Por Tahiane Stochero
Militares brasileiros realizaram pela
primeira vez o reconhecimento de uma área na fronteira do Brasil com o
Suriname e a Guiana considerada até então desconhecida pelos órgãos
públicos.
Segundo o general Eduardo Villas Bôas, comandante militar da
Amazônia, o levantamento ocorreu devido ao “grande desconhecimento” da
região ao norte do Rio Trombetas, no Pará, e na tríplice fronteira.“É uma área de difícil acesso, com rios cheios de cachoeiras, não navegáveis, grande vazio populacional e mata fechada. Considerávamos uma região de sombra, que nunca havíamos pisado antes, pois não tem como chegar lá por estradas, embarcações ou aeronaves”, disse o general ao G1.
“Por isso, determinei que uma tropa especializada fosse esmiuçar a mata e coletar informações”, acrescentou.
Durante a operação, realizada neste mês,
16 integrantes da Força 3 – unidade formada por Comandos e Forças
Especiais (a tropa de elite do Exército) e baseada em Manaus (AM) –
ficaram 13 dias na floresta amazônica.
A missão era mapear tribos isoladas, garimpos ilegais, pistas
clandestinas e outros crimes transfronteiriços, de acordo com o
comandante da Força 3, tenente-coronel André Lúcio Ricardo Couto.A ação começou a partir do pelotão de fronteira de Tiriós, localizado a 12 km da divisa do Pará com o Suriname. A partir dali, os soldados seguiram de helicóptero até dois pontos fictícios próximos aos rios Curiau e Cafuni, que ingressam no Brasil a partir do Suriname e da Guiana e, no Pará, formam o Rio Trombetas.
As coordenadas exatas não são divulgadas por questões estratégicas, pois nos locais o Exército pretende implantar futuramente novos pelotões de fronteira.
No total, a área percorrida tem 400
quilômetros de extensão na fronteira do Pará com Suriname e Guiana,
segundo o coronel André Lúcio. “Em localidades que imagens de satélite e
mapas apontavam como sendo habitadas por tribos, não encontramos nada.
Também descobrimos pequenas pistas de pouso próximas a terras indígenas,
que podem ser usadas por garimpeiros”, disse.
Ao localizar pequenos grupos de
indígenas, os militares desciam de rapel na mata e passavam alguns dias
na localidade coletando dados.
Foram descobertos pontos de tráfico ilícito de dois pássaros
silvestres – curió e bicudo – e duas trilhas clandestinas que levam
brasileiros para o trabalho ilegal em minas do lado surinamês, uma delas
cruzando terras indígenas.
Duas aldeias, do outro lado da fronteira,
são a porta de entrada para os garimpeiros – uma maior, a cinco dias da
linha que separa os dois países, e outra menor, a apenas seis horas de
caminhada do Brasil.
Os dados coletados pela tropa serão
compilados em um relatório que será repassado para diversos órgãos
públicos, como Funai (Fundação nacional do Índio) e Ibama (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), que têm
interesse em saber o que ocorre na área, informou o general Villas
Bôas.
O envio dos militares da Força 3 à área inóspita ocorreu durante a
Operação Ágata 4, que reuniu mais de 8,5 mil militares para reprimir
crimes nas fronteiras de Amazonas, Roraima, Pará e Amapá.
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