Segundo noticiou o Guardian, a Grécia lidera a taxa de suicídio na Europa. Especialistas apontam a crise económica e a austeridade como a causa do aumento de 40 por cento da taxa de suicídio desde o ano passado.
Ruínas na Acrópole, Atenas. Foto Greg Robbins/Flickr.
Antes da crise financeira e do colapso da dívida pública grega, há três anos, a Grécia tinha a menor taxa de suicídio na Europa, um rácio de 2,8 por 100 mil habitantes. Agora tem quase o dobro do número, o mais elevado na Europa, mesmo tratando-se de um país onde a religião dominante, a Igreja Ortodoxa, se recuse a prestar direitos de funeral para aqueles que ponham voluntariamente um fim às suas vidas. Também as tentativas de suicídio têm aumentado.
"Nunca é apenas uma coisa, mas quase sempre as dívidas, o desemprego, o medo de ser despedido que são citados quando as pessoas ligam para dizer que estão a pensar em pôr termo às suas vidas", disse Eleni Beikari, um psiquiatra da organização não-governamental, Klimaka, que tem uma linha de apoio a funcionar 24 horas.
Klimaka recebia cerca de 10 chamadas por dia antes da crise, mas agora recebe mais de 100 em qualquer período dentro das 24 horas.
"A maioria das chamadas são de mulheres, com idades entre 30 e 50 anos, e de homens, entre 40 e 45, desesperados com problemas económicos", disse Beikari, citado pelo jornal britânico. Os especialistas reclamam uma política nacional de prevenção do suicídio. “As estratégias preventivas têm de aumentar”, disse também Beikari.
Com a pobreza a agravar-se, o desemprego nos 18 por cento, números sem precedentes (mais de 42 por cento dos desempregados têm entre 25 e 40 anos), e um país a caminhar para o quinto ano consecutivo de recessão, o tecido social da Grécia está desgastar-se de forma impensável, todos os dias. Com mais de 20 mil sem-abrigo no centro de Atenas, cortes no financiamento público que afetam desproporcionalmente serviços de assistência social e o registo do uso de drogas em ascensão, a crise económica transformou-se também e cada vez mais num problema de saúde mental, com os casos de depressão e neuroses também a crescer, de acordo com especialistas.
Os psiquiatras têm relatado um aumento de 30 por cento na procura pelos seus serviços, ao longo do ano passado, com a maioria dos pacientes a queixar-se de ansiedade e depressão provocadas por medos e receios relacionados com a recessão e a crise financeira.
A Linha de Apoio à Criança tem sido, igualmente, inundada por chamadas. "A crise agrava claramente as relações familiares”, diz Katiana Spyrides, outro psicoterapeuta ouvido pelo Guardian. "Em particular, temos assistido a aumentos nos níveis de stresse em crianças e adolescentes que enfrentam novos problemas, tais como ver os pais desesperadamente desempregados, ou a necessidade de comprometer as suas necessidades emocionais em detrimento de outras coisas".
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