A viagem que a presidente Dilma Rousseff
fará a Washington em outubro é vista como um sinal da crescente
importância que os EUA atribuem à relação com o Brasil.
Depois de já ter sido recebida pelo
presidente americano, Barack Obama, no ano passado, desta vez espera-se
que Dilma seja recepcionada com toda a pompa que envolve uma visita de
Estado - a primeira de um presidente brasileiro aos EUA desde 1995,
quando Fernando Henrique Cardoso foi recebido por Bill Clinton.
"Acho que sinaliza um desejo de um engajamento maior em relação ao Brasil", disse à BBC Brasil o diretor do Brazil Institute do Woodrow Wilson International Center for Scholars, em Washington, Paulo Sotero.
"Até porque essa visita não acontece sempre. A Casa Branca limitou a um par dessas visitas (de Estado) por ano."
O próprio secretário de Estado americano,
John Kerry, definiu a relação com o Brasil como uma que vem "crescendo
em importância", ao receber o ministro das Relações Exteriores, Antonio
Patriota, em Washington, na segunda-feira.
Foi o primeiro encontro oficial dos dois
desde que Kerry assumiu o cargo. No fim do mês, o vice-presidente
americano, Joe Biden, deverá viajar ao Brasil, dando continuidade ao
diálogo.
Eleições
Para Riordan Roett, diretor do programa de estudos da América Latina da Universidade Johns Hopkins, o fato de Dilma ter boas chances de chegar a um segundo mandato favorece a relação entre os mandatários dos dois países.
Para Riordan Roett, diretor do programa de estudos da América Latina da Universidade Johns Hopkins, o fato de Dilma ter boas chances de chegar a um segundo mandato favorece a relação entre os mandatários dos dois países.
"O governo americano está repensando o
tipo de relacionamento que deseja com a presidente Dilma,
particularmente já que parece, no momento, que ela será reeleita para
mais quatro anos, no ano que vem", disse Roett.
"Obama também tem três anos e meio de seu
segundo mandato pela frente. Então é provavelmente um bom momento para
repensar como a relação deve ser, e ter um jantar de Estado reconhecendo
a importância do Brasil é um passo à frente", afirma Roett.
Para Sotero, é o momento para "trabalhar numa relação que é boa, mas superficial".
"O desafio da visita é o de dar mais conteúdo à relação bilateral", afirma.
Reaquecimento
No fim do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as relações bilaterais foram marcadas por algumas divergências sobre assuntos como a crise em Honduras e o programa nuclear iraniano.
No fim do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as relações bilaterais foram marcadas por algumas divergências sobre assuntos como a crise em Honduras e o programa nuclear iraniano.
Desde a posse de Dilma, porém, houve
diversos gestos de reaproximação. Em março de 2011, Obama viajou ao
Brasil. Em abril do ano passado, Dilma visitou os EUA.
"Está claro agora que a política externa
de Dilma é bem diferente (da de Lula), ela esteve mais preocupada com
questões internas", afirma Roett. "Ela é mais cautelosa, e acho que isso
causou uma boa impressão no Departamento de Estado e na Casa Branca."
Segundo Sotero, o estreitamento das
relações é do interesse político e econômico de ambos os países. "O que
os aproxima é muito mais do que o que os afasta", afirma.
Recentemente a Casa Branca vem tentando uma maior aproximação com países latino-americano, com foco em cooperação econômica.
Quando anunciou sua visita ao Brasil, o
vice-presidente Joe Biden disse que pretende "discutir formas de
aprofundar nossa parceria econômica e comercial e ampliar nosso
envolvimento em uma ampla gama de temas bilaterais, regionais e globais
que conectam os dois países".
Conselho de Segurança
Sobre o tão desejado apoio dos Estados Unidos à ambição do Brasil de conquistar uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, os analistas consultados pela BBC Brasil não veem mudanças em um futuro próximo.
Sobre o tão desejado apoio dos Estados Unidos à ambição do Brasil de conquistar uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, os analistas consultados pela BBC Brasil não veem mudanças em um futuro próximo.
"Não acho que os Estados Unidos estejam
prontos para isso", diz Roett. "Em parte por causa da intensificação da
nossa relação (dos EUA) com o México. Quando Obama foi à Índia e
manifestou seu apoio à candidatura indiana, não havia outro candidato
asiático. É bem diferente da situação do Brasil."
Sotero observa que essa discussão nem está na mesa.
"Acho que é mais produtivo você trabalhar
nos temas das relações bilaterais, de uma forma que possa levar a
relação ao que pode se chamar de um engajamento estratégico, do que
criar um fato artificial. Será que os EUA apoiariam? Darão uma resposta
simpática, não dirão não, mas nem sim", afirma.
"Agora, de um diálogo mais profundo,
baseado em confiança, a evolução pode ser até esta, no futuro, se e
quando o assunto voltar à pauta."
Nenhum comentário:
Postar um comentário