Por Mauro Santayana, em seu blog
A informação de que as remessas de lucros e dividendos por parte de multinacionais – especialmente do setor financeiro e de telecomunicações – atingiram mais de 34 bilhões de dólares nos últimos 12 meses dá uma idéia da sangria com a qual estamos alimentando – com a nossa força de trabalho e de consumo – nossas ex-metrópoles coloniais, cada vez mais parecidas com um bando decrépito de vampiros lutando para não voltar ao pó.
Essa soma, de 34 bilhões de dólares, representa mais de 60% do total do déficit em conta corrente, que deve passar de 50 bilhões de dólares neste ano, apesar do aumento – que mais uma vez colocou em xeque as agourentas “previsões” dos “agentes” do “mercado” – de mais de 70% no superávit comercial deste ano.
Um caudaloso amazonas de dinheiro, que está indo para o exterior, todos os anos, em troca de absolutamente nada.
De lá, como nos tempos das caravelas, as naus só tem trazido duas coisas:
Espelhinhos, em forma de press-releases, que depois são publicados aqui pelos mesmos enganadores que continuam defendendo, na mídia, que fizemos um excelente negócio entregando para os estrangeiros nossas empresas estratégicas e nosso mercado interno nos anos 90.
E centenas de “técnicos” e “executivos”, que estão invadindo, todas as semanas, nosso mercado de trabalho – ao ritmo de mais de 50 mil licenças expedidas pelas autoridades nos últimos meses – vindos de países em crise que, como é o caso da Espanha, estão com uma taxa de desemprego de mais de 20%.
Isso quer dizer que, enquanto o Brasil luta, desesperadamente, para desvalorizar o real e aumentar as exportações, minadas por um dólar artificialmente baixo, nosso dinheiro vai para o ralo, para salvar da quebra empresas incompetentes de países idem, que só conseguiram aportar aqui nos anos 90, graças a dinheiro subsidiado da União Européia e a financiamentos – pasmem – do próprio BNDES.
Para citar apenas um caso – de uma empresa não necessariamente européia, mas de um país que está hoje com uma dívida de mais de 4 trilhões de dólares, por estar sustentando duas guerras perdidas – a American Southern Energy comprou a Eletropaulo, que tinha centenas de milhões de reais em caixa, com financiamento a juros subsidiados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
Não satisfeita de botar a mão nesse dinheiro, e de não investir o que devia na expansão da infra-estrutura da empresa, a AES atrasou várias prestações durante o Governo Fernando Henrique Cardoso, a ponto do Governo Lula ter sido obrigado a entrar na justiça em Nova Iorque para recuperar ao menos parte do prejuízo, conseguindo fazer isso com a constituição da Brasiliana, holding que reúne os ativos desse grupo no Brasil, e da qual o BNDES teve de ficar sócio.
E o que ganhamos com o maior processo de esquartejamento, desmonte e desnacionalização da economia brasileira em 500 anos de história, feito a toque de caixa e vendido como a grande panacéia para a situação do país naquele momento?
A dívida líquida praticamente dobrou em oito anos. O dólar estava a quase quatro reais em 2002. No mesmo ano, o salário mínimo valia cerca de 80 dólares. Um saco de arroz chegava a custar 12 reais no supermercado da esquina. A SELIC estava em quase 25% ao ano. Devíamos 40 bilhões de dólares ao FMI. Nossas reservas internacionais líquidas eram de menos de 20 bilhões de dólares. E isso sem contar a dívida externa do setor privado e o que devíamos ao Clube de Paris.
Para completar o descalabro, pagamos, hoje, graças a essas competentes privatizações, as mais altas tarifas do mundo em telefonia celular e internet, segundo pesquisa feita em 187 países pela União Internacional de Telecomunicações.
Agora, cada vez que um brasileiro que cai no conto das multinacionais compra um chip da Vivo, da OI, da TIM ou da Claro, paga uma conta de luz – dependendo da distribuidora – ou faz uma operação bancária com o Santander, estamos mandando esse dinheiro para uma viagem sem volta, com passagem só de ida, para países que na época não tinham nenhuma empresa que pudesse se comparar à Telebras, e que, como desenvolvedores de tecnologia de telefonia celular, eram excelentes produtores bacalhau e azeitonas
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