Gigante traz tecnologias dos EUA e treina funcionários da Rapidão Cometa em "pique total"
Daqui a mais ou menos um ano, a integração das duas empresas estará concluída. Então, a marca Rapidão Cometa, uma empresa familiar fundada há 73 anos, que atende um território onde se encontra 96% do PIB brasileiro, irá acabar. E a marca FedEx, que atua em 220 países e tem faturamento global de US$ 43 bilhões, vai chegar "de verdade" ao Brasil.
Maxey se mudou para o escritório de São Paulo da companhia em 2011. Entre comentários sobre a maravilhosa comida e os não tão gostosos entraves burocráticos do País, o executivo falou ao iG sobre a integração que, nas palavras dele, ocorre em "pique total". Veja a entrevista.
iG: Então a FedEx está prestes a chegar "de verdade" ao Brasil?
Troy Maxey:
Está prestes a chegar "in a big way" (ou "no sentido amplo" – a
entrevista foi feita em inglês). Os negócios aqui estão crescendo,
estamos empolgados e otimistas. Muita gente pode não saber, mas operamos
no Brasil há mais de 20 anos. Mas a Rapidão Cometa foi um grande
negócio para nós, a empresa cobre 96% do PIB brasileiro. A gente vai
combinar a rede da Rapidão com nosso conhecimento internacional.
iG: Como anda a integração?
Maxey:
Nós já trabalhávamos juntos há 20 anos (a Rapidão era parceira local da
FedEx). Tínhamos um bom conhecimento sobre quem eram, sabíamos que
tinham ótimos gerentes e líderes. A transição está indo bem, fizemos um
treinamento inicial com todo o nosso pessoal aqui para que entendessem o
negócio deles. Fizemos encontros por todo o País, mais de cinquenta
encontros. É um esforço combinado entre eu e outros executivos de alto
escalão, viajamos para encontrar pessoalmente esses empregados. Todos
estão sendo treinados, os 9 mil e tantos funcionários.iG: Você está treinando pessoalmente funcionários?
Maxey: Não necessariamente, existe uma diferença entre essas sessões de orientação, para apresentar os funcionários das duas empresas, e o treinamento adicional posterior. É uma integração grande e complexa, entre sistemas diferentes, departamentos diferentes. Estamos acelerando, a meta concluir o processo em cerca de 18 meses a partir da aquisição (em maio de 2012).
iG: Quanto executivos vieram dos EUA para cá tocar esse processo?
Maxey: Bem, a sede da divisão latino-americana da empresa é em Miami, e algumas pessoas não chamam ali de EUA... (risos) Temos um forte contingente de pessoal que está em alinhamento com o pessoal da Rapidao. Diretores de RH (recursos humanos), por exemplo, que ficam aqui uma ou duas semanas alinhando com o RH da Rapidão, para identificar sinergias nos nossos recursos humanos.
Pessoas vão em vem, é difícil dizer um número. Trabalhamos em engenharia, recursos humanos, tecnologia, marketing, todos os departamentos que você pode imaginar. Então existem pessoas constantemente indo e vindo todas as semanas. Temos um grupo exatamente agora acessando as redes das duas companhias, vendo as melhores formas de integrar.
Já identificamos algumas sinergias. Existem curriers da FedEx que estão trabalhando em instalações da Rapidao Cometa, porque é uma forma de encurtar distancias até os clientes. Coisas como essas estão acontecendo.
Então não estou evitando a questão, mas não existe um número, são pessoas indo e vindo constantemente. Tem pessoas em Recife agora, tem pessoas em São Paulo agora. Vi um diretor de vendas hoje que está aqui para reuniões com os diretores de vendas da Rapidão, vendo sinergias.
iG: Podemos dizer que está a pique total?
Maxey: Sim. Sim.
iG: Você estão trazendo softwares e tecnologias dos EUA pra cá?
Maxey: Sim. Inclusive já implementamos alguns elementos de rastreamento de encomendas. É um processo. A meta final é ter o sistema inteiro com essa tecnologia de rastreamento que usamos internacionalmente. É um sistema que permite acompanhamento em tempo real de encomendas.
Em 18 meses (a partir da compra), nossos
clientes brasileiros vão ver, sentir e tocar a FedEx como acontece nos
EUA, na Europa, na Ásia, globalmente. É a marca FedEx, e queremos ter
certeza de colocar todas as tecnologias e serviços no lugar antes de
usá-la.
iG: Isso pode ocorrer ainda neste ano?
Maxey:
Será entre 18 e 24 meses da aquisição, ou seja, conte com o meio do ano
que vem. Seremos uma marca doméstica sob o nome de FedEx Express. Mas
coisas vão acontecer antes disso. Alguns elementos de rastreamento de
encomendas já estão funcionando nas instalações e centros logísticos
deles.iG: Mas a mudança da marca, que fará a diferença para os consumidores...
Maxey: Vai acontecer no tempo apropriado. É uma das marcas mais conhecidas do mundo, temos orgulho dela. Queremos ter certeza de que quando colocarmos a marca, o consumidor terá toda a experiência que espera dela. Queremos ter certeza que iremos oferecer aqui os mesmos serviços que lá fora, com nossos rastreadores em tempo real de encomendas, nossas políticas de garantia de devolução do dinheiro.
iG: Vamos contar com os mesmos serviços que os americanos contam?
Maxey: Claro. As políticas de horário de entrega, devolução do dinheiro, rastreamento em tempo real, tudo.
iG: A Sedex, concorrente no mercado de encomendas individuais, está no País há muitos anos. Como a FedEx vê isso?
Maxey: Não é necessariamente um competidor. Nosso negócio não é "correios", nosso alvo são as empresas, desde as pequenas e médias, até grandes marcas globais. Poderá haver entregas de pessoas para pessoas, mas não necessariamente vamos focar no mercado de encomendas pessoais. Nós oferecemos um serviço de alto valor agregado, primariamente para empresas. Mas veremos pessoas usando também, vamos dizer, para mandar um item importante. Pode haver similaridades (com o negócio da Sedex), mas nós não necessariamente vemos "correios" em si como nosso negócio.
iG: Por ser uma empresa estrangeira, a FedEx tem limitações para comprar aviões no Brasil (no mundo, possui 666 aeronaves). Como vai lidar com isso?
Maxey: Na maioria dos países existem essas regras, que proíbem serviços de entregadores estrangeiros de ter aviões no país. Mas uma das razões pelas quais estávamos interessados em adquirir uma empresa local é porque ela pode ser usada como uma entidade local para suprir essa necessidade, caso ela venha a surgir.
iG: Ou seja, a Rapidão pode comprar aviões em nome dela?
Maxey: Achamos que sim, ainda temos que analisar alguns aspectos regulatórios. Mas não necessariamente compramos a Rapidão por esse motivo. E eles têm, também, capacidade de enviar encomendas por avião, que podemos utilizar.
iG: Quais as princiapis diferenças entre a Rapidão, uma empresa familiar, e a FedEx?
Maxey: As diferenças têm mais a ver com restrições de regulação. Por exemplo, quando você transporta via estradas no Brasil, sempre que passa de um estado para outro, tem de apresentar documentos como ICMS, recibos comerciais. Isso pode retardar o transporte. Nos EUA, não temos isso. Uma vez que o pacote entra por um aeroporto, você pode viajar para onde quiser com ele.
iG: Quais são os cuidados para não errar na integração?
Maxey: A chave é respeitar o negócio que compramos. A Rapidão fez um trabalho fantástico por 73 anos. Nos preocupamos em manter o espírito deles no que se refere a soluções para os clientes. Podemos entrar e adicionar valor ao pegar a rede que eles têm e colocar uma camada de tecnologias e a visibilidade que talvez não tenham hoje.
iG: Quem são os maiores clientes da Rapidão Cometa?
Maxey: Não posso comentar sobre isso.
iG: Mas em que setores eles estão?
Maxey: O Brasil tem uma economia doméstica muito robusta. Eles têm uma boa participação em clientes que produzem manufaturas e commodities. Recebem caminhões com essas cargas e têm estoque para armazená-las e distribuí-las conforme a necessidade do cliente.
iG: Houve demissões desde a aquisição?
Maxey: Na maior parte, continua a mesma coisa. Ninguém foi demitido em nenhuma das duas empresas. Nada digno de nota.
iG: Quando você se mudou para o Brasil?
Maxey: Em janeiro de 2011. Tenho a sorte de morar no sul da Flórida e no Brasil. Não sei se existe comida melhor no mundo que a brasileira, e você pode comer o quanto quiser sem se preocupar com engordar, porque a comida é mais natural e orgânica que nos EUA. Também trabalhei pela FedEx na Malásia, Cingapura, Porto Rico e outros lugares da América Latina.
iG: Quanto executivos americanos trabalham no Brasil após a aquisição?
Maxey: Eu, o Mike (Mike Murkowski, vice-presidente sênior de operações) e o Rafael (Rafael Cabrera, diretor de planejamento e administração) em São Paulo, mais alguns em Recefe – eu diria que uns quatro ou cinco no total. Eles não precisam de muitos de nós, temos brasileiros muito bons aqui (risos).
iG: Qual seria a melhor forma de ilustrar a importância que a operação brasileira passou a ter para a FedEx após a aquisição?
Maxey: A melhor forma de ilustrar é dizendo que a Rapidão Cometa foi a segunda maior aquisição da história da FedEx. Só perde para quando compramos a Flying Tigers, em 1989, que foi a aquisição que nos permitiu voar internacionalmente, começamos a operar no Brasil com a bandeira FedEx após aquela aquisição.
Por ter sido a segunda maior, achamos que devíamos mudar nosso vice-presidente sênior (o Mike Murkowski) para cá, trouxemos nossa estrutura de comando de Miami para o Brasil pela importância da aquisição, por causa do papel que o Brasil irá representar no nosso negócio a partir de agora.
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