Onze países da América Latina se recusaram a apoiar a decisão do Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta semana de continuar financiando a Grécia, citando riscos de não pagamento, e o FMI informou que Atenas pode precisar de um alívio da dívida mais rápido por parte da Europa.A abstenção dos países do América Latina em relação à decisão do FMI foi revelada pelo representante brasileiro em um comunicado público nesta quarta-feira, destacando a frustração crescente nas nações emergentes com a política do Fundo de resgatar os países europeus endividados."Os recentes desenvolvimentos na Grécia confirmam alguns de nossos piores temores", disse Paulo Nogueira Batista, diretor-executivo do FMI que representa o Brasil e outros dez países da América Latina e Caribe.
"A implementação [do programa de reformas da Grécia] tem sido
insatisfatória em quase todas as áreas; as suposições de sustentabilidade de
crescimento e dívida continuam a ser otimistas demais", acrescentou
Batista, criticando a decisão de segunda-feira (29) da diretoria executiva do
FMI de liberar US$ 1,7 bilhão para a Grécia.Isso elevou a € 28,4 bilhões o valor total já oferecido pelo FMI à
Grécia --quantia que o país poderá deixar de pagar se for abandonado por seus
parceiros da zona do euro, alertou o brasileiro.Ele citou um relatório separado, publicado pelo FMI nesta quarta-feira,
que diz que se as reformas na Grécia saírem dos trilhos e os governos europeus
retirarem seu apoio, então a "capacidade de Atenas reembolsar parece que
será insuficiente"."Essa declaração está a apenas um passo de contemplar
abertamente a possibilidade de uma moratória ou de atrasos nos pagamentos pela
Grécia dos seus passivos com o FMI", disse Batista, referindo-se à
tradicional política do FMI de proibir a declaração de moratória sobre créditos
oferecidos pelo organismo.Os EUA e países europeus, que controlam a maioria dos votos no
conselho executivo do FMI, até agora apoiam solidamente a Grécia, e neste mês o
secretário norte-americano do Tesouro, Jack Lew, viajou a Atenas para reiterar
essa posição.
Apesar de ter usado quase 90% dos US$ 240 bilhões do resgate
financeiro recebido desde 2010, a Grécia continua excluída dos mercados
internacionais de títulos.A sustentabilidade da dívida grega ainda depende de uma promessa
dos demais países da zona do euro de oferecer um maior alívio creditício a
Atenas --condição que está atrelada a dolorosos cortes orçamentários e a
reformas impostas por credores, o que contribuiu para uma paralisante recessão.
Sob comando da Alemanha, a zona do euro prometeu considerar
medidas brandas para ajudar a Grécia no ano que vem, como prorrogar o
vencimento dos empréstimos do resgate, a fim de reduzir o nível de
endividamento do país dos atuais 124% do PIB para 110% até 2022.O FMI alertou que a Grécia precisa reduzir sua dívida mais intensa
e rapidamente, a fim de estimular a confiança dos investidores e obter um
crescimento econômico anual na faixa de 3%, podendo assim concluir o resgate
financeiro."Caso as preocupações com a sustentabilidade da dívida
revelem estar pesando nos sentimentos do investidor, mesmo com o organograma do
alívio da dívida agora instaurado, os parceiros europeus devem cogitar a oferta
de alívio que acarrete uma redução mais rápida da dívida do que a atualmente
programada", disse o relatório.Apesar de reduzir notavelmente seu deficit público desde 2010, a
Grécia ainda precisa melhorar a arrecadação tributária e reduzir o desperdício
governamental para cumprir suas metas fiscais, disse o FMI.Do contrário, o país precisará de novas medidas de austeridade,
algo que poderá colocar em risco a frágil coalizão de governo."A menos que as autoridades confrontem os problemas da gestão
da arrecadação com muito mais urgência nos próximos meses, um orçamento
factível para 2014 precisaria novamente estar centrado em dolorosos cortes de
despesas", disse o chefe da missão do FMI na Grécia, Poul Thomsen, em
teleconferência com jornalistas.De acordo com as previsões mais recentes da UE, a serem
atualizadas na próxima revisão da UE/FMI, Atenas precisa encontrar cerca de € 4
bilhões de euros adicionais para cumprir suas metas fiscais para 2016.
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