Chimpanzés se reconhecem só de olhar o traseiro, diz estudo bizarro
'Paródia' do Nobel, Ig Nobel 2012 premiou dez pesquisas 'improváveis'. Objetivo é valorizar trabalhos que primeiro fazem rir, e depois pensar.
Chimpanzés são capazes de reconhecer uns aos outros olhando apenas fotografias de seus traseiros, aponta uma pesquisa bizarra na área de anatomia que levou o Ig Nobel 2012, o "lado B" do prêmio Nobel.
Outros nove estudos vencedores participaram de uma cerimônia na noite de quinta-feira (20) no Teatro Sanders, da Universidade Harvard, nos EUA.
O objetivo, segundo a organização do evento, é valorizar trabalhos que primeiro fazem rir, e depois pensar. O Ig Nobel é uma premiação da revista de humor científico "Anais da Pesquisa Improvável" que, desde 1991, reconhece anualmente dez pesquisas incomuns, estranhas ou óbvias.
Japonês Koji Tsukada testa aparelho após levar prêmio de acústica nos EUA (Foto: Jessica Rinald/Reuters)
Outro estudo esdrúxulo veio da Rússia e ganhou o Ig Nobel da Paz, por transformar munição antiga em diamantes.Levaram prêmios, ainda, um aparelho acústico que faz as pessoas ouvirem a própria voz enquanto falam e se confundirem, e uma pesquisa de neurociência que identificou atividade cerebral em um salmão já morto.
Britânico Raymond Goldstein ganhou o 1º lugar de física por rabo-de-cavalo (Foto: Jessica Rinald/Reuters)
Outros dois autores se centraram nos cabelos: um trabalho de física
observou as forças que atuam e dão forma a um rabo-de-cavalo, e um de
química descobriu por que moradores de algumas casas da cidade de
Anderslöv, na Suécia, ficaram com o cabelo verde. O motivo: o cobre do
encanamento.
Prêmio Ig Nobel foi entregue na noite de quinta-feira (20) na Universidade Harvard (Foto: Charles Krupa/AP)
As demais áreas premiadas foram: dinâmica de fluidos (física), medicina, psicologia e literatura.O prêmio
Apesar da provocação, o Ig Nobel é levado na brincadeira pelos cientistas, e boa parte deles comparece em pessoa para aceitar o prêmio. A cerimônia sempre conta também com ganhadores do Nobel de verdade – entre os mais famosos e frequentes, o de Física de 2005 Roy Glauber, cuja nobre função é varrer aviõezinhos de papel que caem no palco.
Em 2008, os brasileiros Astolfo Gomes de Mello Araujo e José Carlos Marcelino, da Universidade de São Paulo (USP), se tornaram os primeiros brasileiros a ganhar um Ig Nobel, ao mostrar o impacto do tatu em pesquisas arqueológicas.
Em 2000, o prêmio reconheceu o russo Andre Geim por fazer um sapo levitar usando magnetismo. Dez anos depois, Geim ganhou o Nobel de Física por seus estudos com o grafeno. Com isso, ele se tornou o primeiro cientista a ter a honra de ser um vencedor do Ig Nobel e do Nobel.
Entre pesquisas premiadas no passado, estão uma que mostrou que os buracos negros têm os requisitos fundamentais para serem a porta de entrada do "inferno", a criação de um sutiã que serve como máscara de gás e um estudo que provou que massagens no reto curam o soluço.
Categoria | Estudo | Autores |
Anatomia | Como os chimpanzés se reconhecem entre si apenas olhando fotografias de seus traseiros | Frans de Waal (Holanda/EUA) e Jennifer Pokorny (EUA) |
Física | Cálculo das forças que dão forma e movimento a um rabo-de-cavalo | Joseph Keller (EUA), Raymond Goldstein (Reino Unido/EUA), Patrick Warren (Reino Unido), Robin Ball (Reino Unido) |
Acústica | Máquina que atrapalha a fala de uma pessoa durante um discurso, ao fazê-la ouvir a própria voz com um pequeno atraso | Kazutaka Kurihara e Koji Tsukada (Japão) |
Dinâmica de fluidos | O que acontece com uma xícara de café enquanto uma pessoa a segura ao andar | Rouslan Krechetnikov (Rússia/EUA/Canadá) e Hans Mayer (EUA) |
Química | Por que moradores de algumas casas da cidade de Anderslöv, na Suécia, ficaram com o cabelo verde. O motivo: o cobre do encanamento | Johan Pettersson (Suécia/Ruanda) |
Neurociência | Como a atividade cerebral pode ser vista em qualquer lugar, inclusive em um salmão morto, por meio de instrumentos complexos e estatísticas simples | Craig Bennett, Abigail Baird, Michael Miller e George Wolford (EUA) |
Medicina | Por aconselhar médicos que fazem colonoscopias (exames intestinais) a minimizar o risco de seus pacientes explodirem | Emmanuel Ben-Soussan e Michel Antonietti (França) |
Psicologia | Por que a Torre Eiffel, na França, parece menor ao se inclinar para a esquerda | Anita Eerland and Rolf Zwaan (Holanda) e Tulio Guadalupe (Peru, Rússia e Holanda) |
Paz | Como a companhia russa SKN conseguiu converter armamentos antigos em novos diamantes | Igor Petrov (Rússia) |
Literatura | Publicação de um relatório sobre relatórios sobre outros relatórios que recomendam a preparação de um relatório sobre outro relatório sobre relatórios sobre relatórios | Controladoria Geral do governo dos EUA |
Da Folha
Estudo premiado questiona resultados duvidosos de investigação do cérebro
Vencedor do Ig Nobel de neurociência diz que, com estatística criativa, até salmão morto parece ter ideias complexas
RAFAEL GARCIA, DE WASHINGTON
O Prêmio Ig Nobel -a paródia do Nobel que elege as pesquisas científicas mais esdrúxulas- destaca neste ano descobertas como a de que chimpanzés reconhecem outros macacos olhando fotos de seus traseiros e um experimento que identificou ideias complexas no cérebro de um salmão morto.
Apesar do tom de ridículo, o segundo trabalho foi, na verdade, a denúncia de uma crise na neurociência, área em que revistas técnicas têm publicado estudos com conclusões duvidosas sobre mapeamentos cerebrais.
A lista de ganhadores tinha outros trabalhos inacreditáveis -um deles era sobre o (baixo) risco de pacientes explodirem durante colonoscopias-, e o estudo sobre a mente do peixe acabou meio ofuscado entre os vencedores anunciados ontem (veja a lista completa acima).
O experimento de Craig Bennet, da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, representa bem o lema do Ig Nobel: premiar pesquisas que "primeiro fazem rir, depois fazem pensar".
Usando uma máquina de ressonância magnética para mapear o cérebro do animal morto, o cientista mostrou que, usando um pouco de estatística sem rigor para interpretar os resultados, é possível tirar qualquer conclusão.
No estudo, Bennet mostrou que o cadáver de peixe tinha empatia e apontou quais áreas de seu cérebro eram responsáveis por isso.
"Mostramos ao salmão uma série de fotografias com humanos em situações sociais de valor emocional específico", diz o estudo. "Pedíamos ao salmão para determinar quais emoções o indivíduo estaria sentindo."
A parte do estudo de Bennet que não tinha graça nenhuma era um levantamento sobre o panorama atual da pesquisa com ressonância magnética funcional (que vê a atividade do cérebro em tempo real). Em um ano, 26% dos artigos científicos estavam se valendo do mesmo método estatístico que ele mostrou ser frágil. Numa conferência, 79% dos trabalhos tinham esse problema.
Isso explica, em parte, a proliferação de estudos atribuindo funções ultraespecíficas a partes do cérebro.
A cerimônia de entrega do prêmio ocorreu ontem, no teatro da prestigiada Universidade Harvard (EUA).
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