A BluePex é uma pequena empresa de
soluções de segurança, com sede na cidade de Campinas, interior de São
Paulo. No final do ano passado, ela ganhou uma grande missão:
desenvolver um antivírus 100% nacional capaz de proteger os 60 mil
computadores do Exército Brasileiro.
Ulisses Penteado, gerente de operações da
BluePex, é um dos responsáveis pelo desenvolvimento do software de
segurança, chamado AvWare Defesa BR. Quando alguém lhe pergunta se isso
não é um negócio arriscado, já que existem empresas famosas e com
soluções bem estabelecidas no mercado, ele não titubeia e diz: `Não
quando o parceiro é o Exército Brasileiro`.
Nesta entrevista, ele conta quais são os
desafios para vencer essa missão. E, principalmente, como ele vai tentar
transformar o antivírus num sucesso e deixá-lo entre os cinco mais
vendidos do país.
Como transformar um produto com
menos de dois anos de vida em um software capaz de proteger computadores
com informações delicadas e críticas, como os do Exército?
O software realmente é novo,
principalmente quando comparado às soluções tradicionais do mercado. Mas
com a parceria do Exército, a BluePex segue finalmente o caminho que
muitas empresas de antivírus trilharam: o de poder trabalhar em conjunto
com grandes especialistas, que são muito bem preparados e capacitados
em desenvolvimento de sistemas fortes e resistentes a ataques digitais.
Com o apoio deles, o AvWare Defesa BR passa por testes avançadíssimos
que medem sua capacidade de proteção. Por causa desses processos, o
software está muito aprimorado e avançou muito em relação às suas
primeiras versões. É um software diferente, diria. Já se encontra num
nível similar e, dependendo do ponto de vista, até mais avançado do que
os estrangeiros.
Qual tecnologia o faz diferente dos antivírus tradicionais e de empresas multinacionais?
O AvWare Defesa BR é obviamente preparado
para detectar vírus de todos os tipos. Só que ele tem uma grande base
capaz de detectar vírus que só costumam circular pelos computadores
brasileiros e que, geralmente, visam a informações bancárias ou a roubo
de informações. Além disso, ele tem um módulo de captura remota de
telas. A solução pode interessar a empresas que precisam monitorar seus
empregados.
Como vocês ganharam a licitação do Exército?
Para a licitação de software de segurança
de PCs, o Exército colocou no edital que a empresa fornecedora de
antivírus deveria ser obrigatoriamente brasileira. E que a tecnologia
também deveria ser. A BluePex e mais uma empresa se qualificaram para a
disputa. No final, a gente acabou levando a licitação, no valor de 800
mil reais, por termos atendido os requisitos. Temos até o final deste
ano para instalar o AvWare Defesa BR nas 60 mil máquinas do Exército. No
momento, ele roda em alguns computadores, já que está em processo de
homologação.
E quais os desafios desse projeto?
Eu diria que é deixar o AvWare redondo,
ou seja, com uma interface intuitiva, rápido e muito eficiente na
proteção. Ele terá que funcionar bem em um parque de computadores com
diversas configurações. E chegar ao ponto certo é um pouco trabalhoso,
porque exige vários testes e levar em conta opiniões de diversos
usuários. Mas como a equipe de tecnologia do Exército nos auxilia
bastante, estamos conseguindo evoluir bem.
Por que o Exército preferiu uma solução nacional incipiente ao invés de uma solução já estabelecida no mercado?
O Exército Brasileiro quis uma empresa
brasileira por dois motivos. O primeiro deles é para fomentar a
tecnologia nacional. As Forças Armadas de qualquer país têm esse viés de
desenvolver os vários ramos industriais. E com as brasileiras não é
diferente. O segundo, e talvez mais importante deles, é que o exército
não quer mais trabalhar com empresas estrangeiras. Elas, numa possível
guerra cibernética, poderiam demorar para atender as demandas do Brasil.
E, também, favorecer seus governantes – numa guerra, tudo pode
acontecer. Outro motivo é que uma empresa nacional, como a BluePex, pode
criar um centro de atendimento específico pra o Exército – desse modo, o
suporte é rápido e o quartéis não vão precisar enviar arquivos
infectados para serem analisados em outro país.
Como o Exército será capaz de ajudar a BluePex?
Ele já colabora com seu conhecimento para
deixar o antivírus mais poderoso. E a ideia é usar essa parceria para
dizer aos consumidores brasileiros que um software nacional protege os
60 mil computadores do Exército do país. Isso nos dá credibilidade e,
obviamente, sensibiliza muito consumidor. Afinal, o Exército é um órgão
que exige muita segurança e seriedade dos seus fornecedores. E com a
gente não está sendo diferente.
A empresa espera chegar onde com o AvWare Defesa BR?
Com o contrato do Exército, a BluePex
aprimorou bastante os seus processos para atender uma base grande de
computadores que têm o antivírus. Até o ano passado, a gente não sabia
muito bem como lidar com isso. Agora, estamos com servidores robustos,
equipes treinadas e capacitadas, uma equipe de engenharia afinada para
entregar um bom nível de serviço para os usuários do nosso antivírus.
Isso nos dá confiança para encarar outras licitações públicas e oferecer
nossa solução no mercado corporativo. Nossa ideia é estar, em pouco
tempo, entre os cinco melhores antivírus do país.
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