Vladimir D. Micheletti - Prof. FEAC/UFAL
Artigo enviado pelo autor
Recebe e-mails em: vlamiche@ofm.com.br
Comecemos
por diferenciar o(a) psiquiatra do(a) psicólogo(a). O primeiro é formado em
medicina antes de se especializar na psiquiatria e, de modo geral, assume que a
doença mental é de consequência de algum tipo de doença geneticamente
determinada; e geralmente prescreve drogas como primeira instância para o
tratamento da suposta doença. Mais, a esquizofrenia, por exemplo, foi
praticamente eliminada do CID-10 (Código Internacional de Doenças) porque
pulverizada numa série de outras síndromes e transtornos, sendo que o teórico da
Psiquiatria, H.Stack Sullivan, na década de 40 do século passado, já havia
estudado e pesquisado profundamente a
Esquizofrenia
como um Processo Humano,
e, em seguida, escreveu outros livros, sendo que os dois mais importantes
são
Fusão
da Psiquiatria com as Ciências Sociais
e
Teoria
das Relações Interpessoais,
no
entanto, este foi “rotulado” de gay e seus estudos deixados de lado também pelo
fato de que os avanços da neurociência e a descoberta da estrutura do DNA
alegraram, entusiasticamente, os psiquiatras por acreditarem que estas trariam a
ligação que precisavam para provar que as “desordens psicológicas” tinham bases
biológicas. [1] No entanto, com a decepção,
acabaram por assumir aquilo que Kandel, da neuropsiquiatria e Prêmio Nobel de
medicina, descreveu como “Nova Ciência da Mente”, mas como sendo uma doença
mental – a tal “bipolaridade”.
O
segundo, o(a) psicólogo(a), que promove a psicologia-clínica, tem a formação em
Psicologia, a qual parte das Ciências Sociais ou Humanas para compreender a
mente, e logicamente, o comportamento do indivíduo, sendo, no entanto,
severamente ofuscada pela Psiquiatria que, por sua vez, reclama como sendo não
científico e “criminoso” todo ato ou súplica do segundo para que o primeiro pare
ou diminua a prescrição de drogas ao paciente em questão que teve sua autonomia
roubada, mesmo porque, sequer foi perguntado se prefere o tratamento
medicamentoso ou o psicanalítico, e no caso das crianças e adolescentes, são os
pais que decidem, geralmente em momentos de fortes
emoções.
É
importante salientar que a Psicologia, além de ofuscada pela Psiquiatria, carece
daquilo que, grosso modo, poderíamos chamar de estatuto de Ciência; em outras
palavras, baseia-se num amontoado de teorias de várias outras áreas da Ciência
(Sociologia, Antropologia, etc.) e, na maioria das vezes, até contraditórias,
por exemplo, Teoria dos Jogos, da Escolha Racional, etc., sendo que, muitas
delas carecem do fundamento matemático e/ou estatístico. Resumindo, carecem de
um amalgamador que só a Teoria Socioeconômica Marxista pode
oferecer.
O
presente artigo não tem a menor pretensão de ser anti-psiquiátrico; ao
contrário, é o de trazer à tona, ao debate, aquilo que não pode mais ficar
restringido só à jurisprudência, mesmo porque, a simples decisão - ainda que
tomada em momentos de muita preocupação e angústia - de levar o(a) filho(a) ou
parente à Psiquiatria já basta para vestirem a camisa de força, sendo esta a
mais sutil das armadilhas, porque rendosa e meticulosamente industrializada como
rede.
Considerando
que a armadilha é um dispositivo no qual é fácil entrar, mas é difícil, mesmo
impossível, sair. O gatilho em que pousam os pássaros atraídos pela comida, ou a
ratoeira que se fecha sobre o rato que acorre ao cheiro do queijo, são exemplos
conhecidos de armadilhas, mas, talvez, a melhor armadilha, a mais sutil, mais
leve, quase imaterial, é a rede de pesca. Quando os peixes entram na rede, ela
os acolhe sem violência: só quando tentam livrar-se é que acabam bem presos nas
malhas, sem poder movimentar-se. Assim acontece com os pacientes da psiquiatria
que, partindo do tratamento medicamentoso, tornam-se dependentes e quando
quiserem sair ou negar as drogas, acabam confirmando o laudo ou a doença por se
comportar agressivamente ou mesmo cometendo crimes que só mesmo o
surto-psicótico (resultado do tratamento medicamentoso) poderá explicar,
enquanto isso muitos se locupletam, porém à pessoa armadilhada resta a
resignação à vida, à família, a tudo que de bom existe.
Sendo
assim, o objetivo principal do presente artigo é não só abrir o debate como
também apresentar aquilo que os psiquiatras reclamam à Psicologia e às Ciências
Sociais e Humanas, porém não como algo já elaborado, mas como algo a ser
construído em conjunto com profissionais – sejam psicólogos, psiquiatras e/ou
outros -, mas com a clara e objetiva intenção de resolver o problema tanto na
teoria como na prática.
Para
adentrarmos nesse debate porvir, é fundamental a leitura do artigo publicado
no
Le
Monde Diplomatique (Brasil),
ano 5, número 53, com o título:
O
Florescente Mercado das “Desordens Psicológicas”.
Mesmo
porque, nós Marxistas – do mesmo modo que conseguimos objetivar ou concretizar
aquilo que até então era considerado “alma”, “personalidade” e até mesmo segredo
para muitos, ou seja, o valor (essência) da mercadoria que sempre nos foi
apresentada com preço (forma aparente do valor) através da categoria até então
incompreendida, o valor de mercado no mundo das mercadorias – temos o fundamento
matemático (e estatístico) daquilo que, com certeza, poderá devir como Teoria da
Dinâmica da Família, ou seja, aquilo que guiaria todos nós, independentemente de
sermos pacientes ou profissionais da área médica, das Ciências Sociais e Humanas
ou do Direito. Mais, amalgamaria as teorias a ponto de nos fornecer a linha
mestra para obtermos os resultados esperados.
O
que nos garante isso? É justamente a bipolaridade ou dialética materialista dos
fatos sociais, ou seja, se o valor de mercado exige a construção de uma Agência
realmente Reguladora para ser trazido à tona no mundo das mercadorias (Mundo
Material), o mundo oposto ou Mundo Imaterial também requer regulação, sendo que
a Agência Reguladora deste Mundo Imaterial tende a ser a - e existem grandes
possibilidades para consolidação desta – família feliz dos contos de
Tolstói.
“Nóis”
é errado, sem dúvidas, não porque bebemos e discutimos nas “nights” dos bares,
mas porque fomos impedidos – pela Psiquiatria - de fazer isso e muitas outras
“coisas” úteis socialmente na Universidade que, por sua vez, não contente com o
domínio do território judiciário, agora deseja se apoderar de nossas mentes,
pacientando as crianças e adolescentes e diagnosticando-nos como bipolares e
assim garantindo lucros exorbitantes às indústrias farmacêuticas e a própria
locupletação, mas fugindo, como a diabo foge da cruz, da arena do debate livre e
irrestrito da Universidade.
Sendo assim, antes mundanos como
nós – marxistas - do que desvairados como pseudo-intelectuais e
falsos-fisiocratas. Mesmo porque, as sinapses têm mostrado – e quem puder ver,
como Kandel fez através de tecnologias microscópicas modernas [2]- aquilo que Marx leu no livro de
Joseph Dietzgen - A Natureza do Trabalho da Mente Humana: uma introdução às
dialéticas [a agora constatada em nosso organismo e as outras] - e exclamou:
“eis aqui nosso filósofo!”.
A
citação do prefácio da primeira edição de “O Capital” de Karl Marx: “A forma valor, cuja figura acabada é a
forma do dinheiro, é muito simples e vazia de conteúdo. Mesmo assim, a mente
humana tem procurado fundamentá-la em vão há mais de 2000 anos, enquanto, por
outro lado, teve êxito, ao menos apaixonado, a análise de formas muito mais
complicadas e replenas de conteúdo. Por que? Porque o corpo desenvolvido é mais
fácil de estudar do que célula do corpo. Além disso, na análise das formas
econômicas não podem servir nem de microscópio nem de reagentes químicos. A
faculdade de abstrair [a mente] deve substituir ambos” – também nos encoraja
a isso, portanto, fica fácil perceber – e nem precisamos de macro / microscópios
e reagentes químicos – que, ao diagnosticar qualquer pessoa como doente mental e
ao prescrever as drogas, o(a) Psiquiatra está destruindo não só a pessoa, mas a
família, a profissão, etc.
E
nós temos prova disso, enquanto que a Psiquiatria não tem uma prova sequer de
sucesso com o propalado tratamento medicamentoso.
Ao
debate companheiro(a)s!
__________________________
Notas
de rodapé
[1]
É importante salientar que o único transtorno ou doença mental que tem base real
ou biológica é a cleptomania, isto é, se o indivíduo nunca roubar, nunca poderá
ser diagnosticado pelo psiquiatra como sendo cleptomaníaco, mas se roubar e
tiver condições de pagar um “bom” psiquiatra, será diagnosticado como
cleptomaníaco e assim não será “rotulado” de ladrão de
galinhas.
[2]
KANDEL, Eric R.
In Search of Memory: the emergence of a new Science [Em busca da
memória: a emergência de uma nova ciência]. New York: Norton & Company, 2006
[Já existe traduzido para o português].
Nenhum comentário:
Postar um comentário