Autora: Nádia Pontes – Revisão: Roselaine Wandscheer
Estudo revela como as nações que clamam território no Ártico estão se equipando para manter controle da zona gelada. Corrida é alimentada pelas riquezas escondidas debaixo da paisagem branca.
A defesa do território gelado e inóspito do Ártico entrou na lista dos gastos militares dos países com área costeira na região. Um estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa sobre a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês), revela como Canadá, Dinamarca, Noruega, Rússia e Estados Unidos estão investindo para não perder o controle das zonas onde clamam soberania.
A alteração do foco não é por acaso: as mudanças do clima estão deixando o Ártico – e todos os recursos naturais escondidos sob a paisagem branca – mais acessíveis. “No passado, o Ártico era somente gelo e neve, e ninguém queria ir até lá. Mas hoje é preciso manter a atenção”, disse Siemon Wezeman, autor do estudo, em conversa com a DW Brasil.
A cobertura de gelo no Oceano Ártico retraiu cerca de 30% desde 1970, lembra o Conselho Nórdico. Cientistas da NOAA – agência meteorológica ligada aos Estados Unidos – que estudam a vasta área que envolve o Círculo Polar Ártico apontam um aumento das temperaturas durante a primavera no Alasca e no norte da Europa, além da mudança da vegetação de tundra para pântano em zonas da Sibéria, Canadá e Alasca.
Canadá, Dinamarca e Rússia se destacam com uma política internacional de defesa do território, com aumento da presença militar na região. A Noruega transferiu parte das suas operações para o norte – os Estados Unidos, por outro lado, são os que menos dão importância ao Ártico.
No campo político, há o consenso de que a região precisa de mais vigilância. “É uma questão de tempo até que a passagem da parte norte do Oceano Atlântico até a Rússia seja aberta. A partir desse momento, teremos que ter algum tipo mais severo de vigilância”, adiantou o cenário Kimmo Sasi, presidente do Conselho Nórdico.
Fundado em 1952, o conselho, que reúne os cinco grandes países do norte da Europa (Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega, Suécia) e representantes das regiões autônomas dinamarquesas Groenlândia e ilhas Faroer, e do arquipélago Aland, da Finlândia, já discute os próximos passos. “A Otan deve assumir a tarefa (de vigilância), Finlândia e Suécia podem cooperar de forma independente”, completou Sasi.
Força militar no gelo
O Canadá priorizou a defesa do Ártico numa nova estratégia de investimento nas forças armadas. Os 18 aviões equipados com sistema antissubmarinos serão substituídos por novas aeronaves até 2020, e veículos aéreos não tripulados estão na lista de compra. Em terra, a força paralimitar na região deve aumentar de 4.100 para 5 mil até o final do ano e a patrulha marítima será reforçada com seis a oito navios, além de um novo quebra-gelo militar, com custo estimado em 720 milhões de dólares canadenses.
O governo dinamarquês planeja criar uma força especial para operar na Groenlândia e em outras regiões do Ártico, sendo que o número de fragatas passará de três para cinco. Até 2017, um terceiro quebra-gelo será reunido aos dois navios que fazem patrulhamento.
A Noruega, por outro lado, mantém uma política fortemente focada na Rússia, mas o país nórdico se voltou, mais recentemente, para a questão dos potenciais conflitos no Ártico. Um exemplo é a compra, em 2011, de embarcações da classe Fridtjof Nansen, mais aptas a operar na região.
Já a Rússia expõe claramente sua posição: o Ártico deve ter a importância de uma das principais fontes de recursos naturais até 2020. O país prevê conflitos de interesses na região, com outras nações clamando exploração econômica exclusiva em algumas zonas do Oceano Ártico. A frota russa inclui submarinos nucleares com lançador de míssil balístico. As operações dessas embarcações na região do Ártico se intensificaram em 2009, diz o estudo.
A defesa do Ártico, por enquanto, não parece estar na lista de prioridade dos Estados Unidos, aponta a pesquisa. Apesar de as atividades comerciais serem crescentes no local, o governo ainda não anunciou uma estratégia especifica de segurança.Muitos interesses e potencial de conflitos
Apesar de os países estarem se armando especificamente para vigilância do Ártico, Siemon Wezeman ressalta que os governos em questão estão engajados em resolver qualquer futuro problema de maneira diplomática. “O maior problema que vemos é que, pelo fato de terem mais armas e mais operações na região, há chance de que as unidades militares se encontrem e, com as coisas não muito esclarecidas, eles comecem a apontar armas uns para os outros. Ou qualquer comportamento dúbio pode provocar incidentes que tenham um efeito maior do que o esperado”, apontou Wezeman.
O cenário provoca desconfiança, mas Kimmo Sasi garante que a situação política no Ártico é calma. “Não há tensões exacerbadas. Todos os países estão analisando como escavar e usar os recursos naturais da região. E os países nórdicos estão muito conscientes de que isso será feito de maneira ecológica”, garantiu.
Estima-se que o Ártico armazene a maior reserva de petróleo inexplorado do mundo. Segundo uma análise do governo norte-americano, a região armazena 13% das reservas de petróleo e 30% das de gás natural ainda não descobertas.
Outros recursos, como carvão, urânio e diamante, são explorados no território gelado e a prospecção de minérios aumentou consideravelmente. “Muitas minas serão abertas na região, já existem algumas sendo operadas. Quanto ao transporte desses bens, os países nórdicos deverão tomar essa decisão conjuntamente para a construção de ferrovias ou abertura de novas rotas da Finlândia e Suécia para a Noruega”, afirmou Sasi.
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