Líbia, projeto piloto da Otan
Ángel Guerra Cabrera
Durante a investida contra Kadafi, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) aplica um projeto piloto que lhe permite intervir onde quer que lhe convenha sob o pretexto de proteger a todos os civis.
27 de Agosto de 2011 - 6h46
A coalizão imperialista propicia derrubar líderes com algum grau de insubordinação – desde rebeldes, como Kadafi, a revolucionários antiimperialistas como Hugo Chávez -, preferencialmente sobre exuberantes recursos estratégicos. Na Líbia, em outra violação flagrante do direito internacional, a aliança atlântica tomou partido do lado oposto em uma guerra civil dentro de um Estado soberano e que, além disso, seu líder obteve apoio popular e de grande parte do Exercito.
O projeto consiste em alegar que um grupo no país em questão está sendo atacado por um ditador e, recorrendo a grosseiras manipulações, superdimensionar o fato na mídia. Esta se encarrega de criar uma imagem fantasiosa do primeiro fato (rapidamente superado, se necessário, como fizeram com o movimento juvenil de Benghazi, pelo mercenário Conselho Nacional de Transição) e de demonizar o vilão do momento, embora tenha sido um "amigo" até alguns dias antes (no caso de kadafi).
Com a pressão midiática e diplomática – na Líbia foi decisiva a cumplicidade da Liga Árabe e a abstenção da China e Rússia - se alcança uma ambígua resolução do Conselho de Segurança para proteger os civis. A Otan converte em um plano para mudança de regime, combinado a uma feroz campanha de bombardeios aéreos com ações de um exército rebelde, treinado e armado, e participa de combates decisivos de uma estrutura de inteligência por satélites dos Estados Unidos, apoiado por fortes e sagazes grupos especiais de tropas aliadas de campo. Assim entraram em Trípoli.
Seguindo o plano da Otan, os meios de comunicação dominantes têm cumprido uma função militar de primeira ordem, talvez como nunca antes em uma guerra do império. Não é por acaso, como foi feito em outro momento com a televisão Sérvia, novamente foram destruídas as instalações da televisão pública líbia, com objetivos militares. Claro, com correspondentes baixas na equipe.
Trata-se, além disso, de outro grupo da contrarrevolução montada pelos Estados Unidos e pelo Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) – grupo ultrarreacionário de regiões fundamentalistas sob a liderança da Arábia Saudita – contra a rebelião dos povos árabes, que, com distintas variantes e resultados, se tem aplicado também na Tunísia, Egito, Bahrein, Iêmen e Síria. Tem sido o megamilionário e ambicioso emirado do Catar que dentro do CCG tem dedicado seus esforços para que ocorresse a intervenção “humanitária” na Líbia. Quanta semelhança com o ataque burguês-aristocrático contra a Revolução de 1848.
Com uma grande diferença. Desenvolveu-se quando o capitalismo entrava em uma de suas melhores fases, no auge, e necessitava impulsionar a produção, mas precisou fazer algumas concessões aos trabalhadores. A revolta árabe, por sua vez, como outros episódios da revolução juvenil internacional atual, explode quando o capitalismo sofre a pior crise de sua história e sua elite dirigente não mostra nenhum interesse, minimamente, na redistribuição da riqueza.
A ação da Otan na Líbia, e outra que será aplicada na Síria se houver êxito outra resolução do Conselho de Segurança – ou vai passar por cima deste? – contraria os princípios da soberania, autodeterminação dos povos, não intervenção e solução pacífica dos conflitos, contidas na carta da Organização das Nações Unidas (ONU) graças à luta dos povos contra o fascismo e o colonialismo.
Na Líbia, com já ocorreu no Afeganistão e Iraque, a Otan não vai levar nenhuma democracia – nem sequer a meramente representativa e questionada pelos povos rebeldes – não vai haver um minuto de paz durante muito tempo. Os imperialistas agressores da Líbia odeiam a democracia real, verdadeira, como solução de governo para o povo. Cegos pela arrogância colonial, não conseguem tratá-los de outra forma, senão como subordinados e atrasados povos “de cor”. A democracia que querem para nossos povos é a sua submissão ao ganhador de uma acirrada disputa pelo controle territorial da energia, água, ouro, outros minerais estratégicos e sobre os alimentos.
Fonte: La Jornada
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