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Barack Obama, em sua mensagem ao seu homólogo
russo, Vladimir Putin, propôs elaborar um acordo bilateral sobre a
transparência dos sistemas de defesa antimísseis. Trata-se da redução
dos arsenais de armas nucleares. O Presidente dos EUA apela ainda a que o
seu colega russo “deixe no passado as doutrinas nucleares da guerra
fria”. Porém, um pouco antes disso, na segunda quinzena de abril, os
Estados Unidos iniciaram um novo programa visando a modernização das
armas nucleares táticas que se encontram em bases americanas na Europa e
nos próprios EUA.
Segundo noticiou o Guardian
britânico, para o referido programa foram alocados 11 bilhões de
dólares. Essa medida prevê ainda o aperfeiçoamento de 200 bombas
atômicas B-61, estacionadas na Europa, que serão dotadas de sistemas de
guiamento de elevada precisão e que passarão a ser usadas por caças
F-35. Deste modo, na fase final do projeto, em 2019-2020, os arsenais
nucleares dos EUA na Europa receberão novas bombas atômicas, aliadas a
veículos aéreos sofisticados – “aviões-fantasma”. Por isso, Barack
Obama, conforme assinalaram analistas do Ocidente, efetuou uma
reviravolta nuclear de 180 graus. Resta perguntar: para quê?
Os
EUA precisam de armas nucleares táticas na Europa por razões diversas,
reputa o diretor do Centro de Pesquisas Político-Sociais, Vladimir
Evseev. No seu entender, os EUA querem “jogar pelo seguro perante
futuros cenários menos otimistas”. No caso de agravamento das relações
com a Rússia, poderão contar assim com os arsenais disponíveis na
Europa. Mas, para a Rússia, estas armas são consideradas genericamente
como estratégicas, por poderem atingir o território russo por meio de
vetores da OTAN, frisou o perito.
“Realmente, os EUA têm
pressionado a Rússia no sentido de Moscou reduzir as suas armas
táticas, em que supera os EUA. Todavia, estas armas compensam a nossa
falta das forças convencionais, de armas de alta precisão e a ausência
de meios de defesa antimísseis. Deste ponto de vista, os EUA propõem a
seguinte abordagem: apelam a não fazermos distinção entre forças táticas
e estratégicas, fazendo um único acordo no âmbito do qual seria
possível fazer reduções gerais de armas nucleares. Mas tal enfoque não
convém à Rússia”.
As armas nucleares táticas da Rússia
não ameaçam o território dos EUA, mas, teoricamente, podem ser usadas
contra as bases militares norte-americanas na Europa, incluindo contra o
sistema de DAM em vias de criação. Com efeito, tais armas põem em causa
a segurança dos aliados europeus dos EUA. Desta forma, para os EUA e
seus aliados na Europa, um lote de 200 bombas B-61 constituem um símbolo
importante de comunhão e a prontidão de agir, em caso de necessidade,
em defesa da Europa. Este é um símbolo de unidade da OTAN, especifica o
perito militar Alexander Golts. Nas suas palavras, nem todos os membros
da Aliança Atlântica se manifestam eufóricos face a esta situação,
incluindo os países onde as bombas estão estacionadas. A Bélgica e a
Alemanha, por exemplo, têm colocado a questão sobre a sua retirada.
Com isso, prossegue Alexander Golts, a Rússia não se recusa a negociar esta temática.
“A
Rússia avança, como pré-condição, a necessidade de “repatriar” as armas
táticas. Pode-se supor que as armas táticas sejam uma carta do futuro
jogo a ser protagonizado pela Rússia. A ideia básica de redução também
se afigura como muito complicada em termos concretos. Foram travadas
negociações durante décadas até que as partes optassem por um algoritmo
favorável para a redução dos armamentos estratégicos ofensivos. Mas esta
tarefa foi mais fácil de alcançar. Era possível reduzir os armamentos,
reduzindo os vetores.
Para Alexander Golts, a redução de
armas nucleares táticas requer um patamar de confiança entre a Rússia e
os EUA ainda maior do que o nível existente agora. Até hoje, ninguém,
exceto a Rússia e os EUA, sabe ao certo a quantidade de cargas nucleares
táticas. As avaliações de peritos têm sido diferentes. Assim, os
arsenais russos se estimam em 3-10 mil bombas, ogivas de mísseis e
projéteis de artilharia, enquanto os dos EUA se avaliam em 5 mil.
Desde
os tempos da Guerra Fria, o conceito de equilíbrio na esfera nuclear
mudou muito. Atualmente, seria difícil imaginar ataques nucleares entre
as duas potências. A corrida armamentista e a competição militar têm
tido mais um caráter mais virtual do que real. No entanto, a decisão
sobre a modernização das bombas norte-americanas na Europa está passando
de uma competição virtual para o plano prático.
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