Do Estadão
Objetivo é igualar os porcentuais estabelecidos pelo governo Dilma Rousseff às federais na Lei de Cotas
Bruno Pires
As três universidades públicas paulistas, USP, Unesp e Unicamp,
 fecharam na quinta-feira proposta que será apresentada nesta semana ao 
governador Geraldo Alckmin para adoção de um programa de cotas que 
destinará 50% das vagas a alunos que cursaram integralmente o ensino 
médio em escolas públicas. O objetivo é igualar os porcentuais 
estabelecidos pelo governo Dilma Rousseff para as universidades federais
 na Lei de Cotas. 
A afirmação é do reitor da Unesp, Julio Cezar 
Durigan, membro do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de 
São Paulo (Cruesp), que vinha discutindo o plano desde o início de 
outubro, quando o governador pediu a sua formulação, após a 
regulamentação da Lei de Cotas - que só se aplicas às instituições 
federais de ensino. 
A proposta estadual, assim como a lei federal, 
leva em conta critérios econômicos e raciais de inclusão. Metade das 
vagas reservadas seria para estudantes com renda familiar igual ou 
inferior a 1,5 salário mínimo por pessoa; e 35%, para pretos, pardos e 
índios.
"A proposta para o programa de cotas já foi 
escrita e vai ser apresentada nesta semana ao governador. Estamos 
fazendo o mesmo que o governo federal, mas com mais qualidade", afirmou 
Durigan, em entrevista ao Estado. Atualmente reitor em exercício, ele já
 foi nomeado para assumir formalmente a reitoria pelos próximos quatro 
anos, a partir de janeiro.
Segundo Durigan, o 
documento será entregue ao governador por Luiz Carlos Quadrelli, 
secretário em exercício de Desenvolvimento Econômico, Ciência e 
Tecnologia de São Paulo, pasta à qual as universidades estão ligadas. 
A reportagem solicitou entrevistas com os reitores
 da USP, João Grandino Rodas, e da Unicamp, Fernando Costa, mas não foi 
atendida. A assessoria de imprensa da USP não confirmou as informações 
passadas por Durigan. A Unicamp, em nota, resumiu-se a dizer que uma 
comissão criada recentemente pelo Cruesp discute uma proposta preliminar
 sobre inclusão social.
Segundo Durigan, o projeto se basearia em dois 
pilares: qualidade, por meio de reforço no aprendizado, e permanência, 
por meio da concessão de bolsas de cerca de um salário mínimo. 
"Temos de dar duas condições para eles: um reforço
 de aprendizado, porque eles vêm com deficiência na sua formação, e uma 
garantia de bolsa para que eles permaneçam no curso, pois não adianta 
nós incluirmos esse aluno e ele não conseguir ficar porque a família 
dele não tem condições", diz Durigan.
Preparação. O reforço poderia ser dado de duas 
formas. Uma delas seria um curso preparatório anterior à entrada na 
universidade, de um ou dois anos, para o aperfeiçoamento em matérias que
 já são dadas no ensino médio, mas que já valeria como um curso de nível
 superior - como os "colleges" do modelo americano, segundo Durigan. 
A outra proposta é dar um reforço paralelo após a 
entrada na universidade, nas disciplinas em que o aluno tiver tirado 
nota baixa no vestibular. 
A estimativa do plano é que 40% dos selecionados 
pelas cotas farão o curso preparatório anterior e 60% irão para a 
universidade diretamente após o vestibular, com a possibilidade de 
reforço paralelo.
"O curso preparatório anterior à universidade 
seria como um college e daria um diploma de nível superior a esses 
alunos, um diploma intermediário. E depois eles estariam aptos a entrar 
na universidade ou poderiam entrar no mercado de trabalho", explicou 
Durigan.
Sobre o diploma que o estudante obteria após a 
conclusão do college, Durigan afirmou que ele permitirá prestar concurso
 público com nível superior. 
Ele defende que é melhor fazer esse curso do que 
um cursinho pré-vestibular. "O que nós queremos é levar esse aluno para 
cima. Os alunos que entram nos vestibulares mais concorridos já ficam 
dois ou três anos no cursinho. Os alunos que vão fazer o reforço antes 
da universidade não vão fazer um cursinho, mas um curso voltado ao 
trabalho. Apostamos nesse college prévio porque o indivíduo sai com 
formação. Se quiser, pode ganhar dinheiro, prestar concurso público. Se 
ele quiser progredir mais, tem a oportunidade de fazer um curso como 
Medicina, Engenharia, escolhendo dentro do número de cotas disponíveis, 
dependendo do seu rendimento, sem precisar fazer uma nova prova."
A seleção dos cotistas que iriam para o curso 
anterior à universidade poderia se dar pelo desempenho que tiverem na 
rede pública, pela nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou pelo
 Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo 
(Saresp), algo que será definido pelo governador.
As aulas do college seriam semipresenciais. As 
avaliações seriam presenciais, mas a maioria do curso seria a distância,
 pelo sistema da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp). 
Entre as disciplinas adiantadas por Durigan estariam matemática, física,
 química, português e redação, filosofia, inglês e, possivelmente, 
iniciação à pesquisa.
"É uma mudança de paradigma. Queremos incluir 
gente que normalmente não entra pelo vestibular. Nós queremos prestigiar
 o aluno da escola pública e dar qualidade para que ele se mantenha no 
curso, entre em igualdade de condições e pela porta da frente. É a 
inclusão que nós queremos", afirmou Durigan.
Repercussão. O presidente da ONG Educafro, frei 
David Santos, disse que está em contato com o diretor da Univesp, Carlos
 Vogt, sobre o assunto e que aprova a ideia do modelo de college, assim 
como a cota de 50% e a bolsa para cotistas. "Caso a proposta venha a se 
concretizar, o governador e os três reitores estão saindo da 
meritocracia injusta e adotando a meritocracia justa", afirmou.
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