Imagens da mídia: Chávez, moribundo, tenta usar imagem jovial
para se aproximar de seu opositor, Capriles. Obama vai invadir a Síria,
caso o governo de Assad ultrapasse a “linha vermelha”. Antissionismo é
antissemitismo e grupos terroristas podem atacar israelenses no Brasil.
Todas essas informações foram veiculadas nesta semana. Para repercutir
esses assuntos, o Vermelho conversou com a presidenta do Conselho Mundial da Paz e do Cebrapaz, Socorro Gomes.
Por Vanessa Silva, para o Vermelho
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VenezuelaNesta quinta-feira (23), o jornal “Bom Dia Brasil”, da Rede Globo, veiculou uma reportagem crítica à campanha pró-Chávez onde dizia que o presidente da Venezuela “tenta vender a imagem de um líder que personifica mudança; mas está no poder há 14 anos. (…) O candidato desenhado esconde o homem debilitado e doente que tenta a terceira reeleição, tendo que encarar um adversário nem um pouco raquítico. Henrique Caprilles tem 40 anos, agita a campanha com vigor físico (…) Vende com a própria imagem a encarnação do novo, que Chávez tanto queria ser.”
A Globo tenta uma manobra para deslegitimar o processo dramático que vem sendo desenvolvido na Venezuela, que celebrará sua eleição presidencial no próximo dia 7 de outubro. Na opinião de Socorro Gomes, que participará como observadora do pleito, a realidade do país é o contrário do que a mídia brasileira tenta vender:
“O que está acontecendo na Venezuela é uma busca para dar total transparência às eleições. A própria justiça eleitoral tem total autonomia, autoridade e está convidando personalidades, representações políticas dos países para acompanhar esse pleito, o que demonstra a profunda preocupação com a lisura das eleições. No meu entendimento é uma grande conquista democrática”.
É comum ainda os grandes jornais do país publicarem editoriais criticando o país caribenho. No dia 31 de julho, quando a Venezuela ingressou formalmente no Mercosul, o jornal O Estado de S. Paulo saiu com o editorial “O que Chávez esconde”, aliando o presidente ao narcotráfico. Tal ofensiva deve-se à importância que a Venezuela tem para a região. Contra isso, foi criada a campanha “Brasil Está com Chávez”, para respaldar o processo bolivariano.
A importância deste evento é ressaltada por Socorro: “a campanha de solidariedade se dá porque somos países vizinhos, irmãos e temos um destino comum. A questão da integração soberana dos povos latino-americanos é fundamental para a garantia da paz no continente. Uma vez que Chávez e a própria Venezuela vêm sofrendo ameaças, e sabotagens de todos os tipos por parte dos Estados Unidos. (…) Então é um movimento positivo que demonstra também um amadurecimento da consciência internacionalista do Brasil e dos países irmãos”.
Síria
Na segunda-feira (20), pela primeira vez, o presidente dos Estados Unidos declarou explicitamente que poderá invadir a Síria. Até então, este governo colaborava de maneira ativa no financiamento de mercenários e no fornecimento de armas para a oposição do país, com o objetivo de criar um clima de terror. A declaração de Obama viola o direito internacional, como lembra a pacifista Socorro Gomes:
“Quando o governo Obama ameaça invadir a Síria ele viola o direito internacional e os princípios e resoluções da ONU de autodeterminação e autonomia dos povos. (…) Essas potências querem que mercenários armados, hordas de assassinos [atuem no país] e o governo da Síria fique de mãos atadas sem defender seu povo. Oras, o presidente de uma nação tem como obrigação primeira defender a soberania da nação e a vida de seu povo. Ao invés de parar de financiar os mercenários assassinos, eles [Estados Unidos] criticam um governo que defende o seu território”.
Para a presidenta do Conselho Mundial da Paz (CMP), “o que os Estados Unidos querem mesmo é a invasão da Síria e não há aí nenhum compromisso com a democracia, com o direito internacional ou com a vida dos civis”. De fato, o que está em jogo é uma peça fundamental no tabuleiro geopolítico mundial. “Anteontem foi o Iraque, o Afeganistão; ontem, a Líbia e agora é a Síria. Isso merece a denúncia firme, a condenação veemente porque o que está em risco são a paz e o direito dos povos e das nações no mundo”.
Diante do impasse existente no país, a única solução possível é o diálogo entre o governo e seus adversários: “o desfecho necessário é o diálogo entre a oposição — não os mercenários, bandidos — e o governo, [de maneira que] o próprio povo sírio, de maneira soberana, resolva seus problemas.”
Em missão do CMP e da União da Juventude Socialista, a presidenta visitou a Síria em abril deste ano. Com a autoridade de quem esteve em Damasco, ela afirma que “a despeito das críticas feitas ao país, é bom lembrar que a Síria já foi atacada várias vezes e nessas últimas décadas avançou bastante do ponto de vista da democracia, da melhoria das condições de vida do povo. Tem problemas que precisam ser resolvidos de maneira soberana, sem a ingerência de potências internacionais imperialistas, que querem a destruição da nação, querem colocar governos que obedeçam a seus vis desígnios de hegemonia e de saque dos recursos naturais na região”.
E lembra ainda que o CMP realizou, em julho, sua Assembleia mundial com resoluções de apoio e solidariedade ao povo sírio. “No dia 21 de setembro, estaremos em todos os Estados onde existe o Cebrapaz, para que as pessoas conheçam as resoluções do CMP. Também vamos fazer atos e eventos em apoio ao povo sírio e de contestação às ações imperialistas contra aquele povo”. Leia aqui a íntegra da resolução política.
Irã
Nesta quinta-feira (23) o colunista Michel Chossudovsky, do Resistir.info informou que o “Canal 10 de Israel sugere, violentamente, que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu está ‘determinado a atacar o Irã antes das eleições nos Estados Unidos’ e que o ‘momento para a ação está ficando mais próximo’”. Para Socorro, esta é mais uma estratégia em aliança com os Estados Unidos para o domínio da região:
“Israel tem as costas largas por conta de sua aliança com os EUA. Israel, que é uma potência nuclear, que tem uma política de lento genocídio contra o povo palestino, Israel que já invadiu no Líbano as fazendas de Shebaa, ocupou e usurpou as colinas de Golã da Síria, agora busca criar um clima para uma guerra. É claro que hoje Israel volta suas baterias contra o Irã. E ali a questão é essa: a busca do domínio da região, sendo que Israel é também a ponta de lança dos Estados Unidos no Oriente Médio”.
Israel
Hoje, ao criticar Israel, você pode ser acusado de antissemita e até mesmo identificado como simpatizante do holocausto. Isso é o que alguns colunistas vêm pregando na imprensa nos últimos dias. A Folha de S. Paulo, na quarta-feira (22), publicou o artigo dos jornalistas Salomão Schvartzman e Zevi Ghivelder em que eles dizem: “o antissemitismo prega que o judeu não tem lugar na sociedade. O antissionismo prega que Israel não tem lugar no mundo. Ou será que antissemitismo e antissionismo têm a mesma raiz?” Também defendem que “a Palestina nunca foi uma nação, Israel só ocupou tal território após ser atacado” e mencionam que o mesmo aconteceu com Berlim, que foi ocupada pelos Aliados no final da Segunda Guerra Mundial.
Sobre a questão, Socorro opina que “de fato a Palestina foi ocupada muitas vezes. O povo da Palestina estava ali há milhares de anos e inclusive existiam judeus ali que viviam pacificamente. O que ocorre é que no momento da resolução [242] da ONU, de criar o Estado de Israel, ficou determinado também criar o Estado da Palestina. E pelo peso das armas só foi criado o Estado de Israel e por essas mesmas armas foi impedido que o povo da Palestina conquistasse a sua nação. Só que Israel já usurpou, além do território que a ONU determinou, a maior parte do território palestino. Tomou inclusive as zonas mais ricas em água, mais férteis da Palestina, com armas”.
Outro episódio controverso foi o debate realizado pela Conib (Confederação Israelita do Brasil) no último dia 19. Entre os participantes estavam os jornalistas Caio Blinder, Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo. “Hoje, o anti-israelismo [antissionismo] virou antissemitismo. Quando se quer atacar os judeus, ataca-se Israel”, declarou Mainardi. “Onde houver israelenses ou judeus, existe a possibilidade de um ataque”, declarou Blinder. “Ainda mais em um país onde não há punição para atos terroristas”, complementou Azevedo.
Essa hipótese é totalmente contestada pela ativista: “Nós, o povo brasileiro e os povos do mundo, não temos nada contra os judeus. É um direito de crença religiosa cada um professar a religião que queira, agora o que não podemos é fazer o uso perverso da crença, da religião para dominar os povos, para saquear o povo palestino. Isso não podemos aceitar. A própria ONU já teve resolução dizendo que o sionismo é racismo”. (Trata-se da resolução 3379 adotada em 1975. Em 1991, no entanto, a resolução foi revogada, sob pressão dos EUA e de Israel, no contexto de um mundo unipolar dominado pelo imperialismo estadunidense).
Ela pontua ainda que “eles [Israel] tentam jogar como se quem fosse contra o genocídio sionista fosse contra os judeus. É mentira. Tem muito judeus que abraçam a causa palestina e são antissionistas, inclusive israelenses. Infelizmente, a grande mídia serve à desinformação. E é com isso que os sionistas jogam”.
Fórum Social da Palestina
No contexto da solidariedade com o povo palestino, vítima do imperialismo israelense, o Cebrapaz integra a comissão de organização do Fórum Social Palestina Livre, que será realizado em novembro em Porto Alegre. Segundo a presidenta da entidade, “o Fórum tem uma organização ampla. É a defesa da solidariedade e do direito do povo palestino a seu território, seu Estado independente e soberano. É por isso que vão se reunir pessoas do mundo inteiro, organizações, lideranças para manifestar essa solidariedade e defesa do Estado Palestina Livre”.
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