Do Diário do Centro do Mundo
Paulo Nogueira
Serra é hoje um Lacerda sem carisma e sem talento — graças a Deus.
O discurso de Serra na convenção do PSDB é uma mistura de obtusidade, má fé e cinismo.
Serra se transformou num Lacerda: fala obsessivamente em “riscos à
democracia”, como se não fossem atitudes como a sua o maior risco à
democracia.
Por ter carisma, por ser brilhante em sua maldade, e porque as
circunstâncias eram outras, Lacerda levou o Brasil à ditadura militar.
Porque não tem carisma, e nem brilho, e por serem outras as
circunstâncias, Serra apenas conduzirá a si próprio ao desprezo amplo,
geral e irrestrito de brasileiros de boa fé – petistas ou não.
Lacerda, porque não conseguiu a presidência nas urnas, quis chegar a ela pelos tanques militares.
Serra também fracassou nas urnas, mesmo sob apoio maciço da imprensa
que o PT “quer calar” – uma afirmação que apenas dificulta,
malandramente, uma discussão vital para a sociedade: a regulamentação da
mídia.
Temos uma situação de monopólio de três famílias, lideradas pelos
Marinhos, e isso é uma calamidade para a democracia porque elas defendem
seus próprios interesses disfarçados de interesses públicos.
Não fosse a internet, que dá espaço a outras vozes menos comprometidas e menos viciadas, o quadro seria ainda pior.
Importante notar que Serra vem sendo amplamente beneficiado pela
mídia do jeito que é – e mesmo assim não conseguiu se eleger sequer
prefeito de São Paulo.
O que é bom para Serra é ruim para o Brasil, porque ele põe na frente apenas aquilo que favorece a ele, a ele e ainda a ele.
Serra fala também em ‘aparelhamento’ do Estado, como se ele próprio não aparelhasse tudo que caiu nas suas mãos.
Ora, por causa de Serra, a família de Soninha tem excelentes posições
em São Paulo, sem concurso público, e ela própria foi brindada com a
sinecura do Conselho de Administração da Cetesb – e ele vem falar em
‘aparelhar’?
Serra sempre usou sua posição pública para alavancar a carreira e os
negócios de sua filha Verônica, e vem posar como se fosse Mujica?
Era presumível que, depois de ser rechaçado fortemente pelos eleitores, Serra se retirasse com dignidade da política.
Mas não.
Seu apego doentio ao poder impediu renovação no PSDB, obrigado por
causa disso a tratar o veterano Aécio como se fosse uma promessa, um
fato novo.
Seus gestos mesquinhos, sua fala hipócrita, sua megalomania
napoleônica desprovida de fatos nos quais se sustentar sem cair no
ridículo – lamentavelmente teremos que aguentar isso por mais tempo do
que deveríamos e gostaríamos.
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