PF entra no trilho
Polícia Federal vai investigar contratos do Metrô de São Paulo, denunciados por ISTOÉ, que já foram analisados pelo Tribunal de Contas e somam R$ 11 bilhões
Alan Rodrigues, Pedro Marcondes de Moura e Sérgio Pardellas
Passava das 14h da quinta-feira 29 quando agentes da Polícia Federal entraram no edifício do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, centro da capital paulista, e subiram ao quinto andar em busca de documentos relacionados à formação de cartel de empresas ligadas ao transporte sobre trilhos em São Paulo. A ação policial teve como foco 21 contratos com indícios de irregularidades, de acordo com pessoas ligadas à investigação e ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Os negócios, em valores corrigidos, somam cerca de R$ 11 bilhões. Cinco já foram julgados irregulares pelo Tribunal de Contas. Já três, estimados em R$ 6,3 bilhões, nem sequer foram julgados. Outros 13, como o projeto executivo para o trecho Ana Rosa/Ipiranga da Linha 2 Verde, que custou ao menos R$ 143,6 milhões, foram considerados regulares pelo tribunal.
A Polícia Federal pretende usar as informações contidas nos
procedimentos do TCE para complementar um inquérito que investiga as
fraudes cometidas pelas 18 empresas participantes do cartel, que teria
abastecido um propinoduto que percorreu as gestões do PSDB em São Paulo
nos últimos 20 anos. Há três semanas ISTOÉ já havia revelado com
exclusividade análises do Tribunal de Contas do tEstado de São Paulo que
alertavam as autoridades paulistas sobre a existência de
superfaturamentos e direcionamento de contratos. Apesar dos avisos, as
tramoias nos certames continuaram a ocorrer. “A auditoria do tribunal,
em diversos casos de contratos, mostrou que não havia competição entre
as empresas”, disse o presidente do tribunal, Antônio Roque Citadini.
“Diante desses novos fatos, os contratos que já foram julgados regulares
podem ser reabertos para nova análise”, afirma Citadini.
O Ministério Público Federal também aprofunda as investigações sobre o
escândalo do Metrô em São Paulo. Desde que a PF realizou, em 4 de julho,
a operação “Linha Cruzada”, o MPF tenta sem êxito ter acesso ao
material recolhido. Os requerimentos encontram-se parados na Justiça há
mais de um mês à espera de uma decisão. De acordo com a procuradora da
República, Karen Louise Jeanette Kahn, o compartilhamento é necessário
para que haja uma força-tarefa na investigação. “Essa troca de
informações é condição básica para que o trabalho avance de forma mais
rápida e os ilícitos detectados sejam punidos”, analisa Karen.
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