Para combater a crise, governo de Mario Monti pretende vender ativos do Estado italiano e até reduzir as forças armadas
15 de junho de 2012
Jamil Chade, de O Estado de S.Paulo
GENEBRA - Num esforço para não ser a próxima da fila a
ser engolida pela crise, a Itália anuncia a venda de ativos do Estado no
valor de 10 bilhões e até a redução das forças armadas. Mas, em um
desafio direto ao receituário alemão de austeridade, lança um plano de
80 bilhões para tentar oxigenar a economia e voltar a promover o
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), hoje em recessão.
O governo de Mario Monti viu nesta semana sua credibilidade desabar, ao ser obrigado a pagar taxas de juros elevadas para emitir papéis do Tesouro e ser considerado a "bola da vez", depois do resgate anunciado da Espanha. Há dois dias, foi o governo do Reino Unido que anunciou um plano de £ 140 bilhões para estimular a sua economia, também em recessão.
De um lado, Monti seguirá o receituário da chanceler Angela Merkel. A esperança é arrecadar 10 bilhões com a venda de três estatais e imóveis, inclusive áreas militares. Só neste ano, a previsão é cortar 5 bilhões dos gastos dos ministérios, abolir autarquias enxugar as forças armadas.
No gabinete do primeiro-ministro, 20% dos funcionários serão demitidos.
Com sua popularidade no ponto mais baixo desde que assumiu, Monti decidiu que chegou o momento de usar parte dos recursos para tentar voltar a gerar crescimento na economia: "O crescimento do PIB e a redução do tamanho e peso do Estado são as linhas de condução do governo hoje". O pacote inclui incentivos fiscais, investimento em eficiência energética, além de benefícios fiscais para empresas que contratarem trabalhadores altamente qualificados.
O decreto terá ainda de ser aprovado pelo Parlamento, mas a medida foi anunciada apenas um dia depois que Monti se reuniu com o presidente francês François Hollande para acertar uma aliança para promover políticas de crescimento na Europa.
O eixo Paris-Roma não deixou de irritar Merkel, que insiste que essas medidas ameaçam a credibilidade do plano de austeridade e de superação da crise da dívida. Para Monti e Hollande, porém, a austeridade tem jogado o continente em nova recessão.
Internamente, Monti também fez questão de reunir líderes de todos os partidos para tentar garantir a aprovação das reformas, principalmente diante de um cenário de caos por causa das eleições gregas.
O ex-primeiro ministro britânico, Gordon Brown, advertiu que tanto a Itália quanto a França poderão ter de ser resgatados diante do contágio da crise. Brown disse que não é só a periferia do bloco que está sob ameaça de expulsão da moeda comum. "A zona do euro está chegando a seu dia da verdade", disse à Reuters.
Segundo ele, se a cúpula do G-20, que começa na segunda-feira não, der uma resposta política à crise, "não apenas a Europa estará condenada a uma década perdida, mas o mundo inteiro pagará um preço alto". Brown acusou a Europa de ter tentado se desfazer da crise espanhola, prometendo 100 bilhões, quando o problema estaria calculado em 2 trilhões.
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