Do Brasil de Fato
As discussões fazem parte da programação da campanha “Fim aos
Paraísos Fiscais 2012”, lançada recentemente no Brasil e tem como lema
“Lidera, Dilma!”
25/05/2012
do Inesc
Com a preocupação de deixar claro para cada cidadão como a questão
dos paraísos fiscais interfere na vida da sociedade, organizações da
sociedade civil e representante do parlamento debateram sobre o tema na
manhã de quinta-feira (24) em evento na Câmara dos Deputados. As
discussões fazem parte da programação da campanha “Fim aos Paraísos
Fiscais 2012”, lançada recentemente no Brasil e tem como lema “Lidera,
Dilma!”.
Foto: Inesc
Mais de 50 organizações em todo o mundo se mobilizam para exigir que
os líderes do G20 adotem medidas efetivas para por fim ao sigilo
absoluto de jurisdições em matéria fiscal. Para que a presidenta Dilma
Rousseff lidere a iniciativa, o cidadão/ã poderá entrar no site www.fimaosparaisosfiscais.org e
enviar uma mensagem que será encaminhada para a presidência da
república. A campanha tem o objetivo de enviar o máximo de assinaturas
da sociedade para chefes de Estado do G20 até Cúpula no México, que
ocorrerá em junho deste ano.
Um dos motivos da busca por paraísos fiscais é a sonegação fiscal e
essa evasão traz prejuízos diretos para a sociedade. “O Brasil e outros
países em desenvolvimento deixam de arrecadar receitas tributárias que
poderiam financiar políticas de promoção de direitos, como educação,
saúde e alimentação”, afirmou Lucídio Bicalho, assessor político do
Inesc.
Para Pedro Gontijo, secretario executivo da Comissão Brasileira de
Justiça e Paz (CBJP), organismo vinculado à Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB), “o grande gancho da campanha é descobrir como
podemos fazer para que cada pessoa da sociedade perceba como a questão
dos paraísos fiscais interfere na vida das famílias”.
Heráclio Camargo, Procurador da Fazenda Nacional e um dos diretores
SINPROFAZ, acredita que a melhor forma para a sociedade entender e se
interessar pelo assunto é explicar os dois tipos de contribuintes no
Brasil. “Os que se identificam e pagam tributos e os invisíveis que não
são identificados e não pagam tributos, porque sabem que não serão
punidos por causa disso", referindo-se as empresas estrangeiras,
principalmente, aquelas com sede em paraísos fiscais, que não declaram
seus sócios e últimos beneficiários.
O Deputado Paulo Rubem Santiago (PDT-PE) acredita que o problema
possa ser resolvido com aperfeiçoamento na legislação dos países. “Isso
servirá para coibir/impedir que esse dinheiro sujo chegue ao Brasil e
seja recebido como investimento importante para o desenvolvimento da
economia nacional”, afirmou.
Heráclio acredita que para combater a lavagem de dinheiro e sonegação
fiscal é preciso que o PL n.5996/09, que tramita na Câmara dos
Deputados, seja aprovado. A matéria é de autoria do próprio deputado
Paulo Rubem Santiago e torna obrigatória a apresentação do quadro de
sócios e administradores para inscrição, suspensão ou baixa de pessoa
jurídica domiciliada no exterior no Cadastro Nacional de Pessoas
Jurídicas (CNJ). Em resumo, com a aprovação do PL será possível
fiscalizar os últimos beneficiários das atividades de empresas
estrangeiras no Brasil. A Campanha Fim aos Paraísos Fiscais deixou claro
seu apoio incondicional ao PL.
Segundo Celso Arruda França, chefe da divisão de cooperação
financeira e tributária (DFC) do Itamaraty, nos últimos dois anos o
Brasil avançou em relação à questão do combate aos paraísos fiscais.
Segundo o representante do Itamaraty, esse foi um dos temas que mais
avançou no âmbito do G20. Ele apontou o Brasil possui tratados e acordos
que são utilizados como mecanismos de trocas de informação. “Há uma
grande mobilização nessa área. Acredito que o que falte é um ajuste de
tempo. O tempo da sociedade civil é diferente do tempo do governo”,
afirmou. Celso ainda lembrou que o Ministro da Fazenda Guido Mantega
assinou, em novembro de 2011, uma importante Convenção Multilateral em
matéria fiscal, bem como outros países que possibilitará a cooperação.
Lucídio Bicalho ressaltou que é possível perceber, analisando os
relatórios do Fórum Global sobre Transparência e Troca de Informações da
OCDE, que ainda existem brechas nos tratados e acordos de diversos
países. Com relação especificamente ao Brasil, certos tratados com
outros países precisam ser atualizados ou ratificados. "Contudo, não
encontramos entre as 33 convenções e 1 acordo que o Brasil possui com
outros países, listados pelo Fórum Global, a existência de mecanismo
para a troca de informação com as Ilhas Cayman, Ilhas Virgens
Britânicas, Bahamas, entre outras jurisdições.”
Em 2011, na modalidade investimentos brasileiros diretos na forma de
participação em capital, havia um estoque de US$ 32,1 bilhões nas Ilhas
Cayman, US$ 16,2 bilhões nas Ilhas Virgens Britânicas e US$ 12,9 bilhões
para Bahamas.
Os trabalhos do evento foram conduzidos por Adhemar Mineiro,
integrante da Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip) e
assessor do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (DIEESE). Estiverem presentes a Christian Aid, apoiadora
da Campanha no Brasil, além do Movimento Fé e Alegria, o Deputado Chico
Alencar (PSOL-RJ) e outras importantes entidades nacionais, como o
Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil
(SINDIFISCO). O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e Instituto
de Justiça Fiscal apoiaram a realização do evento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário