Ex-ministro das Finanças admitiu que governo não agiu por medo de enfrentar elites
Agência Efe
Edição da revista Hot Doc que contém lista com os nomes de dois mil gregos que possuem contas na Suíça
Um jornalista grego foi detido neste domingo (28/10) por ter revelado os nomes de mais de dois mil membros da elite financeira e política do país que possuem contas bancárias ilegais na Suíça. As autoridades gregas ainda entraram com processo contra Kostas Vaxevanis por violação de privacidade.
A lista, publicada na última edição da revista Hot Doc, foi entregue ao governo do país há dois anos pela então ministra das Finanças da França, Christine Lagarde, mas ainda era desconhecida do grande público. O documento mostra que 2059 gregos sonegaram mais de 1,5 bilhão de dólares em impostos e enviaram ilegalmente elevadas somas ao país europeu.
O editor acusou as autoridades de não tomarem nenhuma providência frente ao crime financeiro em plena crise econômica. "Se alguém deve prestar contas perante a lei são aqueles ministros que esconderam a lista e disseram que ela não existe. Só fiz o meu trabalho. Sou jornalista e fiz o meu trabalho", disse Vaxevanis em vídeo enviado para a agência de notícias Reuters.
O Ministério Público se defendeu das acusações e afirmou que a revista não respeitou a legislação de informações pessoais. “Não há provas de que as pessoas ou empresas incluídas na lista tenham violado a lei. Não há provas de que eles violaram a lei de sonegação de impostos ou lavagem de dinheiro", disse um oficial.
Agência Efe
O editor da revista Hot Doc, Kostas Vaxevanis (acima), foi preso pela polícia grega por violação de privacidade
"Em vez de prender os sonegadores de impostos e ministros que tinham a lista em suas mãos, eles estão tentando prender a verdade e a liberdade da imprensa", acrescentou Vaxevanis. Para apoiadores do jornalista, sua prisão foi uma forma encontrada pelas autoridades de ocultar as denúncias e apaziguar possíveis manifestações.
A revelação do documento ocorre em um momento complicado na Grécia, que enfrenta dura recessão econômica e altos índices de desemprego. O recém-eleito governo continuou com a política de austeridade e anunciou no dia 24 de outubro novos cortes no orçamento público, o que provocou a indignação de grande parte da sociedade.
Medo das elites
Em comunicado, o partido de esquerda Syriza (Coalizão da Esquerda Radical) condenou a prisão do editor da Hot Doc, que caracterizou como “provocativa e inaceitável”. "A acusação contra Vaxevanis é política, e como tal deve ser enfrentada pela totalidade do povo grego”, diz o texto citado pelo site de notícias Athens News. “A população sofre com as consequências da política mais classista já conhecida pela Grécia desde a restauração da democracia”.
O partido comunista do país aderiu às críticas. “O deboche e a enganação do povo grego por aqueles que os enganam e os utilizam de acordo com suas conveniências políticas e econômicas deve parar”, afirmou o grupo em texto. “O sistema econômico e político que prevalece não quer que as pessoas saibam a verdade e o seu objetivo é desorientar e enganar o povo”, acrescentou.
George Papaconstantinou, ex-ministro das Finanças que recebeu a lista de Lagarde, disse que as autoridades gregas não agiram por medo de confrontar a elite econômica e política do país. O membro do PASOK (Partido Socialista Pan-Helênico) ainda alertou que o problema da evasão fiscal do país é muito mais extenso do que estes dois mil nomes.
“A quantia não é insignificante, mas a verdade é que, se comparada a outras listas que o Ministério das Finanças possui, ela não é o tesouro encantado que todos esperam”, disse ele segundo o jornal britânico Guardian. “Existe uma lista do Banco da Grécia com 54 mil pessoas que tiraram 22 bilhões do país. Isso é oficial e pode ser utilizado na Justiça”, acrescentou.
Histórico
O documento foi adquirido pelas autoridades francesas há quatro anos, em uma investigação contra Herve Falcianium, ex-funcionário do banco HSBC que copiou detalhes de contas bancárias dos correntistas em um computador pessoal. Em 2010, Lagarde entregou a lista em um CD e USB para Papaconstantinou, que diz ter iniciado as investigações.
Por conta de alegação da administração atual do Ministério das Finanças, de que não recebeu o documento do ex-ministro, o Parlamento grego abriu o inquérito sobre o caso. Depois do esclarecimento de Papaconstantinou, as autoridades disseram que encontraram a lista.
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