um dia. O próprio caráter sigiloso das negociações sobre os três acordos é um sinal de fraqueza: revela incerteza e temor sobre como reagirão as sociedades. Vivemos tempos contraditórios. No Ocidente há, de fato, forte ofensiva do capital contra os direitos sociais e a democracia. Mas conquistas mantidas por séculos não são apagadas facilmente. E paira no ar, como admitiu há poucos dias Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, um “estado de espírito talvez não revolucionário, mas de impaciência”.

Em seu artigo sobre os três novos acordos globais, Immanuel Wallerstein descreve em detalhes as dificuldades para aprová-los. Depois de ponderar os obstáculos políticos que dezenas de governos ainda enfrentam, para empurrar os tratados a suas sociedades, o grande sociólogo vaticina: “Mesmo se um acordo fosse fechado agora, o TTP não poderia ser votado no Congresso dos EUA antes [das eleições presidenciais] de 2016. Este limite é ainda mais nítido nas negociações para um TTIP, que estão num estágio anterior de discussões”. Por enquanto, TTP, TTIP e TiSA são, nos países que os debatem diretamente, distopias muito ameaçadoras – porém, estão longe de ser certezas.

Paradoxalmente, o cenário é muito mais difícil no Brasil, que a princípio, por não participar da negociação de nenhum dos acordos, estaria livre dos efeitos de todos. Aqui, a agenda ultracapitalista proposta por TTP, TTIP e TiSA manifesta-se de duas maneiras. Em termos programáticos, vastos setores da mídia, e do conservadorismo político – localizados tanto na oposição quanto no governo – propõem “livrar” o país das “amarras” supostamente representadas pelo Mercosul, Unasul e BRICS. Desejam que o país “abra-se para o mundo”, “aproxime-se dos Estados Unidos e União Europeia”, “pegue o bonde dos novos acordos comerciais”… Este discurso está presente nas falas de Aécio Neves e no portal do PSDB na internet, mas também em incontáveis editoriais e comentários da mídia (1 2 3 4 5 6 etc etc etc) e até mesmo – com ideêntica ênfase! – em declarações de ao menos um ministro do governo Dilma…

Mas o pior é que em surdina, muito pragmaticamente e sem nenhum debate, a mesma agenda já invadiu os corredores e salões atapetados do Congresso Nacional. Faz parte da “ofensiva conservadora”, da qual muitas vezes falamos sem ter noção exata de suas consequências. Já se concretizou em medidas como a abertura da prestação de serviços de Saúde a empresas estrangeiras – assegurada por meio de uma lei esdrúxula, que alterou ao mesmo tempo dezenas de aspectos da legislação, sem que nenhum deles tenha sido debatido com a sociedade brasileira. Ameaça agora, por iniciativa de um senador da bancada governista, convidar as maiores empresas de aviação transnacionais para operar as rotas aéreas brasileiras. Está presente em medidas de repercussão profunda e prolongada, como o projeto de lei que autoriza a terceirização generalizada e selvagem do trabalho assalariado ou os anúncios recentes, por parte de ministros, de que haverá uma (contra-)reforma da Previdência, ainda em 2015.

Acrescentar perspectiva internacional a fatos que acompanhamos diariamente pode ser revelador e mobilizar energias. Permite constatar que há, também, pressões globais agindo sobre personagens que, de outra forma, enxergaríamos como provincianos ou mesmo bizarros.

Tome-se Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados. Muito mais que um religioso conservador, ou um articulador das piores energias do “baixo clero” do Congresso, ele é, hoje, o político com maior poder de levar adiante as pautas do ultra-capitalismo. Daí vêm sua força e suas esperanças de se manter vivo, apesar do envolvimento profundo com os crimes da Operação Lava-Jato. Observe-se os movimentos, aparentemente oscilantes, da oposição a Dilma. Se ela alterna-se entre pedir o impeachment da presidente e emparedar seu governo, obtendo dele todas as concessões possíveis, é porque outra agenda, muito mais poderosa, sobrepõe-se ao obsessivo desejo de Aécio Neves pela faixa presidencial…

Veja-se a própria situação dos partidos de esquerda, de quem se esperaria, a princípio, que resistissem à ofensiva anti-democracia e anti-direitos. Se deixam de fazê-lo, paralisados, não é por traição ou claudicância moral – mas por verem-se irremediavelmente divididos entre as antigas intenções de sua alma rebelde e as conveniências concretas de sua presença em espaços de poder.

“Olhar nos olhos de nossa tragédia é o primeiro passo para vencê-la”, escreveu certa vez Oduvaldo Vianna Filho, um dramaturgo genial cuja obra, embora quase desconhecida, permanece viva e pulsante. Em poucos países do mundo, a luta por direitos e democracia foi tão potente quando no Brasil das últimas quatro décadas. Nesse período, ela recuou diversas vezes – acossada pela brutalidade da ditadura ou surpreendida pela intensidade do choque neoliberal – e ainda assim regressou mais forte. Responde à necessidade de um resgate de séculos. Conhecer com precisão os processos globais que nos ameaçam ajudará a tramar a contra-ofensiva.


1 A relação inclui os 53 Estados envolvidos no TiSA mais Brunei, Filipinas, Malásia, Singapura, Tailândia e Vietnã, que não integram o grupo mas participam do TTP. O TTIP não acrescenta membros à relação, pois é negociado diretamente por Estados Unidos e União Europeia.



http://www.zedirceu.com.br/o-fantasma-do-ultra-capitalismo/

Disputa Chile - Bolívia. A Corte Interamericana de Justiça decide a favor da Bolívia. Países terão que negociar saída para o mar para a Bolívia. 25/09/2015





A população comemora o fracasso das portas Palácio do Governo. Foto: Anjo Guarachi

"Por 14 votos a dois, o Tribunal de Justiça rejeita a exceção preliminar suscitada pela República do Chile", diz parte da sentença que foi lida esta manhã pelo Presidente do Tribunal Internacional Ronny Abraham.


Razão Digital / B. Montero / La Paz
09:38 / 24 set 2015
Bolívia comemorou. A Corte Internacional de Justiça (ICJ) em Haia rejeitou hoje a objecção suscitada pelo Chile, com 14 votos a favor e dois contra, a competência para abordar a reivindicação marítima.
"Por 14 votos a dois, o Tribunal de Justiça rejeita a exceção preliminar suscitada pela República do Chile ... falha que é competente, com base no artigo 31 do Pacto de Bogotá, para satisfazer o pedido feito pelo Estado Plurinacional da Bolívia 24 abril 2013 ", diz parte da sentença que foi lida esta manhã pelo Presidente do Tribunal Internacional Ronny Abraham.
Esse artigo estipula que os signatários do Pacto reconhecem a jurisdição da CIJ, em todas as disputas legais relativas "qualquer questão de direito internacional", "A existência de qualquer fato que, se comprovado, constitua uma violação de uma obrigação internacional "e" A natureza ou extensão da reparação a ser feita para a violação de uma obrigação internacional ".
Os juízes que votaram a favor da demanda chilena foram o italiano Giorgio Gaja e canadense Louise Arbour, o último juiz ad hoc representando Chile.Aqueles que indeferiu a reclamação e decidiu continuar com o tratamento de demanda boliviana são: Ronny Abraham (Egipto), Abdulqawi Ahmed Yusuf (Somália), Hisashi Owada (Japão), Peter Tomka (Eslováquia), Mohamed Bennouna (Marrocos), Antônio Augusto Cançado Trindade (Brasil), Christopher Greenwood (Reino Unido), Xue Hanqin (China), Joan E. Donoghue (EUA), Julia Sebuntinde (Uganda), Dalveer Bhandari (Índia), Patrick Lipton Robinson (Jamaica) Kirill Gevorgian (Rússia ) e Ives Daudet (França).
A notícia foi recebida com júbilo no país, onde a população começou a comemorar, enquanto o agente de Haia Bolívia e ex-presidente, Eduardo Rodriguez Veltzé, disse que a decisão "confirma o espírito dos tratados e acordos que tiveram entre os Estados para resolver suas disputas pacificamente. "

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Você sabe como funciona o pré-sal? 24/09/2015


Camada de petróleo, localizada entre Santa Catarina e Espírito Santo, tem cerca de 149 km2 e rende 800 mil barris por dia
por Marsílea Gombata — publicado 21/09/2015 10h13

Agência Petrobras


Plataforma em Campo de Tupi. Óleo fica sob uma camada de sal de 2 km de espessura Leia também



O que é pre-sal?

O pré-sal é uma camada de petróleo que fica em grandes profundidades oceânicas, sob um espesso estrato de sal. Ela é formada por uma sequência de rochas sedimentares de mais de 100 milhões de anos. Com o distanciamento entre África e América do Sul, foi se acumulando na rachadura entre os dois continentes matéria orgânica, que posteriormente foi enterrada em uma camada de sal de 2 km de espessura. Sob tal camada, o material orgânico ali depositado sofreu processos termoquímicos e foi transformado em hidrocarbonetos (petróleo e gás natural).

Onde ele está?

A camada pré-sal fica localizada em uma área de cerca de 800 km de extensão por 200 km de largura, no litoral entre os estados de Santa Catarina e Espírito Santo. A área total da chamada “província do pré-sal” tem cerca de 149 km2 e corresponde a cerca de três vezes e meia a área do estado do Rio de Janeiro. As reservas ficam a 300 km da região sudeste do País, que concentra cerca de 55% do PIB brasileiro.

Quando o pré-sal foi descoberto?

Descoberta em 2007, a camada pré-sal é uma grande jazida de petróleo localizada abaixo do leito do mar, com volume de aproximadamente 50 bilhões de barris. Além da alta profundidade do mar e das condições difíceis de trabalho no oceano, o maior desafio para geólogos e engenheiros foi acessar a reserva, que fica entre 5 e 7 km abaixo do solo marítimo, localizada sob a camada de sal de 2 km.

A qualidade do petróleo ali encontrado é boa?

Apesar de não ser da melhor qualidade, o petróleo da camada pré-sal é superior à do encontrado sobre a camada de sal. Enquanto esse tipo é composto em 70% por petróleo do tipo “pesado”, ou seja, com enormes cadeias de carbono em sua composição que exigiriam processos de refino caros para ser transformado em produtos de alto valor como diesel, gasolina e lubrificantes, a matéria prima encontrada na camada pré-sal tem densidade média, baixa acidez e baixo teor de enxofre, sendo mais fácil de refinar e mais valiosa. A qualidade superior deve-se à altas temperaturas das profundezas oceânicas, que impediram a proliferação de bactérias responsáveis por consumir as frações mais leves do óleo no pós-sal.

Como o petróleo é extraído de lá?

O processo de extração de petróleo varia de acordo com a profundidade em que o produto se encontra. Como as profundidades do petróleo do pré-sal ultrapassam 7 mil metros em relação ao nível do mar, é preciso um domínio tecnológico avançado para extraí-lo sob os 2 km do estrato de sal, a 300 km da costa brasileira. Os materiais para prospecção e extração são submetidos a variações de temperaturas superiores a 80 graus. O principal meio de detecção de petróleo é através de atividades sísmicas, autorizadas sob licença do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Além disso, há envolvimento de universidades e centros de pesquisa e são utilizadas sondas de perfuração, plataformas de produção, navios, submarinos, com recursos que movimentam toda a cadeia da indústria de energia. O custo de exploração do pré-sal tem caído cada vez mais e atingiu o patamar de 9 dólares por barril, frente à média anterior 14,6 dólares por barril.

Quantos barris rende o pré-sal?

De 2010 a 2014, a média anual de produção diária do pré-sal cresceu quase 12 vezes, avançando de uma média de 42 mil barris por dia em 2010 para 492 mil barris por dia em 2014. Em abril deste ano chegou-se à produção de mais de 800 mil barris por dia no pré-sal, dez meses após a marca dos 500 mil barris diários, alcançada em junho do ano passado.

Em que pé está a produção do pré-sal?

Em julho, a produção do pré-sal alcançou a marca de 812,1 mil barris de petróleo por dia, além de 30,5 milhões de metros cúbicos diários de gás natural. De acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP), a produção é oriunda de 54 poços do pré-sal e representa um aumento de 8,4% em relação ao mês anterior. Em relação à produção total, que engloba o pré-sal, o Brasil apresentou em julho uma produção de 2,46 milhões de barris diários de petróleo e 95,3 milhões de metros cúbicos de gás natural. Desse total, 92,5% é proveniente de campos operados pela Petrobras, sendo o de Roncador, na Bacia de Campos, o de maior produção de petróleo (371,3 mil barris por dia), e o de Lula, na Bacia de Santos, como o maior produtor de gás natural (14,3 milhões de metros cúbicos por dia). Vale lembrar que, apesar do pré-sal, o Brasil não é autossuficiente em relação ao petróleo que consome. Embora consigamos extrair mais petróleo do que se consome, não somos capazes de refinar todo o óleo pesado.



Por que criou-se uma empresa apenas para cuidar do pré-sal?

Por se tratar de um volume inédito de matéria prima e recursos envolvidos no pré-sal, o governo federal decidiu por criar um organismo exclusivo para administrá-lo. Inaugurada em 2013, após autorização por lei sancionada em agosto de 2010, a Pré-Sal Petróleo (PPSA) nasceu para gerenciar e fiscalizar contratos de exploração de petróleo sob regime de partilha nos campos do pré-sal. A estatal funciona como uma subsidiária da Petrobras. Sob o atual regime de partilha da exploração do pré-sal, a estatal garante participação de 30% em todos os empreendimentos.

O que será feito com o dinheiro conseguido através do petróleo do pré-sal? Esse dinheiro vai para a educação?

O compromisso do governo federal, previsto no Plano Nacional de Educação (PNE), é destinar 10% do PIB (Produto Interno Bruto) para a educação até 2024. Para isso, a principal aposta é destinar as receitas provenientes da exploração do petróleo para o chamado Fundo Social, criado pela presidenta Dilma Rousseff com foco no ensino básico. O controle dos recursos do pré-sal pelo Estado e o consequente uso desses na educação, no entanto, ficam atrelados à obrigatoriedade da Petrobras em participar do modelo de exploração dos campos no pré-sal. O modelo, no entanto, corre risco diante do tramitação no Congresso Nacional do Projeto de Lei 131/2015, do senador José Serra (PSDB-SP), que retira o dever da Petrobras de participar do modelo de exploração dos campos de petróleo do pré-sal. Levantamento feito pela Comissão de Educação do Senado aponta que com a mudança, apenas do campo de Libra, deixariam de ser arrecadados 100 bilhões de reais para o Fundo Social e 50 bilhões de reais para educação e saúde, segundo números apresentados recentemente pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ) durante a audiência com o ministro da Educação, Janine Ribeiro.

Esse dinheiro vai ajudar o Brasil a sair da crise?

A expectativa é que a renda proveniente do petróleo nos campos do pré-sal seja uma importante fonte para a economia brasileira. No cenário atual, no entanto, dificuldades financeiras atrapalham a Petrobras, que poderá ter de levantar capital fontes alternativas de financiamento, em meio a um desanimador cenário de fornecimento de crédito.



http://www.cartacapital.com.br/infraestrutura/voce-sabe-como-funciona-o-pre-sal-8856.html

Geopolítica dos EUA é ameaça ao pré-sal 24/09/2015


Raphael Padula, professor da UFRJ, afirma que entre os 10 maiores importadores de petróleo, apenas China e Índia estão fora do controle americano
por Alex PradoAgência Petrobras


Para o professor, os EUA reforçam sua política intervencionista de garantir o acesso aos recursos naturaisLeia também

A geopolítica estratégica dos Estados Unidos é ameaça à soberania do Brasil sobre o pré-sal. Esta é a principal conclusão da palestra do professor Raphael Padula, da UFRJ, no seminário “Uma estratégia para o Brasil, um plano para a Petrobras”, promovido pela Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET) e pelo Programa de Pós-graduação em Economia Política Internacional da UFRJ, nesta quarta-feira (23), no Clube de Engenharia (RJ). Segundo Padula, a geopolítica dos EUA, no século XXI, tem como foco a garantia de acesso a recursos naturais indispensáveis tanto para eles, como para os aliados.

Entre os 10 maiores importadores de petróleo, apenas China e Índia podem ser considerados fora do controle estratégico dos EUA. Para o professor isto explica a importância da “tutela” que garante aos norte-americanos o apoio dos países aliados na defesa de seus interesses diretamente ligados às questões neoliberais, de garantia de mercados às empresas e serviços dos EUA.

Para confirmar seu raciocínio, Padula relatou as mudanças na política externa dos EUA no século passado, no pós-guerra e depois da dissolução da União Soviética. O fim da guerra fria levou a maior potência do planeta a eleger novas ameaças à paz mundial, da qual se julga o grande defensor, como o narcotráfico e o terrorismo.

Mas os altíssimos níveis de desenvolvimento da China trouxeram um novo ator ao cenário mundial que, associado ao nacionalismo de Vladmir Putin, na potência militar da Rússia, fazem frente ao poderio norte-americano. A China já é o segundo maior consumidor de recursos naturais do planeta, e tem poucas reservas. A Rússia, além do arsenal atômico, tem reservas de hidro carburetos indispensáveis, principalmente à Europa ocidental, grande aliada dos EUA.

Diante deste cenário e coerente com sua geopolítica, os Estados Unidos reforçam sua política intervencionista de garantir o acesso aos recursos naturais, tendo seus aliados como parceiros, diante da fragilidade deles na obtenção destes recursos.

No final da palestra, Padula trouxe esse cenário para a realidade da América Latina e, principalmente, para o Brasil. Segundo ele, a estratégia dos EUA é a de impedir o surgimento de potências regionais em áreas de abundância de recursos naturais. Geograficamente, o Brasil está estrategicamente localizado, além de possuir um território que representa mais de 50% do subcontinente sul-americano e com reservas consideráveis das principais commodities minerais.

Assim, o modelo proposto para a nossa região, segundo Padula, insere-se dentro da geopolítica dos EUA como países que devem ter suas Forças Armadas voltadas para o controle de conflitos internos, combate ao narcotráfico e ao terrorismo, mas incapazes de defender suas riquezas naturais. Papel que caberia aos Estados Unidos. Além disto, é necessário impedir o fortalecimento de associações como o Mercosul e a Unasul, contrapondo isto a políticas apenas de livre comércio.

Raphael Padula demonstrou como o giro na política externa brasileira, a partir de 2003, até então totalmente favorável aos interesses da geopolítica dos EUA, passa a incomodar a grande potência. O Brasil assume seu papel de protagonista em seu entorno estratégico, reforçando o ideal integrador do Mercosul, além de um espaço de livre comércio e expandindo suas ações rumo à África ocidental, vizinha do Atlântico sul.

Com a descoberta do pré-sal, as decisões brasileiras sobre a forma de exploração desta riqueza elevaram as tensões entre diplomáticas entre Brasil e EUA. O emergente protagonismo do primo pobre do sul incomodou. O primo rico tratou de reativar a 4ª Frota Naval, específica para o Atlântico sul; rejeitou a resolução da ONU que garantia o direito brasileiro nas 200 milhas continentais. E espionou, como revelado no caso Wikileakes.

Raphael Padula encerrou sua palestra afirmando que os interesses da geopolítica americana não podem permitir o surgimento de uma potência regional, detentora de recursos minerais estratégicos e, ao mesmo tempo, com uma empresa pública eficiente como operadora única da maior reserva de petróleo descoberta neste século.



http://www.cartacapital.com.br/economia/geopolitica-dos-eua-e-ameaca-ao-pre-sal-8080.html

El legado político de Hugo Chávez 24/09/2015


James Petras
Rebelión

 
Traducido para Rebelión por Silvia Arana



Hugo Chávez siempre consideró a la Revolución Bolivariana como un proceso continuo, en dos sentidos:

1) la revolución contemporánea era una continuación de la lucha histórica por la liberación nacional liderada por Simón Bolívar a principios del siglo XIX;

2) la revolución política nacional iniciada con su elección en 1998 debía, por necesidad, avanzar hacia una transformación socialista.

Chávez comprendía que el poder político involucraba algo más que ganar elecciones y entrar al palacio presidencial; el objetivo político estratégico era la transformación del estado neocolonial para avanzar en la revolución de liberación nacional, que en Venezuela significaba crear una nación independiente. En un Estado petrolero, liberación nacional significaba tomar el control total de la industria petrolera y redistribuir los ingresos entre la mayoría de los trabajadores. Para Chávez la revolución nacionalista era un paso necesario para avanzar hacia la revolución socialista. Para Chávez, la nacionalización de las industrias estratégicas era un paso hacia la socialización de la economía -la descentralización del control que pasó a manos de los consejos comunales. Para Chávez, o la revolución avanzaba de lo político y económico hacia una transformación social, cultural y ética o la revolución se estancaría, se revertiría y sería derrotada.

Ante cada crisis de peso -el golpe de Estado de 2002, el paro patronal de 2003, el referéndum de 2004, la década de amenazas militares y sabotajes desde Washington y Bogotá- Chávez respondió con la radicalización de la revolución, movilizando las masas e internacionalizando la revolución.

Ante cada punto de la confrontación de clases, Chávez jamás retrocedió; en lugar de transigir con la burguesía, intensificó los esfuerzos para elevar el nivel de conciencia nacional y socialista de las masas.

Chávez libró la lucha en dos frentes:

1) contra el enemigo externo -el imperialismo estadounidense, el Estado terrorista colombiano y la clase capitalista venezolana;

2) contra el enemigo interno, aquellos líderes y funcionarios del Estado bolivariano y del PSUV que formaban parte del legado rentista y estaban involucrados en la corrupción, que abusaban del poder y no respondían a las demandas populares. Chávez declaró la guerra contra la burocracia y contra la conciliación con la burguesía.

Chávez pensaba que la capacidad de resistencia frente a los "enemigos externos" dependía de los movimientos de masa organizados y concientes. Chávez detestaba a los líderes burocráticos, incompetentes y corruptos que querían impedir el avance de la revolución. Esos funcionarios intentan paralizar el avance del poder popular, marginalizar los consejos comunales, concentrar el poder en manos de la élite burocrática para negociar un acuerdo con el imperialismo y la burguesía nacional que deje intactos las instituciones básicas y los privilegios de la sociedad capitalista.

El legado político esencial de Chávez es la noción de que la relación dialéctica entre enemigos externos e internos de la revolución continua exige la profundización del nivel de conciencia espiritual, cultural y político a través de la radicalización de la lucha de clases y de la acción audaz de las masas.

Enfrentado al sabotaje capitalista de la economía, Chávez declaró la necesidad de nacionalizar todas las industrias principales. Enfrentado a las maniobras financieras fraudulentas del sector privado y de funcionarios públicos, Chávez exigió la socialización del sistema bancario.

Enfrentado al bloqueo imperial, Chávez buscó nuevos aliados internacionales: profundizó los lazos con nacionalistas de América Latina, el mundo islámico, Rusia y China.

Hoy, Venezuela enfrenta su mayor crisis desde la elección de Chávez. El presidente Maduro tiene dos opciones: seguir el camino trazado por Chávez, el camino de la revolución continua; o elegir el camino de la reconciliación, la capitulación y la derrota.

Chávez identificó los cinco objetivos históricos interrelacionados del pueblo venezolano en el camino hacia la revolución. Estableció el marco nacional, colocó al socialismo en la agenda inmediata, promovió la unidad de América del Sur, participó en la creación de un mundo multipolar y llevó a primer plano el tema del cambio climático.

Los avances del presidente Chávez están en peligro mortal hoy frente a los ataques de los enemigos internos y externos. Durante los próximos meses, la continuación y concreción de los objetivos históricos de Chávez está en manos de los sectores de avanzada de las masas revolucionarias.

Rebelión ha publicado este artículo con el permiso del autor mediante una licencia de Creative Commons, respetando su libertad para publicarlo en otras fuentes.



http://www.rebelion.org/noticia.php?id=203641

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Os 28 bancos que controlam o dinheiro do mundo 23/09/2015

 

150922-Crise3
Para Morin, resistência à oligarquia financeira terá de ser feita “por ator coletivo, de legitimidade democrática incontestável e disposto a organizar o financiamento da atividade econômica mundial”
Livro aponta: oligarquia financeira subjugou bancos centrais, transferiu a Estados dívidas tóxicas e está prestes a provocar crise global ainda mais grave
François Morin, entrevistado por Vittorio De Filippis | Tradução: Inês Castilho

A transferência, para os Estados, das dívidas privadas tóxicas de 28 grandes bancos “sistêmicos”, durante a última crise financeira, explica as políticas de austeridade praticas na Europa.
Francesas, europeias ou norte-americanas, todas as autoridades bancárias asseguram: se o mundo viver uma nova crise financeira, comparável à de 2007-08, nem os Estados, nem os contribuintes vão pagar as consequências. É possível acreditar?
O economista François Morin, professor emérito da Universidade de Toulouse e membro do conselho do Banco Central francês, tem uma resposta categórica: não. Em L’Hydre Mondial [A Hidra mundial], um livro publicado em maio, e no qual ele menciona dados inéditos, Morin mostra como 28 bancos de porte mundial constituem um oligopólio totalmente distanciado do interesse público.
Para colocar os cidadãos a salvo de desastres financeiros futuros, o autor considera que é necessário destruir estes bancos, que ele compara a uma hidra, e resgatar a moeda para a esfera pública. Eis sua entrevista:
Como um punhado de bancos tomou a forma de uma hidra mundial?
O processo é perfeitamente claro. Depois da liberalização da esfera financeira iniciada nos anos 1970 (taxas de câmbio e de juros definidas pelo mercado e não mais pelos Estados, e liberalização de movimento do capital), os mercados monetários e financeiros tornaram-se globais em meados dos anos 1990. Os maiores bancos tiveram então de adaptar a sua dimensão a esse novo espaço de intercâmbio, por meio de fusões e reestruturações. Reuniram-se as condições para o surgimento de um oligopólio em escala global. O processo assumiu rapidamente escala internacional e tornou-se gigantesco: o balanço total dos 28 bancos do oligopólio (50,341 trilhões de dólares) é superior, em 2012, à dívida pública global (48,957 trilhões de dólares)!
 Desde 2012, descobriu-se também que esses bancos muito grandes se entenderam entre si de forma fraudulenta a partir de meados dos anos 2000. A partir desse momento, esse oligopólio transformou-se numa hidra devastadora para a economia mundial.
150922-Hidra
Em que esses bancos são sistêmicos?
Estes 28 bancos foram declarados, acertadamente, “sistêmicos” pela reunião do G20 de Cannes, em 2011. A análise das causas da crise financeira da crise iniciada em 2007-2008 não podia deixar pairar qualquer dúvida sobre a responsabilidade desses bancos no desencadeamento do processo. Estão em causa os produtos financeiros “derivativos”, que espalharam-se na época e ainda continuam a ser difundidos em todo o mundo. Lembremo-nos de que estes derivativos são produtos que visam oferecer garantias a seus possuidores, em caso de dificuldades econômicas – e alguns deles têm caráter muito especulativo. Sua conversão em dinheiro pode tornar-se catastrófica, em caso de uma crise. No entanto, apenas 14 bancos com importância sistêmica “fabricam” estes produtos, cujo valor imaginário (o montante dos valores segurados) chega a 710 trilhões de dólares — ou seja, mais de 10 vezes o PIB mundial!
E você afirma que eles praticam acordos fraudulentos?
Múltiplas análises demonstraram que esses bancos ocupam posições dominantes sobre vários grandes mercados (de câmbio, de títulos de dívida e de produtos derivados). É característico de um oligopólio. Mas desde 2012, as autoridades judiciais dos Estados Unidos, britânicas e a Comissão Europeia aumentaram investigações e multas que demostram que muitos desses bancos – sobretudo onze entre eles (Bank of America, BNP-Paribas, Barclays, Citigroup, Crédit Suisse, Deutsche Bank, Goldman Sachs, HSBC, JP Morgan Chase, Royal Bank of Scotland, UBS) – montaram sistematicamente “acordos organizado em bandas”. A imposição de multas de muitos bilhões de dólares, contra a manipulação do mercado de câmbio ou da Libor [taxa de referência para juros interbancários, estabelecida em Londres], demonstra que esta prática existe.
O mundo está sentado sobre uma montanha de bombas-relógio financeiras montadas unicamente por este punhado de bancos?
Há várias evidências de muitas bolhas financeiras que podem estourar a qualquer momento. As bolha do mercado de ações só pode ser explicada pelas enormes injeções de liquidez, por parte dos bancos centrais. Mas, acima de tudo, há a bolha da dívida pública que atingiu todas as grandes economias. As dívidas privadas tóxicas do oligopólio bancário foram maciçamente transferidas para os Estados, na última crise financeira. Este superendividamento público, devido exclusivamente à crise e a esses bancos, explica as políticas de “rigor” e “austeridade” praticadas em cada vez mais países. Este superendividamento é a ameaça principal, como se vê na Grécia.
Regulação de derivativos – inclusive de crédito –, luta contra o “sistema bancário da sombra”, reforço dos fundos próprios, separação entre bancos de depósito e de investimento… não se pode dizer que nada foi feito para estabelecer algum controle sobre os bancos.
Vamos olhar mais de perto. O “sistema bancário sombra”, ou seja, o sistema financeiro não regulamentado, não pare de crescer – notadamente através do oligopólio bancário – para escapar das normas de supervisão e, em primeiro lugar, para negociar com derivativos. O reforço de capital próprio dos maiores bancos foi ridiculamente baixo. E em nenhuma legislação em vigor há uma verdadeira separação “patrimonial” das atividades bancárias. Em suma, o lobby bancário, muito organizado em escala internacional, tem sido eficaz, e o oligopólio pode continuar na mesma lógica financeira deletéria que praticava antes da crise.
Como os Estados tornaram-se reféns do oligopólio sistêmico que são os bancos?
Depois dos anos 1970, os Estados perderam toda a soberania monetária. Eles são responsáveis. A moeda agora é criada pelos bancos, na proporção de cerca de 90%, e pelos bancos centrais (em muitos países, independentes dos Estados) para os restantes 10%. Além disso, a gestão da moeda, através de seus dois preços fundamentais (as taxas de câmbio e taxas de juros) está inteiramente nas mãos do oligopólio bancário, que tem todas as condições para manipulá-los. Assim, os grandes bancos têm nas mãos as condições monetárias para o financiamento dos investimentos, mas sobretudo do para o financiamento dos déficits públicos. Os Estados não são apenas disciplinados pelos mercados, mas sobretudo reféns da hidra mundial.
Há portanto uma relação quase destrutiva desses bancos com relação aos Estados
Essa relação é, de fato, devastadora. Nossas democracias esvaziam-se progressivamente, em razão da redução (ou da ausência) de margem de manobra para a ação pública. Além disso, o oligopólio bancário deseja instrumentalizar os poderes dos Estados, para evitar eventuais regulações financeiras, ou limitar o peso das multas às quais deve fazer face quando é pego com a boca na botija. Quer evitar especialmente processos de repercussão pública.
Mas os bancos não permitem aos Estados financiar os déficits orçamentários?
Não devemos esperar que os bancos privados defendam interesses sociais! Os bancos veem primeiro os seus lucros, que eles podem realizar por meio de suas atividades financeiras particulares, ou de suas atividades especulativas. Seus gestores olham para os Estados como para qualquer outro ator econômico endividado. Medem os riscos e a rentabilidade de um investimento financeiro. As dívidas do Estado são vistas por eles como um ativo financeiro, tal como qualquer outro – que se compra ou se vende, e sobre o qual é igualmente permitido especular.
Na mitologia grega, Hércules é o encarregado deve matar a hidra. E em nosso mundo: onde está o Hércules capaz de matar a hidra bancária mundial?
Sobre isso, não há dúvidas. Nosso Hércules de amanhã será um ator coletivo, uma futura comunidade internacional, de legitimidade democrática incontestável, libertada de seus dogmas neoliberais, e suficientemente consciente de seus interesses de longo prazo para organizar o financiamento da atividade econômica mundial. Dito de outra forma, um ser ainda imaginário! Um primeiro passo seria dado, contudo, se um novo Bretton Woods fosse convocado para criar uma moeda comum em escala internacional, e não apenas no contexto das soberanias monetárias nacionais restauradas.
Você aposta na inteligência política?
Sim, certamente! Mas, sobretudo, aposto na inteligência dos cidadãos do nosso planeta. As redes sociais podem ser instrumentos formidáveis para criar esta inteligência política, de que temos extrema necessidade hoje.
Estariamos caminhando para um desastre de escala sem precedentes?
Ele está diante de nós. Todas as condições estão maduras para um novo terremoto financeiro ocorrer, quando os Estados estão exangues. Ele será ainda mais grave do que o precedente. Ninguém pode desejá-lo, porque seus efeitos econômicos e financeiros serão desastrosos e suas consequências políticas e sociais podem ser dramáticas. Podemos vê-los na Grécia. Urgência democrática e lucidez política tornaram-se indispensáveis e urgentes.
Os bancos estão todos podres? As finanças, necessariamente perversas?
Quando um oligopólio superpoderoso administra o dinheiro como um bem privado, não podemos ser surpreendidos pela lógica financeira que resulta daí. Os bancos buscam metas de lucro, com a tentação recorrente, entre os maiores, de fazer acordos oligopolistas. A hidra bancária nasceu há cerca de dez anos, e já tomou conta de todo o planeta. O confronto de poderes, entre bancos avassaladores e poderes políticos enfraquecidos, parece agora inevitável. Um resultado positivo desta luta – a priori desigual – só pode ocorrer por meio mobilização de cidadãos que estejam plenamente conscientes do que está em jogo.

http://outraspalavras.net/capa/os-28-bancos-que-controlam-o-dinheiro-do-mundo/
 

Covardia e barbárie: Tucano organiza bando para agredir Stedile em aeroporto de Fortaleza. Assista ao vídeo 23/09/2015

 

stedile
Foto: Rafael Stedile
NOTA DE SOLIDARIEDADE AO COMPANHEIRO JOÃO PEDRO STEDILE E AO MST
O conjunto de movimentos sindicais, populares, pastorais sociais, parlamentares progressistas e intelectuais comprometidos com a luta do povo brasileiro, vem por meio desta nota prestar solidariedade ao companheiro João Pedro Stédile, histórico militante das lutas sociais do Brasil e da América Latina.
Na noite do dia 22 de setembro, uma claque com aproximadamente 30 reacionários bradando gritos de ódio e diversos xingamentos atacou e agrediu o companheiro Stédile, que acabava de chegar no Aeroporto Pinto Martins, em Fortaleza – Ceará, convidado por diversas entidades para participar de um Congresso Sindical e de uma atividade sobre Reforma Política e combate à Corrupção.
A ação comandada pelo empresário do ramo imobiliário Paulo Angelim, militante do Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB, revela o que há de mais conservador e retrógrado na sociedade brasileira: um ódio de classe, antigo e anacrônico, muito semelhante ao do fascismo.
Não à toa, o grupo de reacionários que realizou esta ação é o mesmo bando que tem impulsionado manifestações golpistas em Fortaleza no intuito de interromper o mandato da presidenta Dilma Rousseff, desrespeitando o voto popular e rompendo com a legalidade democrática no país.
Estes reacionários utilizam-se dos símbolos nacionais e se dizem patriotas, mas são favoráveis a venda dos nossos recursos naturais às empresas estrangeiras, como no caso da Petrobrás. Se dizem contra a corrupção mas são assíduos defensores do financiamento empresarial de campanhas eleitorais e ainda hoje lastimam a decisão do STF.
Temos convicção de que a agressão sofrida pelo companheiro Stédile, não se limita a um ataque individual, ou somente ao MST. Esta agressão só pode ser compreendida como parte de uma ofensiva conservadora da direita na sociedade que busca criminalizar e intimidar todos/as aqueles/as que lutam por um Brasil justo e soberano.
Neste sentido, prestamos solidariedade ao companheiro e nos comprometemos a cerrar fileiras na defesa da democracia, da justiça social e da participação popular nos rumos da nação.
Fortaleza, 23 de setembro de 2015.
Centra Única dos Trabalhadores – CUT
Central dos Trabalhadores do Brasil – CTB
União Nacional dos Estudantes – UNE
União Brasileira dos Estudantes Secundaristas – UBES
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
Rede Nacional de Advogados Populares – RENAP
Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares
Marcha Mundial das Mulheres – MMM
União Brasileira das Mulheres – UBM
Movimento Organizado dos Trabalhadores Urbanos – MOTU
Levante Popular da Juventude
União da Juventude Socialista – UJS
Rua – Juventude Anticapitalista
Coletivo O Estopim
Movimento Kizomba
Partido Comunista do Brasil – PCdoB
Partido dos Trabalhadores – PT
Partido Socialismo e Liberdade
Consulta Popular
Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos em Luta pela Paz – CEBRAPAZ
Fora do Eixo
Mídia Ninja
Movimento Democracia Participativa
Agência de Informações Frei Tito para América Latina – ADITAL.
Sindicato APEOC
Sindicato dos Metalúrgicos do Estado do Ceará – SINDMETAL
Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal do Ceará – SINTSEF-CE
Sindicato dos Empregados no Comércio de Fortaleza
Diretório Central dos Estudantes – UECE
Diretório Central dos Estudantes – UNIFOR
Deputado Federal José Guimarães
Deputado Estadual Elmano Freitas
Deputado Estadual Moisés Bráz
Deputada Estadual Rachel Marques
Deputado Estadual Renato Roseno
Vereador João Alfredo
Vereador Jovanil
Vereador Ronivaldo Maia


http://www.viomundo.com.br/denuncias/covardia-empresario-tucano-organiza-bando-para-agredir-stedile-em-aeroporto-de-fortaleza-movimentos-sindicais-populares-e-pastorais-se-solidarizam-com-ele-e-o-mst.html

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Novo navio-plataforma para o Campo de Lula chega ao Rio em 5 de novembro 22/09/2015


Por Fernando Brito






Já que a Petrobras está na muda e não divulga nada, o Tijolaço informa:



O Cidade de Saquarema – fotografado aí na costa da China por Mark Bromwich, da Marine Traffic, alguns dias atrás – atravessou o Estreito de Sunda (o nome é este mesmo e fica entre ilhas de Java e Sumatra, na Indonésia) e ganhou o mar aberto no Oceano Índico, para contornar a costa da África do Sul e rumar para o Rio de Janeiro, com chegada prevista para o dia 5 de novembro.



É praticamente igual ao Cidade de Maricá, que está atracado juntinho á Ponte Rio-Niterói, realizando o comissionamento (ligação e testes) dos módulos de convés, produzidos no Brasil. E vai para o Campo de Lula, o mais produtivo, até agora, do pré-sal brasileiro, com média de mais de 30 mil barris/dia em cada poço. O Cidade de Saquarema tem capacidade para processar 150 mil barris diários e 6 milhões de metros cúbicos de gás.



Uma boa notícia em meio à apreensão do setor naval brasileiro e do Rio de Janeiro, especialmente, que, com a suspensão de pagamentos da Petrobras já contabiliza atrasos de meses na conclusão da da P-74 e da P-75 – paradas do outro lado da baía da Guanabara, no Estaleiro Inhaúma – ambas de tamanho maior (180 mil barris diários de processamento) e destinadas ao campo de Búzios (ex-Franco), uma área igual ou maior que o megacampo de Libra.



Neste, a Petrobras vai iniciar a perfuração de mais dois poços até o final do ano, de acordo com o que disse o diretor da Petroleo do Pré Sal, que administra o consórcio da estatal com a Shell, Total e as chinesas CNPC e CNOOC . Oswaldo Pedrosa informou que já está em fase de consultas o edital para a construção do primeiro navio-plataforma da dezena de embarcações que operarão no campo, a partir do final de 2018 ou início de 2019.



A velocidade dos projetos petrolíferos, se sabe, quase sempre é determinada pelo marcado “spot” de óleo em Roterdã, na Holanda.



http://tijolaco.com.br/blog/novo-navio-plataforma-para-o-campo-de-lula-chega-ao-rio-em-5-de-novembro/

Estadunidenses vão para Cuba em busca de tratamento medicinal 22/09/2015


Preços estratosféricos fazem americano procurar medicina cubana


Com a diminuição do número de proibições a americanos de viajarem para Cuba, milhares deles vislumbram a possibilidade de se tratarem na Ilha, lugar onde a medicina é gratuita e de alta qualidade.





Americanos na fila de embarque de Miami para Cuba: medicina boa e barata

Recentemente, a administração Barack Obama liberou os estadunidenses para visitas a familiares, viagens acadêmicas, apresentações públicas e atividades religiosas. Todas essas atividades eram proibidas até a reaproximação entre as duas nações.

Embora viagens por tratamento médico ainda não sejam permitidas, Obama eliminou uma proibição que exigia que norte-americanos viajassem com grupos autorizados.

O jornal americano The New York Times conta esta semana, sem disfarçar contentamento, que americanos montaram empresas de saúde para levarem cidadãos de seu país a Cuba, onde receberão melhores cuidados. O interessante da nota é que o jornal destaca que Cuba "ganhou na loteria" com a possibilidade de ganhar dinheiro nesta área. Entretanto, não repercute qual é a sensação dos americanos em receberem serviços médicos e medicamentos baratos e de alta qualidade, praticamente inexistentes nos EUA.

Cuba transformou a medicina em uma prioridade após a Revolução. Fornece tratamentos de qualidade e praticamente gratuitos para toda a população. Milhares de pessoas vão ao país todos os anos para fazer o que ficou conhecido como turismo médico: viagens internacionais para fazer cirurgias e tratamentos, com frequência porque são mais baratos ou porque não existem no país onde vivem ou, no caso dos americanos, porque não têm plano de saúde universal e gratuito como no caso de Reino Unido, França e Brasil.

Uma porta-voz do Ministério da Fazenda dos EUA afirmou que quem deseja ir a Cuba por razões que não estão incluídas na lista de atividades liberadas pode pedir uma permissão do governo, conhecida como licença especial, e que esses pedidos são avaliados caso a caso.

Contudo, a porta-voz afirmou que todos os norte-americanos que viajam a Cuba são obrigados a manter os dados de suas viagens por cinco anos, podendo ser obrigados a provar que sua viagem respeitou as proibições.




Do Portal Vermelho, Humberto Alencar, com informações do The New York Times

http://www.vermelho.org.br/noticia/270543-9

Golpe tucano tem programa para liquidar o país 22/09/2015


Dentre os golpistas há quem seja movido pelo ódio. As manifestações de rua contra a Presidenta Dilma demonstraram isso de modo cabal, através de bonecos enforcados, cartazes pedindo violência, palavras de ordem cheias de insultos. Entretanto, por trás dessa passionalidade reacionária, há um plano muito bem pensado, alinhavado de modo absolutamente racional.


Trata-se de, atendendo aos interesses do imperialismo, entregar as riquezas do país e ampliar ao máximo a espoliação dos trabalhadores.

Na última semana, empolgados pela situação difícil que o Brasil vive, economistas tucanos tiveram uma crise de sinceridade e apresentaram o programa econômico do golpe. Trata-se de um impressionante pacote de liquidação nacional: privatizações, fim da estabilidade do funcionalismo público, entrega do pré-sal, desmonte dos bancos públicos, entre outros aspectos de um verdadeiro roteiro de filme de terror. Para levar o plano ao cabo, querem liquidar a Constituição de 1988.

Para discutir esse programa que está por trás do golpe, o Vermelho traz uma série de artigos e entrevistas com especialistas. Esperamos com isso contribuir para alertar o país para o grande perigo que nos ameaça e para a necessidade de juntarmos forças para barrar o golpe.


Veja os artigos a seguir:

Bercovici: Não querem menos Estado, mas Estado para favorecer rentismo

Marcio Pochmann: “Os liberais não gostam do povo”
O que os tucanos têm a oferecer aos brasileiros
O desastre social como programa de governo
Nossos limites. E a anatomia de um “menino monetarista”
O que o Brasil pode aprender com o golpe de Estado no Chile?



http://www.vermelho.org.br/noticia/270475-1

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Programa Internacionalista Médicos Cubanos é indicado ao Nobel da Paz 21/09/2015




Carta de indicação de especialista e pesquisador do trabalho foi enviada ao comitê norueguês do nobel em favor do programa

Por Redação, traduzido do Cuba Solidarity in Canada

Carta de indicação para o Prêmio Nobel da Paz enviada em 19 de janeiro de 2015, por John W. Kirk, ao Comitê Norueguês do Nobel em favor do Programa de Internacionalismo Médicos Cubanos:

Meu nome é John Kirk. Sou professor de Estudos Latino-americanos na Universidade de Dalhousie em Halifax, província de Nova Escócia, Canadá, e escrevo para indicar o Programa Internacionalista Médicos Cubanos para o Prêmio Nobel da Paz.

No outono de 2014, o Oeste da África estava devastado pelo ebola, e a Organização Mundial de Saúde apelou por assistência médica de urgência numa luta (literalmente) de vida ou morte. O primeiro país a responder foi Cuba. Cerca de 15 mil trabalhadores da saúde se apresentaram como voluntários. No momento em que escrevo, há 256 especialistas cubanos em três países participando desta luta e mais 100 outros cubanos deverão somar-se àqueles primeiros voluntários. Trata-se do maior contingente de médicos, apesar do fato de Cuba ser apenas uma ilha relativamente pequena. Em janeiro de 2014, Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, resumiu essa contribuição em poucas palavras: “Eles são sempre os primeiros a chegar e os últimos a partir – e eles sempre permanecem depois das crises. Cuba tem muito a ensinar ao mundo inteiro”.

Cuba tem uma pequena população (11,2 milhões de habitantes) e um dos melhores sistemas de saúde do mundo, com estatísticas que rivalizam com aquelas de muitos países desenvolvidos. Mais importante ainda: Cuba tem uma impressionante história de internacionalismo médico – e sua contribuição no Oeste da África é apenas o capítulo mais recente de uma história que remonta a 1960, quando médicos cubanos responderam ao apelo por ajuda após o terremoto no Chile. Desde então, 325 mil profissionais cubanos da saúde prestaram assistência em 158 países e muitos deles participaram de duas ou três missões.

A grande mídia do mundo industrializado tem praticamente ignorado este fato. A história de cooperação médica de Cuba é algo extraordinário. O estudo dessa humilde história tem sido o foco de minhas pesquisas nos últimos dez anos. Entre os pontos-chaves que podem ser do interesse de vosso Comitê estão os seguintes:

a) Em janeiro de 2015, havia 51.847 profissionais da saúde cubanos (50,1% dos quais médicos) trabalhando em 67 países – principalmente nos países em desenvolvimento. Na Venezuela, há quase 30 mil profissionais médicos cubanos, no Brasil há 11.400 doutores cubanos e na África mais de 4 mil profissionais médicos cubanos estão trabalhando em 32 países. Para contextualizar, cerca de 20% dos médicos cubanos estão trabalhando no estrangeiro como internacionalistas. Comparativamente, isso equivaleria a 223 mil médicos estadunidenses servindo em países estrangeiros.

b) O pessoal médico cubano no Oeste da África é parte da Brigada Henry Reeve, formada em 2005, a qual tem prestado apoio médico emergencial do Paquistão ao Chile, da China à Bolívia. No total, 41 brigadas de emergência foram enviadas a 22 países. Nos últimos anos, grandes contingentes têm sido enviados para enfrentar desastres naturais em países como Guatemala, Paquistão, Indonésia, Bolívia, Peru, México, China, El Salvador, Chile, Haiti e nos três países mais afetados pelo Ebola.

c) Numa contribuição para garantir um sistema de saúde sustentável em muitos países em desenvolvimento, Cuba criou a Escola Latino-americana de Medicina (Elam) em 1999. Até o presente momento, 24.486 estudantes de 123 países se formaram médicos sem arcar com nenhum custo. Os professores-doutores cubanos formaram mais de 20 mil médicos graduados na Venezuela e formam atualmente o pessoal médico de 13 escolas de medicina em países como Timor Leste ou Gâmbia. Eles criaram faculdades de medicina em 15 países, a começar pelo Iêmen do Sul em 1975. Desde então, faculdades de medicina foram criadas na Guiana, Etiópia, Guiné Bissau, Uganda, Gana, Angola, Gâmbia, Guiné Equatorial, Haiti, Eritreia, Venezuela, Timor Leste, Bolívia e Tanzânia. 38.940 médicos (de 121 países da Ásia, das Américas e da África) receberam formação de professores-doutores cubanos. Atualmente, eles estão dando formação a estudantes de países como África do Sul, Gana, Djibuti, Moçambique, Congo, Uganda, Nicarágua e Equador, e médicos residentes estão sendo formados na Guatemala e no Haiti. Além disso, o pessoal médico cubano deu formação a mais de 80 mil parteiras, 3 mil enfermeiras e 65 mil promotores de saúde.

d) Desde 2004, a “Operação Milagre” devolveu a visão a 3,4 milhões de pacientes de mais de 30 países da América Latina e do Caribe, chegando a operar 2.667.000 pacientes. Todas as cirurgias foram realizadas sem custo para os pacientes em mais de 30 centros oftalmológicos.

e) Após o acidente com o reator nuclear de Chernobyl, Cuba aceitou tratar em Havana 25 mil pacientes (quase 100% de crianças) de 1989 a 2011. Todos os cuidados médicos e as acomodações foram fornecidos sem custos para os pacientes e membros da família.

f) A pedido dos governos da Venezuela, da Bolívia, do Equador e da Nicarágua, centenas de profissionais médicos cubanos, especialistas em doenças físicas e mentais, realizaram pesquisas nacionais, fazendo porta a porta para avaliar as necessidades médicas das comunidades e para indicar terapias de apoio individualizadas para cada paciente entre 2001 e 2003. Mais de 1,2 milhão de pessoas foram identificadas como portadores de necessidades especiais e foi implementado um programa de apoio a essas pessoas concebido em Cuba.

g) Cuba implementou o Programa Inclusivo de Saúde em dezenas de países pobres, principalmente em áreas remotas onde não há pessoal médico. Cuba está ajudando a criar o programa nacional de saúde do Haiti.

h) Esta longa tradição significa que ao longo dos anos o pessoal médico cubano realizou 10,8 milhões de operações cirúrgicas, 2,3 milhões de partos, 12,4 milhões de vacinações e salvou 5,5 milhões de vidas nos países em desenvolvimento.

Em suma, por mais de cinco décadas, Cuba forneceu cooperação médica a dezenas de países em todo o mundo – frequentemente dirigidos por governos que não têm nem tinham relações diplomáticas com Cuba. Inspirada na máxima do escritor e revolucionário do século 19 José Martí – “Pátria é humanidade” -, a contribuição de Cuba ao mundo em desenvolvimento tem sido exemplar. O importante papel que Cuba desempenha na África do Oeste na campanha contra o ebola é apenas o mais recente exemplo deste altruísmo. Contextualizando, Cuba – um país pobre, um país em desenvolvimento – tem mais pessoal médico trabalhando nos países do Hemisfério Sul do que todos os poderosos países do G7 juntos.

Senhores membros do Comitê Norueguês do Nobel, sou grato por vossa atenção. Espero que concordem comigo quanto ao fato de que este excepcional histórico de apoio médico dado por Cuba a diversos países em todo o globo merece o Prêmio Nobel da Paz. A doutora Margaret Chan, diretora-geral da Organização Mundial de Saúde, assim resumiu o papel de Cuba em 2014: “Cuba tem reconhecimento mundial por sua capacidade em formar excelentes médicos e pessoal de enfermagem, e também por sua generosidade para com os países em desenvolvimento”.

Tenho assim o prazer de indicar o Programa Internacionalista Médicos Cubanos para o Nobel da Paz, e creio de todo coração que aqueles e aquelas que a ele se dedicam seriam dignos recipiendários. Se puder ser de alguma ajuda para fornecer dados suplementares, sintam-se à vontade para me contatar: kirk@dal.ca.

Desejando-lhes o melhor em vossas deliberações,

John W Kirk, Ph.D.

Catedrático e professor de Estudos Latino-Americanos

Segue à vossa atenção um breve resumo biográfico.

John M. Kirk, Biographical Sketch

Kirk é catedrático e professor de Estudos Latino-Americanos na Universidade Dalhousie, no Canadá, onde ele ensinou durante 37 anos. Graduado pela Universidade de Sheffield, Kirk fez seu mestrado na Universidade da Rainha, e seu doutorado na Universidade da Colúmbia Britânica. Dedicou sua carreira acadêmica ao estudo da Cuba contemporânea, sendo autor/coeditor de 16 livros e de inúmeros artigos em publicações acadêmicas. Ao longo da última década, suas pesquisas lançaram luzes sobre a cooperação médica cubana. Ele acompanhou missões de pessoal médico cubano em El Salvador após o furacão e foi observador do trabalho dos médicos cubanos na Guatemala.

Ele entrevistou 270 profissionais médicos cubanos, bem como estudantes da Elam. Kirk é coautor de Cuban Medical Internationalism: Origins, Evolution and Goals (New York: Palgrave Macmillan, 2009) e autor de Healthcare Without Borders: Understanding Cuban Medical Internationalism (Gainesville: University Press of Florida, a ser publicado em junho de 2015). Ele também publicou artigos sobre a cooperação médica cubana em International Journal of Cuban Studies, New Internationalist, Temas, Counterpunch, Journal of Iberian and Latin American Studies, The Latin Americanist, Diplomacy and Statecraft, Bulletin of Latin American Research, Latin American Perspectives, e Canadian Journal of Infectious Diseases and Medical Microbiology.



http://portalmetropole.com/2015/08/programa-internacionalista-medicos-cubanos-e-indicado-ao-nobel-da-paz.html#.Vf7iGan2W4s.facebook


Agosto 10, 2015
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