País vive uma das crises econômicas mais agudas de sua história, com taxa de desemprego de 23%
Robson Morelli, enviado à Espanha
Os dois sindicatos mais fortes da Espanha convocaram uma greve geral no país para esta quinta-feira, 29. A paralisação vai ser de um dia apenas e deve contar com a adesão de 35% a 45% dos trabalhadores, conforme expectativa dos analistas. Os transportes públicos de cidades como Madri, por exemplo, vão funcionar com 30% de sua capacidade, o que deverá gerar muita demora e espera sobretudo nas estações de metrô. A promessa é de que o comércio também feche suas portas. Até a tarde desta quarta-feira, funcionários de restaurantes e bares ainda não sabiam se estavam liberados para aderir ao movimento grevista. Segundo os dois líderes sindicais mais influentes do país, Ignacio Fernández Toxo (CC OO) e Cândido Méndez (UGT), motivos não faltam para parar a Espanha, que vive uma das crises econômicas mais agudas de sua história, com taxa de desemprego batendo nos 23%.
Só em Madri são 635 mil desempregados. Há no país 5,27 milhões de pessoas sem trabalho - 1 milhão a mais desde que o governo espanhol entrou em estado de alerta a reboque dos percalços financeiros da Grécia. De lá para cá, 3 milhões de trabalhadores perderam o posto. É possível ver nas ruas de Madri boa parte desses desempregados, alguns viraram pedintes em esquinas e no metrô. Mesmo assim, a ordem ainda prevalece na cidade.
As centrais sindicais informam que 2,6 milhões do total de desempregados na Espanha estão sem ter o que fazer há mais de um ano. Os mais atingidos são os jovens até 25 anos. Eles representam quase 50% do total de desempregados. Alguns deles passam o dia sentados nas praças e bancos das avenidas de Madri, quase sempre em grupos.
A sociedade espanhola se transforma de forma acelerada. E para pior. Restaurantes e lojas estão vazios em Madri a maior parte do expediente. Esse cenário contrasta com as ruas cada vez mais cheias. Pedro Reques Velasco, catedrático de geografia humana da Universidade de Cantabria, informa em seu artigo no diário Cinco Días desta quarta-feira, 28, que, desde 2000, 900 mil cidadãos da classe média passaram a fazer parte dos mais desfavorecidos. Desceram na escala social.
Esta é a sétima greve geral que a Espanha faz nos últimos anos. A última foi em 2010. Dentre os problemas que motivaram a convocação da paralisação há dois que saltam aos olhos dos líderes sindicais: o arrocho salarial dos que "ainda" estão empregados e falta de diálogo dos representantes dos trabalhadores com o governo. "O governo ignorou olimpicamente todas as nossas propostas. E os patrões estão se valendo e tentando se safar como mensageiros do medo", contestou Fernández Toxo, da CC OO. O sindicalista cobra uma reforma trabalhista profunda no país.
De acordo com os analistas políticos, o resultado da greve geral desta quinta-feira (o tamanho de sua adesão) poderá fortalecer ou enfraquecer de vez os líderes sindicais. Se a paralisação der em nada, o governo terá caminho aberto para recuperar o país do jeito que quiser.
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