No novo documentário “The Lab” (“O Laboratório”), Yotam Feldman explora a interação entre a indústria bélica de Israel e a política, a economia e as tomadas de decisão militar. As armas, a tecnologia militar e o conhecimento valorizam-se porque têm sido testados no campo, nas guerras e combates contra os palestinos e os países vizinhos. A revista +972 fez uma entrevista com Feldman, nesta semana, sobre o filme e sobre a economia de guerra de Israel.
Divulgação do documentário The Lab (O Laboratório), sobre a indústria militar israelense e a economia de guerra, de Yotam Feldman
Entretanto, no filme de Feldman, The Lab, oficiais de exércitos de todo o mundo são mostrados em Israel, comprando armas, pelo que Ilani pergunta se a crítica internacional é apenas um show, ou se precisa ser levada em consideração.
Feldman diz acreditar que tomou força a visão de Israel como um “selvagem liberto” que vive em uma “vizinhança brutal” e que por isso “precisa” exercer força excessiva, e a ideia foi aceita de forma geralmente “condescendente”. Mas ele também alerta para o fato de que as pessoas “falham em fazer a conexão entre as armas de alta tecnologia de Israel e a força militar sem limites, sobre a qual se pode ler nos relatórios de organizações que defendem os direitos humanos”.
O diretor menciona o Relatório Goldstone, da Missão da ONU de Averiguação dos Fatos do Conflito de Gaza, publicado em 2009, depois da operação militar israelense Chumbo Fundido (Cast Lead, em inglês), realizada entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009.
No relatório, a leitura sobre o bombardeamento de uma cerimônia de formatura da academia de polícia em Gaza, no primeiro dia da operação, para Feldman, deve ser ligada aos relatórios de marketing da Rafael, empresa de “sistemas avançados de defesa”, sobre o experimento operacional envolvendo o “Spike 4” (o míssil usado por Israel naquela ação), pois tratam do mesmo evento.
O mesmo é válido para os assassinatos conduzidos por aviões não tripulados (drones) em Gaza. “Por outro lado, é possível que os europeus entendam isso e simplesmente não se importem”, diz Feldman.
Israel envolve-se em muitas guerras
Depois da “desvinculação” de Gaza, em 2005, quando Israel retirou os postos de controle militar e os colonos judeus que estavam ocupando porções no interior da Faixa de Gaza, “a guerra parou de ser um evento extraordinário, dramático e inesperado na vida da nação, e tornou-se uma atividade periódica que é parte da vida nacional”, disse Feldman na entrevista.
Entre a desvinculação de 2005 e a Operação Chumbo Fundido, “tivemos a Summer Rains [Chuva de Verão], a “Inverno Quente” [Hot Winter], e várias outras operações militares israelenses em Gaza. Yoav Galant, o comandante do fronte do sul entre a retirada e a Chumbo Fundido, que pode ser visto no filme, desempenhou um papel fundamental na formulação desta doutrina”, afirma o diretor. “Ele empregou uma metáfora de um aparador de grama para descrevê-la: guerra como rotina, manutenção periódica além das fronteiras”, completou.
Feldman fala de fatores que contribuem para este espírito, como o uso intensivo de veículos não tripulados e blindados, “que possibilitam guerras em que não há proporcionalidade entre o risco corrido por um lado e o risco incorrido pelo outro”, e que reorganizaram as “categorias morais, políticas e legais que têm sido empregadas ao modo de fazer a guerra”.
Foto de divulgação da companhia militar israelense Rafael, do míssil tático Spike, sob a
categoria "letalidade".
Para o diretor, as indústrias militares estão desempenhando um papel
de base. “O resultado é perturbador, porque me parece que a Guerra em
Gaza tornou-se inerente ao sistema político israelense, possivelmente
uma parte do nosso sistema de governo. Isso foi particularmente notável
durante a operação Pilar de Defesa [Pillar of Defense], que ocorreu
durante a campanha eleitoral, mas o apoio a ela unificou todos os
competidores pelo poder”.categoria "letalidade".
O desempenho eleitoral e a propaganda política envolvida nas grandes operações militares já foram analisadas extensivamente por vários cientistas políticos e críticos da mídia, principalmente pela instrumentalização da guerra para fins eleitorais e nacionalistas, com um pesado lobby da indústria militar.
Ministério da Defesa testa e promove sistemas bélicos
O entrevistador pergunta a Feldman sobre o papel dos testes de sistemas bélicos nas decisões e cálculos durante as recentes guerras em Gaza, ao que o diretor responde: “há laços muito próximos entre as indústrias militares, por um lado, e o exército e o sistema político, por outro”.
Feldman cita a empresa militar Elbit como a mais lucrativa, de Mickey Federman, um dos aliados de Ehud Barak e um ator importante nas suas campanhas eleitorais. Barak já foi o primeiro-ministro de Israel e foi ministro da Defesa durante a Operação Chumbo Fundido.
“Esta companhia é especializada em meios avançados de guerra assimétrica, exatamente o tipo de guerras conduzidas por Barak em Gaza recentemente”, disse Feldman. “Além disso, é uma questão de interesse econômico nacional. O Ministério da Defesa desempenha um papel duplo como a autoridade que acompanha o sistema militar e promotor de vendas para a indústria militar israelense no estrangeiro”, completou.
Através da ONG "Breaking the Silence" (Quebrando o Silêncio), vários soldados israelenses, inclusive os que participaram da Operação Chumbo Fundido, dão depoimentos detalhados sobre a conduta do exército, as regras de combate e sobre o próprio desenvolvimento da operação, quando muitos disseram ter sido desinformados deliberadamente. Além disso, alguns afirmaram ter a “nítida sensação” de que participavam de um treinamento, de uma sessão de testes com novos equipamentos bélicos.
O entrevistador, Ilani, fala do gênero do filme de Feldman, que pode ser associado com “outros filmes israelenses recentemente produzidos que optaram por desviar a câmera àqueles que têm o poder, ao invés das vítimas”, como o filme "The Law in These Parts" [A Lei por Aqui] e "The Gatekeepers" [Os Guardiões, indicado ao Oscar 2013]. Feldman comenta:
Judeus ainda querem fazer filmes políticos, e para minimizar a
pretensão, fazem perguntas àqueles que estão no poder, aqueles que se
parecem com eles, ao invés de perguntas sobre as vítimas. Isso permite
um maior entendimento racional da situação política. Ao invés de evocar o
efeito de revolta emocional em relação a uma certa realidade, fazem
perguntas sobre essa realidade: qual é a estrutura interna daqueles que
lucram com isso? Isso é algo que eu apoio porque a ação política deve
ser tanto emocional quanto racional. É importante provocar a revolta,
mas também é importante aplicar ferramentas que podem direcionar essa
revolta para a direção correta.
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