“Descobri
que sabia bem pouco dos conflitos na Tchetchênia. Fiquei curioso por
entender o que havia acontecido e os motivos para tamanha destruição da
capital e dos vilarejos daquela república”, disse Paulo Edson à Gazeta Russa.
Paulo Edson
Por – Fabricio Yuri
Durante a década de 1990, as duas
guerras envolvendo a Rússia e a então república separatista da
Tchetchênia chamaram a atenção do mundo para o drama do fim da União
Soviética.
Passados 12 anos desde o fim do segundo
conflito, o professor universitário Paulo Edson resolveu publicar seu
livro “Crônicas do Cáucaso: as Guerras da Chechênia”, pela Crearte
Editora.
Nele, os brasileiros enfim vão poder
contar com uma visão própria dos dramas, da política e de toda a
complexidade do conflito, que deixou dezenas de milhares de mortos.
A ideia, segundo Paulo, surgiu após assistir ao documentário “3RoomsofMelancholia”, de PirjoHonkasalo, em 2009.
“Descobri que sabia bem pouco dos
conflitos na Tchetchênia. Fiquei curioso por entender o que havia
acontecido e os motivos para tamanha destruição da capital e dos
vilarejos daquela república”, disse Paulo Edson à Gazeta Russa.
Coincidentemente, na mesma época, o
professor havia começado aulas de russo com uma colega da Universidade
de Sorocaba que era da região de Stavropol (cidade no sudoeste da
Rússia, próxima à área de guerra) e que lhe falou muito sobre o
conflito.
Perda como força motriz
“Minha motivação principal foi o enorme
drama que se abateu sobre os civis – russos e tchetchenos – com essas
guerras. Fico o todo tempo tentando imaginar como um ser humano,
acostumado com a vida civilizada, encara a perda de tudo: de seus bens,
de seu Estado, de suas pessoas queridas, de sua integridade física. Essa
foi a força motriz de minha pesquisa”, conta.
O livro tem relatos de russos e
tchetchenos que o brasileiro conheceu pela internet e no sul da Rússia,
onde esteve realizando suas pesquisas em 2011, enquanto lecionou na
Universidade Estatal de Voronej.
Mas a maior parte do material foi obtida
por meio de bibliografia de autores que estiveram envolvidos no
conflito. Entre eles, o soldado Arkádi Babchenko, o tchetcheno Hassan
Baiev, além do antropólogo russo Valéri Tishkov, entre outros.
“Há uma passagem interessante, no início
de 2000, quando Babchenko está em uma operação nas cercanias do
vilarejo de Alkhan-Kala, onde Baiev mantinha um pequeno hospital. Os
dois narram a mesma passagem, o bombardeio da comunidade. O interessante
é a versão pessoal de cada um deles, cada qual em um lado do campo de
batalha”, conta o autor.
Culpados e inocentes
Para ele, o conflito tem muitas nuances,
e é preciso uma análise acurada. “Tento expor que essa guerra foi um
grande erro de ambas as partes, tchetchenos e russos. Tento demonstrar,
também, que houve dois lados nesses conflitos: um formado por líderes
tchetchenos, russos, guerrilheiros e militares corruptos, e outro, o
mais afetado e prejudicado, formado por civis comuns, tchetchenos e
russos, que não desejavam de maneira alguma essa guerra”, conclui.
Na extensa e profunda pesquisa de Paulo
Edson, ficou de fora apenas apenas uma viagem à República da
Tchetchênia. “Ainda não fui basicamente por falta de tempo e por ainda
não ter um russo que me permita comunicar razoavelmente”, explica.
Mas o autor ainda espera uma possibilidade não só de visitar o local, como de transformar seu trabalho em audiovisual.
“Temos, sim, vontade de realizar um documentário in loco, em 2014. Mas ainda temos que encontrar uma maneira de operacionalizá-lo”, arremata.
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