Do Estadão
Tribunal rejeita apelo contra multa de US$ 233 milhões por repatriação de lucros
Jamil Chade
GENEBRA - A Vale foi derrotada nesta segunda-feira, 3, no Tribunal
Federal da Suíça. A Justiça daquele país rejeitou um recurso da empresa,
que em março foi multada em valor equivalente a US$ 233 milhões por ser
acusada de repatriar lucros de suas atividades internacionais para a
Suíça, justamente onde se beneficia de uma exoneração fiscal. Agora, a
Justiça Suíça tem caminho livre para reduzir os benefícios fiscais dados
à empresa e exigir o pagamento da multa pelo desrespeitado ao acordo
fiscal com o país.
A Vale informou, por escrito, que "a decisão não é final, não trata
do mérito e não tem, portanto, qualquer consequência imediata",
acrescentando que não comenta "processos em andamento".
A empresa é acusada de repatriar de forma irregular lucros de todas
suas atividades pelo mundo para a Suíça, justamente onde se beneficiava
de uma exoneração fiscal que agora está sendo questionada. Graças a
manobras fiscais e seu escritório na Suíça, autoridades suspeitam que a
Vale deixou de pagar US$ 3 bilhões em impostos desde 2006.
Um processo havia sido aberto pelas autoridades federais suíças para
modificar de forma substancial a exoneração fiscal que a Vale havia
recebido em 2006, quando abriu seu escritório na região de Vaud. Na
época, a brasileira indicou que o usaria como sua sede europeia. Naquele
ano, a Vale previa lucros de US$ 35 milhões e criaria empregos na
região. Entre 2006 e 2011, pagou menos de US$ 300 milhões em impostos
graças ao convênio.
Mas cálculos do governo mostraram que a empresa acabou repatriando
para os bancos suíços todo lucro de suas atividades internacionais, no
valor de mais de US$ 5 bilhões ao ano, ferindo os compromissos e se
beneficiando da exoneração de taxas.
De acordo com a investigação das autoridades, a Vale passou a
registrar também em Vaud suas filiais que estavam espalhadas por vários
países, principalmente as que estavam em centros offshore (paraísos
fiscais). Segundo a Junta Comercial de Vaud, depois da instalação da
Vale International na região, outras sete empresas se incorporaram à
companhia brasileira, entre elas a Itabira Rio Doce Company e a RDIF
Overseas Limited.
As duas empresas, antes de serem transferidas a Vaud, tinham sede em
Nassau, nas Bahamas. Outras que se incorporaram à Vale International
foram a CVRD Overseas Ltd e a SRV Reinsurance Company SA , ambas de
Georgetown nas Ilhas Cayman. De Bermudas vieram a Brasamerican Ltd e CMM
Overseas SA.
Revisão. O governo suíço levou o caso aos tribunais, exigindo revisão
do tratamento dado à Vale, como uma punição por não ter respeitado os
acordos. A administração federal considerou, há cinco meses, que a Vale
não cumpriu sua palavra e, como punição, quase dobrou a cobrança
relativa aos lucros entre 2006 e 2009. Para completar, a isenção foi
reduzida de 80% para 60%.
Na época, a mineradora decidiu apelar, alegando que não havia violado acordos e tentando barrar o processo de revisão.
"Por enquanto, tratamos da questão de procedimento", disse o chefe da
Administração de Impostos de Vaud, Philippe Maillard. "Agora que o
Tribunal Federal se pronunciou, vamos continuar para definir a questão
de fundo", completou.
A empresa chegou a justificar para parte da imprensa que a briga era
uma disputa política entre partidos da região de Vaud, onde tem seu
escritório. Mas documentos obtidos pelo Estado mostram que o assunto já
estava no radar do Departamento de Finanças da Suíça. Ontem, o Tribunal
também obrigou a empresa a pagar US$ 66 mil em custos do processo.
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