quinta-feira, 5 de julho de 2012

O autor da teoria do Bóson de Higgs 05/07/2012

Do Estadão
'Nunca pensei que viveria para ver essa descoberta'
Aos 83 anos, autor da teoria que foi em grande parte confirmada espera que modelo tenha conexão com a cosmologia
 “Nunca pensei que viveria para ver essa descoberta.” A frase emocionada é de Peter Ware Higgs, autor da teoria que foi em grande parte confirmada por uma máquina que custou US$ 8 bilhões e quase 50 anos de estudos. Com 83 anos, dificuldade para ouvir, com uma voz fraca e problemas para andar, o cientista da Universidade de Edimburgo não escondia sua emoção na sede do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern).
A descoberta deverá abrir caminho para que ele, ao lado de seus colegas, receba o prêmio Nobel da Física. “É tudo muito incrível. Não creio que tenha vivido algo assim”, disse ao Estado, cercado por seguranças, como uma verdadeira estrela.
Higgs não teve uma infância fácil. A 2.ª Guerra obrigou sua família a deixar sua região, na Escócia. O jovem Peter foi obrigado a ter aulas em casa, mas logo se interessaria pela matemática.
A presença de Higgs no Cern teve uma pitada de ironia. Ele contou ter enviado um paper para a revista de física do Cern, que na época era a principal publicação científica, com a descoberta – e o material foi rejeitado, sob alegação de que a teoria proposta não tinha fundamento. Cinco décadas depois, a mesma instituição construiu o acelerador para provar sua teoria.
Ateu e claramente irritado por sua descoberta ter ganhado o apelido de “partícula de Deus”, Higgs abandonou o Greenpeace depois que a entidade passou a se opor a sementes geneticamente modificadas.
Ontem, Higgs era ovacionado pelos cientistas que passaram a noite na fila para obter pela manhã um lugar no auditório onde a descoberta seria realizada. A sala vibrava como uma arquibancada de um ginásio lotado numa final de campeonato, com aplausos, gritos e abraços. Higgs não disfarçava sua timidez, insistindo que os cientistas do Cern eram as estrelas, e não ele.
Higgs falou a um grupo de jornalistas. Eis os principais trechos da entrevista:
Qual a importância da descoberta para o sr. e para a física?
É uma confirmação de algo que fiz há 48 anos e dá muita satisfação ser provado que estava certo. Quando elaborei a teoria, não fui muito específico. Não estou preocupado se encontraram apenas um bóson de Higgs ou vários. Do ponto de vista da física, parece que é o fim de uma era e completamos o modelo. Mas o mais importante é que o estudo do que se descobriu hoje levará ao que está por trás do modelo que explica a física. E espero que haja conexão mais interessante com a cosmologia.
O sr. espera um prêmio Nobel por conta disso?
Eu não tenho ideia. Não tenho amigos próximos dentro do comitê do Nobel.
O sr. achou que um dia veria isso?
Não fiquei sonhando durante 48 anos porque tinha mais o que fazer na vida. No começo, não tinha nenhuma esperança de ver essa comprovação durante minha vida. Mas quando aceleradores do tamanho desse de Genebra começaram a aparecer, pensei que talvez haveria alguma chance.
Como o sr. se sente?
Bem tonto, mas muito feliz.
Buracos negros, antimatéria… O sr. acredita que isso tudo é ficção científica?
Vocês podem chamar de ficção científica. Mas para mim são teorias especulativas que existem há algum tempo e só agora começam a ser testadas. Assim como no caso do bóson de Higgs, há muita motivação teórica para que partes dessas teorias sejam verdadeiras.
Em especial a supersimetria, que acho que muitos acreditam que seja necessária em qualquer teoria e poderá unificar o Modelo Padrão com a gravidade. No momento, não parece ser nem mesmo suficiente, mas um passo necessário.
Se não unirmos essas teorias com a da gravidade, então nada divertido ocorrerá. Isso porque a gravidade por si só não se encaixa com a teoria quântica.

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