Do Correio Braziliense
Dilma assume o comando da economia
Intervenção de Dilma
ROSANA HESSEL
Enquanto disputas de poder no alto
escalão minam a credibilidade do governo, a presidente conversa
reservadamente com grandes empresários e centraliza ainda mais decisões
estratégicas
Presidente da República assume o comando da economia, amplia contatos
com empresários e pede mais investimentos para a retomada do
crescimento. Financial Times diz que, ao maquiar as contas públicas,
Brasil confirmou a fama de "país do jeitinho"
A presidente Dilma Rousseff assumiu, definitivamente, o bastão de
ministra da Economia. Desde o início do ano, tomou para si a missão de
convencer, pessoalmente, alguns dos empresários mais importantes do país
a retomarem os investimentos produtivos e, com isso, ajudarem na
recuperação do crescimento do país. Ela está certa de que, hoje, ninguém
da sua equipe econômica será capaz de reverter o pessimismo e a onda de
desconfiança que se abateu sobre o capital. Sem o otimismo de volta,
está condenada a ver os dois últimos anos de seu governo repetindo os
baixos índices de crescimento de 2011 e 2012, complicando seus planos de
reeleição.
Dilma foi persuadida por seu mentor, o ex-presidente Lula, de que o
melhor caminho para despertar o espírito animal dos empresários seria
recebê-los individualmente, ouvindo as queixas e sugestões e dizendo o
que o governo está fazendo e o que pode fazer para sustentar o avanço do
Produto Interno Bruto (PIB), como os projetos de concessão de portos,
rodovias, ferrovias e aeroportos. O Palácio do Planalto acredita que a
estratégia dará certo e funcionará como contraponto à campanha contra o
ministro Mantega “encabeçada pelos que estão perdendo dinheiro com as
mudanças impostas na economia pelo governo em favor da maioria da
população”.
Dilma reconhece que houve falhas importantes na comunicação do
governo com os agentes econômicos, sobretudo em relação às contas
públicas. Mas, para ela, é inaceitável campanhas feitas, sobretudo, no
exterior. Primeiro, foi a revista inglesa The Economist, que pediu a
demissão de Mantega. Ontem, foi a vez de o prestigiado jornal Financial
Times, referência no mundo das finanças, ironizar “o jeitinho
brasileiro” na administração das contas públicas, sempre buscando
artifícios para cumprir a meta de superavit primário de 3,1% do PIB.
Nas palavras da publicação, o termo “jeitinho” se refere ao hábito
nacional de se desviar de regras ou convenções por meio de táticas
“altamente criativas”, beirando a ilegalidade. “Você não tem ingressos
para um show ou não passou em sua prova de habilitação para dirigir? Não
se preocupe: basta encontrar um jeitinho. Parece que isso também
funciona para administrar a economia brasileira”, destacou o texto de um
dos blogs mais acessados do jornal.
Na cabeça de Dilma, pelo menos neste momento, não há a menor
possibilidade de mudanças na equipe econômica, ainda que não faltem
candidatos para o comando da Fazenda, como o ministro do
Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e o presidente do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. “Dilma
está satisfeita com Mantega e vai mantê-lo firme a seu lado. Ele faz o
que o governo acredita que deve ser feito. Agora, se está contrariando
interesses arraigados no país, não podemos fazer nada. O que importa, na
visão da presidente, é o melhor para o Brasil. E Mantega está empenhado
em fazer o melhor”, disse um dos assessores mais próximos de Dilma.
Isso não quer dizer, porém, que a presidente esteja satisfeita com o
imenso desgaste enfrentado pelo governo por causa das manobras fiscais
anunciadas pela Fazenda, com o intuito de engordar o caixa do Tesouro
Nacional em quase R$ 20 bilhões.
Os encontros com o empresariado
começaram na semana passada. Ontem, passaram pelo Planalto o presidente
do Conselho de Administração do Grupo Gerdau, Jorge Gerdau; Eike
Batista, presidente do Grupo EBX, e seu pai Eliezer Batista, além do
fundador da Kahan Academy, Salman Khan, em companhia do bilionário
brasileiro Jorge Paulo Lemann, acionista controlador da Ambev, do Burger
King e das Lojas Americanas.
Questionado pelo Correio sobre o que
conversou com Dilma, Lemann foi sucinto: “Disse que estamos fazendo o
que sempre fizemos: investindo. Temos projetos em todas as nossas
empresas e nunca demos muita atenção se a economia está muito aquecida
ou não. Sempre mantemos uma visão de longo prazo. Sabemos que, no
Brasil, isso dá certo”.
GM insiste em demissões
O
diretor de Assuntos Institucionais da General Motors, Luiz Moan Junior,
afirmou ontem que continua negociando o corte de 1,8 mil empregados da
fábrica de São José dos Campos (SP). As dispensas seriam necessárias
porque a unidade deixou de produzir os modelos Zafira, Meriva e Corsa.
Segundo Moan, que se reuniu ontem com o secretário-geral da Presidência,
Gilberto Carvalho, as demissões não contrariam o governo.
Eike promete mais energia
O empresário Eike Batista, avisou ontem à presidente Dilma
Rousseff que ajudará o governo a afastar o risco de racionamento de
energia. Segundo ele, duas termelétricas da MPX adicionarão 680
megawatts (MW) ao sistema elétrico nacional até o fim de fevereiro.
Antes da conversa com Dilma, o multimilionário se encontrou com o
ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. “Temos vários projetos,
plantas, que estão entrando agora e que vão integrar o parque brasileiro
para ajudar a não ter racionamento. Não vai ter”, disse. Ao longo do
ano, o grupo de Eike contribuirá com um total de 3 mil MW ao sistema por
meio de usinas a carvão e a gás natural. O empresário ressaltou que
está recorrendo contra a cobrança de R$ 3,7 bilhões em impostos feita
pela Receita Federal.
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