Ainda que IPI, ICMS e PIS/Cofins não existissem, alguns veículos nacionais custariam mais do que os estrangeiros
SÃO PAULO - O preço de alguns carros no Brasil seria mais alto do que na matriz das montadoras mesmo se os impostos que afetam diretamente o valor final fossem zerados, como indicam dados das empresas e da Anfavea, a associação dos fabricantes instalados no País.
O Ford Focus Sedan está em situação semelhante. Sem impostos, o preço poderia cair de R$ 56.830 para R$ 39.554 no Brasil. Porém, em nova York esse veículo custa R$ 30.743 com tributação.
Entre as montadoras com sede na Europa, o carro sem impostos aqui seria mais barato do que o com impostos lá. Mas, ao retirar a tributação no Brasil e na matriz, o preço por aqui ainda é mais alto.
O Fiat Punto 1.4 2012 sai por R$ 40.308 no Brasil. Sem IPI, ICMS e PIS/Cofins, poderia custar bem menos: R$ 28.104. Na Europa, o preço é de R$ 30 mil com impostos e R$ 25 mil sem.
No caso do Volkswagen Golf, sem esses três tributos o preço seria de R$ 37.806 no Brasil. Na Alemanha, o Golf Trendline mais barato custaria a partir de R$ 33.600 sem impostos.
Além de IPI, ICMS e PIS/Cofins, as empresas pagam também Imposto de Renda e Contribuição Social, mas não é possível calcular quanto o carro custaria sem essa tributação porque as companhias não abrem seus números.
Margem de lucro
Os impostos no Brasil são mais altos do que nos países onde estão instaladas as matrizes das montadoras, como mostra um levantamento da Anfavea. No entanto, a diferença de preços é maior do que a da tributação.
Especialistas dividem-se sobre qual seria o outro fator, além dos impostos, que explica o alto preço do carro no Brasil. Uns culpam o chamado "custo Brasil"; outros, o "lucro Brasil". Essa dúvida existe porque as montadoras não divulgam detalhes sobre lucros e custos.
"Citar a influência dos impostos para falar que o preço do carro é alto não é verdadeiro. O preço de carro é alto porque, no Brasil, o volume de importados era muito baixo", afirma o consultor especializado Luiz Carlos Augusto.
Para ele, as empresas terão que "rever a margem de lucro" por causa do aumento das importações e também da concorrência interna. No início dos anos 1990, lembra Augusto, havia cerca de 150 versões de carros no Brasil; hoje, em torno de 900.
Custo Brasil
Para o economista Julio Gomes de Almeida, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), o preço alto do carro brasileiro é explicado pelo custo Brasil e pela baixa produtividade no País. Ele diz que para comparar com outros países, seria necessário considerar também os impostos que incidem sobre as matérias-primas dos carros.
A Volkswagen afirma que matérias-primas como aço e plástico custam de 30% a 40% mais no Brasil que em "outros países". A empresa diz, também que o custo da mão de obra no País está "entre os mais elevados do mundo". Questionada, no entanto, sobre o custo da mão de obra na Alemanha, a companhia não respondeu. A montadora aponta, ainda, "questões de infraestrutura" e "regime tributário" como motivos para cobrar mais pelo carro brasileiro do que pelo alemão.
A Anfavea, que representa as montadoras nacionais, divulgou em junho alguns números de uma pesquisa mostrando que produzir aqui é mais caro que em outros países emergentes, mas não trouxe detalhes sobre o custo em países desenvolvidos. Não disse, por exemplo, se produzir no Brasil é mais caro ou mais barato do que na matriz das montadoras. Questionada pela reportagem, a entidade afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que "o estudo não está mais disponível".
Para Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios, "a postura das montadoras, de evitar a divulgação do seu custo de produção, corrobora a suspeita" de que a margem de lucro no Brasil possa ser "muito superior" à de países desenvolvidos. Ele afirma, ainda, que a mão de obra no Brasil é mais barata do que na Europa e nos EUA.
Contatada pela reportagem, a Ford disse que não comentaria. A General Motors e a Fiat não responder a solicitação de entrevista.
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