Relatório final do CPI Cachoeira opinião 1:  O relatório Cunha e a falta de estadistas na República  29/11/2012
 Luis Nassif
 É sintomático o recuo do deputado Odair Cunha e do presidente do PT, 
Rui Falcão, em relação ao indiciamento de jornalistas claramente 
acumpliciados com o crime organizado.
O PT tornou-se um partido invertebrado. No Congresso, a bancada inteira pesa menos que um Álvaro Dias.
E invertebradas são as instituições brasileiras. Instituições têm a 
Inglaterra, capazes de julgar os abusos de Rupert Murdoch sem receio de 
que seus magistrados sejam atingidos por ataques pessoais ou que se 
coloque em dúvida o compromisso das instituições com a democracia.
O próprio relatório inicial de Odair Cunha deixava claro que, ao propor o
 indiciamento do diretor da Veja em Brasília, Policarpo Jr., não se 
cogitava em brigas políticas ou em atentados à liberdade de imprensa, 
mas em combater especificamente alianças de veículos e jornalistas com o
 crime organizado. Era uma maneira de depurar a mídia e trazer a 
discussão dos limites da imprensa para uma arena republicana: o 
Judiciário, e não nas bobagens de um conselho de jornalismo, como se 
cogitou anos atrás.
Nem isso se consegue.
No Brasil, graças à covardia generalizada das instituições – Judiciário,
 Executivo, Legislativo e partidos –, a resistência contra essa aliança 
mídia-crime é individual, voluntarista, sujeitando os resistentes a 
ataques pessoais devastadores, porque sem limites judiciais.
Na série "O caso de Veja" (https://sites.google.com/site/luisnassif02/) 
relato com pormenores algumas dessas jogadas. Mostro o massacre sobre a 
juíza Márcia Cunha, que concedeu liminar contra Daniel Dantas; a armação
 contra o desembargador que confirmou a liminar; os ataques aos 
jornalistas que ousaram denunciar a trama. Mostro a parceria da revista 
com os esquemas de Dantas e Cachoeira. Em vão!
A abertura para as parcerias criminosas surgiu, inicialmente, da falta 
de limites aos exageros da mídia. O que, no início, era apenas mau 
jornalismo, tornou-se uma falta de critérios generalizada. Para alguns 
veículos, abriu-se a brecha para se oferecer como agente de guerras 
comerciais ou criminosas, como ocorreu na parceria Veja-Cachoeira ou 
Veja-Dantas.
É um sistema que, hoje em dia, não poupa ninguém, de presidentes de 
Tribunais a procuradores, de políticos a administradores ou vítimas 
meramente do mau jornalismo ou de jogadas criminosas.
Quem puder comprar proteção, faça como Ayres Britto. Quem se insurgir 
contra esse poder devastador, sofra as consequências, como Márcia Cunha.
Quando o indescritível Ministro Luiz Fux diz que o Judiciário não teme 
ninguém, digo, ele mente: teme o poder dos ataques individualizados da 
mídia. Teme sim, da mesma maneira que Odair Cunha, Rui Falcão, Ayres 
Britto e outros.
Só se melhorará a mídia com limites institucionais definidos pelo 
Judiciário ou pelo Legislativo, não pelo voluntarismo de pessoas que 
terminarão destruídas pelo poder avassalador da prática da difamação em 
larga escala.
Mas há falta generalizada de estadistas em todos os poderes da República.
 
 
 
 
 
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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