terça-feira, 5 de março de 2013

Aos 58 anos, morre o presidente da Venezuela Hugo Chávez 05/03/2013

Sul 21

Da Redação
O vice-presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, às 18h55 (horário de Brasília) desta terça-feira (5), anunciou a morte do presidente do país Hugo Rafael Chávez Frias. O anúncio ocorreu em um pronunciamento em rede nacional momentos após as autoridades venezuelanas terem dito que o estado de saúde do presidente era crítico. O líder venezuelano enfrentava um pesado tratamento contra um câncer na região pélvica e tinha retornado recentemente de Cuba, onde fora operado.
No pronunciamento, Maduro disse que, nas próximas horas, o governo vai informar onde será velado o corpo de Chávez e dará detalhes sobre o sepultamento. Maduro pediu que o povo venezuelano enfrente este momento “com o amor que Chávez ensinou”. O vice-presidente encerrou a fala com a frase: “Viva Hugo Chávez! Viva para Sempre”.
Tristeza e luto
O clima de tristeza predomina nas principais cidades da Venezuela, após a confirmação da morte do presidente Hugo Chávez, na tarde de hoje (5). Simpatizantes e correligionários de Chávez choram, reúnem-se em manifestações nas ruas e repetem palavras de ordem. Nas ruas, os chavistas gritam: “Todos somos Chávez”, “Ele segue vivo” e “Temos pátria”.
“Para mim, ele foi com uma pessoa da família e continuará sendo assim. Os políticos de todos os locais devem aprender a dar esse amor que ele nos deu”, disse Gregoria Jiménez, uma das simpatizantes de Chávez, que se uniu à manifestação ao saber da morte do presidente.
O clima de luto e pesar pode ser visto nas principais ruas de Caracas, capital do país, e de cidades no interior venezuelano. Pessoas circulam pelas ruas com bandeiras vermelhas, um dos símbolos do governo chavista, e cartazes com fotografías do presidente, assim como alguns vestem camisas do Partido Socialista Unido da Venezuela (Psuv), legenda de Chávez, ou estampadas com o rosto do líder.
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Hugo Chávez (1954-2013) | Foto: avninfo.,ve
Hugo Chávez Frías nasceu em 28 de julho de 1954 na vila rural de Sabaneta, segundo de sete filhos de uma família de trabalhadores pobres. Sem condições de criar adequadamente todos os filhos — às vezes, segundo Chávez, não havia nem mesmo comida em casa –, os pais de Hugo enviaram ele e seu irmão mais velho, Adán, para viver com sua avó Rosa, uma católica devota. Apesar da pobreza, o presidente venezuelano descrevia sua infância como “muito feliz” e falava de sua avó como uma pessoa “pura e cheia de amor”.
De acordo com Hugo Chávez, seu despertar político ocorreu na infância, e consolidou-se a partir de 1971, quando ingressou na Academia de Ciências Militares da Venezuela, em Caracas. Graduou-se em 1975, seguiu carreira, chegando ao posto de tenente-coronel. Nesse período, teve contato direto com a pobreza das classes trabalhadoras e, segundo o próprio, desenvolveu um forte desejo de justiça social.
Em 1992, em meio a uma série de violentas manifestações populares contra a grave crise econômica da Venezuela, o tenente-coronel Hugo Chávez foi um dos principais protagonistas de um golpe de Estado contra o presidente Carlos Andrés Pérez. O levante fracassou e Chávez ficou dois anos na cadeia, mas a ação o elevou ao posto de figura proeminente na política local. Com a posse do novo presidente, Rafael Caldera Rodríguez, Chávez recebeu indulto e foi libertado, abandonando a carreira militar e ingressando definitivamente na militância política.
Consciência política de Hugo Chávez reforçou-se nos anos em que esteve na Academia de Ciências Militares da Venezuela | Foto: ¡Que comunismo!
Foi um dos fundadores, em 1997, do Movimento V República (MVR) e no ano seguinte foi eleito presidente da Venezuela pelo Polo Patriótico, uma coligação de esquerda e centro-esquerda. Assumiu em 1999 e uma de suas primeiras ações foi a realização de um referendo sobre a convocação de uma Assembleia Constituinte, aprovada com 70% dos votos. A nova Constituição eliminou o Senado e delegou mais poderes ao Executivo, em especial com a Lei Habilitante, que permite ao presidente venezuelano governar por meio de decretos pelo período de um ano, sem que as leis sejam aprovadas no parlamento. Segundo os críticos de Chávez, essa medida abriu espaço para ações de intervencionismo do presidente e aproximou o regime de uma espécie de ditadura constitucional. Com o advento da nova Constituição, foi realizada nova eleição em 2000, na qual Hugo Chávez foi reconduzido ao cargo com quase 60% dos votos e o Polo Patriótico reteve ampla maioria no Parlamento.
Prensa Presidencial
Hugo Chávez governava desde 1999, tendo resistido a uma tentativa de golpe de Estado em 2002 | Foto: Prensa Presidencial
Por meio da Lei Habilitante, o presidente editou uma grande série de decretos, a maior parte deles na primeira parte do seu governo. Algumas, como a Lei de Terras e Desenvolvimento Agrário (que determinou a expropriação de uma série de propriedades rurais) e a demissão dos gestores da companhia estatal Petróleos da Venezuela, geraram críticas de vários setores, inclusive de sindicatos e parte da Igreja Católica.
Em 2002, após um choque sangrento em Caracas entre grupos pró e contra Chávez que resultou em 15 mortes, o general Lucas Rincón comandou uma tentativa de golpe de Estado, aprisionando o presidente no presídio de La Orchila e empossando Pedro Carmona como chefe do Executivo. O governo de Carmona foi breve, porém: menos de dois dias depois, em meio a muitos protestos de populares pedindo o retorno do presidente deposto, soldados leais a Chávez promoveram um contra-golpe de Estado e restituíram o presidente ao poder. Há até hoje suspeitas de que o governo dos EUA teria oferecido apoio à tentativa de golpe, algo seguidamente negado pela Casa Branca. Em 2004, um referendo convocado pela oposição a partir da coleta de assinaturas acabou mantendo Chávez no poder, com 58% dos votantes endossando a continuidade de seu mandato.
Hugo Chávez
Presidente venezuelano submeteu-se a quatro cirurgias para combater câncer na região pélvica | Foto: Prensa Presidencial de Venezuela
Reeleito em 2006 e 2012 – nesta última, em disputa com o opositor Henrique Capriles – Hugo Chávez seguiu mantendo sua política de reformas estruturais, no que sempre qualificou como uma Revolução Bolivariana. No entanto, foi derrotado nas urnas em 2007, quando uma proposta de emenda constitucional que, entre uma série de outras reformas, consolidaria a Venezuela como república socialista foi recusada pela maioria dos votantes. De qualquer maneira, seu modelo de governo consolidou-se no país e acabou inserido em um contexto maior dentro da América Latina, interagindo com uma série de outros governantes de esquerda que foram assumindo no decorrer do anos em países como Uruguai, Equador, Bolívia e no próprio Brasil.
O câncer, porém, passou a tomar conta dos noticiários envolvendo Hugo Chávez. A natureza do tumor nunca chegou a ser plenamente conhecida, revelando-se apenas que estava localizandona região pélvica. O presidente venezuelano submeteu-se a quatro cirurgias ao todo, todas em Cuba. Antes da última, em dezembro do ano passado, Chávez repassou boa parte de seus poderes ao vice, Nicolás Maduro. Após a intervenção, Chávez sofreu hemorragia, infecções e complicações respiratórias, que debilitaram sua saúde e acabaram resultando em sua morte.

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