Movimento foi brutalmente reprimido: 150 foram presos e cerca de 50 mil enviados ao front
Acossados pela fome e crescentemente angustiados com a continuidade da Grande Guerra, centenas de milhares de trabalhadores alemães, oprimidos e submetidos por longa data a enormes sofrimentos, organizam em 27 de janeiro de 1918 uma greve geral em Berlim.
Wikimedia Commons - Rosa Luxemburgo
Embora o ano de 1917 tivesse trazido uma série de vitórias militares das Potências Centrais – o Kaiser Guilherme, numa visita ao Front Ocidental em dezembro, disse que os acontecimentos daquele ano provaram que Deus estava do lado dos alemães –, assistiu-se também que a fome e o descontentamento se alastravam no front doméstico a níveis sem precedentes. Houve um total de 561 greves em 1917, contra 240 no ano anterior e 137 paralisações em 1915. Os salários reais – ou a relação dos salários com o custo de vida – caíam drasticamente com efeitos desastrosos para os empregados executivos também e para a economia como um todo.
A guerra, tendo por inimigo a Rússia, cortou a Alemanha e o império Austro-Húngaro do crucial suprimento de alimentos e o bloqueio naval aliado no Mar do Norte exacerbou a escassez resultante.
No começo de 1918, as espinhosas negociações com os líderes bolcheviques da Rússia em Brest-Litovsk apontavam para um atraso ainda maior do influxo de comida e outros recursos. O descontentamento estalou primeiramente na Áustria, onde as rações de farinha de trigo foram cortadas em meados de janeiro. Greves estouraram quase imediatamente em Viena e, em 19 de janeiro, a paralisação se estendia praticamente a todo o país.
A escassez de alimentos foi ainda pior na Alemanha onde cerca de 250 mil pessoas morreram de fome em 1917. A greve começou em Berlim em 27 de janeiro de 1918, quando 100 mil trabalhadores tomaram as ruas, exigindo o fim da guerra em todas as frentes de batalha. Em poucos dias a massa operária em greve atingia 400 mil, a maioria das fábricas de munição. Os grevistas de Berlim receberam a solidariedade de seus companheiros numa série de outras grandes cidades: Dusseldorf, Kiel, Colônia e Hamburgo. A imprensa estimava que mais de 4 milhões de trabalhadores ocupavam as ruas em toda a Alemanha.
Em assembleia, elegem 414 delegados que, por sua vez, elegem o comitê de greve de 11 membros, todos provenientes do núcleo dos delegados revolucionários. Além dos 11, somam-se ao comitê três membros dos sociais-democratas e três dos sociais-democratas independentes.
Wikimedia Commons - Karl Liebknecht
No dia seguinte, a greve se alastra. As negociações entre as autoridades e o comitê de greve fracassam. O comitê é declarado ilegal. Os sociais-democratas, que tinham entrado no movimento com o intuito de controlá-lo, hesitam e acabam reconhecendo a derrota. O comitê propõe a volta ao trabalho em 3 de fevereiro.
A reação do exército e do governo alemão - alarmados com a antevisão de uma revolução ao estilo bolchevique e preocupados com o retardamento das negociações de paz em Brest-Litovsk – foi rápida e decisiva. A repressão é brutal. Dirigentes da Liga Spartaquista, com Rosa de Luxemburgo e Karl Liebknecht à frente, são presos. Em 31 de janeiro, é decretado o estado de sítio e os líderes dos trabalhadores são submetidos à corte marcial. Cento e cinquenta foram encarcerados e perto de 50 mil foram compulsoriamente alistados no exército e enviados para o front.
A derrota violenta da greve de janeiro de 1918 ficou na memória dos trabalhadores alemães. O movimento revolucionário de então não pode ser entendido sem esse acúmulo de desilusão e cólera contra os chefes militares e seus porta-vozes políticos e contra os líderes partidários que a eles cederam.
Após as greves e o Tratado de Paz de Brest-Litovsk firmado em março de 1918, os generais Paul von Hindenburg e Erich Ludendorff passam a agir como ditadores, apoiados por boa parte da população.
Nenhum comentário:
Postar um comentário