Na semana passada, primeiro, um tal "Observatório Sírio de Direitos Humanos", publicou rumores de uso de armas químicas na cidade de Homs. Em seguida, apareceu a desinformação o Ministério da Defesa russo ter enviado forças especiais para a Síria em navios da Marinha. O ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov foi forçado mais uma vez desmentir evidências de Bashar Assad ter pedido asilo na Rússia. Finalmente, informações sobre a criação de um centro de crise no ministério referido foram apresentadas como mais um passo do Kremlin para render Bashar al-Assad e para preparação da sua fuga da Síria.
Entretanto, como é evidente, ninguém está fugindo para qualquer lugar. E mais ainda, com o governo legítimo de Assad a Rússia tem mantido uma "relação de trabalho normal", como a descreveu primeiro-ministro Dmitry Medvedev, durante uma visita oficial na França. E não consiste em "prestação de serviços jurídicos", pois, Bashar al-Assad não precisa deles, como já disse preferir morrer na sua terra — mas em assistência militar. Os navios da Marinha russa, um após o outro, estão de serviço no Mediterrâneo Oriental, com a escala obrigatória na base militar russa em Tartus. Na segunda-feira (24), o Ministério da Defesa informou grandes navios anfíbios da Frota do Mar Negro "Nicholai Filchenkov" e "Azov" terem rumado para o Bósforo. Substituem navios "Novocherkassk" e "Saratov", cuja missão na região terminou. Apesar do Ministério das Relações Exteriores ligar o fato com uma possível evacuação dos russos da Síria (por 50 mil pessoas), é um forte fator de impedimento a qualquer agressor estrangeiro.
Além disso, a Rússia cumpre seus contratos militares, sem revelar o conteúdo deles. De acordo com Jeremy Binnie, editor do portal Terrorismo de Jane e Monitor de Segurança, a Rússia forneceu recentemente à Síria os sistemas de mísseis "Buk-M2" e " Pantsir -C1", equipados com sistemas de radar. O autor acrescenta que os S-300 também podem ter sido entregues, mas ainda não estão em serviço. Em qualquer caso, se trata, é do fornecimento de modernos sistemas de defesa aérea, que é o principal fator de impedimento da Síria. Sabe-se que as guerras na Jugoslávia e na Líbia o Ocidente ganhou com bombardeios aéreos.
O sistema da defesa antiaérea síria é um pouco mais de 900 lançadores de mísseis antiaéreos, dos quais a grande maioria é os sistemas S-75 e S-125 (os últimos há por 600). Às portas longínquas o céu da Síria protegem os sistemas S-200M com um alcance de até 200 quilômetros. Para protege-los há 60 lança-mísseis "Wasp", resumidos em 14 baterias e cerca de 4 mil peças de artilharia. O país está dividido em zonas norte e sul zona de defesa antiaérea, que são controladas a partir de três centros de comando, equipados com computadores. Nas Forças da Defesa Antiaérea servem cerca de 60 mil militares, segundo o site russo " Notícias militares". Todo esse potencial é duas vezes mais poderoso do que tinha Gaddafi.
O chefe da Força de Defesa do Exército, o major-general Alexander Leonov disse esta semana á rádio "Eco de Moscou", que "a defesa na Síria é uma grande força." "E como um indicador é que ainda contra ela ninguém usou seriamente um ataque aéreo," — acrescentou. Se a Síria não repitir a triste história da Líbia, onde os rebeldes invadiram quatro divisões de defesa antiaérea e um quinto Gaddafi ficou assustado de usar, o Ocidente não se atreverá a iniciar uma guerra em grande escala. E vice-versa, o fato do governo sírio atrever usar a sua defesa antiaérea, é confirmado pela intercepção em junho da aeronave de reconhecimento turco F-4 a ter violado as fronteiras sírias.
A única desvantagem de um poderoso complexo de defesa aérea de Assad, de acordo com os analistas militares, é o pessoal mal treinado para trabalhar com tecnologia complexa. E neste contexto a Rússia também ajuda. O jornal britânico Guardian dia 23 de dezembro publicou um artigo intitulado "A presença militar da Rússia na Síria é um problema para a intervenção encabeçada pelos EUA." De acordo com os dados confidenciais do jornal, para a Síria vieram os conselheiros militares russos, que iriam aconselhar as tropas sírias para instalar e implementar os novos mísseis "terra-ar".
Um funcionário do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, Guy Ben-Ari confirma esta informação. "Eles (Rússia — Red.) não se limitam por vender equipamentos. Eles também ajudam a criar as tripulações e treiná-las", o cita Guardian.
A profundidade e complexidade da defesa aérea síria significa que qualquer campanha ocidental reta em apoio a uma zona de exclusão aérea ou ataques aéreos diretos seria cara, demorada e arriscada por possíveis perdas militares russas, o que possa levar a imprevisíveis consequências geopolíticas, opina o jornal. Com isso, descobre-se o que ainda assusta o Ocidente — é a possibilidade da Rússia ficar envolvida na guerra. Também é um forte elemento de impedimento, e o Ocidente sabe que Putin pode responder adequadamente.
O autor do Guardian a seguir analisa a capacidade e o equipamento do potencial agressor a levar uma guerra para a vitória. Segundo ele, a "campanha síria" precisava dos estoques de armas guiadas (mísseis), que quase todos foram usados em operações militares na Líbia. Além disso, de aviões "Stealth", imagens de satélite e reconhecimento aéreo. Todos os itens acima indicados estão em posse apenas dos EUA, por isso, desta vez, Washington não poderá "desempenhar o papel de um observador," como foi na Líbia. Acrescentamos que a guerra nova em grande escala o Ocidente com orçamentos apertados simplesmente não poderá pagar.
Tudo isso, segundo o ministro russo do MNE Serguei Lavrov, "não apetece ao Ocidente" atacar a Síria. Além disso, Obama substituiu os "falcões" por pessoas propensas a um compromisso. Departamento de Estado será chefiado pelo veterano da Guerra do Vietnã, John Kerry, e da CIA foi demitido David Petraeus — o advogado mais poderoso de intervenção na Síria.
A defesa aérea síria, em conjunto com o apoio militar de Moscou para Damasco, bem como a natureza fragmentada da oposição e a crise econômica mundial explicam por que ainda sendo prevista há um ano, quase por todos os analistas ocidentais, a intervenção militar à Síria não foi realizada. Parece, mesmo, que não vai acontecer, apesar da provocação de alguns meios de comunicação, promovidos pelo complexo militar industrial norte-americano.
Lyuba Lulko
Pravda.Ru
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