Do Vermelho
Ex-presidente e um dos principais atores políticos do Brasil, Luiz
Inácio Lula da Silva assume o seu papel de liderança nos movimentos
sociais que tomaram as ruas do país, em uma série de manifestações que
chega à sua segunda semana. De sua base, na sede do Instituto Lula, o
principal aliado da presidenta Dilma na elaboração de uma agenda
política para a realização de um plebiscito, intensifica os encontros
com os movimentos sociais.
No mais recente encontro, na
véspera, com jovens de grupos como o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST), a União da Juventude Socialista (UJS), o Levante
Popular da Juventude e o Conselho Nacional da Juventude (Conjuve), Lula
ofereceu o diapasão para afinar o discurso dos movimentos sociais.
Em lugar da esperada mensagem de conciliação e o pedido de calma aos
manifestantes, o momento é de “ir para a rua”, afirmou o ex-presidente. A
reunião, no bairro do Ipiranga, em São Paulo não contou com a presença
do Movimento Passe Livre (MPL), nem do Movimento dos Trabalhadores Sem
Teto (MTST).
"O (ex-)presidente queria entender essa onda de protestos e avaliou
muito positivamente o que está acontecendo nas ruas", disse a
jornalistas André Toranski, presidente da UJS, que conta
majoritariamente com militantes do PCdoB.
Outro participante do encontro, que preferiu o anonimato, afirma que
Lula “colocou que é hora de trabalhador e juventude irem para a rua para
aprofundar as mudanças. Enfrentar a direita e empurrar o governo para a
esquerda. Ele agiu muito mais como um líder de massa do que como
governo. Não usou essas palavras, mas disse algo com ‘se a direita quer
luta de massas, vamos fazer lutas de massas”.
Em nota publicada em seu perfil na rede social Facebook, na última
quinta-feira, Lula já se mostrava favorável às manifestações ocorridas
desde o último dia 13 em várias cidades do Brasil: “Ninguém em sã
consciência pode ser contra manifestações da sociedade civil, porque a
democracia não é um pacto de silêncio, mas sim a sociedade em
movimentação em busca de novas conquistas”, declarou.
Em São
Paulo, Lula apoiou a negociação entre o governo e os manifestantes, que
reclamavam do aumento no preço da passagem de ônibus. Na ocasião, o
ex-presidente demonstrou confiança no trabalho do prefeito de São Paulo,
Fernando Haddad, ministro da Educação durante seu governo.
"Estou seguro, se bem conheço o prefeito Fernando Haddad, que ele é
um homem de negociação. Tenho certeza que dentre os manifestantes, a
maioria tem disposição de ajudar a construir uma solução para o
transporte urbano", afirmou. Apenas alguns dias depois, Haddad revogou o
aumento de R$ 0,20 no preço da passagem.
Plebiscito
De sua parte, a presidenta Dilma
também seguiu os conselhos do amigo e antecessor no cargo e vem
promovendo, desde o início desta semana, uma série de encontros com os
movimentos sociais. Na véspera, Dilma recebeu os representantes de oito
centrais sindicais e dedicou 40 minutos da reunião para explicar aos
dirigentes como serão norteadas as ações para os cinco pactos anunciados
pelo governo – com vistas à melhoria dos serviços públicos – e destacou
a importância de ser convocado um plebiscito no país para discussão da
reforma política. Embora a presidenta não tenha sido explícita no apelo
às centrais, a sua fala na abertura do encontro foi vista pela maior
parte dos presentes como uma forma de pedir o apoio das entidades para
as medidas divulgadas nos últimos dias.
A presidenta admitiu que é preciso aprimorar a interlocução com as
centrais e disse concordar com as críticas das ruas sobre a qualidade
dos serviços públicos. Afirmou, ainda, que a pressão das mobilizações
está correta e ajuda na transformação do país. Participaram do encontro
representantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos
Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), União Geral dos
Trabalhadores (UGT), Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) e
Força Sindical, bem como Central Geral dos Trabalhadores do Brasil
(CGTB), CSP-Conlutas e Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), além de
técnicos do Dieese.
Os sindicalistas apresentaram os principais itens definidos na pauta
traçada nos últimos dias com solicitações ao governo, tais como
melhorias na qualidade do transporte público e redução das tarifas, mais
investimentos na educação e na saúde, retirada de tramitação, no
Congresso, do Projeto de Lei 4.330 – referente à regulamentação das
atividades de terceirização, fim do fator previdenciário e aumento dos
valores das aposentadorias, reforma agrária e redução da jornada de
trabalho para 40 horas semanais. Dilma deixou claro que essa pauta será
negociada como um todo e que o governo apresentará uma resposta até
agosto.
Das ruas às urnas
Para Luiz Carlos Antero,
jornalista e escritor, colunista e membro da Equipe de Pautas Especiais
do sítio Vermelho.org, o plebiscito pela reforma política é uma das
propostas que “podem surtir um maior impacto”. Em um debate mais amplo,
segundo o analista, “pode contribuir para uma maior participação popular
e para aprofundar a democracia no Brasil, destacando-se em especial
aspectos como o do financiamento público de campanhas”.
“Entretanto, ainda mais que compreender o que se passa no Brasil no
atual momento, é indispensável e urgente o esforço da apresentação de um
afirmativo e unitário programa popular e democrático enquanto fio
condutor das lutas de rua — para as quais qualquer pauta institucional e
toda pausa na movimentação terá um sentido provisório e cumulativo,
distante do improvável êxito do pensamento ou desejo de uma nova
acomodação”, afirma.
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