Enviado por luisnassif
Por Maíra Vasconcelos, exclusivo para o Blog
Sem apoio popular e isolado em conflito internacional, o uso da repressão e um governo de linha dura são esperados com o retorno do conservador Partido Colorado ao poder, após ascensão de Federico Franco à presidência do Paraguai.
“Como governar ignorados pela comunidade internacional e sem base de apoio popular? Em algum momento, vão começar a reprimir, como governar sem apoio?”. O questionamento e a análise são da historiadora e socióloga paraguaia, exilada política na Espanha e na França, por dez anos, durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989), Milda Rivarola.
Hoje, o Paraguai assiste à desfiliação de militantes dos partidos que em conjunto votaram no parlamento pela destituição do ex-presidente Fernando Lugo. E, ainda, a impossibilidade de mostrar nas ruas a adesão da cidadania ao novo governo, que fracassou em uma tentativa de manifestação pró-Franco.
Com medo do que possa acontecer nos próximos meses, e cautelosa ao atender as chamadas telefônicas, Milda Rivarola, contou suas impressões sobre o atual momento político, em entrevista concedida em sua casa, em Assunção.
Segundo Rivarola, a imprensa passou a caluniar e agredir, e as autoridades políticas que estavam com Lugo no poder são criticadas nas ruas. Também As redes sociais também são agora um espaço de insulto aos denominados “luguistas”.
“Esse processo parece conduzir a um país com menos liberdade civil. Chegamos ao ponto em que não se pode dizer o que pensa, é preciso ter cuidado com as palavras. Estão controlando os celulares, têm pessoas que não atendem mais o telefone. E é um susto acompanhar as redes sociais, é espantoso, inexplicável”, contou Rivarola.
De acordo com a socióloga, aqueles que consideram o processo realizado pelo parlamento como um golpe de Estado, assistem ao desvio da discussão sobre democracia e anti-democracia, revertida em “luguistas” e “não luguistas”.
“Qualquer um que diga que isso foi um golpe de Estado, já é um “luguista” e um bolivariano, pago, claro, com o dinheiro da Venezuela”, afirmou, contundente”. Rivarola disse estar receosa com o futuro político do Paraguai, nas mãos do atual governo.
“Me dá muito medo, eu conheço esse país. Chega um momento em que desata a barbárie, sentem (os políticos) que já são impunes em tudo”, ressaltou.
A não-democracia do Paraguai
Segundo a historiadora, o Paraguai apenas possui os mecanismos e a estrutura para funcionamento da democracia, como, por exemplo, um parlamento, o judiciário e o cumprimento das eleições, “mas a lógica de atuação desses poderes, e a mentalidade dos cidadãos não é democrática. O Paraguai não tem mecanismos democráticos, apenas cumpre formas democráticas.” disse.
Sobre a atuação e poder históricos do Partido Colorado no Paraguai, a socióloga os classificou como uma direita populista, que nasceu a partir das relações com o peronismo argentino, na década de 50, e com o nacionalismo fascista dos anos 30. E o outro partido que seria a oposição ao Colorado, o Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA) também utiliza dos mesmos mecanismos políticos para atuar e governar, afirmou Rivarola.
“Pagar os eleitores, a cada tanto distribuir saúde, educação e terra para que depois os votem nas eleições. Assim também fazem os Liberais, com a diferença que eles vão roubar pior, e distribuir menos”.
Paraguai: uma política de caráter animal
As avaliações políticas e sociais de Milda Rivarola mostram um país que funciona baixo à dialética primitiva e predatória do Estado, e antes que seja possível definir os representantes em alinhados a ideologias de esquerda ou de direita, a sociológica afirmou que o Paraguai está estancado em uma fase política retardatária.
“Mais que, direita e esquerda, é uma lógica mais primitiva. Por isso, digo que não há direita e esquerda no Paraguai, a lógica é pré-política”, disse Rivarola.
Obter o controle dos meios de comunicação é uma das estratégias utilizadas pelo poder político paraguaio, e citada por Rivarola como mecanismo de transformação do que é do Estado em proveito político-partidário.
“A lógica é entrar no Estado, controlar os meios de comunicação, transformar parte em ganâncias próprias e a outra parte em benefícios nas eleições futuras. Uma atitude totalmente predadora, como insetos que vem comer tudo”.
Para a socióloga, a atitude da classe política paraguaia é de caçador-predador do Estado, como é o caso da postura inconsequente do parlamento que culminou em um conflito externo, com a suspensão do Paraguai das reuniões do Mercado Comum do Sul (Mercosul), até as eleições presidenciais, em abril de 2013.
“Aquele que mata sem necessidade, e inclusive contra a sustentação da caça. Foi o que fizeram, destroçaram o Paraguai frente à comunidade internacional. A ideia é: vamos comer o animal que passou agora. Aproveitam uma conjuntura para obter benefícios próprios. E se a manada não passa mais, isso será problema de outros”, exemplificou, indignada, Rivarola.
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