Enquanto a Somália sofre sua pior fome em seis décadas e o Iêmen caminha para uma guerra civil, o governo dos Estados Unidos expande sua rede de bases para realizar ataques com aviões não tripulados contra suspeitos de terrorismo em ambos os países. No Paquistão, onde a CIA aumentou drasticamente os ataques com aviões não tripulados contra alvos da Al Qaeda, a estratégia contribuiu para um aumento do sentimento anti-EUA junto à população local. O artigo é de Jim Lobe.
Jim Lobe (*) - IPS
Enquanto a Somália sofre sua pior fome em seis décadas e o Iêmen caminha para uma guerra civil, o governo dos Estados Unidos expande sua rede de bases para realizar ataques com aviões não tripulados contra suspeitos de terrorismo em ambos os países. Baseando-se em parte em novas mensagens diplomáticas estadunidenses publicadas pelo grupo Wikileaks, o jornal The Washington Post informou que as forças dos EUA lançaram ataques com aviões não tripulados nestes dois países a partir de uma instalação militar em Djibouti e planejam construir uma segunda base na Etiópia.
O The Washington Post e o The Wall Street Journal também informaram que uma base em Seychelles, que os EUA utilizaram para enviar aviões de vigilância, agora contaria com naves armadas capazes de levar sua carga mortal ao longo dos mais de 1.500 quilômetros que separam essa ilha do Oceano Índico do Chifre da África, e regressar. A nova “constelação” de bases de aviões não tripulados também incluirá uma da CIA na Península Arábica, conforme anunciado pelo governo no início deste ano. Essa instalação seria construída na Arábia Saudita, segundo um “alto funcionário militar estadunidense”, citado em um informe da cadeia Fox News.
“As operações na Arábia Saudita são a única nova expansão deste plano”, disse a fonte. “O resto está funcionando há mais de um ano, quando nos demos conta do perigo que representava a AQPA (Al Qaeda na Península Arábica)”, acrescentou. A AQPA é uma célula terrorista do Iêmen que teria consolidado seus vínculos com o grupo radical islâmico da Somália Al Shabaab. A IPS entrou em contato com o Departamento de Defesa dos EUA para confirmar se uma nova base seria instalada na Arábia Saudita, mas não obteve resposta.
No entanto, Chas Freeman, ex-embaixador do EUA em Riad, que mantém bons vínculos com o governo saudita, disse que a versão era “altamente plausível” dada a “estreita e robusta” cooperação contraterrorista entre os dois países e a proximidade geográfica da Arábia Saudita com o Iêmen.
Segundo um dos autores do informe do The Washington Post, a expansão da rede de bases aéreas teria o objetivo de “evitar os erros do passado”. “Quando a Al Qaeda fugiu do Afeganistão para o Paquistão em 2001 e 2002, passaram-se anos antes que a CIA pudesse armar um programa de aviões não tripulados capaz de colocar sob pressão a rede terrorista”, escreveu Greg Miller no site do jornal. “Essa demora, junto com os difíceis acordos para ter acesso a bases aéreas em países vizinhos, permitiu o florescimento da Al Qaeda”.
Os informes chegaram em meio a uma considerável polêmica sobre o crescente uso pelo governo Barack Obama de aviões não tripulados, que segundo seu alcance, podem levar o sinistro nome de Predator ou Reaper.
No Paquistão, onde a CIA aumentou drasticamente os ataques com aviões não tripulados (quase 200) contra objetivos de “alto valor” da Al Qaeda, a estratégia contribuiu para um aumento do sentimento anti-EUA junto à população local. Uma esmagadora maioria de 97% dos consultados em uma pesquisa do Centro Pew de Investigação realizada recentemente no Paquistão expressou uma opinião negativa em relação aos ataques com aviões não tripulados.
De fato, nada menos que o ex-comandante da inteligência do governo dos EUA, Dennis Blair, disse em uma reunião com especialistas em políticas externa e segurança nacional, em julho, que era um erro deixar que a campanha militar dominasse as relações com Paquistão, Iêmen e Somália. “Estamos alienando os países envolvidos porque os tratamos só como lugares onde vamos atacar grupos que nos ameaçam, porque estamos arriscando as perspectivas de uma reforma de longo prazo”, assinalou. Além disso, sustentou que essas operações bélicas deveriam contar o consentimento das autoridades dos países onde elas são realizadas.
Mas o novo chefe do Pentágono e ex-diretor da CIA, Leon Panetta, rechaçou essas críticas, insistindo que a estratégia tem sido e continuará sendo “efetiva para atingir a Al Qaeda e sua capacidade para planejar ataques contra os Estados Unidos”. Panetta e o Pentágono também estariam liderando um debate em Washington para ampliar a atual lista de alvos, até agora integrada só por altos líderes das redes terroristas, e que passariam a incluir também combatentes em solo.
Os aviões não tripulados se converteram na principal arma dos EUA em seus esforços para derrotar a Al Qaeda e seus aliados, ainda que tenha sido usada com menos frequência no Iêmen e na Somália que no Afeganistão, Paquistão e Iraque. Ao menos seis ataques foram perpetrados com aviões não tripulados contra supostos combatentes islâmicos no Iêmen em 2010 e em 2011, mas esse número pode ter crescido nos últimos meses devido ao colapso da autoridade do governo em várias partes desse país. Combatentes islâmicos que Washington acredita estarem ligados com a AQPA tomaram o controle de cidades perto do Golfo de Aden.
(*) Conheça o blog de Jim Lobe sobre política externa
Tradução: Katarina Peixoto
O The Washington Post e o The Wall Street Journal também informaram que uma base em Seychelles, que os EUA utilizaram para enviar aviões de vigilância, agora contaria com naves armadas capazes de levar sua carga mortal ao longo dos mais de 1.500 quilômetros que separam essa ilha do Oceano Índico do Chifre da África, e regressar. A nova “constelação” de bases de aviões não tripulados também incluirá uma da CIA na Península Arábica, conforme anunciado pelo governo no início deste ano. Essa instalação seria construída na Arábia Saudita, segundo um “alto funcionário militar estadunidense”, citado em um informe da cadeia Fox News.
“As operações na Arábia Saudita são a única nova expansão deste plano”, disse a fonte. “O resto está funcionando há mais de um ano, quando nos demos conta do perigo que representava a AQPA (Al Qaeda na Península Arábica)”, acrescentou. A AQPA é uma célula terrorista do Iêmen que teria consolidado seus vínculos com o grupo radical islâmico da Somália Al Shabaab. A IPS entrou em contato com o Departamento de Defesa dos EUA para confirmar se uma nova base seria instalada na Arábia Saudita, mas não obteve resposta.
No entanto, Chas Freeman, ex-embaixador do EUA em Riad, que mantém bons vínculos com o governo saudita, disse que a versão era “altamente plausível” dada a “estreita e robusta” cooperação contraterrorista entre os dois países e a proximidade geográfica da Arábia Saudita com o Iêmen.
Segundo um dos autores do informe do The Washington Post, a expansão da rede de bases aéreas teria o objetivo de “evitar os erros do passado”. “Quando a Al Qaeda fugiu do Afeganistão para o Paquistão em 2001 e 2002, passaram-se anos antes que a CIA pudesse armar um programa de aviões não tripulados capaz de colocar sob pressão a rede terrorista”, escreveu Greg Miller no site do jornal. “Essa demora, junto com os difíceis acordos para ter acesso a bases aéreas em países vizinhos, permitiu o florescimento da Al Qaeda”.
Os informes chegaram em meio a uma considerável polêmica sobre o crescente uso pelo governo Barack Obama de aviões não tripulados, que segundo seu alcance, podem levar o sinistro nome de Predator ou Reaper.
No Paquistão, onde a CIA aumentou drasticamente os ataques com aviões não tripulados (quase 200) contra objetivos de “alto valor” da Al Qaeda, a estratégia contribuiu para um aumento do sentimento anti-EUA junto à população local. Uma esmagadora maioria de 97% dos consultados em uma pesquisa do Centro Pew de Investigação realizada recentemente no Paquistão expressou uma opinião negativa em relação aos ataques com aviões não tripulados.
De fato, nada menos que o ex-comandante da inteligência do governo dos EUA, Dennis Blair, disse em uma reunião com especialistas em políticas externa e segurança nacional, em julho, que era um erro deixar que a campanha militar dominasse as relações com Paquistão, Iêmen e Somália. “Estamos alienando os países envolvidos porque os tratamos só como lugares onde vamos atacar grupos que nos ameaçam, porque estamos arriscando as perspectivas de uma reforma de longo prazo”, assinalou. Além disso, sustentou que essas operações bélicas deveriam contar o consentimento das autoridades dos países onde elas são realizadas.
Mas o novo chefe do Pentágono e ex-diretor da CIA, Leon Panetta, rechaçou essas críticas, insistindo que a estratégia tem sido e continuará sendo “efetiva para atingir a Al Qaeda e sua capacidade para planejar ataques contra os Estados Unidos”. Panetta e o Pentágono também estariam liderando um debate em Washington para ampliar a atual lista de alvos, até agora integrada só por altos líderes das redes terroristas, e que passariam a incluir também combatentes em solo.
Os aviões não tripulados se converteram na principal arma dos EUA em seus esforços para derrotar a Al Qaeda e seus aliados, ainda que tenha sido usada com menos frequência no Iêmen e na Somália que no Afeganistão, Paquistão e Iraque. Ao menos seis ataques foram perpetrados com aviões não tripulados contra supostos combatentes islâmicos no Iêmen em 2010 e em 2011, mas esse número pode ter crescido nos últimos meses devido ao colapso da autoridade do governo em várias partes desse país. Combatentes islâmicos que Washington acredita estarem ligados com a AQPA tomaram o controle de cidades perto do Golfo de Aden.
(*) Conheça o blog de Jim Lobe sobre política externa
Tradução: Katarina Peixoto
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