30th abril
2012
O que aconteceu no mundo desenvolvido nos últimos trinta anos foi, basicamente, um assalto legalizado das grandes corporações e dos bilionários aos cofres públicos por meio de artifícios que lhes permitiram pagar cada vez menos impostos.
Ronald Reagan nos Estados Unidos e Margaret Thatcher no Reino Unido comandaram uma concentração indecente de renda. Os dois levaram ao estado da arte o conceito de governo dos ricos, pelos ricos e para os ricos sob a fachada da desregulamentação e em meio a odes fanáticas à liberdade do mercado.
Não chega a ser surpresa a revelação neste final de semana pelo New York Times da imensa criatividade da Apple para pagar o mínimo de impostos – tudo dentro da lei. O mesmo engenho no marketing e na feitura de novos produtos, nota o NYTimes, a Apple mostrou na contabilidade.
Embora o grosso de suas operações esteja nos Estados Unidos, a Apple dá um jeito de transferir o pagamento de boa parte do imposto devido para países em que as taxas são baixíssimas. Um especialista calculou que apenas no ano passado a Apple deixou de pagar entre 2,4 e quase 5 bilhões de dólares à Receita Federal.
No esforço de não pagar impostos, a Apple — cujo quartel general é na Califórnia — montou uma operação em Nevada, onde a taxa é zero. Nevada hospeda, pelas mesmas razões, também a Microsoft de Bill Gates – que depois posa de filantropo. (Filantropia é em geral um embuste: de ricos espera-se que paguem impostos em vez de dar migalhas.)
Do outro lado do Atlântico, aqui na Inglaterra, neste final de semana um levantamento do Sunday Times mostrou que em 2011 os multimilionários ingleses ficaram ainda mais ricos – enquanto o país estacionava numa recessão que vai cobrando um preço alto dos chamados 99%.
Como esperar que os 99% aceitem os sacrifícios que muitos governos pedem para combater a crise econômica quando o 1% acumula cada vez mais dinheiro?
O caso da Apple está provocando um enorme barulho.
Mas é apenas um entre tantos, e tantos, e tantos.
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