Polícia e Procuradoria têm 600 páginas de investigação sobre Rosemary
por Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – A Polícia Federal (PF) e a Procuradoria da República em
São Paulo têm 600 páginas com conteúdo da investigação sobre a ex-chefe
de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa de
Noronha. Ela é acusada de participar de um esquema criminoso infiltrado
em órgãos federais, alvo da Operação Porto Seguro, deflagrada na última
sexta-feira (23).
A Casa Civil exonerou Rosemary do cargo, na última segunda-feira
(28), e abriu investigação interna sobre o caso. A PF recolheu e fez
cópia da memória de computadores e documentos em posse da ex-chefe de
gabinete. Sua sala, no escritório da Presidência da República em São
Paulo, e sua casa foram alvo de ação da PF.
De acordo com a procuradora da República Suzana Fairbanks, que
coordenou a investigação no Ministério Público Federal (MPF) em São
Paulo, em conjunto com a PF, Rosemary tinha acesso a pessoas com “os
cargos mais altos” do governo e vendia sua influência.
Ela, segundo a procuradora, é que teria conseguido a nomeação, em
maio de 2010, do diretor de Hidrologia da Agência Nacional de Águas
(ANA), Paulo Rodrigues Vieira, e do diretor de Infraestrutura
Aeroportuária da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Rubens Carlos
Vieira. Os irmãos são acusados de chefiar a quadrilha.
“Eles sabiam que ela tinha acesso a gente privilegiada dentro do
governo. Tanto que se utilizava desse cargo, e aí é que está o crime,
para fazer contatos de interesse deles. Agendamento de reunião com
políticos, nomeação deles nas agências reguladoras. Ela ficava lá,
pegando no pé do pessoal do alto escalão, porque tinha essa proximidade,
tinha proximidade física”, disse a procuradora na noite dessa
terça-feira (27).
“Ela debate muito com eles, ‘vou falar com fulano, vou falar com
sicrano’. Mas eu não sei exatamente com quem ela conseguiu isso [as
nomeações]. O fato é que estava tentando e ela estava veementemente
trabalhando nisso”, acrescentou.
O pagamento pelas nomeações e outros “favores” dela eram feitos, por
exemplo, com dinheiro para cirurgias e novas nomeações, agora realizadas
pelos irmãos Vieira, em benefício de Rosemary.
“A nomeação da filha dela [Mirelle Nóvoa de Noronha, assessora
técnica da Diretoria de Infraestrutura Aeroportuária da Anac], ela
enfiou goela abaixo do Rubens [diretor da Anac]. Ele falava: ‘ainda vou
ter que aguentar essa’. Ele fala isso para o Paulo [Vieira, seu irmão],
como um pagamento dos favores dela. Eles ficaram pagando o favor dela
dos cargos por mais de ano”, ressalta a procuradora. Mirelle foi
exonerada ontem (27) do cargo.
“De amizade [entre Rosemary e os irmãos Vieira] não tinha nada,
porque era uma cobrança mútua e constante, e bem às claras. A prova dos
autos comprova tudo isso”, acrescentou a procuradora.
Fairbanks disse ainda que a influência de Rosemary não se alterou
depois do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, gestão em
que foi nomeada. A procuradora afastou também a possibilidade de ela ter
negociado com o ex-presidente. “Conversa dela com o Lula não existe.
Nem conversa, nem áudio e nem e-mail. Se tivesse, nós já não estaríamos mais com a investigação aqui”.
A procuradora ainda rebateu a informação de que ocorreram centenas de
telefonemas entre a ex-chefe de gabinete e Lula. “Eu não sei de onde
saiu isso, porque nunca tive acesso a isso. Vocês podem virar de ponta
cabeça o inquérito, em toda a investigação”.
Sobre o ex-ministro José Dirceu, Fairbanks disse que, apesar de ele ter sido citado nos e-mails de
Rosemary, não há indícios de sua participação no esquema. “Não tem uma
relação direta dele [Dirceu] de sociedade [no esquema] ou de eventual
lucro”, destacou.
A procuradora disse que ainda poderá pedir a prisão de Rosemary “de
acordo com a necessidade da investigação”, que depende da averiguação do
material apreendido. Rosemary responde pelos crimes de tráfico de
influência e corrupção passiva.
Edição: Graça Adjuto
Nenhum comentário:
Postar um comentário