Continente importou US$ 5,5 bilhões do Brasil no primeiro semestre e ultrapassou Oriente Médio nas compras
RIO e BRASÍLIA — As exportações para a África cresceram cerca de 5% no primeiro semestre de 2012 e o continente já ultrapassou o Oriente Médio na compra de produtos brasileiros. Nos seis primeiros meses do ano, os embarques de produtos brasileiros para a região somaram US$ 5,532 bilhões. O montante é também maior do que o que Brasil vendeu para Alemanha e França em conjunto.
A estabilidade política e a exploração de minérios e petróleo elevaram a renda do continente, que desponta hoje como um dos maiores potenciais compradores de produtos brasileiros, sobretudo bens industriais, de maior valor agregado. Empresários, comerciantes e governo trabalham para aumentar o intercâmbio com os africanos, que podem, segundo especialistas, dobrar de importância em uma década e chegar a responder por 10% das exportações nacionais.
Os números comprovam esse potencial. O valor das exportações para o continente em 2001 era de apenas US$ 1,347 bilhão, o que representava 2,44% do total exportado. Em 2012, esse valor deve corresponder à compra apenas do principal parceiro brasileiro na região, o Egito, que, nos primeiros seis meses do ano, já importou US$ 999,9 milhões em mercadorias brasileiras. Especialistas acreditam, no entanto, que o maior potencial do continente está mais ao Sul da região, na África do Sul — que com Brasil e Índia faz parte do grupo Ibas —, e, sobretudo, nas ex-colônias portuguesas.
— Temos vantagens competitivas importantes, principalmente nos países que falam português. O governo vem se aproximando do continente, criando parcerias. E nosso clima e solo são muito semelhantes, ou seja, nossos produtos já são tropicalizados, ideal para os africanos — afirmou Carlos Abijaodi, diretor de Operações da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Abijaodi lembra que a região desponta como uma das poucas do mundo com grande potencial de crescimento. Há grandes projetos de engenharia, mineração e petróleo, alguns tocados por grandes empresas brasileiras como Vale e Odebrecht, o que abre portas para outras empresas e produtos nacionais. Para ele, a aproximação política do Brasil com os africanos começa a dar resultados:
— Os africanos sempre compraram muito de suas ex-colônias europeias, por tradição e facilidades, como acordos. Mas isso começa a mudar. É claro que não é um mercado fácil, precisa ser conquistado, precisamos nos aproximar, criar laços. E precisamos saber que, apesar do ganho de estabilidade que a região vem conquistando, ainda é um mercado considerado mais arriscado, ideal para empresas maiores — disse o representante dos industriais.
Incentivo brasileiro ao diálogo Sul-Sul favorece país
José Augusto de Castro, presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), é um entusiasta das relações com o continente. Ele acredita que o processo de estabilização e melhoria de renda na região deve ser acentuado e o Brasil, um dos países que mais incentivou parcerias com nações em desenvolvimento, ou relações Sul-Sul, pode conquistar mercado. Com isso, ele prevê que a importância do continente para os produtores brasileiros pode dobrar em dez anos, passando dos atuais 4,72% das exportações nacionais para algo próximo de 10% de nossas vendas ao exterior:
— Se olhamos os números, vemos que o crescimento foi muito grande nos últimos anos, até porque a base era muito pequena. O continente tem muito por fazer, muito a crescer, e o Brasil pode ser um bom parceiro. Os europeus estão envoltos em sua crise e com uma economia mais focada em serviços. Nosso concorrente é a China, que tem investido pesadamente na região.
Castro acredita que a próxima década será o período de maior transformação da África, com grandes obras de infraestrutura, investimentos e melhoria da qualidade de vida na região. A busca dos asiáticos por matéria-prima será uma grande oportunidade para o continente.
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