26/4/2012, Jon Queally, Commondreams 
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
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| Jon Queally | 
Semana 
passada, houve uma chuva de manchetes sobre o completo, total fracasso do 
“experimento da austeridade” por todo o planeta [exceto, é claro, nos jornais brasileiros -- 
que são os piores do mundo -- e insistem na propaganda da mesma velha, falhada 
“austeridade” à moda tucana/Opus Dei (NTs)]. Um documento publicado por 
influentes economistas de Harvard converteu-se em manifestação exemplar, não só 
de incompetência “acadêmica”, mas também da mais patética falta, até, do mais 
comezinho bom-senso.
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| Paul Krugman | 
Em sua 
coluna no New 
York Times, o 
economista e Prêmio Nobel, Paul Krugman escreveu, na 6ª-feira: 
Debates 
econômicos raramente acabam em nocaute. Mas o grande debate político de anos 
recentes entre os keynesianos, que advogam a favor de os governos manterem altos 
e, de fato, até aumentarem, os investimentos, em tempos de depressão; e os 
“austeristas”, que exigem cortes imediatos de gastos, já se aproxima, de fato, 
de nocaute – pelo menos no mundo das ideias. 
Hoje, a 
posição dos pró-austeridade já é indefensável. Além de todas as suas previsões 
para o mundo real terem falhado completamente, o que já se vê é que a própria 
pesquisa acadêmica que os “austeristas” invocam para sustentar sua posição é 
material carregado de erros, omissões, estatísticas duvidosas.
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| Carmen Reinhart e Ken Rogoff | 
A pesquisa acadêmica mencionada no 
trabalho de dois economistas de Harvard, Carmen Reinhart e Ken Rogoff 
[1], está eivada de erros grosseiros, 
como se constatou semana passada; e aqueles erros comprometem todas as 
conclusões do trabalho. Mas as mesmas conclusões erradas estão sendo fartamente 
usadas como argumentos pelos inventores de “austeridade” nos dois lados do 
Atlântico, para justificar cortes e mais cortes de investimento público, nos 
programas sociais e nos benefícios para trabalhadores. 
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| Joseph Stiglitz | 
E 
economistas como Krugman, Joseph Stiglitz, Dean Baker e outros exigem mais 
investimentos públicos, massivos, para tentar superar o também massivo buraco 
deixado pela crise financeira que começou pelas práticas nefandas de Wall Street e pela “bolha imobiliária” 
nos EUA.
Em 
entrevista à rede Bloomberg no início desse mês, Joseph Stiglitz da Columbia University foi claro sobre o 
registro histórico:
Não há 
uma única grande economia que tenha conseguido crescer com 
austeridade – 
disse ele. – A austeridade leva a 
economia a desempenhos miseráveis. Leva a mais desemprego, menores salários e 
mais desigualdade.
E que 
importância teria o tal trabalho de Reinhart e Rogoff? Como explica Dean Baker,
O 
trabalho, por si só, não é base para qualquer economia. Mas aquelas conclusões 
foram usadas para dar cobertura aos que querem cortes na Social Security, 
Medicare e outros programas que têm forte apoio popular. Seria impossível obter 
o apoio político necessário para apoiar cortes e mais cortes naqueles programas, 
com argumentos sérios. Então, os políticos que pregam os cortes adoraram as 
conclusões erradas de Reinhart e Rogoff e usaram-nas para defender a própria 
agenda. 
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| Dean Baker | 
O 
trabalho de Reinhart e Rogoff não foi usado só para argumentar a favor de cortes 
nos programas sociais populares: também foi usado como argumento contra os 
esforços do governo para estimular a economia e criar empregos. Os que se opõem 
a esses esforços encontraram argumentos para insistir em que os programas seriam 
contraproducentes, porque Reinhart e Rogoff deram jeito de “comprovar” que altos 
níveis de déficit público implicariam menor crescimento. 
O paper da dupla foi usado para 
“comprovar” que qualquer melhoria na criação de empregos e melhor crescimento 
custariam caro, no longo prazo. A versão corrigida, com dados corrigidos, 
absolutamente não ajuda nessa direção.
Enquanto 
isso, e fora do mundo acadêmico e seus truques e seus políticos que usam armas 
semelhantes, o mundo real está mostrando os fracassos das políticas impostas sob 
os argumentos desse tipo de pensamento. 
Como 
mostram os números divulgados essa semana pelo Eurostat (o serviços de 
estatísticas da União Europeia), os países que impuseram as mais duras medidas 
de austeridade, como Portugal e Espanha, viram os seus déficits de orçamento 
aumentarem em 2012 — o que desmente todos os argumentos segundo os quais cortes 
de gastos governamentais, como medida para estabilizar as finanças públicas, 
estariam dando os resultados apregoados. 
E 
a dor gerada pelas medidas de austeridade é mais visível na ira popular que se 
manifesta contra essas políticas. Da Espanha à Grécia, da Irlanda à Bulgária, 
não cessam os protestos populares – mesmo que tenham desaparecido das manchetes 
dos grandes jornais-empresa. 
Ambos, 
Krugman e Baker, perguntam-se quando o acúmulo de evidências contra as políticas 
de austeridade levarão os políticos – especialmente os políticos 
norte-americanos – a mudar de rota. Nenhum dos dois dá sinais de estar muito 
esperançoso. 
Para 
Krugman, ninguém jamais entenderá:  
(...) 
a influência da doutrina da austeridade, 
se não se pensa em desigualdade e diferenças de classe. 
E 
continua:
O 
que, afinal, as pessoas querem da economia política? A resposta, como se vê, 
depende da pessoa que se considere – aspecto documentado em recente pesquisa dos 
cientistas sociais Benjamin Page, Larry Bartels e Jason Seawright. Esse estudo 
compara as preferências políticas dos norte-americanos comuns e dos muito ricos, 
com resultados muito esclarecedores. 
O 
norte-americano médio está medianamente preocupado com os déficits de orçamento, 
o que não surpreende, dada a furiosa artilharia de material “jornalístico”, com 
histórias escabrosas sobre o déficit; mas os ricos, em vasta maioria, consideram 
o déficit de orçamento como o principal e mais importante problema que 
enfrentamos. E o que fazer para reduzir o déficit? Os ricos pregam cortes no 
gasto federal na assistência à saúde dos mais pobres e na Social Security – para 
eles, nesses “favores”. Enquanto a maioria dos norte-americanos médios quer que 
o estado invista cada vez mais nesses serviços. 
A 
tendência geral é clara: a agenda da austeridade aparece como clara expressão 
das preferências dos mais ricos, embalada numa fachada de “rigor científico” ou 
“prestígio acadêmico”. O que o 1% quer, virou “conclusão” da ciência econômica e 
prescrição “científica” para toda a sociedade.
E 
Baker concorda: 
(...) 
os interesses dos mais ricos tendem a reaparecer como interesse dos políticos 
eleitos, mesmo que se oponham aos interesses da maioria da população. 
E 
conclui:
Por 
isso se veem esforços para cortar programas como Social 
Security e Medicare, mesmo quando esses cortes encontrem 
oposição em grandes maiorias, em todo o espectro político. 
Novidade 
é que a revisão corrigida do artigo, que desmente e desqualifica totalmente as 
conclusões de Reinhart e Rogoff, deixou tudo muito mais claro. A liderança dos 
dois principais partidos não está procurando modos de reduzir o déficit de 
orçamento porque haja qualquer motivo que os levem a crer que a redução traria 
algum benefício à economia. Querem-porque-querem encontrar meios para reduzir o 
déficit de orçamento, apenas porque os ricos desejam que se preserve uma 
situação na qual o alto desemprego enfraquece o poder de barganha dos empregados 
e mantém achatados os salários. Não é situação que permita alimentar qualquer 
esperança sobre a situação já terminal da democracia nos EUA.
Nota 
dos tradutores
[1]  
São autores reverenciados pelo O Estado de S.Paulo e O Globo, mas a 
lista é longa [NTs]. Ver, p. ex.  em:
- 8/5/2011, O Estado de São Paulo, Fernando Dantas entrevista Kenneth Rogoff em: “Modelos de mercados perfeitos criaram falsa segurança e contribuíram para crise global”
 
- 18/8/2012, O Globo, Crítica do Livro de Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart em: “Livro ‘Desta vez é diferente’ ironiza declaração de políticos sobre crises”
 






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