terça-feira, 31 de maio de 2016

Atos em defesa da Previdência Social tomam agências do INSS pelo país 31/05/2016



CTB e Frente Brasil Popular realizaram nesta terça-feira (31), em frente às agências do INSS de todo o Brasil, uma mobilização nacional contra os ataques à Previdência Social planeados por Michel Temer e seu governo interino. A ação aconteceu simultânea ao lançamento da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Previdência do Senado


Em Brasília, o ato oficial foi acompanhado por dezenas entidades profissionais, como a Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (ANFIP), o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) ea Associação Nacional dos Membros das Carreiras da Advocacia-Geral da União (Anajur).

Em São Paulo, o ato iniciado às 10h contou com a participação também da CUT e da Intersindical. Foi realizado um comício com declarações de lideranças das três centrais, encerrado pelo discurso do próprio presidente nacional da CTB, Adilson Araújo.

“Não se discute quanto da Previdência foi desviado, governo após governo, para cobrir rombos no orçamento. Não se discute o papel que essa instituição tem na vida dos mais pobre e vulneráveis, ou como ela provê o sustento para milhões de famílias brasileiras”, disse o presidente. Ele lembrou que é falsa a ideia de que a Previdência é deficitária - apenas em 2014, ela teve superávit de mais de R$ 70 bilhões - e que, mesmo se assim fosse, é preciso contabilizar aí os mais de R$ 80 bilhões que são sonegados em impostos previdenciários todos os anos. Confira o discurso na íntegra no vídeo abaixo:

O presidente da CTB-SP, Onofre Gonçalves, também estava presente na manifestação, e disse que o ato é importante por trazer a pauta de denúncia do governo golpista de Michel Temer, “que vai esquartejar e jogar no lixo os 92 anos da Previdência Social”. Onofre lembrou também do papel social da Previdência: “Ela é uma forma importante de distribuição de renda, que vai pra aqueles que mais precisam. Esse governo está querendo tirar - é uma maldade com quem mais precisa, que são os trabalhadores e trabalhadoras”, concluiu.

Outras manifestações ocorreram por todo o Brasil, em especial em Porto Alegre e Belo Horizonte.
O próximo ato nacional está marcado para o dia 10 de junho. A ocasião será direcionada contra o próprio presidente interino Michel Temer, que não tem sustentação popular para permanecer na Presidência da República. A Frente Brasil Popular já trabalha na articulação dos movimentos sociais em todo o Brasil.



Fonte: CTB



http://www.vermelho.org.br/noticia/281678-1

Previdência: Temer prepara golpe contra benefícios dos trabalhadores 31/05/2016



Nesta terça (31), atos pelo Brasil protestaram contra o desmonte da Previdência Social iniciado pelo governo interino de Michel Temer. Os protestos ganharam, também neste dia, o reforço da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Previdência Social, instalada em Brasília. Especialistas acusam o presidente ilegítimo de enfraquecer a política de benefícios e denunciam a tentativa de o governo lançar mão da receita das contribuições para outros fins.

Por Railídia Carvalho

Agência PT Público no lançamento da Frente Parlamentar nesta terça-feira (31) em Brasília

A nova estrutura administrativa da Previdência brasileira (que não tem mais o nome social) pode resultar na morte do sistema previdenciário construído em muitas décadas. Em 20 dias de governo de Michel Temer, a Previdência perdeu a condição de ministério para ser incorporada ao ministério da Fazenda (a parte de arrecadação) e ao ministério do Desenvolvimento Agrário e Desenvolvimento Social (a parte de benefícios).

“Parece que a tecnocracia, cada vez mais firme no Planalto, quer transformar a Previdência Social em apenas números, como se assim pudessem ocultar os acidentes do trabalho que continuam ocorrendo e as condições laborais que exigem as aposentadorias especiais”, afirmou o advogado previdenciário Sérgio Pardal Freudenthal, que assessora sindicatos de trabalhadores no Estado de São Paulo.

Ele afirmou que o desmonte representa um “grave desprezo pelo Seguro Social construído em um século”. Para o advogado, a integração da Previdência com o Ministério do Trabalho, como estava conformado no governo da presidenta Dilma Rousseff, garantia os benefícios, quando necessários, e também assegurava as fiscalizações sobre as condições de trabalho. “São projetos políticos opostos. Agora não tem com quem conversar e nem o que discutir”, observou.

Privatização da previdência

“Ele (Temer) está jogando pra sentir o clima. Se não tiver resistência, ele vai privatizar. Quer deixar o pobre na miséria e quem puder paga a sua aposentadoria. Está jogando com a memória curta do brasileiro”, declarou Pascoal Carneiro, diretor de Previdência e Aposentados da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Segundo o dirigente, o governo quer favorecer os fundos de pensão privados, gerenciados por bancos. Ele argumentou também que manter a arrecadação no ministério da Fazenda é garantir ao governo golpista o direito de utilizar a receita para outros fins que não sejam os de garantir os benefícios para o trabalhador.

“Está sendo preparada uma DRU (Desvinculação de Receitas Orçamentárias) para ser encaminhada ao Congresso alegando o déficit no orçamento. O governo quer 30% pra gastar como quiser e nestes 30% estão as receitas da previdência”, alertou Pascoal.

Mobilização

Ele ressaltou a importância dos atos realizados nesta terça-feira e da formação da Frente Parlamentar como fundamentais para barrar projetos no Congresso, com o objetivo de enfraquecer o sistema previdenciário.

Pascoal lembrou que diante dos protestos, o governo Temer adiou o anúncio de uma proposta de reforma da previdência, que ficou prevista para ser divulgada em setembro. “Ele viu que vai ter resistência e que a reforma não virá de forma assim tão fácil”.

Sérgio concorda com Pascoal e vê o fortalecimento das mobilizações como combate ao desmonte da previdência. “Quem tinha chance de privatizar e tentou foi o Fernando Collor. Apresentou um projeto que não foi pra frente. Depois conseguimos consolidar o sistema que temos hoje. Não vamos permitir a morte política desse sistema”, completou.



http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=8&id_noticia=281680

#15DiasdeDesgoverno: funcionários públicos denunciam desmonte do estado democrático pelo governo Temer 331/05/2016






Frente Ampla de Trabalhadores do Serviço Público pela Democracia

No dia 13 de maio de 2016, há exatamente 15 dias, teve início no Brasil um (des)governo ilegítimo que, mesmo em tão pouco tempo, já sinaliza inúmeros retrocessos.

Neste contexto, a Frente Ampla de Trabalhadoras e Trabalhadores do Serviço Público pela Democracia, composta por um grupo de trabalhadores/as do serviço público federal preocupado com os ataques à democracia e suas consequências para o Estado democrático e para as políticas públicas, produziu e torna público hoje o documento #15DiasdeDesgoverno.

Este documento relata os retrocessos ocorridos nos 15 primeiros dias de governo Temer e sistematiza diversas análises, a partir da discussão sobre o “projeto” do PMDB, Ponte para o Futuro, e suas consequências para o desmonte das diversas políticas públicas e dos direitos sociais.

Clique aqui para acessá-lo na íntegra: https://yadi.sk/i/Phljp6SYs4u5e

#NãoEstáTudoBem #VaiTerLuta #VemPraDemocracia #FrenteAmpla #ServiçoPúblico

http://www.ocafezinho.com/2016/05/31/15diasdedesgoverno-funcionarios-publicos-denunciam-desmonte-do-estado-democratico-pelo-governo-temer/

Movimentos organizam grandes atos contra o golpe para o dia 10 31/05/2016

Leonardo Miazzo



Foto: Jornalistas Livres

Movimentos veem protestos em alta e preparam ato nacional no dia 10

Na Rede Brasil Atual

Movimentos populares e as frentes Brasil Popular e Povo sem Medo organizam uma série de manifestações, atos e intervenções para ocorrer antes de 10 de junho. Nessa data, programam um ato unificado nacional, liderado pelas duas frentes, contra o golpe que afastou a presidenta Dilma Rousseff.

Coordenador da Frente Brasil Popular, o ex-integrante do PSB Roberto Amaral diz que o movimento de “todas as frentes” pretende estabelecer um cronograma de inúmeras ações, com destaque para o dia 10, e deve chegar ao auge em agosto, quando deve acontecer o julgamento final de Dilma no Senado.



Segundo ele, os áudios vazados de conversas dos senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Renan Calheiros (PMDB-AL) e do ex-presidente José Sarney, além das ações do próprio governo interino de Michel Temer, estão alimentando o crescimento das mobilizações. A opinião é partilhada pelo coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e da Frente Povo sem Medo, Guilherme Boulos, e pelo coordenador estadual em São Paulo da Central dos Movimentos Populares (CMP) e um dos coordenadores da FBP, Raimundo Bonfim.



“O terreno é mais fértil do que nós da Frente Brasil Popular supúnhamos. O governo interino, com sua inabilidade, está ajudando muito. Hoje temos consciência de que muitos dos que saíram às ruas pedindo o golpe, hoje não sairiam. E muitos dos que não saíram em defesa do mandato da Dilma, hoje estão saindo pedindo a saída de Temer”, diz Roberto Amaral.



Boulos vê perspectivas de manifestações cada vez maiores. “Há uma insatisfação crescente, até porque, mesmo pessoas que já foram à rua contra Dilma não foram pedindo o Temer. E com o ataque brutal que esse governo interino e ilegítimo começa a praticar contra os direitos sociais, isso seguramente vai aumentar as mobilizações”, prevê.



Para o dirigente do MTST, a principal discussão não é se o Senado vai ou não reverter o impeachment. “Não acreditamos, francamente, no carpete do Senado como palco para a solução. Achamos que a chance de reverter o golpe em curso é mobilização de rua”, defende. "No grande ato unificado no dia 10 de junho da Frente Brasil Popular e Frente Povo sem Medo, a gente espera que as várias lutas possam confluir, colocando centenas de milhares de pessoas nas ruas."



Para Roberto Amaral, a divulgação dos áudios está claramente conscientizando a sociedade. “Nós sempre dissemos que a cassação de Dilma era uma farsa. Ela não estava sendo julgada pelo seu governo nem pelas pedaladas que ela nunca cometeu. Tratava-se pura e simplesmente de afastá-la e ficou claro, nas conversas do Sarney, do Jucá e do Renan, como isso foi articulado. Essas declarações, soltadas a conta gotas, são apenas a ponta de um iceberg. A opinião pública vai aos poucos tomando consciência da farsa”, afirma.



Raimundo Bonfim cita a eliminação de programas como Minha Casa, Minha Vida, a ameaça ao SUS, a desvinculação de recursos em saúde e educação como graves ameaças. “A massa de trabalhadores está muito preocupada; a sociedade saiu às ruas com um discurso de combate à corrupção e agora vê que o governo é uma quadrilha.” Ele lembra ainda que o movimento sindical discute a possibilidade de parar algumas categorias.



A Federação Única dos Petroleiros informou em nota que, “diante dos ataques contra a Petrobras, o pré-sal e os direitos e conquistas da classe trabalhadora, que estão sendo desmontados pelos golpistas, a FUP e seus sindicatos indicam paralisação de 24 horas no dia 10 de junho”.

Movimentos espontâneos

“Estão crescendo também as manifestações espontâneas em atos, shows e todas as atividades, tudo num crescendo, com vistas ao próximo dia 10”, observa Bonfim. Ele, Amaral e Boulos destacam ainda a espontaneidade de ações, protestos e atos políticos como um aspecto que mostra a tendência de crescimento das mobilizações.



Para Amaral, a mídia está escondendo a importância das manifestações contra o governo Temer e o impeachment, e também oculta o caráter espontâneo de algumas delas, como as que foram vistas na Parada LGBT, ontem (29), em São Paulo. “A grande mídia praticamente não registrou o significado das manifestações em São Paulo no domingo. A Folha colocou a informação numa página do segundo caderno (Cotidiano).” Cerca de 3 milhões de pessoas passaram pelo evento, segundo os organizadores, e muitos deles protestaram.



Para Boulos, essa espontaneidade, além dos atos agendados, tende a crescer. “As pessoas estão percebendo que seus direitos básicos estão sendo atacados. Quando entra um governo sem voto nenhum a aplicando um programa que não foi eleito por ninguém, isso certamente vai levar as pessoas a reagir. As mulheres, o povo da cultura, os sem-teto, em relação aos cortes do Minha Casa Minha Vida, entre outros, têm feito muitas mobilizações.”



Ações ainda não confirmadas ou deliberadamente não divulgadas devem proporcionar um aumento de mobilizações. “Uma parte do calendário de mobilizações é público e está sendo divulgada. Outra parte não, porque são ações de outra natureza, de impacto. Mas nas próximas semanas haverá ações importantes. Eu diria nos próximos dias já”, garante Boulos.



Entre elas, protestos dos sem-teto contra a suspensão do Minha Casa Minha Vida. “Vão pipocar várias ações pelo país, já agendadas. Mas não vai haver divulgação prévia. Haverá ações como essas e outras iniciativas”, promete.



http://www.ocafezinho.com/2016/05/31/movimentos-organizam-grandes-atos-contra-o-golpe-para-o-dia-10/

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Paneleiros vizinhos de Temer pulam fogueira e fazem arraial e quadrilha 30/05/2016


Vizinhos de Temer pulam fogueira e fazem arraial e quadrilha




de Os amigos do Presidente Lula

Vizinhos fazem "quadrilha do Temer" em frente à casa do Michel Temer em São Paulo

Com pipoca, amendoim e quentão, vizinhos do presidente interino Michel Temer se reuniram na praça Conde de Barcelos para o “Arraial do Temer”. Por volta das 17h, cerca de 50 pessoas fantasiadas de caipira dançavam quadrilha, ao som de bumbo, trompetes e cornetas, cantando paródias de canções juninas, com críticas ao governo Temer.



Na frente da casa do presidente, cercada por seis viaturas policiais em um trecho interditado da rua, os manifestantes levantaram faixas enquanto dançavam a “Quadrilha do Temer”. “Com seu amigo Jucá/O Temer resolveu tramar/Vamos fugir da Lava-Jato/Dando golpe parlamentar”, cantava o grupo, parodiando a canção caipira “Pedro, Antonio e João”. “Deixa o Cunha comandar/Pra depois a gente cassar/Sarney estava gostando/Renan estava sorrindo.”
“Queremos mostrar, na sua própria vizinhança, que o apoio a Temer não é unanimidade na elite”, dizia uma manifestante. “É tudo pacífico, é uma crítica com bom humor. Mas queremos incomodar. Só isso”, afirmou outro vizinho. Na semana passada, os vizinhos já haviam feito a “Serenata do Temer”. O grupo organiza ainda uma cerimônia simbólica para mudar o nome da praça Conde de Barcelos, na rua Benett, para “Praça do Golpista”. A praça era tradicionalmente conhecida como praça dos cachorros, por conta das pessoas que passeiam com seus cães e se encontram na região. Enquanto dançavam no “arraial do Temer”, os vizinhos gritavam refrões como “Vem Lava-Jato/E lava tudo agora/Na dança da Quadrilha/Ninguém vai ficar de fora.”



Apesar de o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ter afirmado na semana passada que “não pode fechar a rua”, o trecho onde está localizada a casa do presidente interino estava cercado por cavaletes, cones e grades metálicas....Estranha-se o fato de só o Istoé ter divulgado a nota...A imprensa geral esta de lua de mel com Temer

http://jornalggn.com.br/noticia/vizinhos-de-temer-pulam-fogueira-e-fazem-arraial-e-quadrilha

Golpistas do CGU abre rebelião contra decisão do Temer 30/05/2016


CGU abre rebelião contra decisão de Temer

Um grupo de pelo menos 900 servidores do Ministério de Transparência, Fiscalização e Controle, que substituiu a Controladoria-Geral da União (CGU), protesta em Brasília para pedir a saída do ministro Fabiano Silveira, flagrado em gravações criticando a Operação Lava Jato e orientando Renan Calheiros (PMDB-AL), alvo da investigação; após a divulgação dos áudios, Michel Temer disse que o ministro fica "por enquanto"; chefes de duas regionais do ministério entregaram seus cargos em protesto à permanência de Silveira no cargo; funcionários também pedem a volta da CGU; para o líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), gravação "desnuda a pretensão da cúpula do governo de obstruir investigações"

30 de Maio de 2016 às 17:45





247 - Um grupo de pelo menos 900 servidores do novo Ministério de Transparência, Fiscalização e Controle, que substituiu a Controladoria-Geral da União (CGU), realizou um protesto na tarde desta segunda-feira, 30, em Brasília, para pedir a saída do ministro Fabiano Silveira e a permanência do antigo órgão. O ato é organizado pelo Sindicato Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças e Controle (Unacon).

Chefes de pelo menos duas regionais do ministério entregaram seus cargos em protesto à permanência do chefe da pasta, depois de Fabiano Silveira ter sido flagrado em gravações de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, criticando a Operação Lava Jato e dando orientações ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), diante da investigação.

Os chefes das unidades da Bahia, Adilmar Gregorin, e de São Paulo, e Roberto Viéga, confirmaram a saída dos cargos. De acordo com Gregorin, todos os comandantes regionais estão aderindo ao movimento, na tentativa de deixar claro que não aceitarão Silveira à frente da pasta de combate à corrupção. Após a divulgação dos áudios neste domingo, o presidente interino, Michel Temer, disse que o ministro fica "por enquanto".

Além de pedir a saída do ministro da Transparência, o grupo de manifestantes também pede a aprovação de proposta de emenda à Constituição que estabelece que as funções da CGU sejam exercidas por órgãos de natureza permanente. Ou seja, pelo texto, a estrutura do órgão não poderia ser alterada para integrar um ministério.

Os servidores questionam o desmembramento da Controladoria e a sua vinculação ao recém-criado Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle no governo Temer. Nesta manhã, os manifestantes já haviam feito um ato em frente à sede da CGU, onde lavaram as escadas do prédio que abriga o órgão e impediram a entrada do ministro.

Para o líder do PT na Câmara, deputado Afonso Florence (BA), a gravação "desnuda a pretensão da cúpula do governo de obstruir investigações". Na avaliação dele, Silveira não tem condições de permanecer no cargo.

"É óbvio que um ministro com as atribuições que ele tem não tem condição nenhuma de estar no cargo. São muitas as evidências de tentativa de obstrução da justiça. Claro que todo mundo tem direito à defesa, mas nada disso justifica ter como ministro nesse cargo alguém que é pego, se isso for mesmo confirmado, nessa situação", afirmou.

Leia mais na reportagem da Agência Brasil:

Após gravações, servidores da extinta CGU pedem a Temer demissão de ministro

Paulo Victor Chagas – Funcionários do novo Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle fizeram uma manifestação em frente ao Palácio do Planalto cobrando a saída do ministro da pasta, Fabiano Silveira, após ele aparecer em gravações orientando a defesa de investigados e criticando a Operação Lava Jato.

Os manifestantes chegaram à Praça dos Três Poderes por volta de 16h, quando havia cerca de 250 pessoas, de acordo com a Polícia Militar do Distrito Federal, e saíram uma hora depois. Eles pediram que o presidente interino Michel Temer tire Fabiano do cargo, usando palavras de ordem como "Temer, demite", "Fica, CGU" e "Fabiano vai cair, vai cair, vai cair".

Apesar da pressão, a determinação de o presidente interino, até o momento, é de manter o ministro no cargo.

Os servidores querem o retorno do nome anterior da pasta: Controladoria-Geral da União (CGU). Ele também exibiram faixas com os seguintes dizeres: "Combate à corrupção já tem nome. CGU", "Fortalecer sim, extinguir jamais" e "Tirem as mãos da CGU". Eles usaram vuvuzelas e fogos de artifício na manifestação.

Mais cedo, os funcionários fizeram uma lavagem das escadas em frente à entrada do ministério e solicitaram afastamento dos cargos de comissão que ocupam em forma de protesto.



http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/235199/CGU-abre-rebeli%C3%A3o-contra-decis%C3%A3o-de-Temer.htm

No vídeo “Homenagem”, militantes torturados por Brilhante Ulstra revelam o que está por trás do voto de Bolsonaro 30/05/2016



30 de maio de 2016 Rogerio Dultra



Por Rogerio dultra dos Santos

Já entrou para os anais da política brasileira o voto "homenagem" que o Deputado Jair Bolsonaro fez ao falecido Coronel Carlos Alberto Brilhante Ulstra - torturador notório da Presidenta -, no impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados.

Neste curta dirigido por Cristiane Brandão e José Eduardo Acevedo se pode dimensionar um pouco da infame declaração, verdadeira apologia à tortura, que fez o Deputado ao militar torturador.

A democracia brasileira, esta quimera cada dia mais utópica, se mostra uma impossibilidade exatamente quando não acertamos a devida conta com nossas responsabilidades do passado.

Uma transição inacabada da ditadura, situação em que os crimes de Estado acabaram varridos para debaixo do tapete da história, explica um pouco a fala misógina, inoportuna e vil do Deputado, bem como o silêncio institucional cada vez mais profundo em torno daquilo que nunca deveria ter existido, mas que está lá, precisando ser dito e ouvido. Para que nunca mais se repita.









http://www.ocafezinho.com/2016/05/30/no-video-homenagem-militantes-torturados-por-brilhante-ulstra-revelam-o-que-esta-por-tras-do-voto-de-bolsonaro/

Grupo de eurodeputados pede que UE não negocie com governo de Temer 30/05/2016



O eurodeputado espanhol Xavier Benito enviou uma carta para a representação da União Europeia para Política Externa e Segurança para que a entidade não negocie com o presidente interino brasileiro, Michel Temer, que lidera o acordo comercial entre a UE e o Mercosul.

No documento, que foi assinado por mais de 30 eurodeputados de diferentes grupos políticos e nacionalidades, Benito, do partido espanhol Podemos, denuncia a falta de "legitimidade democrática" do governo de Temer, que substitui a presidenta Dilma enquanto a presidente passa pelo processo de impeachment.

A carta foi direcionada a Federica Mogherini, responsável da UE para política externa e segurança.

"O acordo comercial com Mercosul", argumenta Benito na carta, "não só se limita a bens industriais ou agrícolas, mas inclui outros afastados como serviços, licitação pública ou propriedade intelectual. Por isso, é extremamente necessário que todos os atores implicados nas negociações tenham a máxima legitimidade democrática: a das urnas", afirmou.

Benito, também primeiro vice-presidente da delegação do Parlamento Europeu (PE) para as relações com o Mercosul, lembra na que estes acordos devem levar em conta "a dignidade das pessoas e os direitos humanos, e não devem nunca priorizar o lucro econômico ao bem-estar das pessoas", disse.

"Duvidamos que este processo de negociação tenha a legitimidade democrática necessária para um assunto desta magnitude", afirmou, ao tempo que considera que "o mandato de Dilma Rousseff só pode ser mudado mediante o único método democraticamente aceitável: as eleições".

Benito afirma, por outro lado, "compartilhar a preocupação expressada também pelo secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) e pela Unasul sobre a severa situação na qual Dilma Rousseff foi condenada por um Congresso doente de corrupção e claramente orientado por obscuras intenções".

"É necessário suspender as negociações entre a UE e Mercosul já que tal acordo comercial não deveria ser negociado com o atual governo brasileiro", frisou.

"Reivindicamos que a UE dê o seu total apoio e envolvimento para o restabelecimento da ordem democrática no Brasil", acrescentou.

Agência de notícias EFE

http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com.br/2016/05/grupo-de-eurodeputados-pede-que-ue-nao.html


Rio Grande do Sul: Secundaristas contam como é a vida nas ocupações e o que os move: ‘estamos amadurecendo’ 30/05/2016




Da esquerda pra direita: Ana Laura, Maria, Ágatha, Isabella e Theo conversaram com o Sul21 na escola Paula Soares | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Débora Fogliatto

Com respostas afiadas quando o assunto é política, diversidade sexual e o modelo de educação vigente, seis estudantes conversaram com o Sul21 sobre as primeiras semanas de ocupações nas escolas públicas no Rio Grande do Sul. Críticos ao sistema que coloca o professor em frente, na sala de aula, e os alunos atrás das cadeiras, sem provocar debates, eles esperam que o movimento em curso possa mudar a educação no Estado. Para além de algumas dificuldades, que variam em cada escola, todos concordam sobre um dos grandes aprendizados que estão tendo: a convivência.

A entrevista, realizada no pátio da Escola Paula Soares, onde em seguida aconteceria uma assembleia com secundaristas de escolas ocupadas de toda a cidade, inicialmente combinada com três estudantes, acabou congregando seis adolescentes: Ágatha Oliveira, 17 anos, do 2º ano da Escola Presidente Roosevelt; Ana Laura Juk, 15 anos, do 2º ano da Escola Padre Réus; sua colega Isabella Iumi, 15 anos; Maria Saldanha, 16 anos, do 2º ano da Paula Soares; Antônio Henrique Fonseca Porto, 16 anos, do 3º ano da Escola Agrônomo Pedro Pereira; e Theo Pagot, 16 anos, do 3º ano também da Padre Réus.

Desde o início das ocupações em escolas de ensino médio em Porto Alegre, livremente baseadas no movimento que começou em São Paulo, chama atenção a grande presença de meninas e de pessoas LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) na linha de frente das mobilizações. Mesmo sendo horizontal, como bem frisou Ana Laura, dentre as pessoas que mais passam noites nas escolas, percebe-se esse perfil. O assunto é tratado com naturalidade pelas jovens: “a gente até brinca na ocupação que do pessoal que fica fixo lá são 20 pessoas, e dessas só três são heterossexuais”, conta Ágatha, sobre a Presidente Roosevelt.


Escola Padre Réus é conhecida por ser “de luta”, explicam Isabella, Ana Laura e Theo | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Além de aceitar as diferenças e diversidades, eles também se mostram inconformados com o atual sistema de educação, o que se reflete inclusive nas suas escolhas para o futuro: dois dos seis entrevistados pretendem ser professores. “Tem aquela teoria de que a escola é tipo uma fábrica. Toda vez que bate o sinal, a gente vai para a esteira para ir para outra sala, daí o professor ‘mexe’ um pouco na gente, daí volta para a esteira e vai para a próxima”, avalia Theo.

Confira a entrevista completa:

Sul21 – Qual a situação nas escolas de vocês a relação entre pais, professores e estudantes?

Ágatha (Escola Pres. Roosevelt) – No Roosevelt é complicado. Os pais dos estudantes do Ensino Fundamental não apoiam a ocupação, então agora tem um prédio ocupado e um onde eles estão tendo aula. Mas mesmo assim, há relatos de pais ameaçando invadir o nosso prédio nesta quarta-feira (25), sendo que as crianças do Fundamental estão tendo aula. E temos professores nos apoiando, tem alguns mais jovens, entre uns 25 e 30 anos, que estão ficando lá, dormindo. E têm uns três pais lá também. Então não tem como dizer que estamos sozinhos. Estamos sofrendo muita agressão verbal, na segunda-feira (23) tivemos uma situação complicada envolvendo a diretora.

Faz uma semana já que ocupamos a escola, mas só conseguimos ter uma oficina por causa desses pais que estão revoltados, a gente tem recebido muitas propostas. Mas temos que cancelar por causa dos pais. Mas a ocupação está crescendo muito, o pessoal do Instituto de Educação, do Emílio Massot já foram lá. Depois dessa situação com a diretora, o número cresceu muito. Estamos recebendo também muito apoio do pessoal da UFRGS, estão indo em peso. O pessoal vai lá, leva os colegas que eram do Roosevelt, e até dormem lá.

Theo (Escola Padre Réus) – A gente está tendo bastante apoio da direção, não teve resistência em nenhum momento. Está bem harmonioso, até com a greve dos professores. E tem muita procura para oferecer oficinas.
“O nosso movimento por ser horizontal já rompe bastante com o patriarcado e todas essas questões”

Sul21 – Vocês têm percebido e discutido questões de diversidade sexual e de gênero nas ocupações?

Ágatha (Escola Pres. Roosevelt) – Sim, a gente até brinca na ocupação que do pessoal que fica fixo lá são 20 pessoas, e dessas só três são heterossexuais. Os outros são todos gays. Segunda-feira a gente só conseguiu ter uma oficina e foi sobre esse assunto, de diversidade sexual e de gênero. A gente achou que iriam umas 20 pessoas, mas quando abrimos o portão nos surpreendemos, tinha umas 50 pessoas. E isso tirou as dúvidas que todo mundo tinha sobre esse assunto.

Ana Laura (Escola Padre Réus) – O nosso movimento por ser horizontal já rompe bastante com o patriarcado e todas essas questões. Todo mundo tem voz lá dentro, mulheres, LGBTs.


Ágatha relata situação da escola Presidente Roosevelt, sem apoio da direção | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Maria (Escola Paula Soares) – A minha escola é uma das mais homossexuais que têm. A gente fez um trabalho sobre LGBTs aqui e fomos nas salas de aula perguntando quem era, e tinha muita gente.

Antônio Henrique (Escola Pedro Pereira) – Sim, já tivemos mais de dez aulas públicas sobre esse tema desde que começou a ocupação. Teve estudantes do coletivo feminista da UFRGS também que foram lá. As estudantes da escola, durante a ocupação, já montaram um coletivo feminista com mais de 30 meninas. Elas estão vendo a força que têm.

Sul21 – A escola de vocês aborda questões de gênero?

Isabella (Escola Padre Réus) – Sim, o colégio aborda nas humanas em geral. Onde podem incluir eles incluem.

Ágatha (Escola Pres. Roosevelt) – Em filosofia, às vezes. Mas tem professores que são machistas em aula, dependendo da matéria. Tem professor até de história e literatura que pens que mulher tem que servir ao homem, e que às vezes falam que tem que ser daquele jeito e ponto. Eles vieram de um pensamento muito antigo.

Ana Laura (Escola Padre Réus) – Mas eu acho que o Padre Réus é exceção, a gente sabe que lá os professores se posicionam mais, que é uma escola de luta. Isso afeta um pouco nossas aulas.

Antônio Henrique (Escola Pedro Pereira) – No Pedro Pereira essa discussão não acontece na sala de aula, são pouquíssimas as aulas que falam disso, normalmente é alguma de seminário. Mas o aluno quer discutir assuntos que não são discutidos, que são vistos como um erro. O estudante quer discutir isso.


Modelo de educação é “muito mecanizado”, afirma Ana Laura | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Sul21 – E vocês acham que o modelo de educação atual, de sala de aula como funciona hoje, seria o modelo ideal?

Ana Laura (Escola Padre Réus) – Eu acho que é muito mecanizado, a gente critica bastante isso. Parecem mais presídios do que colégios, é para formar profissionais de uma forma muito mecanizada. Isso vem de quando rolou a revolução industrial, que implantaram isso dessa forma nas indústrias, a questão do sinal, da forma de sentar, e é a mesma forma das escolas.

Ágatha (Escola Pres. Roosevelt) – Colocam robôs um atrás do outro, todos aprendendo a mesma coisa.

Theo (Escola Padre Réus) – Tem aquela teoria de que a escola é tipo uma fábrica. Toda vez que bate o sinal, a gente vai para a esteira para ir para outra sala, daí o professor “mexe” um pouco na gente, daí volta para a esteira e vai para a próxima. Pra no final a gente receber um certificado pra poder ir pro mercado, e se tiver algum defeito, que seria rodar, tem que voltar.
“Essa gurizada que está nas ocupações, boa parte está para mudar mesmo tudo isso”

Antônio Henrique (Escola Pedro Pereira) – Acho que poderia mudar a forma como os alunos ficam na sala de aula, mudar o sistema, como o aluno vê a educação.

Sul21 – Quando a geração estiver dando aulas, acham que talvez esse modelo mude?

Ágatha (Escola Pres. Roosevelt) – Tomara. Eu tenho esperanças porque essa gurizada que está nas ocupações, boa parte está para mudar mesmo tudo isso.


Do colégio Pedro Pereira, Antônio também critica modelo de educação | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Ana Laura (Escola Padre Réus) – Acho que até por isso muita gente da nossa geração quer ser professor, eu vejo que aumentou bastante. Porque realmente queremos mudar, tenho muita esperança que mude realmente. Mas talvez isso seja maior do que nós. Eu vou virar professora e vou querer ensinar de uma forma diferente, mas não sei se vou ter força para mudar isso.

Theo (Escola Padre Réus) – Eu não sei se levo tanta fé assim, porque tem juventude que apoia Malafaia, Bolsonaro.

Sul21 – Pois é, e tem aquele PL do deputado Marcel Van Hattem (PP) da “Escola sem partido”.

Theo (Escola Padre Réus) – É, a gente quer revolucionar uma coisa, mas tem um cara que também é jovem e quer fazer isso. Isso cessa debate, cessa democracia, que já temos pouca. E muitos parlamentares do PP vieram da Arena, é um reflexo da ditadura, dá para ver os resquícios da ditadura nos projetos deles.

Ana Laura (Escola Padre Réus) – Uma das pautas das ocupações é justamente não deixar acontecer esse Escola Sem Partido, porque é uma volta à ditadura. Censurar os professores, eles podem ser punidos por falar de racismo, ou por dar sua opinião.

Ágatha (Escola Pres. Roosevelt) – Tem coisas totalmente sem sentido. Até história e geografia ficam prejudicadas, vai meio que fechar a área de humanas.


“Querendo ou não o pessoal que está nas escolas vira uma família”, afirma Ágatha | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Sul21 – A maior parte do pessoal que está nas ocupações é mais politizada, como vocês?

Theo (Escola Padre Réus) – Mais ou menos. Tem bastante gente que está só para ajudar, na Padre Réus é a maioria.

Ana Laura (Escola Padre Réus) – O movimento é horizontal, então todo mundo tem fala igual. Mas sempre tem quem saca mais de política e tem a ideia de fazer um trabalho de base, para a ocupação ser mais politizada, para o pessoal que está ali dentro saber mais de política. Mas não é todo mundo que entende de política, a ideia é que a ocupação aumente isso. Tem bastante gente que apoia e mesmo não sacando muito de política, está disposta a ajudar.

Ágatha (Escola Pres. Roosevelt) – Sim, é isso que acontece no Roosevelt também. Quando a gente começa a falar de política nem sempre dá certo. O presidente do grêmio estudantil é de um partido, mas muita gente é contra incluir política na discussão. Vai de cada um, tem gente que não quer nem falar disso.
“Agora todo mundo já tem sua opinião muito formada, todo mundo amadureceu muito rápido”

Maria (Escola Paula Soares) – Aqui na escola tem gente que apoia o Bolsonaro grita “viva a ditadura”, mas não que faz parte da ocupação.

Sul21 – O que vocês diriam que mais têm aprendido desde que começaram as ocupações?

Todos – Viver em conjunto.

Ágatha (Escola Pres. Roosevelt) – Querendo ou não, o pessoal que está nas escolas vira uma família. E a gente está amadurecendo demais nas ocupações, a gente às vezes não nota. Na semana passada, quando ocupamos, tinha gente que não tinha opinião formada sobre algumas coisas. E agora todo mundo já tem sua opinião muito formada, todo mundo amadureceu muito rápido.


Theo, da Padre Réus, explica que nem todos os que participam da ocupação têm posições políticas formadas | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Maria (Escola Paula Soares) – Eu não me dava bem com algumas pessoas, mas a gente é meio que obrigado a viver em conjunto, porque sozinho ninguém faz nada. Então a gente acabou perdendo esse egoísmo para poder fazer um bem maior. E a gente sabe que imparcialidade não existe, todo mundo segue orientação de uma base ideológica. O que tem que avaliar é se essa base ideológica é inclusiva ou excludente. Daí a gente foi aprendendo sobre isso.

Ana Laura (Escola Padre Réus) – Se tu não te organiza, alguém te organiza por ti. Tem coisas ruins, acontecem alguns problemas com um monte de gente morando junto, mas aprendemos muito. A gurizada fala que aprendeu a lavar banheiro, estamos fazendo tudo por nós.

Ágatha (Escola Pres. Roosevelt) – E a gente está aprendendo muito a ouvir as opiniões dos outros e aceitar. Porque sem essa ocupação, metade das pessoas não se falariam (outros concordam). Tem gente que eu não conversava que está na ocupação, eu comecei a ter uma amizade depois da ocupação. A gente está aprendendo a conviver uns com os outros. Estamos tentando manter limpo o máximo possível. E colocar muitos cartazes sobre racismo, machismo, homofobia e transfobia.

Sul21 – Vocês diriam que estão aprendendo mais do que se tivessem tendo aulas normais?

Maria (Escola Paula Soares) – Estamos aprendendo coisas diferentes.

Ana Laura (Escola Padre Réus) – Aprendendo sobre união de luta de secundaristas, isso é muito legal. E são coisas que a gente não ia aprender se tivesse tendo aula.
“Tem muita escola que não quer deixar o aluno ter voz, não quer deixar ter grêmio estudantil”

Sul21 – Vocês acham que isso pode mudar o movimento estudantil secundarista daqui para a frente?

Ana Laura (Escola Padre Réus) – Espero que quando acabarem as ocupações, o movimento secundarista continue. As ocupações das escolas uniram os secundaristas e isso é muito importante.


“Eu não imaginava que íamos acabar sendo o estado com mais escolas ocupadas”, diz Maria | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Ágatha (Escola Pres. Roosevelt) – Eu também, espero muito que sim. Tem muita escola que não quer deixar o aluno ter voz, não quer deixar ter grêmio estudantil. No Roosevelt, a gente fez o grêmio logo antes da ocupação, porque a direção não queria que tivesse. E tem pais e professores que estão loucos porque o aluno está criando voz, o adolescente está criando voz dentro da escola.

Sul21 – Um ano atrás, vocês imaginariam que estariam aqui agora?

Isabella (Escola Padre Réus) – Com certeza não.

Maria (Escola Paula Soares) – Não, eu não imaginava que íamos acabar sendo o estado com mais escolas ocupadas.

Ana Laura (Escola Padre Réus) – Eu não imaginaria que ia ter tanta gente. Lá no Padre Réus, estávamos pensando em ocupação há um tempo, mas achávamos que as escolas não iam apoiar. Daí ocupamos e outras escolas também e quando vimos já eram 150.

Sul21 – Como vocês avaliam a cobertura midiática sobre as ocupações?

Ágatha (Escola Pres. Roosevelt) – A RBS e a Zero Hora distorcem muito. Mas a gente já tinha percebido isso antes. No começo do ano, em março teve um aluno esfaqueado a caminho da escola em uma tentativa de assalto em que ele reagiu. Ele é meu colega de aula e a minha turma organizou uma passeata, na terça-feira teve a passeata e a RBS estava lá e distorceram muita coisa, disseram que eram só 30 pessoas, mas estávamos entre 100.

Isabella (Escola Padre Réus) – No nosso primeiro dia de ocupação, a gente entrou às 2h da manhã. E a Zero Hora foi lá para nos entrevistar, a gente falou para eles irem outra hora porque o pessoal estava dormindo. Eles colocaram na matéria que a gente estava se reunindo no pátio e negamos entrevista para eles. Só que esqueceram de botar que isso foi às 2h da manhã.


Isabella critica reportagem da Zero Hora sobre a ocupação da Padre Réus | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Theo (Escola Padre Réus) – E depois gravaram os alunos por cima do muro. A RBS nunca mais vai bater lá na nossa porta, a gente pediu direito de resposta depois de publicarem uma matéria em que nos citaram, mas sem falar com a gente. Eu tenho minhas críticas também por causa da Operação Zelotes, a gente tinha feito um cartaz dizendo “RBS sonegadora, a culpa também é tua”, daí nunca mais foram lá.

Sul21 – A maioria dos estudantes nas escolas de vocês é de que nível social? O pessoal trabalha para ajudar com a família?

Theo (Escola Padre Réus) – No Padre Réus é bem diversificado, tem gente mais de classe média e outros que precisam trabalhar.

Ágatha (Escola Pres. Roosevelt) – No Roosevelt também, assim como tem gente que mora no próprio Menino Deus, tem gente que vem da Cruzeiro, Santa Teresa.

Maria (Escola Paula Soares) – Aqui (no Paula) temos pessoas de todas as regiões, então também é assim. Eu trabalho na Prefeitura, faço estágio. Mas é mais para ser independente, não quero deixar tudo nas costas dos meus pais.
“O pessoal vai pelo menos de noite, e daí sai para trabalhar cedo. Os estudantes estão vendo que a causa é importante e participando”

Ana Laura (Escola Padre Réus) – Tem uma gurizada que trabalha o dia inteiro e vai para lá de noite, ajuda de noite. O pessoal não deixa de ajudar.

Antônio Henrique (Escola Pedro Pereira) – No Pedro a grande maioria trabalha no turno inverso [das aulas], isso é uma das dificuldades que temos na ocupação. Mas o pessoal está conseguindo ficar, o pessoal vai pelo menos de noite, e daí sai para trabalhar cedo. Os estudantes estão vendo que a causa é importante e participando. A grande maioria é de classe baixa, é uma zona periférica.


“A luta dos secundaristas é necessária”, afirma Ana Laura | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Sul21 – Vocês já sabem o que vão fazer depois do colégio, querem fazer faculdade?

Ana Laura (Escola Padre Réus) – Eu quero fazer História, então provavelmente vou ser professora.

Theo (Escola Padre Réus) – Eu quero fazer Física ou Geografia, e quero ser professor também.

Isabella (Escola Padre Réus) – Eu não sei ainda, mas penso em Psicologia.

Ágatha (Escola Pres. Roosevelt) – Eu penso em três faculdades: Medicina, Veterinária ou Direito. A maioria do pessoal de lá, assim como eu, quer passar numa federal.

Maria (Escola Paula Soares) – Direito, Química ou Ciências Políticas.
“Eu estou lá porque tudo que eu faço eu procuro cumprir meu papel enquanto cidadã”

Sul21 – De forma resumida, qual vocês diriam que é o principal motivo para estarem na ocupação?

Theo (Escola Padre Réus) – Um dos principais motivos é que eu gosto muito de política e, observando a luta estudantil na história, a gente tem força suficiente para conseguir mover as coisas.

Isabella (Escola Padre Réus) – Eu estou lá porque tudo que eu faço eu procuro cumprir meu papel enquanto cidadã, e se eu não estivesse ali eu sinto que não estaria fazendo a minha parte.

Ágatha (Escola Pres. Roosevelt) – Meu principal motivo é tentar lutar por uma educação melhor. Eu tenho um irmão mais novo e quero tentar deixar uma educação boa para ele, quero que ele chegue no Ensino Médio e tenha uma educação melhor.

Antônio Henrique (Escola Pedro Pereira) – Eu diria que estou ocupando por melhorias na educação, contra o PL 44, que visa a privatização parcial das escolas, contra o PL que quer tirar a discussão de gênero da sala de aula e contra o sucateamento promovido pelo governo.

Maria (Escola Paula Soares) – Acredito que todas as nossas ações vão resultar no nosso futuro. Se a gente quer uma mudança, temos que começar agora. E como ela disse, quero que meu irmão tenha uma educação melhor e não tenha que passar por isso que estamos passando.

Ana Laura (Escola Padre Réus) – A luta dos secundaristas é necessária, e se a forma de conseguirmos mudanças é ocupando, então vamos ocupar.



http://www.sul21.com.br/jornal/secundaristas-contam-como-e-a-vida-nas-ocupacoes-e-o-que-os-move-estamos-amadurecendo/

A natureza da crise sistêmica global: às vésperas do choque das placas tectônicas do capital 30/05/2016




por Edmilson Costa [*]


 A crise sistêmica global, [1] que vem castigando os países capitalistas há mais de nove anos, sem que haja perspectivas de retomada da economia no curto prazo, está se aproximando de seu desfecho, podendo abrir um cenário inteiramente novo na economia mundial e perspectivas do acirramento da luta de classes de caráter global. Essa conjuntura pode levar a quebras generalizadas entre os grandes monopólios, aprofundamento do processo recessivo, ampliação do desemprego, dificuldades de gestão política e social do sistema, além de extraordinários e velozes levantamentos sociais tanto nos países centrais quanto na periferia capitalista. As medidas tomadas pelos gestores do capital, tanto em termos de política monetária e econômica, além da forte ofensiva contra os direitos, garantias e salários dos trabalhadores e pensionistas, aliadas aos cortes nos gastos públicos, funcionaram apenas como paliativos para evitar o colapso do sistema, mas agora esse arsenal está se esgotando e a crise profunda volta a se impor novamente porque os problemas de fundo levantados pela crise não foram resolvidos.

Vale lembrar que esta crise é muito diferente das crises cíclicas que atingem periodicamente o capitalismo desde os seus primórdios. As crises recorrentes, de tanta regularidade, já são administradas com êxito pelos gestores capitalistas desde a metade dos anos 40, mediante as políticas keynesianas. No entanto, as crises sistêmicas são de outra natureza: elas colocam em questionamento o conjunto do sistema e representam o esgotamento de um longo ciclo do capital. [2] Ou seja, a crise sistêmica global demonstra que as velhas relações de produção do mundo atual não comportam mais a estrutura material construída e desenvolvida ao longo do ciclo que está se esgotando e, por isso mesmo, a base material está se rebelando contra o conjunto do sistema e exigindo mudanças quantitativas e qualitativas, como ocorreu nas crises sistêmicas anteriores.

Por isso, as fórmulas e receitas que foram bem sucedidas nas crises cíclicas, a partir da intervenção do Estado no sistema econômico, são inadequadas para esta crise. Prova disso é que os governos dos países centrais já injetaram cerca de U$18 milhões de milhões na economia, mas a estagnação econômica e o desemprego continuam sendo um dado da realidade nesses países. É bem verdade que o grande volume de recursos tem servido apenas para salvar os banqueiros e especuladores em geral, evitar o colapso do sistema financeiro, bem como para criar bolhas especulativas nas bolsas de valores e em outros setores da economia. Como esses recursos não têm base na economia real, em algum momento o dinheiro fictício, criado a partir de ordens burocráticas dos Bancos Centrais, poderá se transformar em combustível para crises ainda maiores ou gerar uma escalada inflacionária com efeitos profundamente desestabilizadores para as economias.

Em outros termos, a economia dos países centrais continua tão ou mais doente do que no período da explosão da crise em 2008 com a queda do Lehman Brothers, com o agravante de que até os chamados países emergentes, que não foram atingidos nas mesmas proporções que as economias centrais, agora também estão em crise. Apesar dos meios de comunicação diariamente procurarem encobrir a gravidade dos problemas, informando que determinados países estão se recuperando, que as Bolsas de Valores estão prósperas, que logo haverá perspectivas de retomada do crescimento econômico e do emprego, essas informações servem apenas para confundir e desorientar os trabalhadores, retardando assim sua compreensão da gravidade da crise e reduzindo a possibilidade de se colocarem em movimento em defesa dos seus direitos e, inclusive, contra o próprio sistema.

Se analisarmos a conjuntura no coração do sistema – os países centrais em geral e os Estados Unidos e a União Europeia em particular – poderemos observar um panorama com enormes dificuldades para o capital. Se por um lado, os trilhões de dólares e euros colocados nas economias desenvolvidas conseguiram retardar o colapso do sistema, por outro, essa orgia monetária está criando economias autistas, nas quais os agentes econômicos se comportam como zumbis a caminho do precipício, muito embora nessa trajetória haja momentos de euforia, para logo depois se transformarem em perplexidade e pânico. A situação é pouco compreensível para as mentes acostumadas com a velha ordem construída após a Segunda Guerra Mundial, pois normalmente as pessoas têm dificuldades para se adaptar aos fenômenos novos, onde as mudanças são velozes e radicais. Geralmente continuam raciocinando como no passado e buscando resolver os problemas com as mesmas fórmulas de conjunturas anteriores. Qual é a situação real hoje do mundo capitalista, especialmente de sua parte mais desenvolvida?

A economia europeia vive uma estagnação prolongada a caminho da depressão, apesar das políticas de flexibilização quantitativa efetuadas pelo Banco Central Europeu. Trata-se de um continente em queda livre, com recessão, aumento do desemprego e uma crise social de vastas proporções, cuja ponta do iceberg é a tragédia grega, onde o desemprego atinge mais de 25% da população economicamente ativa, percentual que ultrapassa 50% quando se trata dos jovens. A isso se junta a crise humanitária da imigração de centenas de milhares de refugiados de regiões desestabilizadas pelo imperialismo europeu e norte-americano.

Nos Estados Unidos, a situação não é muito diferente, apesar do esforço diuturno da mídia para construir uma conjuntura favorável. A dívida externa norte-americana já ultrapassou os 100% do PIB e a cada período trava-se no Congresso uma dura batalha sobre o aumento do teto do débito, com repercussões desestabilizadoras em todo o mundo. A indústria de transformação e seu contraponto, o consumo das famílias, permanecem estagnados e o que o establishment denomina de crescimento é resultado das bolhas artificiais na órbita da circulação, especialmente na Bolsa de Valores e especulação financeira. Quando a crise se aprofundar e as bolhas especulativas murcharem aí então se poderá observar a gravidade dos problemas escondidos da população, com a desvantagem de que o governo já não terá condições para socorrer o sistema financeiro como aconteceu no início da crise sistêmica atual.

A questão do aumento do emprego merece um comentário à parte. A redução do desemprego, nos níveis anunciados pelo governo, é apenas uma miragem, fruto da precarização do trabalho e da desistência de milhares de trabalhadores que deixaram de procurar emprego. O indicador que melhor pode aferir a situação real é a relação entre a população do País e o conjunto das pessoas empregadas. Por esses dados, pode-se verificar que a relação continua muito semelhante ao período da crise de 2008, o que significa que o aumento do emprego é muito mais um contorcionismo estatístico do que aquilo que ocorre efetivamente na realidade. Para completar o quadro, mais de 40 milhões de norte-americanos estão vivendo abaixo da linha de pobreza, sobrevivendo em função dos cartões de alimentação (food stamps) distribuídos pelo governo. Para a maior economia do mundo, esse é um quadro nada alvissareiro.

Uma crise complexa, um sistema na encruzilhada

A crise sistêmica global ocorre num momento em que o capitalismo já tinha se transformado num sistema mundial completo, com a internacionalização da produção e das finanças, profunda reconfiguração de seu sistema de produção, com a emergência das tecnologias da informação, internet, da microeletrônica, biotecnologia, automação industrial, nanotecnologia, entre outros, e uma superacumulação de capitais em escala global, o que levou o sistema a buscar saída na financeirização da riqueza e na especulação financeira global. [3] Esse conjunto de novos fenômenos que foram amadurecendo das últimas décadas, alterou de maneira profunda as bases materiais do sistema produtivo, financeiro e comercial do capitalismo, as relações econômicas entre o centro e a periferia, o processo tradicional de apropriação do valor, a reconfiguração do sistema financeiro internacional e gerou a possibilidade de valorização fictícia do capital na órbita financeira ao longo das 24 horas do dia, em função da interconexão das praças financeiras, viabilizada pela internet, satélites e fibras óticas.

Para compreendermos essas mudanças, seu impacto no conjunto do sistema capitalista, além da relação com a crise sistêmica global, é fundamental avaliarmos separadamente cada um desses fenômenos, apenas para efeito analítico, uma vez que as esferas produtivas e financeiras e o conjunto de outras mudanças que ocorrem no sistema são partes constitutivas do capitalismo monopolista atual. Mas antes é necessário enfatizar que, ao contrário das duas grandes transformações produtivas anteriores (a primeira e a segunda revolução industrial), quando ocorreu um extraordinário desenvolvimento das forças produtivas, o sistema capitalista atual se encontra numa grave encruzilhada, pois está cada vez mais impossibilitado de desenvolver todo o potencial dessas novas forças produtivas em função de suas limitações estruturais, que podem ser expressas na insuficiência de demanda efetiva tanto de consumo produtivo quanto de consumo das famílias e na superacumulação de capitais, cuja expressão é a fuga para frente da financeirização da riqueza e do frenesi especulativo global, elementos que foram os principais detonadores da crise sistêmica global. Vejamos cada um desses fenômenos para compreendermos a dinâmica da crise.

a) A internacionalização da produção

O sistema capitalista, desde seus primórdios, sempre teve vocação internacional, pois a própria natureza da concorrência conduz à renovação constante das forças produtivas e à necessidade de ampliação da demanda e ocupação de novos espaços geográficos [4] . No entanto, a dimensão internacional do capitalismo só pode ser considerada plena após o processo de internacionalização da produção e das finanças. Se avaliarmos toda a história do desenvolvimento desse modo de produção, poderemos observar que esse sistema conquistou o mundo de uma maneira muito peculiar: primeiro, eliminou a ordem feudal e instituiu as relações capitalistas na produção; depois, a indústria hegemonizou as relações de produção na época concorrencial, levando à mecanização das fábricas e à primeira revolução industrial. Posteriormente, deu um salto de qualidade com a união dos capitais bancário e industrial, a reorganização do sistema produtivo e a constituição dos monopólios, período em que as grandes empresas passaram a dominar a vida econômica e ocupar as nações periféricas em busca de matérias-primas. Emergia desse processo a segunda revolução industrial. Mas a plenitude da internacionalização capitalista só pode ser considerada completa quando as grandes corporações transnacionais passaram a extrair o valor, de maneira generalizada, fora de suas fronteiras nacionais, [5] mediante a produção direta nos países periféricos, através de milhares de filiais instaladas em todos os continentes.

Ao contrário do que muitos imaginam, o processo de globalização da produção é um fenômeno típico do capitalismo contemporâneo, fruto do próprio desenvolvimento das forças produtivas capitalistas e da busca de novas oportunidades de valorização do capital, em função da mão-de-obra e matérias-primas baratas, além de vantagens creditícias e fiscais nos países hospedeiros. A partir de meados da década de 50 pode-se verificar um movimento contínuo das transnacionais no sentido de expandir sua produção para as nações da periferia. Esse movimento foi realizado levando em conta as regiões em que existia certa estabilidade política, uma mão-de-obra mais organizada e com certo grau de estudo, sem problemas tribais, guerras ou disputas territoriais, além de fontes de matérias primas abundantes. O movimento das transnacionais não ocorreu apenas no eixo centro periferia: entre os próprios países centrais verificou-se também uma grande interpenetração de capitais transnacionais, configurando-se um processo próximo a uma remonopolização global do capital e posterior consolidação de esferas de influência dos países centrais a partir dos grandes blocos econômicos e tratados comerciais.

Pode-se dizer que duas décadas depois, o processo de internacionalização da produção já estava maduro, com as corporações transnacionais presentes em todo o planeta mediante a presença de suas filiais nos mais variados ramos de produção. Essa nova performance colocou o processo de industrialização mundial num novo patamar, de forma a que as empresas transnacionais passaram a ter a possibilidade de produzir de acordo com as melhores disponibilidades de matérias primas, mão de obra cada e produtividade de cada País, sempre objetivando alcançar as maiores taxas de lucro. Com a produção padronizada e flexibilizada, cada unidade empresarial passou a ter condições de produzir as peças de acordo com o planejamento da empresa matriz, racionalizando de maneira extraordinária o processo produtivo mundial. Estavam assim construídas as bases para as mudanças profundas que viriam a ocorrer no sistema produtivo com a introdução das tecnologias da informação, da internet, da microeletrônica, robótica e novos materiais, entre outros.

Essa nova base industrial capitalismo, mais sofisticada e mais diversificada, consolidou-se nos anos 80 e 90, proporcionando um salto de qualidade ao sistema capitalista. A partir da introdução e amadurecimento desses novos ramos industriais, esse modo de produção passou novamente por uma grande transformação, uma vez que as novas tecnologias vieram revolucionar as forças produtivas e produzir um conjunto de fenômenos novos em todas as esferas da economia e da vida social. As tecnologias da informação, a generalização dos computadores, a internet, a engenharia genética e a biotecnologia, a nanotecnologia e os robôs inteligentes comandando as máquinas ferramentas alteraram de maneira radical o chão das fábricas e empresas em geral, além do perfil do proletariado – temas que iremos abordar em outra seção.

b) A internacionalização das finanças

O processo de internacionalização das finanças ocorreu no mesmo período da internacionalização da produção, até mesmo porque os grandes bancos dos países centrais já estavam umbilicalmente ligados aos monopólios produtivos. A internacionalização financeira cresceu rapidamente porque absorveu um conjunto de novas tecnologias, como os satélites, a generalização dos computadores, as fibras óticas e, especialmente, a internet. Contou ainda com uma série de mudanças econômicas e políticas que ocorreram nos países centrais, como o enfraquecimento do Estado do Bem Estar Social, a emergência política de Ronald Reagan e Margareth Tatcher, respectivamente nos Estados Unidos e na Inglaterra, e a posterior desregulamentação da economia, cujo elemento mais fundamental para a órbita financeira foi a instituição do rentismo em praticamente quase todos os países e a livre mobilidade dos capitais. Esse conjunto de fenômenos possibilitou às finanças não só um extraordinário desenvolvimento, mas principalmente certa hegemonia nos negócios do grande capital e relativa autonomia em relação à órbita produtiva.


Vale destacar que a ordem financeira construída em Bretton Woods começou a desmoronar a partir dos crescentes déficits no balanço de pagamentos dos Estados Unidos, o que levou o governo do presidente Richard Nixon a decretar o fim da paridade entre o ouro e o dólar em 1971. Diante do fato consumado, o sistema financeiro internacional, após algum período de hesitação, passou a ser administrado pelo cambio flutuante, prática que foi legalizada a partir de 1976 pelo Fundo Monetário Internacional. Ainda na primeira metade da década de 70 o sistema financeiro internacional passou por um grande processo de mudanças, impulsionado pela privatização da liquidez internacional e pela consolidação do mercado de eurodólares, especialmente após a crise do petróleo do final de 1973. Este mercado foi o principal responsável pela reciclagem dos petrodólares e pela dinamização do crédito internacional privado, especialmente para os países da periferia, cujo principal resultado foi o extraordinário endividamento desses países e, posteriormente, a primeira grande crise financeira do pós-guerra. [6]

Mas a mudança de qualidade de atuação do sistema financeiro internacional ocorreu a partir de 1979, com a administração de Paul Volcker no comando do Federal Reserve (FED) dos Estados Unidos. Diante de uma inflação crescente, Volcker implementou uma política de aumento das taxas de juros buscando atingir dois objetivos estratégicos: deter o processo inflacionário e a desvalorização do dólar. [7] Com a reorientação neoclássica da política monetária, o presidente do FED atingiu os objetivos a que se propôs, ou seja, reduziu a inflação e restaurau a hegemonia do dólar, uma vez que, em função das elevadas taxas de juros, os capitais voltaram a migrar para os Estados Unidos. O exemplo da política monetarista norte-americana foi posteriormente sendo assimilado pelas economias dos países centrais. Abandonaram as políticas keynesianas de estímulo ao crescimento econômico e do emprego para eleger o combate à inflação como estratégia geral da política econômica. [8]

A nova estratégia se transformou em política geral do grande capital internacional com a eleição de Tatcher e Reagan. A eleição destes dois personagens representou uma mudança profunda na correlação de forças internacional e entre os vários segmentos do grande capital: a oligarquia parasitária, mais ligada ao capital especulativo, passou a hegemonizar o poder nos Estados Unidos e nos países centrais. Subordinou todos os outros setores à lógica das finanças, resultando numa hegemonia que durou cerca de três décadas. Nesse processo, o sistema capitalista em geral, desde os países centrais até os mais distantes rincões da periferia, passou por um intenso processo de desregulamentação da economia, com uma ofensiva geral contra salários, direitos e garantias dos trabalhadores, liberalização financeira, fim do controle dos preços e livre mobilidade dos capitais e privatização das empresas públicas. Essa política era combinada com a retirada do Estado da economia que, para os monetaristas, era a causa central de todos os problemas econômicos.

A nova conjuntura proporcionou ao polo financeiro do grande capital um enorme poder sobre o conjunto da política econômica e os banqueiros em geral sentiram-se de mãos livres para criar novos "produtos financeiros" cada vez mais sofisticados, num frenesi especulativo que culminou num descolamento cada vez maior entre a órbita produtiva e a esfera das finanças. Especulação com moedas, taxas de juro, metais, produtos agrícolas e um conjunto infinito de novas variáveis, a partir da criação dos derivativos, e securitização de dívidas públicas e privadas tornaram-se as fontes privilegiadas dos negócios na órbita financeira. A criatividade da oligarquia financeira parecia não ter limites: para se ter uma ideia, antes da crise de 2008, o volume de recursos que circulava na esfera das finanças era cerca de 10 vezes maior que o PIB mundial, [9] fato que por si só já prenunciava um ambiente em que o resultado não poderia ser outro que uma grande crise global, uma vez que o processo especulativo contaminou praticamente todas as economias ligadas à economia líder.

Novas tecnologias e impactos na base produtiva

As mudanças tecnológicas profundas que ocorreram no interior do sistema capitalista, tais como as tecnologias da informação (telecomunicações, satélites, universalização dos computadores, internet e plataformas digitais, telefonia móvel), a microeletrônica, a robótica, a engenharia genética, a biotecnologia, nanotecnologia, além de elementos de inteligência artificial, alteraram radicalmente a estrutura produtiva do capitalismo. Relegaram a um segundo plano os ramos industriais típicos da segunda revolução industrial, como a metal-mecânica, a química fina e os plásticos. Da mesma forma que a energia elétrica, o telégrafo, o telefone e os motores a combustão revolucionaram o sistema capitalista e contribuíram decisivamente para a emergência do capitalismo monopolista e o domínio das grandes empresas em cada ramo de produção, esses novos ramos industriais, especialmente as tecnologias da informação, a engenharia genética e a biotecnologia, cumprem o mesmo papel nessa fase do capitalismo. [10]

Se analisarmos o capitalismo hoje, do ponto de vista da inovação, poderemos observar que as tecnologias da informação fazem parte de todos os processos da atividade econômica, quer na área produtiva, comercial, financeira e de serviços em geral. O planejamento industrial, o desenho do produto, a produção, as relações com os fornecedores, a administração e as vendas são todos permeados pelas tecnologias da informação. Os robôs programáveis estão presentes no chão da fábrica e cumprem um papel cada vez mais determinante nos processos produtivos das grandes empresas. Nos circuitos comerciais, os estoques, a distribuição, a estrutura de vendas e a reposição cotidiana dos produtos são feitos a partir de softwares sofisticados que possibilitam à administração central controlar o fluxo de mercadorias, o volume de vendas e os lucros em tempo real. Além disso, o comércio eletrônico vem revolucionando o comércio mundial e ocupando cada vez mais os espaços do varejo tradicional. Muitos analistas acreditam que num espaço de tempo não muito distante o comércio eletrônico deverá superar o volume de vendas das lojas e supermercados.

Na área financeira, o processo de automatização bancária, alavancado pelas tecnologias da informação, possibilitou a interconexão entre matrizes, agências bancárias e clientes, de forma que, de qualquer parte do mundo, se pode sacar dinheiro, pagar contas, fazer depósitos e realizar aplicações financeiras. As tecnologias da informação possibilitaram a interconexão entre as diversas praças financeiras mundiais, o que possibilitou a que os negócios nas bolsas de valores e nos diversos mercados se convertessem numa arena especulativa global, nos quais comprar ou vender ações de qualquer empresa, especular com moedas, câmbio, ouro, produtos agrícolas transformou de maneira radical a configuração dos mercados financeiros internacionais, especialmente com a emergência dos derivativos, cujos títulos ganharam uma dimensão tão extraordinária que passaram a hegemonizar os negócios na órbita das finanças.

A revolução das tecnologias da informação não afetou apenas os setores produtivos, comerciais e financeiros, mas atingiu toda a vida social da humanidade. Os meios de comunicações e as transmissões por satélites, os computadores e a emergência da internet e da telefonia móvel transformaram efetivamente o mundo naquilo que Marshall McLuhan denominou nos anos 60 de aldeia global. A internet permitiu uma democratização do conhecimento tão elevada que só não alcança toda a humanidade em função das limitações de classe do sistema capitalista. Hoje, a maior parte do conhecimento produzido no planeta está disponível na internet. Com um computador, um tablet ou smart fone as pessoas podem acessar vários trilhões de informações em todos os ramos do conhecimento, desde as plataformas científicas das universidades até os principais museus do mundo, realizar compras e interagir com qualquer pessoa em qualquer parte do planeta em tempo real, mediante mensagem de texto ou de voz. As tecnologias da informação têm hoje um impacto muito maior do que a invenção da imprensa por Gutemberg no século XVI.

A engenharia genética e a biotecnologia também causaram profundas alterações na base produtiva do capitalismo. Se observarmos todo o setor agrícola e de pecuária, poderemos constatar que esses ramos produtivos fundamentais para a sobrevivência da humanidade estão profundamente marcados pelas inovações tecnológicas oriundas dos desenvolvimentos genéticos e biotecnológicos. Quase toda a produção mundial de grãos, legumes e verduras é resultado de melhoramentos e ensaios realizados por pesquisadores das universidades, institutos de pesquisa e empresas públicas e privadas, fato que resultou no aumento extraordinário da produção e da produtividade agrícolas, muito embora os monopólios tenham se apropriado não só do saber milenar dos povos originários, mas do próprio processo de produção de sementes, adubos, defensivos agrícolas e do comércio em escala mundial. Além disso, a produção biotecnológica dos fármacos está bastante desenvolvida e tem produzido impactos fundamentais na indústria farmacêutica e pode, no médio prazo, hegemonizar a produção farmacêutica mundial.

De forma semelhante, os melhoramentos genéticos alteraram profundamente a produção de proteína animal, tanto bovina, como de aves e peixes. Hoje se produz frangos de corte em menos de 40 dias, quando no passado se levava cerca de seis meses para que uma ave estivesse pronta para o abate. A carne bovina está hoje muito mais disponível em função da redução do tempo de abate do gado, que foi diminuído de quatro para cerca de dois anos. Há ainda uma crescente indústria de pescado com a produção realizada em tanques artificiais, que mais parecem uma linha de produção, e que já vem respondendo por parcela significativa do consumo de peixes e crustáceos. Em função dessas transformações ocorridas a partir dos melhoramentos genéticos, pode-se dizer que a produção de proteína animal mais que quintuplicou nas últimas cinco décadas.

A microeletrônica também teve um papel fundamental para alavancar o processo de mudanças que ocorreu no interior do sistema produtivo, mediante a redução do tamanho dos bens de consumo e miniaturização das peças, cujo exemplo mais significativa são os chips não só dos computadores, mas de uso generalizado em praticamente todos os bens de consumo duráveis. A robótica também está generalizadamente instituída tanto no chão das fábricas, quanto nos setores comerciais, financeiros e de serviços em geral, ressaltando-se o fato de que na área comercial a leitura ótica agilizou de maneira expressiva o fluxo de vendas no comércio. Outro dos elementos que ainda não está plenamente integrado, mas que já vem sendo utilizado em larga escala pelas indústrias e vários setores econômicos é a nanotecnologia. Quando sua utilização estiver plena na atividade econômica poderemos ter mudanças tão significativas na base produtiva quanto as resultantes das tecnologias da informação neste momento.

O significado das transformações

Esse conjunto de fenômenos novos produziu também uma plêiade de modificações tanto objetivas quanto subjetivas nas relações econômicas, sociais, políticas e culturais no sistema capitalista. As mudanças, comandadas pelas tecnologias da informação, biotecnologia e engenharia genética e a microeletrônica, alteraram de maneira radical a base produtiva do capitalismo, de forma semelhante às duas revoluções industriais anteriores. Vale ressaltar que a primeira revolução industrial fez emergir a mecanização das fábricas e a produção em massa, deslocando os homens práticos para simples apêndices do sistema produtivo. A segunda revolução industrial e a emergência do capitalismo monopolista, possibilitaram a formação das grandes empresas e a construção das linhas de produção. Esse processo consolidou novos ramos industriais como a metal-mecânica, a química e os plásticos, resultando na produção generalizada dos bens de consumo duráveis e num impulso gigantesco para o desenvolvimento das forças produtivas. [11]

Mais especificamente, a internacionalização da produção teve impactos profundos na economia capitalista. Pela primeira vez na história, a burguesia dos países centrais passou a extrair, de maneira generalizada, o valor fora de suas fronteiras nacionais [12] , tornando assim uma classe exploradora direta tanto dos trabalhadores da periferia quanto dos próprios países industrializados. Anteriormente, o valor era capturado através do comércio internacional e da exportação de capitais. No primeiro caso, os países periféricos vendiam matérias-primas para os países centrais e compravam destes os produtos industrializados, gerando assim o que Samir Amin denominou de troca desigual, pois a produtividade dos produtos manufaturados é maior que a dos produtos de origem agropecuária ou mineral. No segundo caso, os países centrais se apropriavam dos juros e das remessas de lucro em função dos capitais investidos ou dos financiamentos realizados na periferia. Dessa forma, somente com a internacionalização da produção, o capitalismo se transformou efetivamente num sistema mundial completo.

Essa nova configuração do capitalismo, com a interconexão orgânica de sua base produtiva, transformou o mundo numa imensa fonte de matérias-primas e mão de obra à sua disposição do capital, possibilitou a padronização das peças e a produção descentralizada dos bens e transformou os velhos monopólios em corporações transnacionais, que passaram a operar diretamente no interior de cada País. Na prática, tornaram-se destacamentos avançados do grande capital, com influência direta na formulação e operação de políticas econômicas das nações onde se instalaram, especialmente na periferia. A internacionalização da produção possibilitou também o surgimento de um fenômeno novo na dinâmica macroeconômica global: a emergência de um ciclo único do capitalismo, transformando as crises, que antes eram localizadas em países ou regiões, em crises mundiais e cortando assim as rotas de fuga do capital para áreas sem crises.

Outro dado a se constatar é o fato de que as forças produtivas nas últimas sete décadas, especialmente no último meio século, criaram uma capacidade de produção tão extraordinária que deixaram o sistema com reduzidas possibilidades de desenvolver todo seu potencial, fato que o aproxima de seu limite de reprodução, dado à superacumulação de capitais e insuficiência de demanda por bens de produção e bens de consumo. Essa debilidade explica, em boa parte, o fenômeno da financeirização da riqueza ou a fuga para frente do capital buscando valorizar artificialmente esses recursos na órbita financeira através do frenesi especulativo. Sem condições de aterrisagem no chão das fábricas, uma vez que isso levaria a uma gigantesca crise de superprodução de mercadorias, o capital empreendeu essa aventura desesperada para a órbita da circulação imaginando escapar da lei do valor, mas isso apenas adiou a crise sistêmica global, que viria a se manifestar em 2007-2008.

Em outras palavras, a fuga para a financeirização é uma espécie de contraponto funcional à incapacidade do sistema de desenvolver plenamente toda sua potencialidade de produção mediante o pleno funcionamento dos novos e sofisticados ramos produtivos. As modificações também obrigaram o grande capital a realizar uma espécie de remonopolização burguesa, cujos exemplos mais significativos são as fusões e aquisições que ocorreram em escala global e que modificaram completamente o perfil societário do grande capital. Se avaliarmos o capitalismo hoje, é fácil constatar que os velhos monopólios do final do século XIX, inicio do século XXI, já não compõem mais a parte hegemônica do sistema capitalista. Foram substituídos, na maioria dos setores produtivos, financeiros e comerciais, por novos monopólios, mais sofisticados e mais ávidos por lucros, em plena sintonia com os postulados neoliberais, cuja ofensiva vem buscando refundar todos os estatutos da dominação, numa espécie de vingança histórica de classe contra o mundo do trabalho. [13]

As transformações também tiveram grande impacto no mundo do trabalho, com a mudança expressiva do perfil dos trabalhadores. Como os novos ramos industriais têm elevado grau de sofisticação tecnológica, necessitou também de uma mão-de-obra qualificada e especializada, o que deslocou para segundo plano o tradicional proletariado da segunda revolução industrial. Entrou em cena um novo proletariado, constituído pelos trabalhadores na indústria da informática, telecomunicações, telemática, plataformas digitais, desenvolvedores de softwares, engenheiros e desenvolvedores da indústria biotecnológica e da engenharia genética. Esse novo proletariado, mais jovem e mais instruído, pode ser considerado o contraponto do novo padrão tecnológico do capital.

As transformações na base produtivas também foram acompanhadas de modificações profundas na área financeira. O processo de internacionalização das finanças seguiu passos semelhantes e marcou de maneira profunda o sistema capitalista, ressaltando- se que o polo financeiro do capital absorveu de maneira plena as novas tecnologias, especialmente a internet, e registrou um desenvolvimento sem precedente em toda a sua história. Pela primeira vez, o setor financeiro conseguiu superar a barreira do espaço e do tempo econômico e conseguiu autoacrescentar o capital fictício nas 24 horas do dia, bastando para tanto ajustar seus negócios aos fusos horários das diversas praças financeiras mundiais. Esse processo transformou o polo financeiro no centro hegemônico dos negócios internacionais, a partir do momento em que consolidou a privatização da liquidez internacional com o mercado de eurodólares, ampliando esse processo com a desregulamentação e a livre mobilidade dos capitais. Nessa conjuntura, não foi difícil para o setor financeiro exercer sua imensa criatividade especulativa para transformar o mundo num imenso cassino.

Os bancos tradicionais foram cedendo espaço para novas organizações financeiras, mais ousadas e mais agressivas, cujas operações apresentavam a vantagem de não estar amarrada às regulações como as instituições bancárias. [14] Dessa forma, as aplicações especulativas se transformaram na dinâmica principal da economia capitalista. Na sua saga para se apropriar de alguma forma de valor, o capital fictício aprisionou em suas malhas tanto as empresas produtivas quanto o orçamento do Estado.


a) No primeiro caso, os fundos financeiros ampliaram sua participação na gestão das empresas produtivas e transformaram a lógica do planejamento de longo prazo em estratégia de curto prazo, própria das finanças, de forma a fazer com as empresas se reorganizassem para apresentar resultados cada vez mais robustos para os acionistas. Esse processo explica a reestruturação produtiva, a reengenharia e os círculos de controles da produção e da qualidade, as demissões em massa de trabalhadores e a gestão das empresas por critérios das finanças, onde os departamentos financeiros dessas corporações passaram a ter um papel decisivo na performance das empresas, uma vez que grande parte dos resultados são obtidos na especulação financeira. [15]

b) O Estado também caiu nas malhas do capital fictício, mediante o aumento da dívida pública e das elevadas taxas de juros cobradas pelo setor financeiro. Como os novos agentes financeiros ofereciam financiamento em abundância com maiores facilidades burocráticas e menores custos de transação, o Estado foi-se endividando continuamente a partir de uma política orientada pelos novos gestores políticos ligados ao neoliberalismo. Assim, uma parcela cada vez maior do orçamento foi sendo desviada para pagar os juros e amortizações da dívida pública até o ponto em que os próprios financiadores passaram a ditar o destino das políticas econômicas dos Estados.

A hegemonia das finanças teve como consequência macroeconômica um descolamento cada vez maior entre a órbita produtiva e a esfera financeira. Todos pareciam embriagados com o milagre da multiplicação dos lucros nas bolsas de valores e nos mercados de moedas, câmbio, metais, produtos agrícolas e, especialmente, nos chamados mercado de títulos derivativos, este último o suprassumo da especulação. Como se sabe, uma conjuntura dessa ordem, especialmente num ambiente de integração eletrônica dos mercados, os riscos sistêmicos e as rupturas de liquidez podem se propagar na velocidade da luz, podendo levar o sistema ao colapso, até mesmo porque a produção do valor é pouco expressiva diante das necessidades de valorização desses capitais fictícios. Sem bases reais de valorização, qualquer crise gera pânico e se propaga também com uma velocidade extraordinária , como aconteceu em 2008.

Esquecendo as lições do passado

A dimensão das mudanças na dinâmica do sistema capitalista e os riscos inerentes a uma grande crise não passaram despercebidos pelas mentes mais ilustradas dos gestores do capital. Eles tentaram reorganizar o capitalismo, mediante a radicalização dos mecanismos de mercado, a reestruturação produtiva, a desregulamentação e a livre mobilidade dos capitais, mas essas medidas contribuíram muito mais para acirrar as contradições do que para resolver os problemas colocados pela nova conjuntura. É um dado da realidade o fato de que as reformas realizadas no bojo da construção do pacto social-democrata do Estado do Bem Estar Social após a Segunda Guerra contribuíram para a instituição do mais longo período de crescimento e estabilidade do capitalismo, os chamados 30 anos gloriosos. A partir da segunda metade da década de 70, com a crise econômica de 1974-1975, a estagflação e o desemprego crônico, essa construção começou a ser questionada. A eleição de Tatcher e Reagan foi decisiva para a derrota do pacto social-democrata. Em seu lugar, instituiu-se uma nova política econômica inteiramente contrária aos postulados keynesianos, a partir dos países centrais, e que se tornaria hegemônica até os dias atuais.

Como na fábula do escorpião e do sapo, [16] o capitalismo não pode negar o seu DNA. O intervalo das três décadas de concessões aos trabalhadores foi apenas uma tática em função da fragilidade com que o sistema saiu da segunda guerra. Tão logo reuniu condições para retomar seu curso natural, buscou desmantelar todo o arcabouço construído quando estava frágil, investiu contra os gastos públicos, os salários dos trabalhadores e os proventos dos pensionistas. Sem condições para atuar na economia real, buscou uma fuga desesperada para a órbita das finanças, além de tentar construir uma economia de serviços, centrada na especulação financeira. Durante algum tempo essa política conseguiu levar ao delírio os setores hegemônicos do capital, mas a crise sistêmica global veio demonstrar que essa a aventura era apenas uma miragem.

Realmente, parece que os capitalistas têm memória muito curta: esqueceram-se rapidamente da Grande Depressão, da divisão do mundo em dois sistemas e das próprias concessões que foram obrigados a fazer no pós-guerra para poder sobreviver. Olvidaram-se também de que o sistema foi salvo por Keynes e sua política de intervenção do Estado na economia e gastos sociais. Como o escorpião da fábula, seguiram caminho inverso na crise sistêmica atual, mesmo sabendo que a crise já dura mais de nove anos e que até agora não se encontrou uma saída para os problemas colocados. Nessa perspectiva, os capitalistas ampliaram as medidas de expropriação dos trabalhadores, o corte nos gastos públicos e nas aposentadorias e levaram o mundo à recessão, e à queda na renda [NR] dos trabalhadores, tudo isso para continuar privilegiando uma minoria parasitária, enquanto a maioria da população está mergulhada no desemprego e na piora das condições de vida.

Mas a estratégia capitalista, apesar de prejudicar a qualidade de vida dos trabalhadores e da população em geral, tornou mais clara e aberta a luta de classes em todo o mundo. No período dos chamados 30 anos gloriosos, a luta de classes ficara ofuscada pelo ambiente social e político do pacto social. Os trabalhadores conquistaram um conjunto de direitos e garantias que aumentaram os salários e melhoraram suas condições de vida e do trabalho, especialmente nos países centrais. Entretanto, nas três décadas depois da implantação do neoliberalismo, o capitalismo voltou e demonstrar sua verdadeira face, com aumento da exploração e concentração de renda. Para se ter uma ideia, o contingente representado pelo 1% mais rico da sociedade hoje tem renda [NR] superior aos 99% da população e apenas 62 multibilionários possuem mais renda [NR] que a metade população mais pobre do mundo, segundo relatório da Oxfan. [17] Mesmo nessas condições, a minoria parasitária continua radicalizando o processo de exploração, o saque ao fundo público, as políticas predatórias contra trabalhadores e pensionistas e avançando sobre direitos e garantias conquistados com sangue no passado. Toda essa conjuntura torna mais acirrada a luta de classes e mais didática as luta contra o capital, o que prenuncia um quadro de duras lutas sociais em todo o mundo.

O choque das placas tectônicas

As transformações profundas que ocorreram na base produtiva, financeira, comercial e de serviços em geral estão exigindo novas relações de produção no conjunto do sistema capitalista como ocorreu nas duas grandes crises sistêmicas anteriores. [18] Estamos em meio ao esgotamento de um longo ciclo do capital iniciado após a Segunda Guerra Mundial e a uma rebelião generalizada da base material do capitalismo contra a velha ordem construída no pós-guerra, cujos fundamentos são inadequados para esse novo patamar de acumulação do sistema. Isso explica em grande parte o fracasso das políticas implementadas pelos gestores do capital para sair da crise, uma vez que as velhas fórmulas aplicadas no passado não resolvem os problemas do presente. Como afirmávamos em trabalhos anteriores, esta crise é profunda, devastadora e de longa duração e somente será superada quando os problemas levantados pela própria crise foram solucionados. [19] Em outros termos, a crise só será revertida com mudanças também profundas na ordem econômica, social e política capitalista ou com a emergência de uma nova ordem fundada na propriedade social dos meios de produção.

Até agora, os governos dos países centrais conseguiram reduzir os impactos mais devastadores da crise, mediante um conjunto de medidas que, apesar de negarem toda a ideologia e a trajetória neoliberal do período anterior, foram fundamentais para evitar o colapso da economia. Entre essas medidas podem se destacar: a injeção de cerca de 13 trilhões de dólares para salvar os bancos no período imediatamente posterior à crise, [20] a implantação das taxas de juros negativas e uma forte intervenção do Estado na economia, induzindo fusões e aquisições, encampando corporações quebradas e comprando títulos podres do sistema financeiro. Posteriormente, tanto o Federal Reserve quanto o Banco Central Europeu, realizaram novas injeções de moeda na economia, através das chamadas flexibilidades quantitativas (quantitative easing), mas nada disso foi suficiente para reverter a crise. Essas medidas foram objeto de intensa manipulação por parte de uma vasta rede mundial de comunicações, com o objetivo de distorcer informações e criar um clima de otimismo artificial, de forma a evitar que os trabalhadores e a população em geral tomassem conhecimento da gravidade da crise e passassem a questionar as autoridades políticas.

É bem verdade que a crise fez grandes estragos no sistema financeiro, muitas instituições desapareceram, mas o grosso desse oligopólio sobreviveu, se fortaleceu e, por incrível que pareça, continuou a política especulativa global, criando bolhas nas bolsas de valores e nos mercados em geral, inclusive nos países da periferia, e obtendo elevados lucros com o dinheiro praticamente doado pelas autoridades monetárias. A crise também provocou forte recessão nos Estados Unidos, na Europa e Japão e em muitos países da periferia, mas esse processo não se tornou mais grave porque o elevado crescimento da China (em torno de 10% do PIB ao ano) serviu para suavizar a recessão nos países centrais e, especialmente nos países emergentes, em função das importações do mercado chinês e da forte demanda de matérias-primas por parte da sua indústria. Ressalte-se que a China é responsável por cerca de 30% do crescimento mundial e por 16% da produção global, o que explica o papel da economia chinesa na redução da crise naquele período. [21]

Mas a conjuntura mudou bruscamente desde o ano passado porque todos os mecanismos institucionais e financeiros utilizados para reduzir a crise começaram a se esgotar. Parece consensual o fato de que a impressão pura e simples de dinheiro pelos bancos centrais, solução mágica sugerida por Friedman (jogar dinheiro de helicóptero), não surtirá mais efeito algum, pois a quantidade de moeda lançada na economia não só não reverteu a crise como está se constituindo numa bomba de efeito retardado. Inundar a economia com dinheiro a partir do nada, com os mercados já saturados pelo processo de emissão anterior, só aprofundaria a crise, com a emergência de novas bolhas especulativas, inflação e desvalorizações monetárias. Se a impressão de dinheiro sem lastro resolvesse as crises, o capitalismo seria um regime eterno. Portanto, esta rota de fuga está fechada.

O segundo movimento que ajudou a reduzir os efeitos da crise, o crescimento acelerado da China, também mudou bruscamente. Agora a economia chinesa está se desacelerando e o Produto Interno Bruto chinês deverá cair para algo próximo da metade do que vinha apresentando até 2014, ou seja, em torno de 5 ou 6%. A redução do ritmo de crescimento chinês levou a uma queda brusca nos preços das commodities, com impactos bastante negativos entre as economias emergentes, principais exportadoras de matérias-primas, além de reduzir as vendas para o mercado chinês. Comparado com a performance de outros países, os 6% do PIB seria um crescimento vigoroso, mas nas circunstâncias da conjuntura mundial atual, esse é um golpe muito forte para a economia do planeta, dado os impactos macroeconômicos de uma redução desse nível na cambaleante economia global. Nessas circunstâncias, a rota de fuga do crescimento chinês também está cortada.

Se as duas grandes variáveis que evitaram o colapso do sistema capitalista estão esgotadas, não deveria ser surpresa para ninguém que estejamos nos aproximando de um momento definitivo da crise, quando os efeitos do choque das placas tectônicas do capital, ou seja, as contradições mais profundas do sistema chegarão à superfície e levarão a outro momento da crise geral do sistema capitalista, muito maior do que a sua explosão em 2008.

Recessão, crise bancárias e lutas sociais

Os fortes indícios desse novo quadro internacional já estão bem visíveis, apesar do imenso poder manipulatório dos meios de comunicação. Não se trata aqui de prever o momento exato em que esse processo será detonado, mas elencar elementos objetivos da conjuntura, alguns bastante divulgados pela mídia, outros observados apenas nas entrelinhas e outros tantos baseados na experiência histórica dos antecedentes das crises.


a) A crise do sistema bancário é muito grande, a começar pelo Deutsche Bank, J. P. Morgan, Societé Generale, BNP Paribás, UniCredit e Credit Suisse, HSBC, os bancos italianos, entre outros menores. Todas essas instituições possuem grandes exposições no mercado de títulos derivativos, bem como junto às empresas da área de commodities e de energia que estão em dificuldades econômicas. Como o mercado costuma precificar o desempenho das instituições financeiras pelas expectativas em relação ao futuro, nada mais natural que o preço das ações dos bancos venha despencando em todo o mundo, movimento que continuará à medida que a crise se agravar. Como o sistema financeiro está praticamente todo interligado por dezenas de canais especulativos e de crédito, uma quebra em um dos grandes bancos ou grande empresa ligada a esses bancos pode acionar uma quebradeira geral, como ocorreu com o Lehmann Bhothers em 2008;

b) A recente queda nas bolsas de valores em todo o mundo é um sintoma de que a bolha especulativa, construída com dinheiro quase de graça do FED e do BCE, está se desinflando. As bolsas são instituições basicamente especulativas, mas não flutuam no vácuo: elas têm ligação com a economia real e as oscilações bruscas geralmente antecedem momentos difíceis para a economia. Portanto, as oscilações bruscas no preço das ações são também resultado das expectativas pessimistas dos agentes econômicos diante da recessão mundial que se avizinha nos Estados Unidos, na Europa, no Japão e nos países periféricos, além da redução do comércio mundial, retração do crescimento da China e da possibilidade de descumprimento do pagamento das dívidas públicas em função da conjuntura adversa.

c) Os reflexos dessa conjuntura nos Estados Unidos podem ser observados na crise do setor energético, em consequência da queda no preço do petróleo; na crise do comércio varejista e ainda na crise da infraestrutura do País, fato pouco comentado pela mídia corporativa. O preço do petróleo, com uma queda de mais de 75% de seu valor em relação a 2014, está não só inviabilizando economicamente a indústria de energia a partir do xisto, como tem levado à falência dezenas de empresas nessa área. Vale ressaltar que o setor de energia teve um papel anticíclico importante nos últimos anos nos Estados Unidos. Diante da queda no ritmo da atividade econômica e a redução dos salários, a crise também vem atingindo as cadeias varejistas, todas elas muito sensíveis à questão da renda [NR] da população. O Wal-Mart, McDonald, Gap, Macy, Sears já anunciaram o fechamento de centenas de lojas no País devido queda acentuada no consumo da população.

d) Empresas ligadas ao comércio de commodities, como a Glencore, a maior do mundo no ramo, Trafigura e Grupo Noble estão com grandes dificuldades não só em consequência da queda nos preços das commodities, mas especialmente porque todas elas estão expostas de maneira muito acentuada no mercado de derivativos. Ressalte-se que os bancos têm U$500 mil milhões em exposição com as empresas de commodities. Nessa conjuntura, a teia de relações entre os agentes econômicos dos mais variados setores da economia fornece mais combustível para o agravamento da crise. Basta um elemento detonador para que a crise se espalhe pelos circuitos do sistema, com as consequências que todos podem imaginar.

Mas é necessário ressaltar que esses elementos da crise representam apenas a ponta do iceberg de um processo muito mais profundo e desestabilizador que é a crise do próprio sistema capitalista. O sistema está doente e permanecerá enfermo enquanto todos os problemas colocados pela crise não forem resolvidos. Estamos nos aproximando daqueles momentos históricos em que a conjuntura pode mudar com uma velocidade extraordinária e acontecimentos antes impensáveis podem se transformar em fatos corriqueiros. Mesmo com toda a ofensiva do capital, o quadro de aparente calmaria pode mudar bruscamente se as massas se colocarem em movimento. Todas as revoltas sociais foram precedidas de uma conjuntura de aparente calmaria, mas muita tensão social.

Vale lembrar que há um descontentamento generalizado da população contra a ordem econômica, social e política do capitalismo, sistema que funciona na prática apenas para 1% dos mais ricos, enquanto os 99% são os perdedores na corrida pela apropriação da renda. Há um descontentamento ainda maior com a velha política, os políticos e partidos tradicionais burgueses e o sistema representativo e institucional apartado do povo. É um sentimento ainda difuso, mas pode se transformar em mobilizações generalizadas com o agravamento da crise. As condições em que essa minoria parasitária está levando o mundo, em função da desigualdade e do aumento da pobreza, inclusive nos países centrais, especialmente nos Estados Unidos, se assemelha muito ao período anterior à revolução francesa ou ao início do século XX, quando a luta de classe se acirrou na Europa, resultando na revolução bolchevique.

Numa conjuntura dessa ordem, o arcabouço institucional construído nas últimas décadas poderá se desarticular, porque está podre diante das necessidades de acumulação e de novas relações de produção do sistema. Esse é um processo que poderá abalar não somente os alicerces da velha economia, mas também as instituições políticas econômicas e sociais, além do poder das frações do capital que hoje dirigem o sistema capitalista. A crise poderá fazer emergir fenômenos nunca antes observados, em função dos impactos da uma desarticulação global da velha ordem, aliada a uma crise social e política de grandes proporções. Nessa conjuntura não será surpresa a emergência de manifestações das massas indignadas nas ruas de Nova York, Los Angeles, Paris, Londres, Roma, Madri, Atenas, entre outras principais cidades do mundo. Não está descartada a emergência de uma situação revolucionária de caráter global, cujo desfecho é muito difícil de prever, dada a imponderabilidade da conjuntura. [22] Mas o mundo será bastante diferente quando esta crise terminar.

27/Maio/2016 [1] Apesar de muita polêmica sobre quem previu a crise econômica mundial do capitalismo, vale registrar que foi o GEAB (Global Europe Antecipation Bulletin) quem primeiro anunciou publicamente a possibilidade de uma crise sistêmica global em seu boletim de fevereiro de 2006.
[2] Uma explicação mais completa sobre a diferença entre crises cíclicas e crise sistêmica pode ser encontra em: Costa, Edmilson. A crise econômica mundial, a globalização e o Brasil. São Paulo: Edições ICP, 2013.
[3] Para melhor compreensão destes fenômenos, consultar: Moffitt, Michael. O Dinheiro do mundo. São Paulo: Paz e Terra, 1984. Michalet, C. A. Capitalismo mundial. São Paulo: Paz e Terra, 1984. Chesnais, François. A mundialização do Capital. São Paulo: Xamã, 1996. Chesnais, François et alli. A mundialização Financeira. São Paulo: 1999. Chesnais, François (org.) A finança mundializada. São Paulo: Boitempo, 2005. Aglietta, Michel. Macroeconomia financeira. São Paulo: Loyola, 2004. Costa, Edmilson. A globalização e o capitalismo contemporâneo. São Paulo: Expressão Popular. 2009.
[4] No Manifesto Comunista Marx já identificava essa tendência: "A necessidade de um mercado em constante expansão para os seus produtos impele a burguesia a conquistar todo o globo terrestre ... A burguesia, por sua exploração do mercado mundial, deu uma forma cosmopolita à produção e ao consumo de todos os países. Para grande pesar dos reacionários, roubou da indústria a base nacional em que se assentava. As primitivas indústrias nacionais foram aniquiladas ... São ultrapassadas por novas indústrias ... Essas indústrias já não trabalham matérias-primas nacionais, mas matérias-primas oriundas das zonas mais afastadas e cujos produtos são consumidos no próprio País, mas em todos os continentes ao mesmo tempo"
[5] Um dos estudos pioneiros do processo de internacionalização da produção pode ser encontrado em: Michalet, Charles-Albert. Capitalismo mundial. São Paulo: Paz e Terra, 1984.
[6] Moffitt, Michael. O dinheiro do mundo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984
[7] Moffit, op. cit.
[8] Phihon, Dominique. Desequilíbrios mundiais e instabilidade financeira. A responsabilidade das políticas neoliberais. Um ponto de vista keynesiano. In Mundialização Financeira (coordenado por François Chesnais). São Paulo: Xamã, 1999.
[9] BIS (Banco de Compensações Internacionais). OTC derivatives Market. Activity in the half of 2009. Disponível em; www.bis.org . Acesso em 20 de novembro de 2009.
[10] Para compreender melhor as mudanças profundas provocadas pelas tecnologias da informação e, especialmente, pela internet, consultar: Castells, Manual. A galáxia da internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.
[11] Esta seção está baseada fundamentalmente em: Costa, Edmilson. A globalização e o capitalismo contemporâneo. São Paulo: Expressão Popular, 2009.
[12] O primeiro autor a se referir à produção do valor fora das fronteiras nacionais foi Michalet: Charles-Albert. Capitalismo mundial. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984, muito embora esse autor não estivesse se referindo ao processo de globalização.
[13] Costa, Edmilson. Para onde vai o capitalismo. Notas sobre a globalização neoliberal e a nova fase do capitalismo. In São Paulo: Aduaneiras, 2004.
[14] Guttmann, Robert. As mutações do capital financeiro. In A mundialização financeira: gênero, custos e riscos. São Paulo: Xamã, 1998.
[15] Serfati, Claude. O papel ativo dos grupos predominantemente industriais na financeirização da economia. In A mundialização financeira (coordenação de François Chesnais). São Paulo: Xamã, 1998.
[16] Conta a fábula que o escorpião estava à beira de um rio e queria atravessá-lo, mas como não sabia nadar, se entrasse na água morreria. Foi então que chegou um sapo ao rio e o escorpião pediu-lhe uma carona. Hesitante, o sapo perguntou se ele não o mataria durante a travessia. Prontamente o escorpião respondeu: não poderei matá-lo porque também morreria afogado. O sapo se dispôs a levá-lo ao outro lado do rio, mas quando chegou na metade do caminho o escorpião picou fortemente o sapo. Perplexo com aquela atitude suicida o sapo perguntou: por que você me picou, não sabe que iremos morrer juntos? O escorpião respondeu: desculpa, senhor sapo, é a minha natureza.
[17] www.oxfam.org . A economia para o 1%. Documento informativo 210 (Resumo em português). Acesso em 25 de fevereiro de 2016. A Oxfam é uma ONG que estuda as questões de distribuição de renda no mundo.
[18] As duas grandes crises sistêmicas anteriores ocorreram em 1873-1896 e em 1929-1945. Todas essas crises provocaram mudanças de qualidade no sistema capitalista e em sua gestão. Na primeira, a consequência mais geral foi a passagem do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista e, no segundo, ocorreu a segunda guerra mundial e a divisão do mundo em dois sistemas, o socialista e o capitalista, e no interior dos países do capitalismo central os trabalhadores conquistaram um conjunto de direitos e garantias que ficaram conhecidos como Estado do Bem Estar Social.
[19] Para uma compreensão mais profunda dos trabalhos anteriores, consultar: Costa, Edmilson. A crise econômica mundial, a globalização e o Brasil. São Paulo: Edições ICP, 2013.
[20] Whitney, Mike. 2010, o ano da contração econômica severa . Disponível em resistir.info. Acesso em 20/01/2010.
[21] Sewel, Rob. Peligro: Se aproxima una depresión mundial. Disponível em www.marxism.com . Acesso em 15 de dezembro de 2015.
[22] Há uma confusão generalizada sobre o conceito marxista de situação revolucionária. Geralmente, as pessoas imaginam que a situação revolucionária levará inevitavelmente à revolução, o que é um erro. A situação revolucionária é um período da luta de classes em que a crise do capital e as condições de vida das massas chegam a um ponto tal em que os de baixo já não aceitam viver como antes e os de cima já não conseguem dominar como sempre dominaram. Abre-se um período de luta entre os interesses dos capitalistas e dos trabalhadores. O desfecho desse processo é imponderável: tanto pode haver uma vitória dos trabalhadores, quando também pode ocorrer um retrocesso muito grande, como foi o período do nazismo e do fascismo.

[NR] Os trabalhadores não são rentistas mas no Brasil chamam o rendimento de renda.

[*] Doutorado em economia pelo Instituto de Economia da Unicamp, com pós-doutorado no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da mesma instituição. É autor, entre outros, de A globalização e o capitalismo contemporâneo (Expressão Popular, 2009) e A crise econômica mundial, a globalização e o Brasil (Edições ICP, 2013), além de vários ensaios publicados em revistas e sites do Brasil e do exterior. É membro do Comitê Central do PCB, diretor do Instituto Caio Prado Junior e um dos editores da revista Novos Temas.

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