A primeira vez foi quando revelamos a extensão criminosa do vazamento do Campo de Frade, provocada pela multinacional Chevron.
A segunda, agora, quando diz que lançamos uma “palavra de ordem” na blogosfera:
“O blog “Tijolaço” lançou outra frase de efeito para ser repassada pelos “guerrilheiros”: a Folha inventou a corrupção sem corruptor.”
Lamentavelmente, é preciso fazer uma correção à diligente corregedora da Folha, ao mesmo tempo em que elogia sua atenção sobre o que se passa na blogosfera.
O que escrevemos foi que a Folha inventou a corrupção sem CORRUPTO.
Justamente pelo que a matéria faz, e ela reconhece, ao não mencionar que há beneficiários da jogada empresarial ao contratar com as administrações tucanas.
Os corruptores estão lá, mencionados no texto: Siemens, Alstom, Bombardier, CAF… Estes, o jornal nominou sem outra prova que não a informação colhidas por seus repórteres, aliás profissionais que sei serem da maior competência.
Quem não existe na matérias são os corruptos.
O secretário de transportes de Covas, na reportagem, diz que não houve competitividade nas licitações.
Eu, a Ombudswoman e qualquer jornalista sabe que um repórter, diante de uma declaração assim, continua a perguntar.
Os repórteres da Folha certamente não pararam, mas matéria nem mesmo menciona a sua eventual recusa de apontar a razão daquela frase.
Não vou fazer reparos à precipitação que ela vê na Istoé em apontar os dirigentes tucanos como os corruptos, embora o momentoso “domínio do fato”, em um negócio desta monta, deixe óbvio que não foram os canários ou os pintassilgos que ganharam dinheiro nisso. Aliás, quanto a estimar o valor, deveria ter criticado também o Estadão, que ontem estimou o rombo em R$ 577 milhões. Ou dez mensalões, se quisermos facilitar a métrica de corrupção tão ao gosto da Folha.
Nem vou, porque seus repórteres sabem isso melhor do que eu, que há um sem número de pontas a serem puxadas nesta história, desde o incêndio criminoso de papéis do metrô até a insólita demissão do presidente brasileiro da Siemens, acusado publicamente de violações éticas e de ter uma conta em Luxemburgo, um paraíso fiscal.
Fossem os adversários políticos da Folha os personagens desta história, haveria dezenas de matérias já, a essa altura.
Como são tucanos, o jornal adota a “dupla cautela”, como diz em seu editorial de ontem:
“Há que considerar a investigação com dupla cautela. Os detalhes ainda são nebulosos, mas o que transpirou até aqui indica um conluio entre fornecedores para repartir encomendas e elevar seus preços de 10% a 30%, sem provas de envolvimento das autoridades.”
Perfeito, desde que isso fosse a prática da Folha para todos. E não é.
Mas gostaria de pedir à diligente corregedora uma reflexão sobre as expressões que usa para falar dos leitores da Folha, a quem lhe compete defender.
Chamá-los de guerrilheiros virtuais parece um menoscabo da sua condição de leitores, de pensantes e, em última análise - quando a imprensa passa a ser uma atividade comercial, onde a venda é o que importa – de clientes da empresa.
Certamente não é essa a sua intenção, até porque o espaço de sua coluna é um dos pouco em que se coloca algum reparo na parcialidade do jornal, embora com as limitações de, digamos, uma “auditoria interna”.
A nós, blogueiros, não ofende, porém. O jornal já fez pior, quando chamava de facínoras os opositores do regime ao qual emprestava suas peruas para conduzi-los ao cárcere, à tortura e, por vezes, à morte. A reprodução aí ao lado mostra o militante Eduardo Collen Leite, conhecido como Bacuri, assassinado em dezembro de 1970, numa farsa que o jornal legitimou. Aliás, registre-se que confessadamente, quando narra ter entregue a redação da Folha da Tarde a jornalistas entusiasmados com a linha dura militar (vários deles eram policiais).
De certa forma, até, a condição de guerrilheiros nos orgulha, porque acabamos, com nossa ação, forçando jornais como a Folha a cumprir, mesmo a contragosto, a sua obrigação de publicar fatos.
Ou não foi assim que o jornal da Barão de Limeira dignou-se a noticiar o fato de que a Globo foi autuada por sonegar milhões em impostos na compra de direitos de transmissão da Copa e, depois, o fato de que houve a condenação criminal da ex-servidora da Receita que surrupiou o processo onde se cobrava esta sonegação?
E, também, porque ao acusar-nos de “guerrilheiros cibernéticos” também admite, implicitamente, que há uma opressão a ser combatida.
Aquela que grita diante de suspeitas e silencia diante de evidências, dependendo de que é o personagem.
Leia abaixo o artigo de Suzana Singer:
Na trilha do cartel
Por Suzana Singer, Ombudsman da Folha
No caso Siemens, jornal errou ao preservar, no início, o PSDB, mas acertou ao não propagar acusações sem provasHá DUAS semanas, a Folha vem sendo sendo alvo de uma “guerrilha verbal” na internet, para usar uma expressão que o jornal cunhou no editorial “Mitos das redes sociais”, do domingo passado.
O objetivo dos “guerrilheiros cibernéticos” é levar a Folha a publicar denúncias sobre o envolvimento de políticos tucanos no cartel formado em licitações de trem e metrô de São Paulo.
As armas dessa guerrilha são a divulgação de reportagens da “IstoÉ”, posts em blogs governistas e correntes no Facebook acusando o jornal de “blindar o PSDB”.
Para saber se a causa dessa militância é justa, é preciso separar opinião e fato. Foi aFolha quem primeiro divulgou que a multinacional Siemens fechou um acordo com as autoridades antitruste brasileiras para delatar a existência do cartel, do qual ela própria fazia parte.
Em 14 de julho, o assunto ocupou a manchete. A reportagem informava que o cartel funcionou em ao menos seis licitações, mas alertava que “não se sabe ao certo o tamanho real, o alcance, o período em que atuou e o prejuízo causado”.
Dez dias depois, a “IstoÉ” estampou “O propinoduto do tucanato paulista”, com uma reportagem que retomava o depoimento, de 2008, de um ex-funcionário da Siemens. O denunciante, anônimo, tinha planilhas que comprovariam a formação de cartel e o repasse de dinheiro para offshores de lobistas.
Embora a revista tenha rasgado duas fotos de Geraldo Alckmin e José Serra, o texto não trazia evidência de envolvimento dos governadores nem de pagamento de propina. Havia apenas o ex-funcionário falando de subornos a políticos, “na maioria tucanos”, e a diretores da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
Esse mesmo depoimento tinha sido publicado em 2009 pela “CartaCapital”, mas, na época, não teve maior repercussão.
Segundo a Secretaria de Redação, a Folha não recuperou a informação publicada pela revista porque o denunciante se recusou a falar sobre o caso para o jornal.
No final da semana passada, a “IstoÉ” voltou à carga, desta vez tentando quantificar o tamanho do prejuízo causado pelo superfaturamento de trens e metrô. A fonte eram “pessoas ligadas à investigação”, que corre no Ministério Público de São Paulo e no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). A conclusão era que os cofres paulistas perderam R$ 425 milhões.
A Folha “respondeu” com uma reportagem em que afirmava que o “cálculo do que foi superavaliado depende de levantamento de contratos assinados pela CPTM e pelo Metrô”, o que ainda não foi feito.
O jornal, acertadamente, evitou repercutir o que não era apuração própria, mas cometeu um erro: as duas reportagens publicadas até então não mencionavam que partido estava no governo quando o cartel atuava.
O quadro publicado junto aos textos listava várias licitações sob suspeita sem mencionar que elas ocorreram em gestões tucanas -entre a “prática criminosa que trafegou sem restrições pelas administrações Covas, Serra e Alckmin” (“IstoÉ”) e a assepsia do noticiário da Folha, era possível deixar o noticiário mais informativo e equilibrado.
“Folha noticia caso do superfaturamento do Metrô de SP (…) e não cita o nome de ninguém do governo tucano. Nunca vi nada igual!! Rabo preso com o PSDB??”, tuitou, na segunda-feira, o deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP). O blog “Tijolaço” lançou outra frase de efeito para ser repassada pelos “guerrilheiros”: a Folha inventou a corrupção sem corruptor.
A manchete de anteontem -”Governo paulista deu aval a cartel do metrô, diz Siemens”- silenciou boa parte dos críticos. Pela primeira vez, o nome de um tucano (Mário Covas) apareceu em destaque no jornal.
A reportagem, baseada em documento apresentado pela Siemens ao Cade, dizia que o governo de São Paulo é acusado de ter dado aval para a formação do cartel e que esse conluio teria perdurado durante as administrações Alckmin e Serra.
Foi dado espaço ao “outro lado” e tomou-se o cuidado de não partir para conclusões precipitadas, como fez a “guerrilha cibernética”, interessada em divulgar, com estridência, acusações não fundamentadas.
Como lembrou o colunista Elio Gaspari, o fato de uma empresa do tamanho da Siemens estar disposta a colaborar cria uma oportunidade ímpar de “expor o metabolismo das roubalheiras nacionais”.
O jornal não pode perder essa chance. Só que sem timidez nem açodamento.
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