Do O Globo
Países emergentes terão fundo de US$ 100 bi contra turbulências
Brasil e China terão linha de financiamento de US$ 30 bi para comércio bilateral
DURBAN (ÁFRICA DO SUL) Num momento em que os mercados financeiros do
mundo inteiro estão de olho na crise do Chipre, os Brics bloco dos
grandes países emergentes formado por Brasil, Rússia, China, Índia e
África do Sul vão criar um fundo de reservas destinado a socorrer o
grupo em caso de crises de liquidez. O chamado Contingent Reserve
Arrangement (CRA), ou acordo de reserva de contingência, deve começar
com um patrimônio de US$ 100 bilhões. Em outra frente, o Brasil fecha
nesta terça-feira com a China um acordo para a criação de uma linha de
crédito em moeda local (ou de swap) no valor de US$ 30 bilhões. A
medida, que visa a fomentar o comércio entre os dois países, será
assinada durante a V Cúpula dos Brics, que começa nesta terça-feira em
Durban, na África do Sul.
Com os países da cúpula, o governo brasileiro espera avançar também
na criação de um banco de desenvolvimento e, em outra instância, de um
fundo de reservas destinado a socorrer o grupo em caso de crises de
liquidez. Embora discutidas desde o ano passado, todas essas medidas
saem do papel em um momento em que a Europa vive uma nova onda de
turbulência. Analistas temem uma contaminação de outros países na região
e nem mesmo o pacote de socorro já aprovado para a economia cipriota
conseguiu levar algum alento ao mercado. Anteontem, o Banco Mundial
alertou para o risco de contágio da crise em Chipre para outros mercados
emergentes.
Com a china, acordo de US$ 30 bilhões
Diante deste quadro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou
nesta segunda-feira que os Brics têm de buscar soluções sozinhos.
Vamos dar continuidade no estreitamento dos nossos laços econômicos,
porque hoje os países avançados não estão crescendo, estão crescendo
pouco. Então os Brics dependem mais de si mesmos. Somos os países que
vamos continuar crescendo, temos um dinamismo maior, temos de aproveitar
melhor os nossos mercados e o nosso comércio disse o ministro, logo
depois de chegar a Durban.
O acordo de swap com o governo chinês chegou a ser anunciado por
Mantega em junho do ano passado, durante a reunião da Rio+20, mas só
está sendo efetivado agora, com o novo presidente do país, Xi Jinping.
Na ocasião, Mantega afirmou que a medida ocorria num momento em que a
economia mundial estava estressada. Agora, a crise ameaça recrudescer
com o congelamento de depósitos de um dos principais bancos do Chipre.
Será constituída uma reserva de U$ 30 bilhões para ser usada entre os
bancos centrais de Brasil e China em caso de emergência, nos mesmos
moldes do acordo que o governo brasileiro fez com o Federal Reserve
(Fed, o banco central dos Estados Unidos) depois da crise de 2008. Os
recursos são reservados nas moedas correntes dos dois países.
A presidente Dilma Rousseff, que chega hoje à África do Sul, deverá
ter amanhã uma reunião privada com Xi Jinping. É o primeiro encontro de
Dilma com o novo presidente chinês, que assumiu o cargo este mês. A
China é a principal parceira comercial do Brasil, mas, nas últimas
semanas, cancelou importações de minérios da Vale e de soja do Brasil,
devido aos gargalos do sistema portuário, que impediu o escoamento dos
produtos brasileiros. Além disso, antes de chegar a Durban, o novo
presidente chinês visitou a Tanzânia, dando mostras de que quer
estreitar laços econômicos com a África, uma região cobiçada também
pelos brasileiros.
Na cúpula anterior dos Brics, em Nova Délhi (Índia), os países
emergentes encomendaram também estudos de viabilidade em seus países
para a criação de um banco de desenvolvimento e de um fundo de reservas.
Agora, em Durban, esperam chegar a um acordo definitivo, mas esses dois
mecanismos só devem ser concluídos depois de 2014.
A criação do banco de desenvolvimento dos Brics, com um aporte
estimado de US$ 10 bilhões de cada país, ainda encontra resistência da
Rússia. Os russos apontam que um montante de US$ 50 bilhões não seria
suficiente para atender a demanda do grupo.
Dos países dos Brics, a Rússia talvez seja a que menos vá recorrer a
esses recursos afirmou uma alta fonte do governo brasileiro, para quem a
África é bastante grande e não precisa haver uma concorrência (entre os
dois países).
Fundo seria aprovado rapidamente
Já o fundo de reservas CRA terá recursos de US$ 100 bilhões e,
segundo a avaliação do governo brasileiro, pode ser aprovado e colocado
em prática mais rapidamente, uma vez que o dinheiro será apenas
empenhado em caso de socorro aos países. Anfitrião da cúpula, o
presidente da África do Sul, Jacob Zuma, lembrou que, no caso do novo
banco, desde Nova Délhi os governos têm desenhado o formato da
instituição:
Agora, estamos prontos para lançá-lo afirmou Zuma
A V Cúpula acaba amanhã, quando os presidentes do bloco se encontram
com líderes dos países africanos. Os Brics vão liberar linhas de crédito
para a África.
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