Secretário
particular de governador paulista já chegou a questionar a existência de
crimes cometidos por militares durante a ditadura
SÃO PAULO - O governador Geraldo Alckmin (PSDB)
participou nesta segunda-feira, 1, da cerimônia de abertura do acesso
via internet a documentos do antigo Departamento de Ordem Pública e
Social (Dops) do Estado - uma espécie de central de repressão da
ditadura militar - ao lado de seu novo secretário particular, o advogado
Ricardo Salles, crítico da Comissão Nacional da Verdade e defensor do
golpe de 1964.
Salles, fundador do Movimento Endireita Brasil,
já deu declarações apoiando a versão dos militares sobre o golpe e
chegou a questionar a existência de crimes cometidos pelas Forças
Armadas na ditadura - no ano passado, Salles participou de evento no
Clube Militar, no Rio, denominado "1964 - A verdade". "Só o lado de lá
fala e quando o nosso lado fala, se limita a negar os fatos. Acho que
deveríamos ter uma postura mais ativa, até porque a punibilidade penal
dos fatos, a partir de uma certa idade, não existe mais. Não vamos ver
generais e coronéis, acima dos 80 anos, presos por causa dos crimes de
64. Se é que esses crimes ocorreram", disse Salles durante a palestra em
que o golpe militar foi chamado de "movimento de 31 de março". "Ou
seja, pode dizer à vontade. Não vai acontecer nada. Só vai dar
credibilidade maior para a nossa visão dos fatos."
Em 2010, numa entrevista ao jornal Valor Econômico, Salles defendeu o golpe militar tendo em vista o contexto social da época.
"Quando a população exigiu a intervenção dos militares, tivemos um
regime militar de direita que visava a evitar que nós caíssemos numa
ditadura de esquerda de base sindical como era aquela de João Goulart",
disse.
Século 21. Nesta segunda, ao lado de ex-presos
políticos que sofreram torturas, como Ivan Seixas e Sérgio Gomes, ele
disse que via com bons olhos a divulgação na internet dos prontuários do
Dops. "Estamos no século 21, temos que dar transparência aos
documentos", afirmou.
Em seu discurso, Alckmin disse que a divulgação de documentos da
ditadura militar fortalece a democracia. "Política de direitos humanos é
política de Estado, ela está acima de governos, acima de partidos",
afirmou. O ex-governador José Serra também participou do evento e
lembrou que foi fichado pelo Dops logo após ser eleito presidente da
União Estadual dos Estudantes, em 1962.
‘Terrorista’. Salles concorreu a deputado estadual em 2010 pelo DEM e obteve 26.552 votos. No material de campanha, criticava a "farra dos anistiados políticos".
Na página do Movimento Endireita Brasil no Facebook, a presidente Dilma Rousseff é chamada de "terrorista" e a Comissão da Verdade, de "comissão da vingança". "Projeto do governo viola Lei da Anistia e quer contar a história de um lado só", diz o texto do movimento.
Após ser nomeado pelo governador, em março deste ano, Salles foi
chamado para uma conversa com secretários de Alckmin. Foi alertado de
que deveria tomar cuidado com suas posições pessoais, para que não
fossem confundidas com a opinião do governo. Ele mantinha um site
pessoal, no qual havia postado opiniões contra o casamento gay, mas
retirou o conteúdo do ar logo depois da sua nomeação como secretário
particular do governador.
Alckmin foi procurado para comentar a presença de Salles no evento, mas não respondeu até o fechamento desta edição.
COLABORAÇÃO DE JULIA DUAILIBI
http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,alckmin-abre-fichas-do-dops-ao-lado-de-assessor-pro-golpe,1015757,0.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário