Do blog Infopetro
Projeções do Pré-sal: O Brasil será um petro-estado?
Em petróleo, 20/05/2013 às 01:05
Por Luciano Losekann e Thiago Periard
O Brasil é um dos países que mais desenvolveram sua indústria de petróleo nas décadas recentes no mundo, e é também um dos que têm melhores perspectivas de crescimento para os próximos anos. Esse momento positivo da indústria de óleo e gás nacional teve inicio na década de 1980 com a exploração em águas profundas, que acabou culminando nas descobertas, no final da década de 2000, de grandes reservatórios na chamada camada pré-sal, que devem dar impulso para o setor no longo prazo. As reservas do pré-sal constituem a possibilidade de reversão de uma tendência histórica brasileira de importador de petróleo, já que com estas descobertas se prevê um cenário onde o país irá ter petróleo em quantidade suficiente para se tornar um exportador líquido da mercadoria. No entanto, apesar de toda a euforia criada pela descoberta do pré-sal, ainda não se tem com clareza qual o tamanho de seu impacto econômico para o Brasil.
Esse artigo procura avaliar a importância que a indústria de petróleo terá na economia brasileira no horizonte de 25 anos, utilizando as projeções da Agência Internacional de Energia (AIE) e dados de países que dependem fortemente da produção e exportação de petróleo. A análise indica que o Brasil, apesar do elevado potencial e tamanha euforia com o pré-sal, não se tornará um país dependente de petróleo e os impactos dessa atividade não serão suficientes para alterar de forma drástica a estrutura produtiva brasileira no médio e longo prazo.
A expectativa para a produção brasileira de petróleo nos cenários da AIE é bastante favorável. A produção alcança 4,4 milhões de barris diários em 2020 e 5,2 milhões em 2035, que representa um crescimento médio de 3,6% ao ano ao longo de 25 anos. Como pode ser visto no gráfico 1, o Brasil é, ainda de acordo com a Agência Internacional de Energia, o terceiro maior incremento da produção esperado para o período analisado, ficando atrás apenas do Iraque e Arábia Saudita. Entre os países não-OPEP, o Brasil ainda tem a vantagem deste aumento da oferta ser derivado da produção de petróleo convencional, em contraste com a produção canadense que deve crescer quase tanto quanto a brasileira, mas vindo sobretudo das areias betuminosas de elevado impacto ambiental.
O gráfico 3 demonstra os fluxos físicos de petróleo a serem exportados pelo Brasil, mas o impacto econômico que estes fluxos exercem deve ser avaliado sob a ótica dos volumes financeiros que eles podem proporcionar para o país. Do lado positivo, as exportações de petróleo diminuem a necessidade de financiamento externo por gerarem grandes fluxos de entrada de capitais pela balança comercial. Por outro, existe o impacto negativo da apreciação cambial gerada pela entrada maciça de dólares na economia proporcionada pela venda de petróleo.
Desta maneira há de se considerar que os valores pagos ao petróleo mais pesado podem ser até 15% menores do que o valor pago a um petróleo leve como o Brent. Ainda se considerando este desconto, o valor obtido não seria inferior aos 70 bilhões de dólares caso o preço se mantivesse em patamares próximos aos 100 dólares por barril no longo prazo, o que dada a expectativa quanto às dificuldades crescentes de acesso a petróleo com baixo custo de produção, não é uma hipótese improvável.
Outros países concentram-se no intervalo entre 5 e 15, portanto possuidores de maior economia interna frente ao tamanho de suas produções de petróleo. Em geral este grupo intermediário é representado pelos grandes exportadores mundiais, em especial pelos países da OPEP, com a presença de outros grandes exportadores como a Noruega. Estes países são tipicamente dependentes de petróleo e suas economias são pequenas em comparação com o setor petrolífero, no entanto, neste segundo grupo existem países maiores e com base econômica mais diversificada, como é o caso da Arábia Saudita, mas em geral são em sua maioria países pequenos, tanto em termos demográficos como econômicos. A Noruega neste grupo se deve sobretudo à sua característica peculiar de ter uma matriz energética baseada em geração hidroelétrica, o que faz com que sua matriz energética seja menos dependente do petróleo, que pode então ser exportado.
Por fim encontra-se o grupo de países exportadores, mas que detêm economia com certo grau de diversificação e sofisticação, como acontece com a Rússia e Irã. Estes países têm uma grande indústria petroleira, mas as atividades econômicas de serviço são os pilares de suas economias, sustentadas numa população grande e com relativo poder aquisitivo. No gráfico abaixo se destacaram alguns destes países para que se possa comparar onde estão hoje os países mais intensivos em petróleo, segundo esta medida, e onde o Brasil se encaixaria caso os cenários da AIE se mostrem corretos. Neste caso pode-se observar que, apesar do incremento significativo da produção brasileira, os índices de produção sobre consumo não atingiriam os patamares experimentados pelos países mais dependentes deste produto no mundo. Como se pode observar, o indicador brasileiro seria de 2, o que indica que ele produzirá o dobro de sua necessidade interna.
A situação descrita representa uma grande alteração para o panorama brasileiro, que indicou ao longo de sua história um país dependente da importação de petróleo. Conforme se pode ver essa dependência externa deve se reverter, mas sem isso significar um incremento desproporcional em relação ao grande mercado interno brasileiro de petróleo (6º maior consumidor do produto do mundo em 2011). Este dado começa a mostrar que as perspectivas são enormes e os fluxos financeiros importantes para a economia brasileira, mas que os níveis projetados para o país não serão, nem de perto, suficientes para aproximar o nível de dependência em petróleo do Brasil ao que se vê em exemplos atuais ao redor do mundo.
Alguns países apresentados no gráfico 7 mostram valores bastante elevados para esta variável, com Kuwait e Qatar tendo mais de 30 mil barris de petróleo pra cada cidadão do país em suas reservas provadas. Com exceção destes pequenos países do Oriente Médio, a maioria dos países, mesmo com grandes reservas, encontra-se em patamares bem mais baixos, variando entre 1000 e 5000 como é o caso de Rússia, Venezuela e Irã. Abaixo do patamar de 1000 barris por habitante, encontram-se países sem grande expressão no mercado internacional ou que não se destacam como grandes exportadores, com a exceção do México que exporta mais de 2 milhões de barris mas tem uma base de reservas provadas pequena, e em trajetória descendente devido às restrições ao investimento externo que a produção exclusiva pela PEMEX impõe ao país, o que dificulta a aceleração da descoberta de novos campos sem os financiamentos necessários.
O Brasil se encaixaria neste terceiro grupo de países com valores de reservas per capita inferiores a 1000 barris por habitante, com seu indicador atingindo 372 barris por habitante caso suas reservas atinjam os 80 bilhões de barris estimados como reservas possíveis nos campos do pré-sal. Sabe-se que os valores de reservas possíveis têm um grande desvio padrão e portanto, são cercados de incertezas, mas ainda que o país tivesse 120 bilhões de barris, os valores de reservas per capita passariam por pouco o patamar de 500 barris por habitante. Em contrapartida, se as reservas se mostrarem com valores abaixo do esperado pelo mercado atingindo 50 bilhões de barris, este indicador passaria a ser de 220 barris por habitante. Bem acima dos 50 barris por habitante em 2011, mas muito abaixo do patamar experimentado pelos países exportadores do Oriente Médio e Costa Oeste e Norte da África.
DE acordo com os cenários da AIE, as taxas médias de crescimento do PIB esperadas para o Brasil no período entre 2009 e 2035 são de 3,6% ao ano. Com esta taxa de crescimento, o país deve alcançar um PIB de mais de 5 trilhões de dólares em 2035, mantendo sua posição entre os maiores PIB’s do mundo, perdendo apenas para as grandes economias industriais do mundo, como EUA, União Européia, Japão e China. O fato de o Brasil ter um dos maiores PIB’s do mundo faz com que os efeitos do aumento das exportações de petróleo não tenham impacto tão significativo ao se olhar o valor desta variável em relação ao tamanho da economia brasileira. Fazendo os cálculos para os valores da exportação anual de petróleo frente ao valor do PIB se pode observar que seriam exportados 0,002 barris de petróleo para a produção de 1 dólar de PIB real.
O gráfico 8 abaixo reforça a opinião de que a influência do petróleo na economia brasileira será moderada e que o país, mesmo com o forte crescimento projetado, ainda se manterá em posições intermediárias nos indicadores estudados. No caso das exportações sobre o PIB, o patamar mais alto é encontrado em países com a base econômica muito pequena, em geral reconstruindo-se de guerras como é o caso de Timor-Leste, Iraque e Angola. Nestes três países, os danos provocados pelas guerras recentes destruíram suas economias, que começam a se assentar sobre a atividade exploratória de petróleo. No caso de Timor-Leste o dado é mais marcante devido ao pequeno papel do país na indústria mundial, mas mostra que o setor petróleo neste país detém importância desproporcional e por isso muitas atenções têm sido focadas nos arranjos institucionais deste setor para que os ganhos sejam bem aproveitados pelo país. O Iraque mostra como sua economia sofre com as seguidas guerras desde a década de 1980, e por isso o setor petróleo também desempenha papel muito significativo quando comparado à grande maioria da amostra de países. No caso de Angola e Iraque são exportados cerca de 0,02 barris de petróleo para cada dólar produzido na economia, enquanto Timor-Leste apresenta o perfil de outlier ao mostrar um indicador de quase 0,07 barris de petróleo. Este indicador é bastante interessante, por mostrar que boa parte dos grandes exportadores do Oriente Médio possuem economias mais diversificadas e assim o grande impacto da dependência em petróleo é sentido pelos pequenos países produtores do Golfo de Guiné, região onde estão catalogados os maiores problemas relacionados às previsões da teoria da maldição dos recursos naturais.
Em resumo, o Brasil, apesar de todo o crescimento previsto para a produção de petróleo nas décadas vindouras, ainda deve permanecer como um país pouco concentrado e pouco dependente dessa commodity em termos comparativos com outros países do mundo. Portanto, se quanto maior a dependência em petróleo maiores são os riscos de contaminação pela MRN, o Brasil não está entre as maiores preocupações em termos de políticas econômicas, pois não parece provável um cenário onde o país deva se tornar um “Petro-Estado”.
Referência
International Energy Agency. IEA (2011). World Energy Outlook 2011. International Energy Agency. OECD. Paris.
O Brasil é um dos países que mais desenvolveram sua indústria de petróleo nas décadas recentes no mundo, e é também um dos que têm melhores perspectivas de crescimento para os próximos anos. Esse momento positivo da indústria de óleo e gás nacional teve inicio na década de 1980 com a exploração em águas profundas, que acabou culminando nas descobertas, no final da década de 2000, de grandes reservatórios na chamada camada pré-sal, que devem dar impulso para o setor no longo prazo. As reservas do pré-sal constituem a possibilidade de reversão de uma tendência histórica brasileira de importador de petróleo, já que com estas descobertas se prevê um cenário onde o país irá ter petróleo em quantidade suficiente para se tornar um exportador líquido da mercadoria. No entanto, apesar de toda a euforia criada pela descoberta do pré-sal, ainda não se tem com clareza qual o tamanho de seu impacto econômico para o Brasil.
Esse artigo procura avaliar a importância que a indústria de petróleo terá na economia brasileira no horizonte de 25 anos, utilizando as projeções da Agência Internacional de Energia (AIE) e dados de países que dependem fortemente da produção e exportação de petróleo. A análise indica que o Brasil, apesar do elevado potencial e tamanha euforia com o pré-sal, não se tornará um país dependente de petróleo e os impactos dessa atividade não serão suficientes para alterar de forma drástica a estrutura produtiva brasileira no médio e longo prazo.
A expectativa para a produção brasileira de petróleo nos cenários da AIE é bastante favorável. A produção alcança 4,4 milhões de barris diários em 2020 e 5,2 milhões em 2035, que representa um crescimento médio de 3,6% ao ano ao longo de 25 anos. Como pode ser visto no gráfico 1, o Brasil é, ainda de acordo com a Agência Internacional de Energia, o terceiro maior incremento da produção esperado para o período analisado, ficando atrás apenas do Iraque e Arábia Saudita. Entre os países não-OPEP, o Brasil ainda tem a vantagem deste aumento da oferta ser derivado da produção de petróleo convencional, em contraste com a produção canadense que deve crescer quase tanto quanto a brasileira, mas vindo sobretudo das areias betuminosas de elevado impacto ambiental.
Gráfico 1 – Incremento da Produção de Petróleo estimado para 2035.
Países selecionados
Fonte: IEA (2011)
Por outro lado, as estimativas da AIE são bastante conservadoras
quanto à evolução do consumo de derivados no Brasil. Em parte devido ao
desenvolvimento do uso de biocombustíveis, a demanda aumentaria a uma
taxa de 0,9% ao ano. Dessa forma, a tendência do Brasil é tornar-se
exportador líquido de petróleo. Conforme se pode ver no gráfico 2, as
exportações líquidas devem crescer continuamente, atingindo o volume de
2,5 milhões de barris por dia.
Gráfico 2 – Cenários para Produção, Consumo
(eixo esquerdo) e Exportações líquidas (eixo direito) de petróleo no
Brasil – 2010 – 2035 (em milhões de bbl/d)
Fonte: Elaboração própria a partir de dados de IEA (2011)
Para avaliar a
relevância que a indústria de petróleo terá na economia brasileira
utilizamos indicadores da intensidade em petróleo. Os valores estimados
de exportações, receitas externas com petróleo, produção sobre consumo,
reservas per capita, exportações per capita e sobre o PIB indicam como o
Brasil se encaixaria em termos de abundância em petróleo frente aos
outros países do mundo. Como aqui o objetivo é destacar a trajetória de
aumento da produção e a situação de exportador líquido para o Brasil,
não se fizeram cenários destas variáveis para todos os países do mundo,
mas sim se comparou a trajetória brasileira com os dados históricos
observados de forma a mostrar qual seria a posição relativa do Brasil em
2035 frente aos parâmetros observados hoje na realidade econômica.
O primeiro indicador observado demonstra o porquê do entusiasmo
frente às descobertas do pré-sal. Se o Brasil exportar 2,6 milhões de
barris de petróleo por dia como prevê a AIE, ele se colocará em 4º lugar
entre os maiores exportadores do produto em 2010. Com estes valores de
exportação o Brasil ficaria atrás somente de Arábia Saudita, Rússia e
Irã na lista dos maiores exportadores de petróleo do mundo. Esse fato
representa uma grande inversão para os padrões históricos brasileiros de
importador líquido da mercadoria, colocando o país num papel de
destaque dentro da cena da geopolítica da energia na bacia do Atlântico.
Como se pode ver o Canadá é hoje um grande exportador de petróleo para
os EUA, e a inclusão de outra fonte fornecedora longe das dificuldades
logísticas e pressões políticas do Oriente Médio diminui a preocupação
americana com a segurança de seu abastecimento com grandes fornecedores
em seu próprio hemisfério.O gráfico 3 demonstra os fluxos físicos de petróleo a serem exportados pelo Brasil, mas o impacto econômico que estes fluxos exercem deve ser avaliado sob a ótica dos volumes financeiros que eles podem proporcionar para o país. Do lado positivo, as exportações de petróleo diminuem a necessidade de financiamento externo por gerarem grandes fluxos de entrada de capitais pela balança comercial. Por outro, existe o impacto negativo da apreciação cambial gerada pela entrada maciça de dólares na economia proporcionada pela venda de petróleo.
Gráfico 3– Cenário de exportação para o Brasil
em 2035 frente aos resultados observados em 2010 para os 10 maiores
exportadores de petróleo no mundo. (em mil bbl/d)
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da AIE (2011) e AIE (2011)
Vale mencionar que estes valores para o Brasil foram conseguidos
através da multiplicação do volume, projetado pela AIE, das exportações
brasileiras pelo preço do petróleo vigente em seus três cenários.Desta maneira há de se considerar que os valores pagos ao petróleo mais pesado podem ser até 15% menores do que o valor pago a um petróleo leve como o Brent. Ainda se considerando este desconto, o valor obtido não seria inferior aos 70 bilhões de dólares caso o preço se mantivesse em patamares próximos aos 100 dólares por barril no longo prazo, o que dada a expectativa quanto às dificuldades crescentes de acesso a petróleo com baixo custo de produção, não é uma hipótese improvável.
Gráfico 4 – Cenários para a receita com
exportação de petróleo para o Brasil 2035 frente aos maiores valores
observados no mundo em 2010. (em bilhões de US$)
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da IMF (2011) e EIA (2011)
Uma outra maneira de se mensurar indiretamente a dependência em
petróleo é observando a proporção produzida em relação ao consumo
interno. Este indicador é utilizado em ENI (2011) por exemplo, para
chamar a atenção para os países que são típicos exportadores e outros
com maior presença de um mercado consumidor local. Esses dados também
podem ser empregados para a análise da situação de segurança no
abastecimento, já que valores entre zero e um indicam que o país consome
menos do que produz e indica a proporção do petróleo importado sobre o
consumo local. Desta maneira, este é um indicador amplamente utilizado
para se medir o grau de “conforto” do abastecimento de petróleo para
determinado país. Tendo feito os cálculos para todos os países do mundo,
se encontram alguns casos onde a produção é fundamentalmente para a
exportação, como é o caso de países como Guiné Equatorial e Congo, onde
os volumes produzidos são várias vezes superiores aos seus respectivos
consumos internos. Estes casos se firmam como típicos exemplos de países
dependentes de petróleo, pois suas economias não têm tamanho e força
suficientes para sustentar o mínimo de consumo interno, sendo toda a
produção orientada para a exportação e assim, sem maiores implicações
para o acesso à energia e desenvolvimento de cadeias produtivas a
montante desta atividade.Outros países concentram-se no intervalo entre 5 e 15, portanto possuidores de maior economia interna frente ao tamanho de suas produções de petróleo. Em geral este grupo intermediário é representado pelos grandes exportadores mundiais, em especial pelos países da OPEP, com a presença de outros grandes exportadores como a Noruega. Estes países são tipicamente dependentes de petróleo e suas economias são pequenas em comparação com o setor petrolífero, no entanto, neste segundo grupo existem países maiores e com base econômica mais diversificada, como é o caso da Arábia Saudita, mas em geral são em sua maioria países pequenos, tanto em termos demográficos como econômicos. A Noruega neste grupo se deve sobretudo à sua característica peculiar de ter uma matriz energética baseada em geração hidroelétrica, o que faz com que sua matriz energética seja menos dependente do petróleo, que pode então ser exportado.
Por fim encontra-se o grupo de países exportadores, mas que detêm economia com certo grau de diversificação e sofisticação, como acontece com a Rússia e Irã. Estes países têm uma grande indústria petroleira, mas as atividades econômicas de serviço são os pilares de suas economias, sustentadas numa população grande e com relativo poder aquisitivo. No gráfico abaixo se destacaram alguns destes países para que se possa comparar onde estão hoje os países mais intensivos em petróleo, segundo esta medida, e onde o Brasil se encaixaria caso os cenários da AIE se mostrem corretos. Neste caso pode-se observar que, apesar do incremento significativo da produção brasileira, os índices de produção sobre consumo não atingiriam os patamares experimentados pelos países mais dependentes deste produto no mundo. Como se pode observar, o indicador brasileiro seria de 2, o que indica que ele produzirá o dobro de sua necessidade interna.
A situação descrita representa uma grande alteração para o panorama brasileiro, que indicou ao longo de sua história um país dependente da importação de petróleo. Conforme se pode ver essa dependência externa deve se reverter, mas sem isso significar um incremento desproporcional em relação ao grande mercado interno brasileiro de petróleo (6º maior consumidor do produto do mundo em 2011). Este dado começa a mostrar que as perspectivas são enormes e os fluxos financeiros importantes para a economia brasileira, mas que os níveis projetados para o país não serão, nem de perto, suficientes para aproximar o nível de dependência em petróleo do Brasil ao que se vê em exemplos atuais ao redor do mundo.
Gráfico 5 – Cenário para o indicador P/C para o Brasil em 2035 frente a valores observados em 2010 para países selecionados.
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da IEA (2011) e EIA (2011)
Esta visão apresentada no gráfico 5 se confirma quando se passa a
analisar os dados do Brasil em relação ao seu tamanho demográfico e
econômico. Estas variáveis mostram nitidamente como o Brasil ainda se
encontraria em níveis muito baixos de dependência em petróleo quando se
trata desta questão em termos per capita ou em comparação com o PIB do
país. No gráfico abaixo se pode ver que os valores de exportações per
capita brasileiras em 2035 não chegariam nem próximos desses valores
obtidos em 2010 pelos principais países exportadores do mundo. Enquanto
pequenos países do Oriente Médio e África chegam a exportar mais de 1
barril de petróleo por dia por habitante, o Brasil alcançaria apenas a
modesta marca de 0,01 barril por dia por habitante de acordo com o
cenários da AIE. A distribuição desta variável mostra claramente que a
população de alguns países como Qatar e Kuwait dispõem de um grande
conforto financeiro, dado que o país obtém cerca de 100 dólares diários
de receitas externas para cada cidadão somente com a venda de petróleo, o
que abre o espaço para as políticas de subsídios e altos gastos
públicos observados nestes países e que certamente encontram parte da
explicação na abundância apresentada neste indicador do gráfico 6.
Gráfico 6 – Cenário para as exportações sobre o PIB para o Brasil em 2035 frente aos maiores valores observados em 2010.
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da IEA (2011) e EIA (2011)
De acordo com dados de IEA (2012), a população brasileira deve
alcançar em 2035 cerca de 220 milhões de habitantes, que
correspondem,uma taxa de crescimento populacional em torno do 0,6% ao
ano, taxa inferior à média dos países emergentes e mais próxima ao
perfil demográfico de países desenvolvidos. Como se pode ver no gráfico
abaixo, a demografia brasileira também levaria o país a ter um baixo
indicador de reservas per capita. Esta variável é considerada por alguns
autores como a variável mais importante como proxy da
concentração em petróleo, pois revela o potencial geológico em proporção
ao número de habitantes que, em tese, usufruirão desta riqueza mineral.
Assim se teria o quanto cada cidadão de um país possui de capital
natural, e esta sim, seria a melhor representação de abundância em
petróleo, embora não necessariamente mostre o nível de dependência do
país quanto ao produto.Alguns países apresentados no gráfico 7 mostram valores bastante elevados para esta variável, com Kuwait e Qatar tendo mais de 30 mil barris de petróleo pra cada cidadão do país em suas reservas provadas. Com exceção destes pequenos países do Oriente Médio, a maioria dos países, mesmo com grandes reservas, encontra-se em patamares bem mais baixos, variando entre 1000 e 5000 como é o caso de Rússia, Venezuela e Irã. Abaixo do patamar de 1000 barris por habitante, encontram-se países sem grande expressão no mercado internacional ou que não se destacam como grandes exportadores, com a exceção do México que exporta mais de 2 milhões de barris mas tem uma base de reservas provadas pequena, e em trajetória descendente devido às restrições ao investimento externo que a produção exclusiva pela PEMEX impõe ao país, o que dificulta a aceleração da descoberta de novos campos sem os financiamentos necessários.
O Brasil se encaixaria neste terceiro grupo de países com valores de reservas per capita inferiores a 1000 barris por habitante, com seu indicador atingindo 372 barris por habitante caso suas reservas atinjam os 80 bilhões de barris estimados como reservas possíveis nos campos do pré-sal. Sabe-se que os valores de reservas possíveis têm um grande desvio padrão e portanto, são cercados de incertezas, mas ainda que o país tivesse 120 bilhões de barris, os valores de reservas per capita passariam por pouco o patamar de 500 barris por habitante. Em contrapartida, se as reservas se mostrarem com valores abaixo do esperado pelo mercado atingindo 50 bilhões de barris, este indicador passaria a ser de 220 barris por habitante. Bem acima dos 50 barris por habitante em 2011, mas muito abaixo do patamar experimentado pelos países exportadores do Oriente Médio e Costa Oeste e Norte da África.
Gráfico 7 – Cenário para reservas per capita no Brasil em 2035 frente aos maiores valores observados em 2010.
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da IEA (2011) e EIA (2011).
Para finalizar a comparação internacional entre os valores contidos
possíveis para o Brasil no longo prazo com os patamares atuais
observados ao redor do mundo, falta comparar o tamanho da exportação de
petróleo frente ao PIB do país. Assim como se utilizou a população para
mostrar os impactos relativos do setor petróleo frente ao tamanho do
país, espera-se agora fazer o mesmo, mas utilizando uma variável
econômica de forma a permitir a comparação do tamanho do setor petróleo
frente aos fluxos econômicos gerados pela produção econômica em um país.
Desta maneira, ter-se-á comparado a abundância e/ou dependência de
petróleo em suas manifestações mais conhecidas.DE acordo com os cenários da AIE, as taxas médias de crescimento do PIB esperadas para o Brasil no período entre 2009 e 2035 são de 3,6% ao ano. Com esta taxa de crescimento, o país deve alcançar um PIB de mais de 5 trilhões de dólares em 2035, mantendo sua posição entre os maiores PIB’s do mundo, perdendo apenas para as grandes economias industriais do mundo, como EUA, União Européia, Japão e China. O fato de o Brasil ter um dos maiores PIB’s do mundo faz com que os efeitos do aumento das exportações de petróleo não tenham impacto tão significativo ao se olhar o valor desta variável em relação ao tamanho da economia brasileira. Fazendo os cálculos para os valores da exportação anual de petróleo frente ao valor do PIB se pode observar que seriam exportados 0,002 barris de petróleo para a produção de 1 dólar de PIB real.
O gráfico 8 abaixo reforça a opinião de que a influência do petróleo na economia brasileira será moderada e que o país, mesmo com o forte crescimento projetado, ainda se manterá em posições intermediárias nos indicadores estudados. No caso das exportações sobre o PIB, o patamar mais alto é encontrado em países com a base econômica muito pequena, em geral reconstruindo-se de guerras como é o caso de Timor-Leste, Iraque e Angola. Nestes três países, os danos provocados pelas guerras recentes destruíram suas economias, que começam a se assentar sobre a atividade exploratória de petróleo. No caso de Timor-Leste o dado é mais marcante devido ao pequeno papel do país na indústria mundial, mas mostra que o setor petróleo neste país detém importância desproporcional e por isso muitas atenções têm sido focadas nos arranjos institucionais deste setor para que os ganhos sejam bem aproveitados pelo país. O Iraque mostra como sua economia sofre com as seguidas guerras desde a década de 1980, e por isso o setor petróleo também desempenha papel muito significativo quando comparado à grande maioria da amostra de países. No caso de Angola e Iraque são exportados cerca de 0,02 barris de petróleo para cada dólar produzido na economia, enquanto Timor-Leste apresenta o perfil de outlier ao mostrar um indicador de quase 0,07 barris de petróleo. Este indicador é bastante interessante, por mostrar que boa parte dos grandes exportadores do Oriente Médio possuem economias mais diversificadas e assim o grande impacto da dependência em petróleo é sentido pelos pequenos países produtores do Golfo de Guiné, região onde estão catalogados os maiores problemas relacionados às previsões da teoria da maldição dos recursos naturais.
Gráfico 8 – Cenário para exportações per capita no Brasil em 2035 frente aos maiores valores observados em 2010.
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da IEA (2011) e EIA (2011).
Desta maneira se pode concluir que se os países mais atingidos pela
abundância em petróleo estão localizados no Oriente Médio, Norte e Costa
Oeste da África, com algumas exceções fora destas regiões, e que o
Brasil encontra-se longe da possibilidade de apresentar parâmetros que
estimem essa dependência nos mesmos níveis destas regiões mais afetadas
pelos efeitos da MRN.Em resumo, o Brasil, apesar de todo o crescimento previsto para a produção de petróleo nas décadas vindouras, ainda deve permanecer como um país pouco concentrado e pouco dependente dessa commodity em termos comparativos com outros países do mundo. Portanto, se quanto maior a dependência em petróleo maiores são os riscos de contaminação pela MRN, o Brasil não está entre as maiores preocupações em termos de políticas econômicas, pois não parece provável um cenário onde o país deva se tornar um “Petro-Estado”.
Referência
International Energy Agency. IEA (2011). World Energy Outlook 2011. International Energy Agency. OECD. Paris.
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