Resultados preliminares da eleição presidencial egípcia divulgados na 
sexta-feira indicam que o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohamed 
Mursi, irá enfrentar o brigadeiro da reserva Ahmed Shafiq no segundo 
turno, em 16 e 17 de junho.
Os resultados oficiais estão previstos apenas para terça-feira, mas um 
juiz envolvido na totalização disse que, com 90 por cento das urnas 
apuradas, Mursi e Shafiq lideram. O esquerdista Hamdeen Sabahy aparece 
em terceiro, segundo essa fonte.
Funcionários da Irmandade Muçulmana disseram que seu candidato teve 25 
por cento dos votos, e que Shafiq ficou em segundo lugar. De acordo com 
essa versão, porém, Sabahy ficou em quarto lugar, atrás do candidato 
islâmico independente Abdel Moneim Abol Fotouh.
O primeiro turno, realizado na quarta e quinta-feira desta semana, 
polarizou os egípcios entre aqueles que desejam evitar a eleição de um 
político religioso e os que temem a volta de políticos ligados ao 
deposto regime de Hosni Mubarak - de quem Shafiq foi o último premiê.
Shafiq, conhecido por seu jeito direto de falar, era o azarão numa 
disputa em que o ex-chanceler Amr Moussa e o ex-membro da Irmandade Abol
 Fotouh despontavam como favoritos.
Sua ascensão reflete a preocupação de muitos egípcios com a desordem e 
com a violência política que assola o país desde a deposição de Mubarak.
A eleição, que pela primeira vez na história egípcia representa uma 
disputa real, marca o apogeu de uma turbulenta transição desde a revolta
 que derrubou Mubarak, há 15 meses. Mas o segundo turno pode motivar 
mais distúrbios, pois adversários de Shafiq prometem sair às ruas se ele
 for eleito.
Já a vitória de Mursi, da Irmandade, pode agravar as tensões entre os 
políticos islâmicos, que são maioria no Parlamento, e as Forças Armadas,
 que há 60 anos dominam a política do país, e devem manter forte 
influência depois que a junta militar empossar o novo presidente, em 1o 
de julho.
Cristãos e liberais laicos, preocupados com suas próprias liberdades e 
com o futuro do vital setor turístico egípcio, veem com temor as 
propostas da Irmandade para a adoção de uma legislação islâmica.
"Agora os egípcios vão ter de escolher entre a revolução e a 
contrarrevolução. A próxima votação será o equivalente a um referendo 
sobre a revolução", disse à Reuters Mohamed Beltagy, dirigente da 
Irmandade.
Mas os políticos islâmicos demoraram a aderir à revolução que derrubou 
Mubarak no ano passado, e alguns jovens envolvidos naquele movimento 
ficaram indignados com o resultado do primeiro turno, que lhes privou de
 uma opção mais liberal.
"Estou chocado", disse o taxista Tareq Farouq, 34 anos, no Cairo. "Como 
isso pôde acontecer? As pessoas não querem Mursi nem Shafiq. Estamos 
fartos de ambos. Eles estão levando as pessoas de volta à praça Tahrir",
 afirmou, numa alusão ao local do Cairo que foi o epicentro da revolta 
contra Mubarak.
A direção da Irmandade disse que vai se reunir "para galvanizar os 
eleitores islâmicos e egípcios para enfrentar o bloco dos 'feloul'", 
termo pejorativo que alude a remanescentes do regime de Mubarak.
O partido convidou políticos de outras correntes, inclusive Abol Fotouh e
 Sabahy, para discutir uma futura coalizão, segundo Yasser Ali, 
dirigente do Partido Liberdade e Justiça, braço político da Irmandade.
Fonte: Reuters

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